A orquestra de Wagner

por dez 31, 2021

São tempos conturbados aqueles que se vivem na NBA atualmente. Os casos de covid-19 vão-se amontoando e várias equipas vão acionando planos do B ao Z. Quem vai aproveitando são os jogadores que se vão conseguindo manter saudáveis, como é o caso de Franz Wagner, oitava escolha do último draft e mais recente líder do Rookie Ladder da nba.com.

Como oitava escolha, o alemão é visto como um excecional projeto para o futuro dos Magic, mas o que as ausências na equipa de Orlando lhe trouxeram – a bola – propulsionaram a sua rápida ascensão. Wagner tem mais bola e, sabendo o que fazer com ela, vai acrescentando valor à equipa da Flórida. A capacidade de criação a este nível, tão cedo e, acima de tudo, o número de repetições é algo que os responsáveis dos Magic não esperavam, mas que os pode beneficiar e ao alemão a longo prazo.

Bloqueio direto

Com as ausências de Suggs e Cole Anthony, muito do ataque dos Magic passa por Wagner, colocado muitas vezes em situações de decisão após bloqueio direto. O alemão é bem mais maduro na tomada de decisão comparado com tantos outros jogadores de 20 anos. Tem paciência, bom controlo corporal e uma visão fora do normal.

É incrível a maneira como procura ângulos favoráveis e tem a paciência necessária para esperar que os movimentos normais das defesas contrárias as levem a abrir espaços por onde ele possa passar. Muito interessante também forma como “usa” colegas e adversários para ganhar vantagens.

Quando isolado com os postes contrários, em situações de troca. Não tem um drible extremamente evoluído nem uma grande capacidade de arranque, portanto usa aquilo que melhor consegue controlar: o corpo. Finta até levar o adversário a sair de posição e, aí sim, utiliza a rapidez para subir e fugir ao desarme.

Como tinha referido anteriormente, impressiona a maneira como Wagner lê o que está à sua frente. Percebe a posição corporal do defesa e usa isso para tirar vantagem.

O número de tentativas de lançamento exterior desceu, mas a eficácia aumentou desde os seus tempos em Michigan. O extremo dos Magic consegue atirar de fora e é o que vai fazer quando a defesa fecha o caminho para o cesto e dá espaço. A base de lançamento é sólida e a mecânica de lançamento boa o suficiente para ser um lançador respeitável.

Criação a partir do drible/penetração

Wagner não perde uma oportunidade de atacar o cesto quando tem a vantagem em termos de rapidez. Um/dois dribles, fintas de corpo e já tirou o defesa da frente. Falta a componente física para aguentar o contacto, mas vai compensando com finalizações repentinas.

Novamente, noção de ângulos, espaço, uso do que a defesa e os colegas lhe dão e controlo corporal a levarem-no ao objetivo final. Wagner consegue criar pontos para si mesmo, não porque tem grande capacidade no drible, mas porque entende o jogo e sabe retirar o melhor possível das oportunidades. No 1×1, são pequenos momentos, movimentos e decisões rápidas que o colocam na melhor posição possível para finalizar.

Com tanta bola na mão ultimamente, é normal que os adversários se concentrem no alemão. Sem problemas, na mesma jogada, Wagner consegue sair de diferentes situações que a defesa lhe “atira” e passar de situações de grande aperto a lançamentos fáceis.

Assistências

Engane-se quem acha que a criação de Franz Wagner se resume a pôr a bola no cesto. O extremo dos Magic é mais que capaz de colocar os seus colegas na melhor posição possível para marcar, de formas e em situações variadas. O número de assistências por jogo do alemão mantém-se nos últimos jogos, apesar da menor capacidade de concretização dos colegas e de uma maior necessidade de se assumir como marcador de pontos.

Alvo de cada vez maior atenção saído do bloqueio direto, é capaz de ler a posição dos defensores adversários e colocar o passe “no bolso” do colega, fugindo aos longos braços dos adversários.

Uma das grandes melhorias com os últimos jogos que vem realizando: Quando a atenção recai nele, tem a capacidade para manter o drible vivo e descobrir colegas sozinhos do outro lado do campo. O nível de execução destes passes, principalmente com tantos defesas no caminho, é extremamente difícil e um excelente atestado ao crescimento de Wagner.

São várias as situações em que Wagner consegue descobrir os colegas. Tem a capacidade para esperar e ler a defesa, atacando no momento certo, obrigando a defesa a reagir e criando lançamentos para os colegas que antes não estavam lá.

Turnovers

Escrevia ainda há pouco tempo sobre bons turnovers e como eram um bom indicador de um criador com bola em evolução, em especial no caso dos rookies. É o que acontece também no caso de Franz Wagner. As jogadas acima apresentadas mostram a vontade de arriscar e tentar coisas novas. Boas leituras (ou más, por vezes) a provocarem erros que só levarão o jogador a ter algo para corrigir e melhorar no futuro. O número de turnovers tem subido ultimamente, fruto de uma maior carga ofensiva, mas isso não é um fator de preocupação para um rookie. Principalmente quando vemos que não são resultado de desleixo, mas sim de risco.

Com Jalen Suggs tanto tempo fora de campo, Franz Wagner tem aproveitado a oportunidade para se assumir como figura da turma de Orlando. Tem ganho espaço na luta por melhor rookie da temporada (com concorrência forte) e, acima de tudo, tem tido tempo e possibilidades para errar, melhorar e ambientar-se ao estilo de jogo da NBA. Wagner é claramente um dos jogadores a manter debaixo de olho para 2022.

por ANTÓNIO DIAS [@antoniodias_pt]

Autor

António Dias

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