Os “outros” Nuggets e 5 campeões que eram estreantes nas Finais

por maio 27, 2023

Enquanto os Miami Heat tentam evitar ser a primeira equipa a sofrer uma reviravolta depois de estarem à frente por 3-0 – os Boston Celtics tinham acabado de ganhar dois jogos de seguida à data da escrita deste artigo – gostaria de olhar mais uma vez para uma equipa que acabou de fazer um feito histórico. Após “varrerem” os Los Angeles Lakers nas Finais de Conferência a Oeste, os Denver Nuggets chegaram às Finais pela primeira vez na história do “franchise”.

Na semana passada, dediquei o meu texto a elogiar o talento difícil de quantificar de Nikola Jokić que, deve ser dito, foi e é a principal razão para o sucesso continuado dos Nuggets nestes playoffs e em playoffs passados. É um jogador incrível e merece todos os elogios que tem tido. Mas ele não joga sozinho – e seria o primeiro a dizê-lo. Por isso, quero dedicar o meu texto desta semana ao fantástico elenco secundário de Denver.

Para começar, temos Jamal Murray. Já noutro artigo mencionei isto mas é importante repeti-lo: Murray é um dos jogadores que mais se eleva nos playoffs na História da NBA. A sua média de pontos de carreira na temporada regular é 16,9. Nos playoffs? 25,4. Só nestes playoffs, vai com uma média de 27,7 pontos, nos quais se incluem uma mão cheia de cestos decisivos e grandes exibições. Se Jokić é o cérebro que faz toda a engrenagem mexer, Murray é o coração que lhe injeta sangue nas veias.

Gostaria de destacar também a evolução muito interessante de Michael Porter Jr. nestes playoffs. Muitos dos seus pontos fortes continuam lá. O jovem extremo usa muito bem a sua altura para contribuir nos ressaltos defensivos e também para lançar de triplo sem ser especialmente incomodado por close-outs, criando uma “gravidade” que é fulcral para abrir as linhas de ataque ao cesto que o Jokić tanto gosta de explorar. Mas, noutros anos, Porter Jr. era tão mau na defesa que era “atacado” constantemente no pick and roll, gerando fortes desequilíbrios. Isso já não acontece. Não da mesma forma. MPJ está muito mais sólido nos movimentos laterais e, quando é ultrapassado numa drive para o cesto, usa os seus braços longos para incomodar muitos lançamentos.

Falando de defesa, não nos podemos esquecer dos dois pilares do esquema defensivo dos Nuggets: Kentavious Caldwell-Pope, mais focado nos bases, e Aaron Gordon, mais focado nos jogadores de frontcourt. Ambos razoavelmente eficientes no ataque e absolutamente cruciais na defesa, tanto na marcação individual como a “tapar buracos” quando os desequilíbrios acontecem.

E, claro, há ainda um componente essencial de qualquer equipa candidata ao título: o factor X. O jogador de rotação com uma fonte de energia inesgotável. O “Joker fora do baralho” – sim, foi de propósito. Nestes Nuggets, esse jogador tem sido Bruce Brown. Agressivo no ataque ao cesto, muito agressivo na defesa, sempre que os Nuggets parecem estar a ficar um pouco mais estagnados, Brown retira-os do marasmo. Tem sido crucial no domínio de Denver nestes playoffs.

Seja qual for a equipa do Este que chegue à final, os Denver Nuggets partem como favoritos. E tenho a certeza absoluta que Nikola Jokić – vencedor do prémio de MVP nas Finais de Conferência a Oeste – seria o primeiro a dizer que isso nunca teria acontecido sem o contributo inestimável do elenco que o rodeia. Bem isso e Michael Malone, que não só construiu um esquema perfeito em volta da sua estrela mas também nunca perde uma oportunidade para lembrar que ninguém acredita neles. Está tudo nos detalhes.

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Das 30 equipas na NBA, 25 já chegaram às Finais. Dessas, apenas 10 se sagraram campeãs na visita de estreia ao último embate da temporada. Se formos esmiuçar ainda mais, muitos destes vencedores estreantes fizeram-no nos anos 50, no arranque da liga, diminuindo a probabilidade de se ter idas repetidas às Finais. Assim, vamos fazer uma viagem no passado um pouco mais recente e ver que lições poderão os Nuggets retirar de alguns dos campeões “estreantes”:

Portland Trail Blazers (1977)

No rescaldo da fusão entre a ABA e a NBA, muitos jogadores trouxeram uma grande injeção de talento na liga. Os Philadelphia 76ers beneficiaram com a chegada de Julius Erving e George McGinnis e rumaram à final. Lá, encontraram os Blazers de Bill Walton, que teve a ajuda de Maurice Lucas, vinda também da ABA. Os Sixers eram os claros favoritos e ganharam os primeiros dois jogos da final, mas os Blazers, apoiando-se no excelente jogo de passe no interior de Walton, fizeram a reviravolta e venceram por 4-2. O Finals MVP terminou com médias de 18,5 / 19 / 5,2. Nikola Jokić é, em muitos aspetos, uma versão moderna de Walton.

Chicago Bulls (1991)

Depois de algumas temporadas em que os Bulls eram muito bons mas ficavam sempre aquém, por norma eliminados pelos “Bad Boy Pistons”, na época de 1990-91 o a “triangle offense” de Phil Jackson e Tex Winter já estava plenamente instalado, com Michael Jordan a passar muito mais a bola e a confiar nos colegas. Os Bulls “varreram” os Pistons nas Finais de Conferência e ganharam nas Finais apesar de perderem o primeiro jogo em casa contra os Lakers de Magic Johnson. Seguiram-se quatro vitórias, incluindo três triunfos consecutivos em Los Angeles. Michael Jordan fez 11,4 assistências por jogo e conquistou o primeiro de 6 MVPs das Finais.

San Antonio Spurs (1999)

O primeiro título dos Spurs aconteceu num ano muito peculiar. Um impasse nas discussões do contracto coletivo de trabalho levou a “lockout” e época começou mais tarde, com apenas 50 jogos, em vez dos normais 82. San Antonio, apoiados nas “Twin Towers” de David Robinson e Tim Duncan e numa defesa absolutamente sufocante, dominaram os Knicks, alicerçados em exibições de Finals MVP de Tim Duncan, ainda apenas no seu 2º ano na liga, mas já a fazer médias de 27,4 pontos, 14 ressaltos e 2,2 blocks. Curiosamente, a final foi entre o 1.º da Conferência Oeste e o 8.º do Este, um match-up que pode voltar a acontecer este ano.

Miami Heat (2006)

Depois terem juntado Shaquille O’Neal com um jovem Dwyane Wade, os Miami Heat depararam-se com o obstáculo intransponível que eram os Pistons. Mas, no ano seguinte, com mais um ano de experiência a jogarem juntos, conseguiram passar os Pistons e defrontaram os Mavericks, que chegavam às Finais como favoritos. E, com duas vitórias nos primeiros dois jogos, isso parecia ser justificado. Mas os Heat ganharam os quatro jogos seguintes, impulsionados por um jovem Wade, o MVP das Finais, que atacou o cesto de forma destemida e acumulou muitos lances livres, levando até a acusações de favoritismo dos árbitros.

Toronto Raptors (2019)

No caso de muitos vencedores “estreantes”, havia um historial por trás de “quases”. Havia aquela sensação que era só uma questão de tempo até chegar a sua vez para jogar no mais alto dos palcos. Não tanto assim com estes Raptors. Mas a decisão de ir buscar Kawhi Leonard aos Spurs em troca por DeMar DeRozan provou-se vencedora, com a estrela a guiar os Raptors rumo à sua primeira final – e consequente título. A boa forma dos Raptors e uma série de lesões graves para os “imbatíveis” Warriors de Curry e Durant conspiraram para a muito improvável vitória. Kawhi, que só esteve um ano em Toronto, foi o justo MVP das Finais.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

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