O fim de uma temporada invulgar e 5 previsões para os playoffs

por abr 14, 2023

A temporada terminou e sinto-me como se tivesse acabado de fazer um teste importante para o qual passei muito tempo a estudar. Conhecem essa sensação? Quando despejamos tudo o que sabemos para umas folhas de papel em duas horas e depois, quando saímos, nem sabemos o nosso nome quanto mais o que respondemos na 3.ª pergunta do enunciado? Ainda assim – com a ajuda do nosso amigo Google e um esforço hercúleo para tentar organizar os ficheiros na minha memória – vamos tentar recordar alguns dos momentos mais marcantes desta temporada.

Como já disse, foi uma época de loucos. LeBron James tornou-se o melhor marcador de sempre da NBA – ultrapassando o recorde de Kareem Abdul-Jabbar que se pensava ser impossível de superar – e depois, mesmo com o entrave de algumas lesões recorrentes e inoportunas, conseguiu ajudar os Lakers a entrar nos playoffs. Já Luka Dončić teve um arranque de temporada brutal, evitando as (justificadas) acusações de tender a começar as temporadas em baixo de forma, mas depois acabou por não conseguir levar a sua equipa sequer ao play-in.

A nível de polémicas, tivemos algumas bem valentes. Ja Morant culminou uma sequência de comportamentos erráticos com acusações de ter espancado um adolescente, relatos de ter “amigos” a apontar a armas a responsáveis de outras equipas e – a cereja no topo do bolo – e um vídeo onde achou que era divertido filmar-se com uma arma perto da cara enquanto se ria. Acabou suspenso pela equipa algumas semanas.

E depois tivemos, claro, Kyrie Irving, que achou que a temporada estava demasiado normal para os Nets e decidiu que seria o momento ideal para fazer comentários anti-semitas e partilhar documentários que negam o Holocausto. Foi suspenso, voltou, e a equipa rapidamente implodiu, com Kyrie a ser trocado para os Mavericks e Kevin Durant a rumar, de seguida, aos Phoenix Suns.

Mas prefiro-me focar em todas as coisas boas que aconteceram esta temporada. Os Sacramento Kings regressaram aos playoffs em estilo, terminando em 3.º lugar na Conferência Oeste e com o melhor ataque da liga – num ano em que as equipas registaram a maior média de pontos marcados por jogo (114.7) desde a temporada de 1969-70.

A Conferência Este voltou ao topo da liga (bom pela variedade) e a Conferência Oeste nunca esteve tão aberta (bom pelo caos). Joel Embiid vai finalmente conquistar o MVP que tanto procurou (esperemos que a vitória suavize a toxicidade do debate de MVP no futuro próximo) e Mac McClung veio direto da G League para electrizar o Dunk Contest no All-Star Weekend. Tivemos a barriga cheia de grandes momentos e ainda nem falei do melhor de tudo:

Amanhã começam os playoffs.

***

Depois deste singelo balanço da temporada regular, deixo-vos com algumas previsões do que conto que aconteça nestes playoffs:

Não menosprezem os Sacramento Kings

Que fique bem claro – eu continuo a achar que os Warriors partem como favoritos para esta eliminatória. Têm uma defesa que já é melhor à partida e tende a melhorar nos playoffs, têm muito mais experiência de grandes momentos, e os Kings não têm como parar Steph Curry. Mas algo me diz que os Kings vão ser muito mais resilientes do que lhes dão crédito. DeAaron Fox tem sido incansável no ataque ao cesto e Sabonis vai ter carta branca para tentar dominar o garrafão no jogo ofensivo – tanto a jogar para si como para o batalhão de triplistas em seu redor. Se alguma equipa poderá contrariar o adágio de que “defesas ganham campeonatos”, por que não estes Kings?

Cavs vão ser bastante superiores aos Knicks

No papel, tudo indica que este vai ser um embate muito disputado. “Cavs em 7” tem sido a aposta comum que se tem visto um pouco por todo o lado. Mas eu não partilho a mesma confiança nestes Knicks. Sim, Julius Randle parece revunescido. Sim, Jalen Brunson foi um tiro em cheio. Sim, Immanuel Quickley parece ser o grande favorito a 6th Man of the Year. Mas os Cavaliers têm a melhor defesa em toda a liga, em grande parte pelo esforço conjunto de Jarrett Allen debaixo do cesto e Evan Mobley (forte candidato a Defensive Player of the Year) a “atacar” todas as sobras em seu redor. E a dupla de Donovan Mitchell e Darius Garland tem tudo para assumir as rédeas dos jogos nos momentos de aperto. Cavs em 5 é a minha aposta.

Os Nuggets vão dar ataques cardíacos aos seus fãs

Nas duas primeiras temporadas em que os Nuggets chegaram aos playoffs com Nikola Jokić ao comando das tropas, tornaram-se infames por levarem quase todas as eliminatórias ao Jogo 7 – 4 em 5 possíveis, para ser exato. Nos últimos anos, mudaram consideravelmente… para pior. Levaram sweep dos Suns há dois anos e foram eliminados em 5 jogos no ano passado pelos campeões Warriors. Este ano, Denver chega aos playoffs em 1.º no Oeste, mas penso que vão voltar ao seu hábito desconcertante de serem consistentemente inconsistentes. Venenosos no ataque e vulneráveis na defesa, os Nuggets tendem a jogar ao nível da sua competição, para o melhor e para o pior. E acredito que isso se traduzirá em muitas eliminatórias longas.

Suns podem ser campeões… ou cair na 1ª ronda

Não estou a dizer aqui nada de novo, mas o embate entre Phoenix Suns e Los Angeles Clippers na 1.ª ronda tem tudo para ter os contornos de uma “final antecipada”… se Paul George jogar. Com “Playoff P” em campo ao lado de Kawhi Leonard, os Clippers têm as melhores armas em toda a NBA para parar a aparentemente imparável dupla de Devin Booker e Kevin Durant. Sem Paul George em campo, essa missão torna-se quase impossível. Numa Conferência Oeste sem favoritos óbvios, os Suns podem ter via aberta rumo à final, mas tudo dependerá da força do seu primeiro adversário. São umas das equipas com um “range” de expetativas mais alargado.

Milwaukee Bucks vão ser campeões

Sei bem que comecei esta lista com uma defesa esperançosa de uma equipa de puro ataque avançar longe nos playoffs, mas o racional em mim não consegue fugir à realidade: os Milwaukee Bucks são os maiores favoritos ao título este ano. E são-no, em grande parte, por serem demolidores na defesa. Com Brook Lopez e Giannis Antetokounmpo a patrulharem o garrafão, Jrue Holiday a destabilizar o ponto de ataque e Khris Middleton – em melhor forma a cada jogo que passa – a incomodar o melhor wing scorer adversário, esta é uma defesa quase totalmente destituída de pontos fracos. O ataque tem sido bem menos eficiente este ano, sim, mas acredito que o regresso à forma de Middleton vai ajudar muito nesse sentido. E Giannis – com ou sem MVP – continua a ser o melhor jogador em toda a liga.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

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