Fomos à Bola (Laranja) de Cristal e vimos as Estrelas, Vol. II

por jan 28, 2022

Bem, nós avisámos. A lista de titulares ao All-Star Game lançada no Borracha Laranja na newsletter da semana passada (subscrevam!) era a correcta e definitiva, exaustivamente votada por dez maníacos que dormiriam mal caso não chegassem aos nomes certos. Por alguma razão a NBA decidiu não se guiar por nós, e acabámos assim:

Com nove nomes em comum, o nosso eleito Rudy Gobert (ou até Draymond Green, para citar as duas piores omissões) ficou de fora da lista de titulares, preterido pelo estreante Andrew Wiggins. É possível que tenham de ler esta frase outra vez; eu próprio tive que fazer um auto-fact check.

Esta discordância teve um efeito imediato na nossa redacção: marcar uma assembleia extraordinária, eleger os suplentes, e dignificar o planeta com as escolhas que, mesmo que não se venham a verificar, são aquelas que decididamente deveriam fazer parte do jogo de dia 20 de Fevereiro em Cleveland.

O Método

Cientes da responsabilidade e atendendo às regras de escolha das reservas, decidimos fazer o seguinte: cada um de nós (para cada conferência) escolheu um ‘cinco’ suplente, com as mesmas regras do titular – dois bases e três jogadores de frontcourt – em que cada jogador recebeu 3 pontos pela escolha, e de seguida escolhemos mais 5 jogadores ‘livres’ de posição para ocuparmos as últimas duas vagas de ‘wildcard’, em que cada jogador recebeu um ponto pela nomeação.

Cada votante teve assim 20 pontos para alocar (15 no ‘cinco’ suplente + 5 em cinco jogadores livres), e cada nomeado poderia então acumular um máximo de 30 pontos (recebendo 3 de cada um de nós). Fácil.

As Escolhas

Conferência Este

G – Zach Lavine, Chicago Bulls, 28 pontos

G – James Harden, Brooklyn Nets, 16 pontos

F – Jarrett Allen, Cleveland Cavaliers, 27 pontos

F – Jimmy Butler, Miami Heat, 23 pontos

F – Jayson Tatum, Boston Celtics, 20 pontos

WC – Fred VanVleet, Toronto Raptors, 16 pontos

WC – Domantas Sabonis, Indiana Pacers, 18 pontos

Também receberam pontos: Darius Garland (10), LaMelo Ball (9), Pascal Siakam (7), Bam Adebayo (5), Tyler Herro, Jaylen Brown e Miles Bridges (4), Khris Middleton (3), Montrezl Harrell e Jrue Holiday (2), Bradley Beal e Clint Capela (1)

Olhando para as votações, houve um top-7 razoavelmente consensual, que era o principal objectivo para completar os 12 eleitos da Conferência (relembrando aqui que o nosso voto foi secreto). Nos bases, Zach Lavine esteve perto da pontuação máxima, deixando a outra vaga de base suplente a ser disputada entre James Harden e Fred VanVleet. Para mal dos meus pecados, empataram, sendo que optei por Harden acima já que tinha tido mais votos para ser titular na nossa eleição da semana passada, deixando ‘Steady Freddy’ com a primeira vaga de ‘wildcard’.

Estes três jogadores tinham todos um argumento possível, ou pelo menos debatível, pela vaga ocupada por Trae Young na equipa titular, pelo que o seu lugar na equipa é indiscutível. Infelizmente, isso deixa de fora Darius Garland e LaMelo Ball, dois jogadores a dar um salto qualitativo impressionante como dínamos ofensivos de equipas que estão a exceder as expectativas para esta temporada, pelo que terão de esperar por substituir algum jogador indisponível nesse fim-de-semana (e já lá iremos).

No frontcourt, não tivemos dúvidas em eleger Jarrett Allen e Jimmy Butler. Completamente ‘tapados’ da equipa titular pelo tridente de candidatos a MVP Embiid-KD-Giannis, o seu mérito em serem All-Stars é indiscutível. O poste de Cleveland regista máximos de carreira em virtualmente toda a sua folha estatística, lidera com os miúdos Mobley e Garland os Cavaliers na maior surpresa da temporada, ancorando com o rookie uma defesa que dá gosto ver, e demorou cerca de um quarto de época a transformar o seu contrato (4 anos, $80M) numa pechincha e deixar os Rockets corados de vergonha pela maneira como o deixaram fugir no ano passado. 

Jimmy ‘Buckets’, se não tivesse falhado um terço da época até agora, teria condições para lutar por uma vaga a titular, e dado o peso da concorrência, é talvez o melhor elogio que podemos fazer à época que está a fazer.

Sobrando uma vaga para se juntar a estes dois jogadores, ela em condições normais seria de Bam Adebayo, a outra referência in absentia dos Heat durante metade da época até agora. Dado o número de jogos falhados, as nossas agulhas foram viradas para Jayson Tatum e Domantas Sabonis, dois jogadores a fazer boas épocas em equipas abaixo do esperado, tendo o extremo dos Celtics levado a melhor. Tatum parece ter a sua evolução algo estagnada – em parte – pelo estado de indefinição da sua equipa: apesar das médias de excelência (26/8.5/3.9), tem estado irregular, e especialmente ineficiente no capítulo do lançamento a da perda de bola, onde apresenta as piores métricas da carreira. Do outro lado do espectro, está melhor que nunca nas tabelas apesar de não passar significativamente mais tempo na posição ‘quatro’ (o lineup mais utilizado contempla a parelha Robert Williams-Al Horford) e está mais agressivo no ataque ao cesto, em que apesar de não o estar a fazer mais vezes, está a ‘sacar’ faltas ao ritmo mais elevado de sempre.

A última vaga da equipa foi então ocupada por Sabonis, o único raio de Sol (provavelmente por causa do fabuloso cabelo) nos deprimentes e antepenúltimos Indiana Pacers. Aquilo que começou por ser uma época com alguma expectativa, quer pela qualidade individual dos elementos do plantel quer pela chegada de Rick Carlisle rapidamente descarrilou, e a incapacidade física de Malcolm Brogdon deixa o lituano muitas vezes sozinho como o ‘hub’ ofensivo da equipa, algo que faz a um nível espectacular: é uma ameaça diária a fazer um 20/10 adicionando umas doces assistências, tendo recursos praticamente ilimitados a partir do poste (baixo, médio ou alto), mantendo à tona enquanto está em campo uma equipa que parece cada vez mais olhar para o botão de reset com melhores olhos.

Conferência Oeste

G – Chris Paul, Phoenix Suns, 24 pontos

G – Devin Booker, Phoenix Suns, 20 pontos

F – Karl-Anthony Towns, Minnesota Timberwolves, 26 pontos

F – Draymond Green, Golden State Warriors, 24 pontos

F – Paul George, Los Angeles Clippers, 18 pontos

WC – Luka Doncic, Dallas Mavericks, 18 pontos

WC – Donovan Mitchell, Utah Jazz, 16 pontos

Também receberam pontos: Anthony Davis (12), Dejounte Murray (10), Brandon Ingram (6), Andrew Wiggins (5), Anthony Edwards, Kristaps Porzingis, Deandre Ayton e Jaren Jackson Jr. (4), Shai Gilgeous-Alexander (3) e Jonas Valanciunas (2)

A Oeste as escolhas ficaram claramente marcadas por escolhas de sobra no backcourt, que acabaram por ocupar ambas as vagas de ‘wildcard’ e ainda deixaram de fora Dejounte Murray e SGA, e uma ausência de grandes candidatos para o frontcourt, em que as paragens de PG e AD, juntamente com as ausências de Kawhi e Zion, nos fizeram olhar para outros candidatos.

No capítulo dos bases, não perdemos tempo em trazer justiça ao mundo. Por muito que se diga que Chris Paul e Devin Booker se ‘cancelam’ nas suas candidaturas ao All-Star (e a equipas All-NBA, e na discussão de MVP…), não há como fugir ao sucesso dos Phoenix Suns, actualmente com um registo de 38-9 e com vantagem de 3 jogos na luta pela vantagem caseira ao longo de todos os playoffs. Longe vão as vozes que falavam do ‘acaso’ que tinha sido a caminhada dos Suns no ano passado, e com a lesão por tempo indeterminado de Draymond Green, afiguram-se mesmo como aposta mais segura a representar o Oeste na final.

Devin Booker suplantou uma concorrência de peso e uma eleição renhida contra Luka Doncic e Donovan Mitchell, que ocuparam as nossas vagas de ‘wildcard’. O esloveno, que começou o ano fora de forma, pareceu aliar à sua fraca condição os seus outros grandes defeitos: o desinteresse na transição defensiva e os intermináveis debates com os árbitros. Para aquele que era considerado o favorito ao prémio de MVP no início da temporada, foi um começo de época bastante desapontante para ele e para os seus Mavs. No entanto, sem grandes alaridos e longe da ribalta, os texanos são a segunda melhor equipa da NBA em 2022 (11-3, depois de um início com 17-18), com o quarto melhor diferencial de pontos e, atentem, a melhor defesa da NBA nesse período – com vitórias contra Warriors, Bulls, e Grizzlies (2x). Luka está de volta ao seu triplo-duplo nocturno (24.6/10.2/9.2) nesse período, e com modestos 41% de campo, parece que ainda tem mais uma ou duas mudanças para engatar. A questão é que Luka Doncic a pouco mais de meio gás continua a ser melhor que quase todos.

O ‘Spida’ está a fazer um ano semelhante aos dois anteriores, que lhe valeram a nomeação como reserva, e continua a jogar a um ritmo de All-Star. Ele e Gobert são exactamente aquilo que esperávamos deles, as grandes armas ofensiva e defensiva de uns Jazz que jogam a um grande nível na fase regular e em piloto automático (apesar do 4-10 em Janeiro – 1-6 enquanto Gobert esteve nos protocolos de saúde e segurança) até chegarem os playoffs. O problema é que também nós olhamos para eles em piloto automático: acordem-nos em Abril e mostrem-nos que valem mais do que as pessoas dizem. Até lá, é apenas uma boa equipa… com dois All-Star.

No frontcourt, não tivemos dúvidas em eleger Andrew Wiggins Karl-Anthony Towns e Draymond Green. Sendo dois jogadores que dificilmente poderiam ser mais diferentes entre si, são ambos sobredotados dentro do court, cada um no seu lado do meio-campo, e se Draymond já nos tinha habituado a ver o seu estilo de jogo traduzido em vitórias, isso está a acontecer pela primeira vez na carreira de KAT, onde uma parelha perfeita com o subvalorizado, espectacular, glue guy e hustle boss (podia ficar o dia todo nisto) Jarred Vanderbilt demonstra uma grande complementaridade e Anthony Edwards lhe oferece a melhor referência ofensiva que já teve no perímetro. Vamos ter KAT na postseason, e com isso a sua primeira grande oportunidade de se mostrar nos palcos que realmente importam. Venha ele.

A última vaga ficou para ser disputada entre Andrew Wiggins Paul George e Anthony Davis, donos de apenas 26 e 29 presenças pelas suas equipas de Los Angeles, respectivamente. ‘PG-13’, que começou o ano numa forma de MVP, sendo a principal referência da sua equipa onde o restante plantel acusava bastante irregularidade, levou a melhor sobre o ‘Brow’, que teve um início de temporada medíocre para os seus padrões, à procura do seu melhor papel e química com a inclusão de Russell Westbrook (bem como a restante equipa), deixando os adeptos dos Lakers a suspirar pelo ‘Bubble’ AD.E pronto, não foi difícil, pois não? Põe-se cabeças boas a pensar no assunto, percebe-se que Andrew Wiggins não deve figurar em qualquer lista que tenha ‘All-Star Starters’ no nome, e continua-se a partir daí. Em jeito de resumo, aqui fica a lista final dos jogadores que devem receber uma nomeação All-Star de acordo com os vossos amigos do Borracha Laranja, incluindo as nossas sugestões para substituir os nomeados que já sabemos ausentes por lesão. Um obrigado a todos eles, que deram a matéria prima para estes artigos. Voltamos em Abril com mais votações.

por LUCAS NIVEN [@lucasdedirecta]

Autor

Borracha Laranja

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