O cão dentro de Jimmy Butler e 5 jogadores que se transcendem nos playoffs

por abr 29, 2023

Existe, em Indianápolis, Indiana, uma instituição de ensino superior chamada Butler University. Quando decidiram formar um departamento desportivo, apelidaram as suas equipas universitárias de Butler Bulldogs. Pessoas estranhas que se preocupam com factos dirão que a escola retira o seu primeiro nome do fundador, Ovid Butler. E pessoas estranhas que se preocupam com lógica dirão que o segundo nome foi escolhido porque aliterações são fixes.

Mas não este que vos escreve. A mim ninguém me convence que este nome não é um presságio para a existência futura do jogador com mais dog dentro de si de sempre – Jimmy Butler. Isso ou então eu precisava de uma desculpa airosa para escrever sobre o homem que me estragou a previsão de campeão logo na primeira ronda.

É sempre assumido que, por pior que joguem na temporada regular, os Miami Heat são sempre aquela equipa que ninguém quer apanhar nos playoffs. Jogam uma defesa aguerrida e disciplinada, são liderados pelo melhor treinador na NBA – Erik Spoelstra – e, claro, têm Jimmy Butler, o expoente máximo do jogador que se eleva quando os jogos são a doer.

Há inúmeras razões para esta derrota surpreendente de um dos maiores favoritos ao título em apenas cinco jogos. Mike Budenholzer voltou a demonstrar a sua desagradável tendência para congelar quando é preciso mudar alguma coisa na estratégia – ou sequer pensar numa jogada. Giannis teve um final desastrado para a sua campanha de luta pelo título. E o ataque dos Bucks não conseguiu superar as dificuldades que já tinha demonstrado durante a época mas nós teimávamos em crer que se iriam resolver a tempo.

Mas isto levou apenas a um equilíbrio de forças. O que elevou os Miami Heat, jogo após jogo, foi a absurda competitividade do seu líder. Jimmy Butler terminou a ronda com 37.6 pontos de média, com percentagens de quase 60% de campo e 45% de triplo. No jogo 4 assinou uma pequena obra-prima de 56 pontos e, no jogo seguinte, com muitos dos titulares dos Heat já fora de campo devido a faltas, carregou o banco às costas para a vitória com 42 cruciais pontos, incluindo uma finalização absurda a um lob nos últimos segundos do tempo regulamentar, para levar o jogo a prolongamento.

Este é um jogo complexo, com muitas variáveis. Análise de tendências ofensivas, estudo de esquemas defensivos, optimização de posicionamento dos lançamentos para maximizar eficiência. Todas estas são ferramentas que podem e devem ser usadas para dar vantagem competitiva às equipas.

Mas, por vezes, quando as estratégias se auto-anulam e os esquemas se encaixam, a vitória vai para quem quer mais. E não sei se existe alguém que queira tanto como o Jimmy Butler.

Ou não tivesse ele um Bulldog bem alojado dentro de si.

***

Muito dos melhores jogadores de sempre tendem a, pelo menos, manter o seu nível quando a pressão aumenta, nos playoffs. Alguns, jogam um pouco melhor. Mas existem alguns que se ascendem a outro nível. Vamos destacar alguns dos melhores exemplos:

Jamal Murray

Não sei se alguma vez tivemos um jogador que se elevasse tanto nos playoffs. Jamal Murray é, acima de tudo, um marcador de pontos. Um jogador que assume os lançamentos difíceis. Em suma, o jogador ideal para colocar em volta do Jokic, quando as defesas caem no sérvio. Mas, durante a temporada regular, é notório que Murray joga em piloto automático. Basta ver que o canadiano tem uma média de 16.9 pontos durante a época regular e sobe para uns absurdos 24.7 nos playoffs. Em 410 jogos na temporada regular, soma quatro jogos com 40 pontos ou mais. Em 34 jogos nos playoffs, já conseguiu o feito cinco vezes, incluindo este ano.

Hakeem Olajuwon

Sim, o Hakeem Olajuwon subia a sua média de 21.8 para 25.9 pontos. Sim, ele acumulava “stocks” de uma forma que faria qualquer viciado em fantasy ter pensamentos que o Ricardo Brito Reis não me deixa expressar nesta coluna sob risco de o site todo ser cancelado. Mas o que separava Hakeem dos seus oponentes era um equilíbrio perfeito entre talento, execução e pura ambição competitiva. No início da carreira, isso manifestava-se em agressividade desnecessária e expulsões. Mas quando o jogo de Olajuwon maturou, ele tornou-se uma maquina de basket que guardava rancores como ninguém – o David Robinson que o diga.

Dirk Nowitzki

O campeonato que Dirk Nowitzki conquistou em 2011 cimentou o seu legado como um dos melhores jogadores que a liga já viu, em conjunto com uma longa e celebrada carreira de contínua excelência – e excelentes vídeos de declamação poética de letras de canções da Britney Spears. Por isso, é importante não esquecer que tempos houve em que Dirk era considerado um playoff choker, depois de derrotas com os Heat, nas Finais e com os “We Believe” Warriors, na 1.ª ronda. Essa reputação foi sempre injusta, mas foi completamente mudada quando Dirk se tornou um verdadeiro assassino nos playoffs. Um jogador que os adversários nunca queriam ver com a bola num momento crucial. Principalmente certas estrelas que estavam convencidas que ganhar campeonatos é tão fácil como enumerá-los.

Draymond Green

Muito é, por vezes, dito – estupidamente – sobre as estatísticas de Draymond Green sem grande consideração pelo impacto que Green tem no jogo mesmo sem apresentar números estratosféricos – especialmente nos playoffs. Mas, curiosamente, os números também mostram esta apetência para os grandes momentos. Na temporada regular, Draymond tem médias de 8.7 pontos, 7.0 ressaltos, 5.6 assistências, 1.4 steals e 1.0 blocks. Nos playoffs? 11.8 pontos, 9.0 ressaltos, 6.2 assistências, 1.6 steals e 1.4 blocks. Ou seja, sobe em todas as principais categorias. Isso e, claro, no número de técnicas despropositadas.

Michael Jordan

Não preciso de dizer muito mais, certo? É o Jordan. Fim de argumento. Fim de texto.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

Subscreva a nossa Newsletter