A Oeste, tudo de novo

por fev 24, 2023

Faz esta semana exactamente um ano que, aproveitando a pausa da liga para o fim-de-semana All-Star, peguei numa conferência Este completamente embrulhada, e tentei antever o resto da sua temporada. Os Bulls ainda eram líderes (!) mas perdiam Lonzo Ball para a restante temporada, os Celtics atropelavam toda a gente desde o virar do ano, após terem tido um início de época com um registo negativo, e James Harden chegava a Philadelphia. Enfim, uma classificação que não reflectia o real valor das equipas, e havia a clara sensação de que desde a paragem para o jogo das estrelas se jogava uma nova temporada, com uma outra hierarquia a ser definida. Soa-vos a familiar? Claro que soa, porque a frase aplica-se na perfeição à conferência Oeste deste ano, com anfetaminas no bucho.

Assim sendo, vamos a isto, num exercício que tem tudo para correr terrivelmente mal. Lembrete: o que se segue deve ser visto como um power ranking relativo para o que espero vir a ser o resto da temporada das equipas, e onde as posiciono consoante a confiança que tenho naquilo que venham a fazer até ao fim da época (todos os dados estatísticos são de 24/02/2023). Ah, e deixemos os Rockets e Spurs de lado, que não são para aqui chamados.

“Nunca o admitiremos, mas estamos a olhar para o Wemby”

13. Utah Jazz (Classificação no Oeste em 2023: 9.º lugar, 11-11, -0.2 NetRtg)

12. Portland Trailblazers (12.º, 10-14, -1.5 NetRtg)

11. Oklahoma City Thunder (3.º, 13-9, +6.7 NetRtg)

Danny Ainge jogou finalmente as suas cartas. Esperou o máximo que pôde, e poderá ter perdido algum valor por isso (tanto nos activos que cedeu como em preciosas derrotas que ficaram por acumular), mas as saídas de Mike Conley, Malik Beasley e Jarred Vanderbilt terão impacto na rotação de Will Hardy. Muitos minutos serão dados a Talen Horton-Tucker e Ochai Agbaji no backcourt, e não será de espantar que à ausência de Sexton se juntem DNP’s estratégicos dos veteranos Clarkson, Markkanen e Olynyk.

Os Blazers encontram-se na familiar encruzilhada anual: o Lillard não está disponível para troca, o Lillard jura amor à equipa, a equipa promete reforçar-se para o presente, a equipa tem uma época desapontante com falta de profundidade e defesa, o futuro é posto em causa, o Lillard não está para troca, repeat. Quanto tempo irá mais durar, não sabemos. O que sabemos é que houve uma deadline estranha em Portland, onde se comportaram como vendedores, e Lillard e Jerami Grant a ‘descansar’ depois de um avião que teimava em não partir, no meio de uma luta acesa pelo play-in. Ah, e os Blazers mantêm a sua pick apenas se esta for à Lottery, caso contrário é devida a Chicago.

Muito me custa colocar os Thunder neste patamar: são a segunda melhor equipa em toda a NBA em NetRtg desde que o calendário mudou para 2023 (2.º melhor ataque e 10.ª melhor defesa) e, em qualidade pura e dura, têm mais do que condições para chegar ao play-in (e estando aí, fazer estragos). No entanto, desconfio seriamente de que Presti não quererá desperdiçar o único bilhete que tem disponível para poder chegar ao topo do Draft deste ano, e com isso interromper o excelente momento da equipa. Espero estar enganado, porque esta é uma das equipas mais giras de ver jogar nos dias que correm. Jalen Williams, amo-te.

“Hum… demos uma volta de 360 graus?”

10. New Orleans Pelicans (13.º lugar, 7-17, -4.1 NetRtg)

9. Minnesota Timberwolves (2.º, 15-9, +2.0 NetRtg)

Quando, no ano passado, os Pelicans obtiveram um registo de 13-10 desde a paragem para o All-Star, carimbando presença nos play-offs onde chegaram a empatar 2-2 com os (na altura) intocáveis Suns, decidimos colectivamente: esta equipa, quando se adicionar o Zion, vai ser monstruosa. E assim foi. À data da lesão da superstar, os Pelicans estavam 23-14, num empate virtual com os Grizzlies no segundo lugar da conferência, tendo chegado mesmo a liderá-la. Desde então, 7-16, e um lugar familiar: Zion sem prognóstico concreto de retorno, luta por lugar de play-in, e a perspectiva de que qualquer coisa para lá da primeira ronda já seria excelente.

Também os Timberwolves chegaram à fase a eliminar do ano passado via play-in, e também esse é um cenário bastante realista para este ano. Desde a monstruosa troca que pouco tardou em revelar-se um desastre estratégico de longo prazo (independentemente da produção de Gobert – e sim, o Gobert é melhor que o Walker Kessler, rapaziada. Vá lá.), até à lesão de Karl-Anthony Towns, que numa bizarra ironia acabou por endireitar a época da equipa, passando pela troca de D’Angelo Russell por Mike Conley, tudo mudou em Minnesota… menos a classificação. Existe hoje uma equipa mais despida de activos, com jogadores (Conley, Gobert) em completa contra-corrente com a linha temporal do crescimento de Anthony Edwards (uma verdadeira superstar em ascensão), e com muito mais perguntas do que respostas em relação ao seu futuro que, para já, não deverá passar por uma ida à segunda ronda sequer.

“Não contávamos nada com uma época assim”

8. Golden State Warriors (11.º lugar, 10-12, +0.5 NetRtg)

7. Dallas Mavericks (9.º, 11-13, -1.3 NetRtg)

6. Sacramento Kings (4.º, 14-10, +3.9 NetRtg)

Sim, o ‘cinco’ inicial dos Golden State Warriors ainda é a melhor unidade em toda a liga (min. 80 minutos, amostra de 104 lineups), e enquanto campeões, receberão sempre o respeito (e medo) dos seus adversários. Mas a curva desta equipa está claramente descendente, Poole não amadurece, e os projectos ‘light years ahead’ deveriam estar a dar frutos agora; ao invés, Wiseman foi penosamente trocado, Moody não tem a confiança da equipa técnica, e apenas Kuminga, a espaços, parece oferecer algo que a equipa consegue aproveitar. A profundidade preocupa, Klay e Dray não são o que foram, e Wiggins não susteve o nível da postseason passada. Steph é amor e é como o vinho, e em dia sim consegue ser o melhor jogador ofensivo do mundo; será que o consegue ser quatro rondas consecutivas, admitindo que os Warriors chegam à ‘dança’? E mesmo que consiga, será suficiente?

Depois de um início de 2023 muito tremido, o front office de Dallas puxou o gatilho, ou melhor, carregou no botão vermelho das armas nucleares: por troca de boa parte da rotação da equipa, chegou o talento imprevisível de Kyrie Irving. O encaixe ofensivo não me preocupa: Kyrie jogou tempo suficiente com LeBron James (e numa menor escala, Tatum e KD) para saber viver fora da bola, e talento a mais nunca é talento de menos. Na defesa, e embora Luka e Kyrie sejam hoje bastante mais razoáveis do que os apelidos que muitas vezes recebem desse lado da bola, juntando a estes Christian Wood (repitam comigo: fazer desarmes de lançamento não é necessariamente sinal de boa defesa), a equipa começa a ficar muito ‘explorável’ por qualquer ataque competente numa série à melhor de sete. Será sequer razoável pedir ao excelente Josh Green que seja o melhor defensor da equipa, e que seja o wing stopper necessário por esse Oeste fora? Será bom sinal Maxi Kleber ser quase imprescindível para a melhor versão desta equipa? MAS POR QUE RAZÃO NÃO SE LIMITARAM A MANTER O JALEN BRUNSON, CARAMBA?!

Light the beam! Light the beam! Inseridos nesta categoria mas pela positiva, o clima é de festa em Sacramento: um ataque extremamente harmonioso à volta de Sabonis e Fox (que época do base, dá a sensação de que consegue sempre chegar às suas zonas de conforto a lançar), que continuaram a excelente química que mostraram desde o final do ano passado; Huerter e Keegan Murray oferecem espaçamento necessário para a coisa funcionar, Monk é um excelente criador para sair do banco e Barnes o veterano que preenche os espaços em branco na equipa. Agora vem a parte menos optimista – e não é só porque ‘Kangzzz’. A defesa é lamentável (3.ª pior em pontos cedidos no pintado, 4.ª pior em eFG% do adversário), e uma dieta de ‘vamos tentar marcar mais que eles’ é algo que nunca vi resultar nos playoffs. Vem aí o quarto calendário mais difícil de toda a NBA (por percentagem de vitória acumulada dos adversários), e uma familiaridade cada vez maior dos oponentes em defender os sets de Sacramento (veja-se a queda de Huerter, que passou o primeiro terço de campeonato a lançar completamente sozinho). Estão oito jogos acima de .500 e isso será suficiente para verem o jejum de 16 anos sem basquetebol depois de Abril interrompido, mas não creio que haja aqui uma equipa para almejar à segunda ronda da conferência.

“Olha… temos uma hipótese, certo?”

5. Los Angeles Lakers (6.º lugar, 13-11, +0.5 NetRtg)

4. Los Angeles Clippers (7.º, 12-11, +0.4 NetRtg)

3. Memphis Grizzlies (5.º, 13-10, +3.3 NetRtg)

Renascidos? Tirados do sarcófago? Talvez sim, talvez não. Mas depois da saída de Russell Westbrook, é evidente a mudança de paradigma em LA: voltou o tiro exterior que gravita em torno de LeBron e AD, voltou uma semelhança de defesa (no interior, que no perímetro ainda está curtinho; Vanderbilt, amo-te) e existe uma rotação credível de nove jogadores para qualquer série de playoffs. Os Lakers só muito dificilmente escaparão ao play-in, mas chegando a essa fase no 7.º ou 8.º lugar (estão hoje dois jogos atrás dos Pelicans, actuais oitavos), alguém acredita que LeBron desperdiçará dois match points para ir ‘dançar’? E depois disso, quem está especialmente confortável em apanhar esta equipa numa primeira ronda? Memphis não tremeria? E por que razão estou eu a colocar tantas perguntas retóricas de forma consecutiva? Estarei eu a tentar convencer-me de alguma coisa enquanto escrevo? Talvez sim, talvez não. Mas coloquem-se vocês à frente de LeBron James e digam-lhe que ele não tem uma porta entreaberta.

Eu não tenho ideia nenhuma do que fazer com esta equipa, e já desisti. Acreditar nos Clippers na versão Paul George-Kawhi Leonard tem sido um exercício frustrante e fútil, e o perigo iminente de alguma lesão num dos extremos pode deitar tudo a perder antes de começar. Mas Kawhi jogou 30 dos últimos 37 jogos da equipa (descansando basicamente um jogo por semana), e esse Kawhi que temos visto deixa-me confiante o suficiente para cometer o erro de acreditar nos Clippers: estão 19-11 nesses jogos (1-6 nos que faltou), o que seria suficiente para se posicionarem como segunda melhor equipa da conferência. Não estou particularmente agradado com o que fizeram na deadline (a ainda menos no mercado de buyout…), mas a profundidade do plantel é inegável, e há um leque alargadíssimo de opções para Ty Lue fazer aquilo em que é melhor: adaptar a sua equipa às fragilidades do adversário, e explorá-las.

Será que Ja Morant e os Memphis Grizzlies ainda estão ‘good in the West’? Não parece lá muito. A ausência de Steven Adams abre um buraco monumental dos dois lados do campo, e na defesa a equipa fica completamente refém do génio Jaren Jackson Jr. não entrar em problemas de faltas (com o devido respeito ao Dillon Brooks, que está a fazer uma temporada incrível desse lado). A criação ofensiva a meio-campo atravessa períodos largos em que parece que estão a jogar na lama, e certamente não será Kennard a solução para quaisquer problemas de tiro exterior que tenham – é uma peça à espera de ser explorada defensivamente nos playoffs. Dá a sensação de que deixaram passar uma oportunidade de ouro de consolidarem plantel nesta deadline, mas no seu melhor, Ja, Bane, JJJ e companhia mostraram ter a segunda melhor equipa da conferência durante bastante tempo; será que depois deste realinhamento do Oeste, os novos vilões da NBA ainda vão a tempo de o voltarem a ser?

“Somos a melhor equipa da conferência”

2. Phoenix Suns (8.º lugar, 12-11, -1.4 NetRtg)

Vencedor da conferência Oeste há 20 meses troca Cam Johnson e Mikal Bridges por Kevin Durant. Esta frase devia chegar para colocar os Phoenix Suns como favoritos nesta lista – com saúde, será certamente difícil argumentar contra isso. A Paul, Booker e KD juntam-se Ayton e um excelente Torrey Craig num cinco que tem tudo para ser dos mais potentes da História do jogo. A alegada falta de profundidade parece-me algo exagerada, dado que bastará aqui uma rotação a 8 ou 9 jogadores: o quase regressado Cameron Payne fará os minutos de descanso de CP3, e para o lugar de Ayton há a dupla solução Byiombo/Landale (ou KD a ‘5’ de small ball, que o vosso escriba *ama*, e com Torrey Craig pode ter minutos de utilização); nas asas, uma combinação de Okogie, Lee, Ross, Warren ou Bazley, dependendo do adversário, terá minutos mais do que suficientes para entregar. Mas apesar da natureza plug-and-play de KD, a falta de rotinas pode manifestar-se e ser explorada pelo adversário numa série, e depois, claro, há a saúde, essa velha ingrata: batamos todos colectivamente no maior pedaço de madeira do mundo, mas quanta confiança conseguem depositar nas coxas de Chris Paul, ou nos membros inferiores de Kevin Durant?

1. Denver Nuggets (1.º, 19-6, +7.4 NetRtg)

Os Nuggets, são, sem grande dúvida e a larga margem, a melhor equipa da conferência ao dia de hoje; enquanto um batalhão de equipas tentará alcançar as 50 vitórias, a equipa do Colorado arrisca-se a chegar às 60. Existe a sensação empírica de que a equipa está mal preparada para jogar playoffs, que é um rolo compressor na fase regular mas que nas fase seguinte não entrega. No ano passado isto foi certamente verdade, mas lembremos os seis jogadores mais utilizados por Malone frente aos Warriors, para além de Jokic: Will Barton, Aaron Gordon, Monte Morris, Jeff Green, Austin Rivers e ‘Bones’ Hyland. Este ano, com o plantel saudável, juntar-se-ão a Jokic e Gordon: KCP por Barton, Jamal Murray por Monte Morris, MPJ por Jeff Green, Bruce Brown por Austin Rivers e Christian Braun por ‘Bones’ Hyland. Não sei bem se é possível descrever a dimensão do fosso de qualidade entre os dois lotes de jogadores. E da última vez que vimos os Nuggets com saúde, foram à final de conferência; esta equipa é bastante melhor. Em 2023 a defesa dos Nuggets é a 7.ª melhor em toda a NBA (e 3.ª da conferência), melhor nesse período que a de Boston, e significativamente melhor que a de Sixers (hum, a defesa liderada por Jokic sofre menos 3.7 pontos por 100 posses de bola que a liderada por Embiid em 2023? Muito me conto) ou de Clippers, a quem não se vaticinam tragédias desse lado do campo. Mais: lembram-se de vos dizer que os Warriors ainda têm o melhor ‘cinco’ da liga? Pois bem: se colocarmos um limite mínimo de 150 minutos (existem 46 lineups) o dos ‘Dubs’ ainda lidera. O segundo é dos Nuggets. O quarto também. E o décimo segundo também. Leram correctamente: os Nuggets têm *três* dos doze melhores lineups em toda a NBA que partilharam pelo menos 150 minutos de court. Jokic, KCP, e Gordon estão em todos, e depois qualquer combinação a dois de MPJ, Bruce Brown e Jamal Murray resulta. Jogam de olhos fechados e tem um caso muito forte como sendo o melhor conjunto de sete jogadores em toda a liga; a única concorrência a esta afirmação mora em Boston, e esses jogam na costa oposta. Pode ser que se encontrem em Junho.

por LUCAS NIVEN [@lucasdedirecta]

Autor

Lucas Niven

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