Scouting report: Scoot Henderson

por mar 4, 2023

Existem argumentos ‘filosóficos’ contra? Talvez, é sempre difícil de criar um verdadeiro candidato em torno de um pequeno base (Steph e .. ?), mas o precedente histórico não deve deter alguém de tentar, especialmente quando as alternativas não chegam nem perto do que este miúdo oferecer tanto em chão como tecto. Scoot não é apenas um floor raiser ofensivo, é um talento todo-o-terreno, é uma estrela.

ANÁLISE RESUMIDA, ou algo para ler numa curta viagem de Metro


Dados Biográficos

  • Sterling Henderson, desde sempre ‘Scoot’ para a família, e agora para o mundo;
  • Jogou 3 anos na equipa da Carlton J. Kell High School, na sua cidade natal;
  • Recruta de 5 estrelas para a Rivals.com, 247Sports.com e ESPN;
  • Em maio de 2021 abdica do seu último ano de liceu e assina um contrato profissional de duas temporadas com a G-League Ignite, para as épocas 2021/22 e 2022/23;
  • Escolhido em 2022 e 2023 para representar a Ignite no Rising Star Challenge, durante as festividades do fim de semana All-Star;
  • G-League All-Star em 2023.

Estatísticas de Jogo

Papel Ofensivo:

  • Base hiper-atlético que tem tudo para se assumir como ballhandler principal num ataque eficiente na NBA. Explosivo, incrivelmente forte para a posição e com uma técnica de drible muito avançada, tem múltiplas avenidas para desequilibrar no 1v1, não precisando do bloqueio directo para chegar facilmente ao pintado. Tem vindo a crescer como pull up shooter e já é uma ameaça seria na meia distância, bem como um competente distribuidor de jogo no P&R, onde cada vez mais aproveita a sua gravidade como scorer para descortinar passes simples. Ainda assim, pode afinar um pouco a sua capacidade de decisão com bola. Joga sempre para matar e é uma peça perigosa em transição. Projecta-se que seja um criador de alta usage, mas move-se bem sem a bola.

Papel Defensivo:

  • Defensor no ponto de ataque que deverá defender primariamente 1s. Tem agilidade lateral para oferecer muita resistência à penetração em drible, e até força para defender uma posição acima, mas, neste momento, é muito inconsistente em termos de atenção, navegação de bloqueios e postura. Existe potencial como defensor colectivo – Joga nas linhas de passe e está no caminho certo para se tornar no tipo de base que realisticamente pode oferecer alguma protecção de cesto vindo do lado fraco. Voraz a limpar a tabela defensiva, tanto na procura do próprio ressalto como a selar para um colega agarrar.

Em que equipas faz sentido?          

Henderson é a putativa escolha #2 e nenhuma equipa se deve armar em engraçadinha e escolher por fit, porque qualquer alternativa seria um decréscimo de qualidade significativo e não me parece que exista franchise na lottery que se possa dar a esse luxo. Isto vale para Detroit, Indiana ou até Charlotte, todas com pensadores de jogo mega talentosos, mas que não têm tanta facilidade para chegar com os dois pés ao pintado. Em San Antonio, Scoot teria as chaves do ataque de uma equipa há muito necessitada de uma potente injecção de talento ofensivo, e a relação entre o base e os jovens wings texanos (Vassell, Keldon, Branham), todos eles capazes de espaçar o campo + atacar closeouts a partir da acção de um desequilibrador primário, teria tudo para ser simbiótica. Houston é outro cenário realista e, apesar de não considerar o encaixe com Jalen Green o mais fácil, adoraria ver Scoot ao lado do frontcourt Jabari Smith e Alperen Şengün – o primeiro vai esticar o campo para a penetração e o segundo seria uma versão deluxe de Eric Mika, o criador de poste alto/baixo com quem Henderson (muito bem) joga na G-League.

ANÁLISE DETALHADA, ou algo para ler entre o Anna Karenina e os 100 Anos de Solidão

Atletismo

Um dos melhores atletas a aparecer na posição de base nas últimas classes.

Henderson tem consistentemente medido no 1,88m, mas parece sempre maior ao olho nu, muito por causa da envergadura acima da média para a posição, bem como devido à sua morfologia – sempre foi largo, com pernas fortes e um centro de gravidade bastante compacto, e isso só se tem vindo a acentuar nos últimos 9 meses, tendo adicionado muita massa no tronco e braços. Este desenvolvimento muscular torna-o incrivelmente forte e combativo, conseguindo desalojar defensores maiores da sua posição com facilidade, qual abafador num jogo de berlindes.

É um atleta explosivo, mostrando a sua capacidade de aceleração e velocidade de topo em posses em transição ofensiva, ou na facilidade com que consegue separar do homem no 1v1 com apenas a primeira, ou combinação de primeira e segunda passada. O seu atletismo também sobressai na maneira como consegue controlar a sua velocidade num curto espaço de tempo, conseguindo travar apenas numa passada, acelerar na primeira passada de um eurostep e parar na seguinte ou o inverso. Aqui, a sua força de core sobressai.

Scoot também possui incrível explosão vertical em termos de amplitude. Rebenta com baixo load time e é versátil na chamada: não dá primazia a fazer a passada a partir dos dois pés ou apenas um (esquerdo ou direito). É quando paira no ar que também demonstra a sua força, flexibilidade e incrível controlo corporal. Dez afundanços na G-League em 22/23.

Não tem um histórico crónico de lesões muito preocupante. Falhou 11 jogos nesta temporada depois de uma fractura no nariz. Em outubro saiu cedo (bone bruise) do segundo embate contra os Mets 92 de Wembanyama, mas a lesão foi dada com algo ‘day-to-day’.

Criação ofensiva

Vou dividir a coisa em partes menores – criação de ataque no 1v1, no bloqueio directo e jogo em transição. Antes disso, uma pequena apreciação global.

Scoot é usado como a principal arma no meio-campo ofensivo da Ignite. É ele que traz a bola court acima e é ele que tem a tarefa de separar a partir do drible e colapsar a defesa, com ou sem bloqueio. É o típico base de alta utilização (27.1% USG, 56% TS na regular season da G-League), mas não domina constantemente a bola e o coaching staff tem feito um bom serviço de o colocar a recebê-la em situações favoráveis, a sair de zipper cuts e em curls no DHO game com Mika.

Dito isto, olhemos em detalhe para a criação de Henderson a partir do perímetro. Já o escrevi em sede própria e aqui reitero, trata-se de um dos mais talentosos criadores a partir do 1 vs 1 que já vi nesta fase da carreira – Henderson tem um first step explosivo, e muitas vezes cria separação logo após esta primeira acção. Para além disso, é muito forte e flexível, conseguindo baixar o centro de gravidade e atacar, qual bala de canhão, o peito do defensor directo para criar bolsas de espaço ainda maiores.

O drible é também muito avançado. Não é o tipo de base que perde imenso tempo a dançar na cara do homem, mas consegue conjugar múltiplos crossovers com facilidade, é criativo, repentino e incisivo em todos os seus movimentos. Tem zero problemas de controlo de bola e está à vontade a driblar com ambas as mãos, assim como a penetrar pela esquerda ou direita do adversário. Consegue driblar com o centro de gravidade super baixo e, tem fundamentos fantásticos de protecção de bola – Tem mãos enormes e usa excelentemente a offhand para escudar a laranjinha e tirar o adversário das jogadas.

Chega facilmente ao pintado e marca lá sem problemas – 45.1% dos seus pontos são no paint e vai para a charity stripe 2.9 vezes por jogo. Números que não são loucos mas são respeitáveis para alguém que ainda está a aprender como ser eficiente.

Como já disse acima, é também excelente a controlar a sua velocidade, seja a explodir e parar ou a usar o seu eurostep para alterar ritmos. Não é apenas um penetrador dos 0 aos 100, tem jogo intermédio, coisa que o distingue de alguns destes bases atléticos.

O pull up game tem vindo a crescer nestes dois anos. Os números não são muito bons (44.2% em 104 PUJs nas duas metades da época), mas a meia distância está num nível já perigoso e acredito que a má conversão é, em parte, afectada pela selecção de lançamento. Nota para os 50% em stepback Js, em 22 tentativas.

Gerar separação, porém, não é um problema. Scoot sabe aplicar o jab step para criar dúvida no defensor, sabe desequilibrar no drible, sabe usar o seu corpo para atirar o homem na direcção contrária. A passada para trás no stepback é de alta amplitude. Os fundamentos estão lá e o sucesso na conversão tenderá a vir atrás.

Não sendo o operador P&R mais natural, Scoot tem pontos fortes vincados e melhorias que são concretizáveis. Tem bom entendimento com o homem que bloqueia, sabe quando usar ou recusar, bem como amplificar o efeito do bloqueio, seja a mover-se para encontrar o melhor angulo ou a usar o seu corpo para ‘encaminhar’ o defensor contra o mesmo.

É bom a atacar drop P&R, melhor do que outros prospects recentes de semelhante arquétipo (Ivey, Ja Morant). Falha um pouco na tomada decisão, por ser demasiado trigger happy a puxar do pull up J assim que o bloqueio lhe permite o mínimo espaço.

Ainda assim, nenhuma equipa se vai poder dar ao luxo de estar confortável em drop – O jovem base consegue fazer tudo a partir do momento que utiliza o bloqueio  – driblar até à meia distância e usar o seu perigoso PUJ, utilizar o seu burst para acelerar sem dó nem piedade até ao cesto, ou mostrar a sua paciência e controlo de velocidades, usando um snake dribble para meter o defensor na prisão e ponderar todas as opções, entre o lançamento e o passe (para o roller, kick-out).

Passar por baixo do bloqueio também é uma solução demasiado perigosa contra ele, não só porque Henderson vai deixar a bola voar, como também porque é oferecer espaço extra para o miúdo descolar e colapsar a defesa de alguma maneira.

Tenho curiosidade para vê-lo em duas vertentes importantes do P&R, mas onde não há tanta amostra – a forçar/caçar trocas e a lidar com coberturas mais agressivas (hedges fortes, traps). O potencial para a primeira está certamente lá, especialmente se tiver paciência e for mais diligente na procura do lançamento de maior eficiência. Contra defensores mais agressivos, Scoot leva a vantagem de não tender a matar o drible debaixo de pressão, bem como de se ver livre da bola rápido, mas não tem a altura para ver por cima do adversário, nem a rapidez de pensamento para brincar com as linhas de passe 4 vs 3. Vamos seguir.

Em transição, Scoot é um vector perigoso, devido à sua potência, conforto em posse, velocidade de topo e capacidade de mapear o campo e despachar a bola rápido para os atiradores nas asas. Curiosamente, o pace da Ignite não é estonteante, sendo apenas 24.ª em 30. Existe aqui potencial por extrair na NBA, simplesmente usando um ritmo de jogo elevado, ou implementando alguns desenhos simples (drag screens, por exemplo).

Lançamento

Atirador em crescente, com bastante potencial a partir do drible, mas que tem lidado com alguma streakiness durante a sua curta carreira na G-League.

As percentagens em 2022/23 demonstram isso mesmo: lançou 47.1% de 3 (17 3PA) na Showcase, no início da temporada, e agora 28.9% (38 3PA). No ano passado, foram 21.5% de 3 em todas as competições, em 51 tentativas. As percentagens da linha de lance livre, por sua vez, têm andado sempre nos 70 e picos.

Se entrarmos mais em detalhe, as tracking stats da G-League dizem-nos que em ‘Jump shots’ lançou 36.8% (155 FGA) em 21/22, 40.6% em 202 tentativas no acumular da presente temporada – uma ligeira melhoria tanto de volume como de conversão, num ano em que as responsabilidades ofensivas também cresceram bastante.

Não sei se será um elogio, mas não sinto que eu seja entendido o suficiente em mecânica de lançamento para lhe encontrar algo que esteja errado ou preocupante – a forma é rápida, compacta, a base parece ter boa energia. O release aparenta não ser exactamente no ápex do salto, e usa muito o dedo do meio e anelar para libertar a bola, mas vejam por vós.

Para além disso, Scoot joga com confiança no seu lançamento, sacando do J de qualquer lado, o que é meio caminho andado para ser respeitado pela defesa como atirador.  A elevação e facilidade com que ele transita do drible para o tiro são pontos bastante encorajadores.

Vai ser mais um atirador onball, claro, e de facto não é usado como movement shooter. Ainda assim, é bom que o seu tiro apresente alguma portabilidade para situações de C&S simples, dando-lhe alguma utilidade extra a espaçar para outros. Seria um ponto importante para o desenvolvimento offball de um miúdo que já é bastante bom em algumas vertentes desta parte do jogo.

Acho sinceramente que pode ter uma evolução semelhante à de Ja Morant e estabilizar-se como um respeitável atirador exterior (na casa dos 33 – 35% em 5-6 3FGA/jogo), o suficiente para complementar o seu restante pacote ofensivo.

QI e selecção de lançamento

Joga com a recklessness natural da idade de um miúdo ultra atlético, que tenderá a ser corrigida com experiência e repetição.

Como já tenho vindo a mencionar, a selecção lançamento de Henderson é relativamente variada, não havendo nenhuma zona que seja activamente evitada. Para o arquétipo ‘base atlético’, joga com um ritmo e paciência acima da média e é um decisor seguro, por vezes até excessivamente conservador como passador.

Os seus maiores problemas no ataque, e que lhe limitam a eficiência ofensiva um pouco, são a excessiva paixoneta que tem pelo seu pull up J a partir dos elbows, por vezes tentativas difíceis com uma mão na cara a sair de um bloqueio. Tanto nestas situações, como em isos no perímetro, pode ser mais agressivo a procurar o pintado. Tem tudo para estar a lançar acima de 6/7 FTA dentro de 2 anos.

Ainda assim, não acho que exista nada no seu jogo que indique que seja um pensador pouco natural. Na defesa, por exemplo, os seus lapsos são mais causados por desatenção, cansaço ou indisciplina, muito mais do que não saber que rotação fazer ou que posição ocupar.

Passe

Scoot é um passador com margem de progressão, mas já um real perigo devido à sua capacidade de colapsar defesas, criando e encontrando todas as simples linhas de passe.

Em termos de técnica, o base da Ignite passa a bola com confiança, tentando encontrar colegas com gestos técnicos difíceis a partir do drible vivo, como shovel passes e lasers acima da cintura. Ainda assim, não é o passador mais certeiro e nota-se que tem alguma dificuldade em acertar no timing das suas conexões. Pode ser um pouco hesitante na primeira leitura e acaba por disparar tardiamente para alvos em movimento que já lá não estão. Não tem a melhor visão de jogo interior.

É um bom pocket passer no P&R, muito devido ao facto de ser um operador paciente e um perigo para marcar em qualquer um dos três níveis, mas também aqui se nota que o timing com o roller nem sempre é o ideal (precisa de deixar o big comprometer-se com a jogada), e que parece ter algum desconforto/insegurança com a técnica do passe – tenta muitas vezes passar com as duas mãos, num movimento que é tradicionalmente mais fácil de executar com apenas uma mão a partir do drible.

Muito melhor é Scoot a encontrar atiradores na asa/cantos a partir da sua própria penetração em drible, seja em transição ou no meio-campo ofensivo (P&R ou 1v1). Colapsa defesas no meio e sabe ler excepcionalmente bem quando a defesa vai flectir para ajudar, encontrando homens destapados na linha de três – Na NBA, dêem-lhe o espaçamento que precisa e vejam os danos causados.

Esta última qualidade relaciona-se tanto com o puro atletismo, mas também com o facto de ser um portador de bola abnegado, que não se agarra até lhe tirar o ar. O mesmo atletismo dá-lhe alguma vantagem como passador interior – não só por puxar ajudas com imensa facilidade, criando linhas de passe, mas também por ter o equilíbrio e controlo corporal para se contorcer e encontrar pequenos espaços quando navega as árvores.

Não acho que seja provável que vá ser aquele ballhandler que consegue resolver todo o tipo de equações matemáticas que a defesa lhe atira em directo, não é super criativo, mas, por vezes, mostra algum potencial a olhar o meio para manipular o low man e encontrar o passe no canto oposto – se conseguir fazer isto com mais frequência daqui para a frente, cuidado.

Finalização

Apesar dos números em toda a temporada não serem monstruosos – 62.9% em 81 FGA no aro, Scoot tem todo o perfil para vir a ser um incrível finalizador de pintado, com o seu atletismo, inteligência e criatividade.

Scoot tira proveito de combinar incrível explosão vertical, coordenação motora no ar (up and unders, layups reversos, sobe com o ‘pé errado’), boa utilização das duas mãos e capacidade de absorver contacto e adaptar o lançamento. É forte que nem um boi, super compacto e joga sempre como quem quer matar a protecção de cesto, não sendo incomum vê-lo a atacar o corpo do big e facilmente movê-lo da sua posição. Para além disso, sabe perfeitamente como utilizar os braços e o tronco para criar pequenas bolsas de espaço para facilitar as suas próprias tentativas. O facto de ter umas mãos tão grandes e uns braços tão fortes, facilitam-lhe a protecção do drible e a capacidade de escudar a bola do defensor.

Creio que, ainda assim, pode crescer um pouco na utilização da mão esquerda e na diversificação do seu jogo de midrange – é um perigo em PUJs de meia distância, mas falta um pouco de touch em push shots e floaters.

Para mais informação detalhada, estive mais de 20 minutos no nosso Youtube a falar disto.

Ataque sem bola

Óptima, óptima peça ofensiva a jogar sem bola. Inteligente, activo, com o motor sempre lá em cima.

Scoot é um excelente base para emparelhar com um poste distribuidor a partir do elbow. É uma besta em give and gos e fantástico a acelerar a partir dos cantos e receber em curls para levar a bola até ao pintado. Move-se bem e agressivamente, mas é também inteligente e paciente, procurando o melhor ângulo para receber neste tipo de two man game.

Estas qualidades também sobressaem a atacar closeouts. Tem um pouco de Kyrie Irving no sentido em que se desloca bem ao longo da linha de 3 e recebe muito bem em movimento. O seu primeiro instinto quando recebe é explodir para o cesto e amplificar qualquer vantagem criada para si como uma passada explosiva, deixando o defensor horrorizado. Raras vezes recebe para parar, respirar e recomeçar o ataque. Não é tão activo como cutter longe da bola, mas tem mais do que o perfil físico para ser um positivo aqui.

Nota extra para o seu nível de actividade (e qualidade) como screener – melhorou significativamente no último ano, jogando num ataque com algum movimento supérfluo e tem aproveitado para se tornar numa excelente peça a bloquear para colegas em acções longe da bola. O facto de ser um beefy boy ajuda imenso.

Já falei da sua avaliação como atirador estacionário. É um ponto crucial para lhe dar ainda mais utilidade sem bola. A amostra é quase nada, mas está a lançar 6/13 em C&S 3s em 22/23. Nada mau, é manter!

Ressalto

Excelente ressaltador para a posição em que joga. Os números nem são maus – REB% de 8.7, DREB% 14.5 e OREB% 3.2, mas não pintam completamente a história daquilo que Scoot é (e pode vir a ser).

Muitos dos predicados atléticos que já descrevi anteriormente tornam o base da Ignite num homem a ter em conta nas tabelas – a envergadura, o poder de impulsão, o pulmão, a força e capacidade de ir ao embate. É um jogador pequeno, mas joga com propósito e uma vontade inabalável de dobrar o adversário.

Na NBA vai limpar imensos ressaltos não contestados, até por ajudar imenso a iniciar transição, mas esta não é a sua dieta na G-League – luta nas bolas contestadas e é, inclusive, bastante útil a fazer o boxout para que outros portadores (King, Cissoko) ressaltem e levem.

Também é perigoso a atacar a tabela ofensiva, e aqui realço a sua capacidade para encontrar buracos no boxout defensivo, chegando cedo à tabela adversária vindo da linha de três, e o seu bom segundo salto. Joga na insistência.

Defesa individual

Bastante potencial para conter no ponto de ataque, alguma versatilidade devido ao perfil físico, mas é mais valor hipotético do que real neste momento (e nos próximos anos, provavelmente).

O potencial de Scoot a conter penetração em drible está intimamente ligado às suas qualidades físicas. Henderson tem bons reflexos, rápidos, consegue deslizar lateralmente com o portador, ou reagir facilmente a mudanças de direcção com as suas ancas fluidas. Aqui, também a força de tronco e a envergadura acima da média permite-lhe cobrir espaços com alguma facilidade e defender um pouco acima da sua altura.

As falhas vêm no campo da técnica e fundamentos – a sua postura defensiva a encarar o portador deixa muito a desejar, raras vezes ‘sentando’ na posição certa, e as suas mãos não são activas. Os níveis de atenção são muito ‘picos e vales’, conseguindo conter em posses impressionantes contra jogadores bem maiores, mas depois permitindo 3 posses quase seguidas de penetração em drible ao Tremont Waters.

Também deixa algo a desejar a defender o P&R, especialmente no momento de navegar o bloqueio. Muitas vezes fica preso na pick, demonstrando alguma falta de noção especial, e não faz um bom trabalho a recuperar vindo de trás ou apenas usar o seu tamanho para perturbar a acção do portador. Ainda assim, noto que é inteligente e rápido a mapear o campo e perceber para onde deve rodar caso algum colega compense no portador. A posse abaixo ilustra muito daquilo que escrevi.

Apesar do potencial, tenho dúvidas que alguma vez venha a ser um BOM defensor. Não há grande precedente histórico em que este tipo de ballhandler dominante se desenvolve neste sentido. Acredito que estabilize como alguém decente no ponto de ataque e que compensa com bons stocks.

Defesa colectiva

Imenso potencial chaotic good, com faro para a bola, instintos verdadeiros e capacidade para cobrir espaço como se nada fosse, mas também bastantes tontices. Se olharmos para as estatísticas vemos exactamente a impressão digital desse tipo de jogador – os stocks nesta temporada regular não são maus (1.9% Stl Rate e 1.7 % Blk Rate), e as faltas são geniais (3.8 faltas por 36 minutos).

Quando joga no perímetro (wing, slot), Scoot demonstra capacidade para se posicionar, ler a penetração e flectir + recuperar para o seu homem. Tira proveito do seu atletismo repentino e das suas mãos fortíssimas para fazer digs violentos e roubar a bola (e a alma) ao portador. Para além disso, é um perigo a jogar nas linhas de passe, com capacidade para antecipar a conexão e transformar ataque em defesa. Falha na consistência destes movimentos. Par além disso há muito ball watching e deixar o homem fugir, os closeouts não são bons.

A sua capacidade para ajudar no cesto como low man, vindo do lado fraco, para um base que nem é especialmente alto, é incomum. Aqui, mostra toda a sua agressividade, potencia atlética e faro para a bola que não se ensina. Tem um pouco de Tari Eason neste sentido, incluindo na maneira como é descuidado com os seus contests no aro e como faz faltas a torto e direito.

Ponto final, parágrafo

Na terceira temporada de G-League Ignite, segunda com Scoot Henderson, o programa atinge um nível maturidade que ainda não se tinha visto anteriormente. Vai ser sempre uma revolving door de talento, é esse o propósito, mas este ano cumpre-o de uma maneira onde os veteranos fazem todo o sentido, os prospects encaixam e o sistema ofensivo potencia o que há no roster.

Muito deste sucesso é Scoot Henderson, que com 18/19 anos, na G-League, é O desequilibrador com bola, mas que também tem demonstrado plasticidade no seu papel e capacidade de desenvolver importantes habilidades ancilares (tiro, movimentação sem bola, tomada de decisão). Também por isto, ele é a 2ª escolha sem espinhas do Draft de 2023.

Existem argumentos ‘filosóficos’ contra? Talvez, é sempre difícil de criar um verdadeiro candidato em torno de um pequeno base (Steph e .. ?), mas o precedente histórico não deve deter alguém de tentar, especialmente quando as alternativas não chegam nem perto do que este miúdo oferecer tanto em chão como tecto. Scoot não é apenas um floor raiser ofensivo, é um talento todo-o-terreno, é uma estrela. Dizer que alguém é a ‘2ª escolha garantida’ nunca foi tão grande elogio. Ele merece-o.

por NUNO SOARES [@NunoRSoares]

Autor

Nuno Soares

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