Palmo e meio de gente

por jul 15, 2018

Uma ex-vizinha, com quem eu nunca falei em toda a minha vida, procurou-me nas redes sociais e disse-me, passados todos estes anos, que valeram a pena todas as horas que aquela bola de basket bateu na garagem quando eu era miúdo.

Vou repetir uma vez mais. A final perdida, na época de 2002/2003, no quinto jogo contra a Portugal Telecom, é um pesadelo que nenhuma criança, como eu, jamais se esquecerá. E para quem estiver a ler isto e não compreender este sentimento, lembre-se da final do Euro 2004, onde Portugal perdeu contra a Grécia, e que até o mais desinteressado adepto de futebol se sentiu triste. Pois bem, eu e a maioria dos Oliveirenses sentiram isso tudo, em anos seguidos.

Um palmo e meio de Cidade que encheu o Pavilhão Dr. Salvador Machado, como poucos pavilhões nacionais alguma vez viram. Um palmo e meio de Cidade que apoiou, gritou e lutou com a equipa, como poucos pavilhões nacionais alguma vez viram. Eu era um palmo e meio de gente no meio dessa multidão. E mesmo assim não foi suficiente. Nem os ténis oferecidos pelo José Lasa (o base espanhol da Oliveirense, com Real Madrid no currículo e que nem jogava mal de todo!) serviram de consolação.

Dessa final até aos dias de hoje, a equipa sénior de basquetebol da Oliveirense passou por altos e baixos. Ainda conquistou uma Taça da Liga mas, poucos anos depois, extinguiu-se até 2009, ano em que recomeça na CNB2. Nunca mais disputou uma final do principal escalão do basquetebol nacional.

A equipa foi crescendo, ano após ano, vitória após vitória. Não posso falar por mim, porque não estava presente. Fui uma das “vítimas” da extinção da equipa profissional que teve que procurar o seu caminho noutras paragens, caminho esse chamado Ovarense, a quem agradeço por me ter formado, não só como jogador, mas principalmente como pessoa, com o caráter certo.

Posso falar por todos aqueles que vivenciaram esses anos em que o clube se foi reerguendo, muitos deles grandes amigos e/ou adeptos e/ou companheiros de equipa ainda hoje, que me passaram um espírito de União que, para mim, foi fácil de entender. Afinal de contas, tinha regressado a casa.

Passados 15 anos, com o sacrifício de um palmo e meio de gente, a União Desportiva Oliveirense teve a quinta oportunidade de conquistar o seu primeiro título nacional da sua história e, ironia do destino ou não, eu tive o privilégio de lutar por ele. O resto já vocês sabem.

Engraçado que uma ex-vizinha, com quem eu nunca falei em toda a minha vida, procurou-me nas redes sociais e disse-me, passados todos estes anos, que valeram a pena todas as horas que aquela bola de basket bateu na garagem quando eu era miúdo, quando perdia vezes sem conta contra o meu irmão, três anos mais novo (humilhante, João Barbosa!). Esta mensagem só veio confirmar a suspeita que eu tinha sobre o quanto nós incomodávamos o prédio todo, horas a fio, logo de manhã, ao ponto de ainda hoje ser confrontado com isto!

Não sei se o troféu tem palmo e meio. Sei apenas que eu continuo palmo e meio de gente, mas um palmo e meio de gente bem mais realizado! E que Oliveira de Azeméis é um palmo e meio de Cidade bem mais feliz, orgulhosa e confiante.

Como alguém nos disse ao longo da época: “Nós somos do tamanho dos nossos sonhos”.

P.S.: Um agradecimento a todos os Oliveirenses, por nos fazerem sonhar de novo, por sonharem incansavelmente com toda a equipa e por nos ajudarem a concretizar este sonho.

por JOSÉ BARBOSA

 

Fotos: UD Oliveirense

Autor

José Barbosa

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