Rui no país do körfubolta: Em casa, longe de casa

por nov 1, 2019

Nem tudo são rosas. Nas primeiras semanas não tive o meu alojamento disponível de imediato. (…) Assim, inicialmente fui (fomos) recebido(s) de braços abertos em casa do presidente do clube e da sua esposa.

Sabem aquela sensação de regressar a casa depois de uns dias fora ou de um daqueles dias longos e intermináveis? Aquela sensação de deitar na nossa cama e de nos sentirmos como que abraçados? Pois bem, confesso que ainda não estou nesse ponto. Casa continua a ser o meu país, a(s) minha(s) cidade(s) e a minha gente. É aí que está o verdadeiro abraço. Apesar deste natural sentimento de saudade, devo felizmente dizer que fui muitíssimo bem recebido aqui em Selfoss.

Como diz a expressão, mudei-me de malas e bagagens para a Islândia no início de Agosto. Tive a sorte da minha namorada viajar comigo para ajudar à adaptação (e também para podermos passear um pouco por este belíssimo país). Tive também a felicidade deste clube, e particularmente das pessoas que o gerem, me querer ver contente e bem instalado – uma das razões que me fez assinar pelo Selfoss Karfa foi ter sentido uma genuína preocupação para com o meu bem-estar. Esta gente parece compreender o quão importante é o sentimento geral de felicidade duma pessoa para o seu rendimento enquanto trabalhador. Nos dias de hoje, e em particular no mundo do desporto competitivo, parece-me fulcral entender as pessoas como um todo, dando cada vez mais foco ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Imaginem só que viajei a 8 de Agosto, quando a pré-época só começava no dia 19. Até lá tive naturalmente que trabalhar – para os menos informados, grande parte do trabalho dum treinador tem que ver com o planeamento, o que significa muitas horas investidas durante a offseason – mas tive(mos) também a oportunidade de viajar um pouco por este deslumbrante país: explorar a capital Reykjavik (deu inclusive para ver Portugal perder com a Islândia em seniores masculinos – insert sad smile) e fazer duas road trips: uma até Geysir (como o nome indica é “O” géiser, o original) com paragem na cratera de Kerid e na cascata de Gulfoss, uma outra pelo sul até ao lago glaciar de Jokulsárlon e a “praia dos diamantes”, passando por Seljalandsfoss, Vík, entre muitos outros locais com paisagens de cortar a respiração.

Quem quiser o guia turístico sinta-se à vontade para enviar mensagem e, caso já tenham reparado, foss é um sufixo que tende a repetir-se bastante. Significa queda d’água ou cascata e, segundo uma exposição no Perlan (um museu interactivo que recomendo em Reykjavik), são mais de 2000 os locais que levam cascata no nome.

Mas nem tudo são rosas. Nas primeiras semanas não tive o meu alojamento disponível de imediato. Naturalmente, uma das cláusulas que negociei no contrato foi o direito a um apartamento, mas devido a uma oportunidade de negócio para o clube houve uma mudança de planos tardia relativa ao apartamento que me estava destinado. Assim, inicialmente fui (fomos) recebido(s) de braços abertos em casa do presidente do clube e da sua esposa. Confesso que só tenho elogios a fazer. Foi uma forma interessante de mais rapidamente ficar a conhecer a cultura e os costumes islandeses – por exemplo, comem imenso carneiro e existem inúmeras maneiras de o cozinhar mas uma das mais habituais (e deliciosas) é a sopa de carneiro.

Finalmente, no primeiro dia de setembro, já sem a minha companhia – insert sad smile again -, instalei-me na minha nova casa: um apartamento T1 por cima do T3 onde vivem os nossos atletas estrangeiros. Aos que se preocupam com o meu bem-estar, posso garantir-vos que não me falta nada que seja material. Somente as minhas gentes portuguesas. Nada que não se resolva com umas visitas!

Entretanto, a bola de basquetebol já rola.

No campeonato de seniores vamos com quatro jornadas realizadas. Perdemos três jogos e ganhámos um. A equipa é jovem (oito atletas jogam nos Sub20 e os dois mais velhos têm 25 anos), trabalhadora (temos atletas a fazer pelo menos onze treinos semanais) e cheia de potencial, razões de sobra para ser um treinador com muito trabalho, mas extremamente satisfeito.

Nos Sub18, equipa da academia com uns moldes bem peculiares e do qual eu sou treinador principal, temos quatro jogos e três vitórias (duas para o campeonato e outra para a taça). Confesso que, dadas as circunstâncias da equipa, estou a experimentar um modelo de jogo diferente do habitual. As primeiras impressões são positivas, mas falamos melhor quando surgirem maiores dificuldades.

Takk fyrir (muito obrigado) pela atenção. Em breve conto-vos mais sobre o meu dia-a-dia basquetebolístico.

por RUI COSTA

Autor

Rui Costa

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