Grand Theft Alvarado e 5 jogadores com o papel perfeito

por dez 7, 2022

À entrada para esta temporada, as expectativas estavam incaracteristicamente altas para os New Orleans Pelicans. Depois de épocas atrás de épocas de mediocridade, o grupo liderado por Willie Green conseguiu, no ano passado, regressar aos playoffs. Com talentos como Brandon Ingram, Jonas Valanciunas e o recém-contratado CJ McCollum, o conjunto venceu dois jogos no play-in e levou os Phoenix Suns a seis jogos, dando excelentes indicadores do que estaria para vir.

E, este ano, Zion Williamson regressou. Apesar de algumas dúvidas iniciais quanto à facilidade de voltar a inserir Zion no esquema de jogo da equipa, essas foram rapidamente dissipadas. A identidade mantém-se a mesma – simples com o indulgente bónus de adicionar a absurda eficiência de Zion ao ataque.

Os resultados têm sido óptimos neste arranque de temporada. À data da escrita deste artigo, os Pelicans têm um registo de 16 vitórias e 8 derrotas, o 1.º na Conferência Oeste e 3.º melhor em toda a NBA, atrás apenas dos Boston Celtics e Milwaukee Bucks.

Os Pelicans têm o 6.º melhor rating ofensivo na liga e o 3.º melhor rating defensivo. Essencialmente, fazem tudo bem. Estão em 5.º em percentagem de lançamento e em 7.º no que diz respeito a percentagem de triplos – apesar de lançarem comparativamente poucos (27.º na NBA). Também partilham a bola com generosidade – apenas seis equipas na liga têm maior média de assistências por jogo. E são também muito agressivos na defesa (2.º em roubos de bola), embora o façam com inteligência, privilegiando o ataque das linhas de passe e não tanto uma pressão excessiva na posse de bola direta.

Faço este (epicamente longo) preâmbulo para ilustrar o quão impressionante que – numa época tão boa, com talentos tão valiosos e ainda uma mão cheia de picks de draft para continuar a melhorar a equipa no futuro – uma das maiores histórias dos Pelicans esta temporada esteja a jogar a ascensão em popularidade de um jogador de segundo ano que nem sequer foi seleccionado no draft.

O pequeno base Jose Alvarado tornou-se moderadamente viral no ano passado pela sua garra sem limites e, acima de tudo, pela capacidade no roubo de bola – em especial um truque que faz regularmente em que se deixa ficar para trás da defesa para depois tentar um ataque surpresa ao transportador de bola. O seu sucesso repetido com a improvável estratégia – que usou até contra veteranos como Chris Paul, nos playoffs – levou a uma das melhores alcunhas na História da NBA: “Grand Theft Alvarado”.

Mas o base não se ficou apenas pelos momentos virais. E entrou nesta temporada, no seu segundo ano na liga, determinado a mostrar que era muito mais que isso. Os roubos de bola continuam lá. A garra imparável? Maior ainda. Mas o seu jogo ofensivo apareceu mais trabalhado, mais focado. Alvarado melhorou a percentagem da linha de lance livre de 68% para 84% e de triplos de 29% para 40%. Essas melhorias têm levado a mais minutos e até a ocasional explosão ofensiva – como a que aconteceu recentemente na vitória frente aos Denver Nuggets, num jogo em que terminou com 38 pontos marcados e 8 triplos convertidos.

É pouco provável que Alvarado se venha a tornar uma super-estrela, mas é redutor exigirmos que tal aconteça. O seu papel é perfeito para o que a equipa precisa. Em todo o historial da NBA, não existe uma única caminhada ao título que não tenha tido enormes contributos de jogadores que, normalmente, se contentam em trabalhar no anonimato. Numa tarefa tão hercúlea como a conquista de um título, todos os detalhes contam. Os Pelicans marcam cerca de 117 pontos por jogo e sofrem cerca de 110. Jose Alvarado tem uma média de plus/minus de 6 pontos. Todos os detalhes contam.

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Jose Alvarado não é o primeiro nem será o último role player com a capacidade de elevar a sua equipa sem dominar a boxscore. Na lista desta semana, vamos recordar alguns dos melhores de sempre a fazê-lo:

A. C. Green

Green chegou a ser nomeado All-Star em 1990, mas, curiosamente, o seu trabalho mais memorável foi quando estava mais “nas sombras”. Um especialista em ressaltos ofensivos e defensor muito sólido, A. C. ajudou os Lakers a conquistar os títulos de 1987, 1988 e, vários anos depois, em 2000. O lendário “Iron Man”, tem o recorde de jogos consecutivos, tendo participado em 1192 jogos entre 19 de Novembro de 1986 e 18 de Abril de 2001. Em toda a carreira, que durou 16 épocas, falhou apenas três jogos. Cristão devoto, é também famoso (infame?) por se ter mantido solteiro e virgem durante toda a carreira na NBA.

Derek Fisher

Estamos aqui a falar de um jogador que terminou a carreira com médias de 8.3 pontos, 3 assistências e 2.1 ressaltos. Mas quem pense que foi apenas um passageiro nos cinco títulos que conquistou com os Los Angeles Lakers, nunca o viu jogar. Como fã dos Orlando Magic, sei bem o que foi ter de lidar com os seus triplos decisivos – ainda tenho suores frios com as memórias do jogo 4, em 2009. E o que o dizer aos fãs dos Spurs, ainda traumatizados pela ideia de que é possível perder um jogo em menos de um segundo? 0.4, para ser mais preciso. Fisher defendia bem e crescia nos grandes momentos. É assim que se constrói uma carreira de sucesso.

K. C. Jones

Conhecido, acima de tudo, pela sua tenacidade defensiva, K. C. Jones jogou nove temporadas na NBA, tendo ajudado os Boston Celtics a conquistar oito títulos consecutivos nas suas primeiras oito épocas, antes de ser eliminado pelos Sixers nos playoffs e reformando-se de seguida – talvez por não saber lidar com a mudança na rotina. Durante boa parte da sua carreira, o seu grande papel foi como suplente de Bob Cousy, assumindo um pouco mais as rédeas do jogo ofensivo quando este se retirou, em 1963. Jones acabou por entrar no Hall of Fame, em 1989, tendo-se tornado um dos poucos jogadores maioritariamente de banco a conseguir o feito.

Steve Kerr

No Jogo 6 das Finais de 1997, contra os Utah Jazz, Steve Kerr recebeu um passe de Michael Jordan e marcou o cesto que deu o título aos Chicago Bulls. No Jogo 6 das Finais da Conferência Oeste, em 2003, acertou quatro triplos que ajudaram os San Antonio Spurs a eliminar os Dallas Mavericks, rumo ao título. No total, Kerr terminou a carreira com cinco títulos – três com os Bulls e dois com os Spurs. Detém também a melhor percentagem de triplo de sempre – 45.4% – e, já como treinador, conquistou mais quatro títulos, com os Golden State Warriors. Nada mau para um jogador que jogou apenas cerca de 17.8 minutos por jogo na sua carreira.

Robert Horry

Uma pergunta recorrente entre fãs da NBA sem mais nada para discutir é se preferíamos ter tido a carreira de Robert Horry ou de Charles Barkley. Que fique bem claro: qualquer um que responda que preferia a do Horry está a mentir a si mesmo. Mas diz muito sobre a carreira deste role player que seja sequer uma questão. Excluindo os jogadores da dinastia dos Celtics, mais ninguém tem tantos títulos como Robert Horry. Foram sete no total – dois com os Houston Rockets, três com os Los Angeles Lakers e dois com os San Antonio Spurs, nunca tendo perdido em Finais. O grande papel de Horry era defender a sua posição, ajudar nos ressaltos e acertar alguns dos lançamentos mais clutch da história da NBA. Ninguém desempenhou o seu papel na maior perfeição como o lendário “Big Shot Rob”.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

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