Scouting report: Victor Wembanyama

por fev 1, 2023

Apesar da forte concorrência de Scoot Henderson, é inegável que o francês é um talento histórico, não só na quantidade de talento, mas também no formato como este se apresenta – nunca tínhamos visto um shotmaker gigante com a versatilidade para ser tudo aquilo que quiser no lado defensivo da bola.

ANÁLISE RESUMIDA, ou algo para ler numa curta viagem de metro

Dados Biográficos

  • Não curte que digam que é o melhor prospect desde um tal de LeBron;
  • Ascendência congolesa do lado paterno;
  • Vem de uma família de atletas – a irmã também joga basquetebol, a mãe treina e o pai é um ex-atleta de várias modalidades de pista;
  • Fez quase todo o seu percurso de formação no seu clube Natal, Nanterre 92, que também lhe deu a estreia como profissional;
  • Em Junho de 2021, assinou pelo ASVEL de Tony Parker. Venceu a LNB Pro A, mas entre lesões e minutos irregulares, optou por sair ao fim de uma temporada;
  • Neste verão regressou à periferia de Paris, assinando pelo Metropolitans 92, onde se tem vindo a assumir como o melhor jogador da liga gaulesa;
  • Medalhado de prata no Mundial sub-19 de 2021 e Euro sub-16 de 2019 pelas camadas jovens da selecção Francesa.
  • Palmarés individual crescente – Melhor jogador jovem da LNB Pro A em 2021 e 2022, All Star em 2021 e 2022, All Star Game MVP 2022.

Estatísticas de Jogo

* PD – Assistências/jogo; CT – Desarmes/jogo; IN – Roubos bola/jogo; BP – Turnover/jogo; FTE – Faltas/jogo

Papel Ofensivo:

  • Difícil de descrever aquilo que é verdadeiramente único – nunca se viu este tipo de habilidade de perímetro e criatividade num atleta com este tamanho e fluidez. É um shotmaker e criador de vantagens em clara curva de progressão e deve ter a liberdade para poder criar com bola a partir do topo, do poste alto/elbow, mas também no poste baixo, onde compensa a falta de força com um bom trabalho de pés e uso de ganchos e lançamentos à retaguarda. Não tem de ser um criador com bola a tempo inteiro, podendo oferecer valor como finalizador de jogadas (P&R, P&P, dunker spot, atirador estacionário, atacar closeouts), muito devido ao seu perfil físico, tiro exterior, capacidade de passe interior e entendimento de como ocupar espaços.

Papel Defensivo:

  • Projecta como um dos verdadeiros protectores de cesto que são todo o terreno em termos de coberturas defensivas no P&R. Potencial tremendo como defensor interior, combinando agilidade, altura e envergadura. Instinctos de protecção de cesto são bons, apesar de nem sempre consistentes (às vezes desliga-se, chega tarde à rotação, é selado com facilidade). É, já hoje, um óptimo big a defender P&R em drop coverage, e apesar de não ser utilizado frequentemente com tal, tem tudo para carburar em traps, hard hedges e trocas no bloqueio directo, caso necessário. Não é um extraordinário defensor no poste baixo, e talvez beneficie de começar a sua carreira a partilhar o frontcourt com outro big que assuma algumas dessas responsabilidades, como foi feito com Evan Mobley.

Em que equipas faz sentido?          

Se virmos a coisa do ponto de vista das equipas, qualquer que seja o franchise com a escolha #1 deve fazer a escolha obvia. Não gosto quando este tipo de conversas são tão consensuais que se tornam quase dogmáticas, mas não consigo imaginar uma situação onde faça sentido alguém optar por não ter este tipo de talento na equipa. Para Wembanyama, talvez fosse ideal encaixar numa situação onda exista um parceiro de P&R dinâmico, ou pelo menos algum tipo de capacidade de passe e autocriação no backcourt, juntamente com alguém no interior que traga algum musculo e protecção de cesto mais fixa. Detroit tem Hayes, Cade e Ivey, o último um bom parceiro em transição, para além de um Isaiah Stewart em novo período de graça. Houston tem espaçamento e bastante mostarda em termos de auto-criação, os Jazz, caso decidam vir por aí abaixo, têm o factor tabula rasa para oferecer. Depois existe a escolha sentimental – San Antonio Spurs, que têm um histórico de bigs lendários, de internacionais vencedores e de… ganhar. É uma equipa que joga com pace (+) e que tem shotmaking no backcourt, embora pouco passe.

ANÁLISE DETALHADA, ou algo para ler entre o Anna Karenina e os 100 Anos de Solidão

Atletismo

Um atleta verdadeiramente único e um alien na maneira como combina o tamanho de um poste XL com a mobilidade de um base.

Se começarmos com as medidas – são 2.20 m e uma envergadura que supera os 2.40m, um número estapafúrdio até para um poste. As pernas são também muito longas, o que torna o centro de gravidade relativamente alto, mas o incomum é que não transparece que tenha muitos problemas em termos de manter equilíbrio ou controlar movimentos, algo que tende a afligir jogadores com esta fisionomia.

É um jogador algo franzino, não tendo uma base muito forte ou uns ombros largos, algo que explica alguma da falta de força e capacidade de combate que aparece na tape dele. Ainda assim, é de notar que tem ganho alguma massa muscular, tanto de core como especialmente de braços, na transição de 2021/22, no ASVEL, para 2022/2023, no Metropolitans 92.

Mais uma vez, o que o torna verdadeiramente incomum são as habilidades de movimento. Não é só a flexibilidade ou agilidade lateral, não é a capacidade de ser veloz norte-sul, é a total fluidez com que se consegue movimentar em direcção a todos os pontos cardeais, a capacidade de ir para X, parar e ir para Z, a maneira fluida com que consegue virar as ancas e mudar de direcção como se nada fosse.

É veloz a acelerar em linha recta, embora não tenha a maior das acelerações, da mesma maneira que é súbito q.b. a explodir na passada ou a saltar, com a chamada a partir dos dois ou apenas de um dos pés. Não é um atleta de 90º percentil nestas vertentes, mas nem precisa.

Convém mencionar o histórico de lesões. É um jogador fisionomicamente único e isso vale a atenção. Falhou as últimas rondas de playoff de 2022 pelo ASVEL por uma lesão muscular nas costas, contusão no ombro em Dezembro 2021 fê-lo parar dois meses, e três meses parado com fractura no perónio em Dezembro 2020.

Criação ofensiva

Como fiz no ano passado vou dividir por tópicos – perímetro, poste alto e poste baixo.

Começo com a criação de perímetro, área do jogo onde tem progredido imenso e tido liberdade para mostrar a sua técnica de drible e a sua criatividade e atrevimento.

Tem facilidade em meter a bola do chão, mas antes de o fazer, gosta de usar a posição de ameaça tripla para experimentar com jab steps e deixar o defensor directo em desequilíbrio antes de atacar. Quando isto não funciona, consegue usar o drible para dançar na cara do defensor. A técnica de drible tem evoluído e Wemby conjuga vários movimentos diferentes, gostando particularmente de usar uma combinação de um in/out com um crossover direita para a esquerda de enorme amplitude, especialmente para armar o pull up jumper.

Para além disso, Wembanyama é de tal forma um talento único que inventou um ‘novo tipo de lançamento’ – o floater de 3 pontos. Regarde mois! É daquelas coisas que deixa qualquer um parvo, não só pela dificuldade técnica, mas principalmente pela audácia de tentar coisas novas, que lembra outro fenómeno europeu que pontifica actualmente na NBA.

O francês é flexível e consegue baixar o centro de gravidade para amplificar ainda mais a sua capacidade de desequilíbrio. Para além disso, lida bem com pressão e o handle tem vindo a ganhar mais segurança, apesar de se notar que dá preferência à utilização da mão direita, e que tem alguma dificuldade em manter a bola segura quando ataca o peito do defensor directo.

Para mim, as áreas que precisam de mais trabalho são quando Vic decide plantar a passada e atacar o seu homem em direcção ao cesto. A primeira e segunda passada são ultralongas, embora não explosivas, mas Wembanyama parece ainda ter dificuldade em perceber como é que a amplitude dos seus movimentos encaixam nas dimensões do campo, muitas vezes penetrando e fazendo a chamada e layup a uma distância desnecessariamente distante do aro.

O bom disto é que Wemby tem demonstrado, aqui e ali, capacidade para usar dribles de start and stop para controlar o seu ritmo, ou subir e disparar.

No poste intermédio, os argumentos do poste dos Mets 92 são semelhantes. Adora receber no short corner e usar o pé pivot para encarar imediatamente o seu homem e transitar para um jumper rápido. Quando recebe no elbow (ou em qualquer zona mais central do campo), tem mais propensão para atacar o aro, replicando o seu arsenal a partir do topo. Aqui, aplica 2 ou 3 dribles e transita para um disparo à retaguarda, da direita para a esquerda. Ainda assim, nesta zona do campo é onde se nota aquilo de é uma das suas maiores lacunas e que abordarei mais tarde no texto – a selecção de lançamento.

No poste baixo, Wembanyama depara-se com uma maior dificuldade em criar, especialmente por não ser um jogador particularmente forte. É lhe difícil encostar no homem e deslocá-lo da sua posição original, muitas vezes perdendo controlo do drible até contra defensores menores. Para além disso, a sua visão de jogo e capacidade de decidir sob pressão, especialmente quando a double team cai em cima dele, precisa de algum trabalho.

Ainda assim, é um jogador enorme, ágil, com bom toque e raça. É combativo mesmo quando está em desvantagem, procurando oferecer activamente linhas de passe no poste baixo, ou selar o seu homem quando entende que pode oferecer uma linha de penetração a um colega. Sabe caçar trocas, é comunicativo e tem sentido de urgência.

Em termos técnicos, mais uma vez o seu trabalho de pés é desenvolvido, bem como a sua capacidade para disparar à retaguarda. O seu post up e gancho de mão direita é um lançamento particularmente difícil de contestar, mas existe um défice técnico considerável quando tentar fazer o mesmo com a mão esquerda. Ainda assim, o meu move preferido é quando decide receber e imediatamente rodar em direcção a linha de fundo, driblar 1/2 vezes e subir para o dunk. Quase incontestável!

Lançamento

Bom atirador que sempre demonstrou potencial, mas que parece ter dado um salto qualitativo na corrente temporada.

Os números não são especialmente bons, mas denotam progressão, tanto em termos de conversão como de volume – 29.8% de 3 (5.5 tentativas/jogo) em 22/23 vs 26% em 3.1 tentativas/jogo na época anterior. Na linha de lance livre é semelhante – 80.3% em 6.2/jogo vs 70% em 1.3.

A mecânica também é ela melhorada. O release point é alto, o que torna o jumper praticamente imperturbável, e o arco da bola também é bom. A base é um pouco mais inconsistente (nem sempre encara o cesto com os pés em bom angulo, algum valgus colapse indica menos força de base), mas a elevação do salto parece consistente.

Continua a sofrer de alguns momentos de quente e frio, e falhanços muito feios, mas Wembanyama tem confiança no seu disparo, nunca hesitando um momento, e isso é meio caminho andado para puxar um closeout honesto.

Por final, a tipologia do lançamento do francês é variada. Não são só C&S 3s, são tiros em movimento em backpedal para a linha de 3, ou disparos a sair de bloqueios indirectos. São pull ups, floaters de 3 e runners de meia distância.

QI e selecção de lançamento

Jogador inteligente que sabe decidir dentro do ritmo de jogo, mas que ainda força alguns lançamentos.

A tendência com Wemby é ser tão melhor decisor quão mais longe está do cesto. Quando joga no perímetro, seja a jogar no bloqueio directo, ou a estacionar na asa/canto, o jogador dos Mets 92 processa o ataque sem se agarrar demasiado à bola, decidindo-se pelo passe ou por lançamentos de qualidade aceitável. Entende especialmente bem quando o bloqueio directo lhe oferece uma troca e uma oportunidade para punir um jogador pequeno no poste baixo.

O seu perfil de lançamento é relativamente bem distribuído, e não existe nenhuma área do court que evite activamente – tanto o volume de triplos tentados como a quantidade de vezes que vai para a linha de lance livre, são um testamento disso.

Não é um jogador que evite atacar o garrafão, ou o contacto físico no geral, mas tem uma tendência para se apaixonar demasiado pelo face up jumper no poste intermédio. Tem pontos mais fáceis na mesa que podem impulsionar a eficiência do seu bolo ofensivo (TS% de 58%, eFG% = 52.4%).

Também tem alguma dificuldade a processar double teams no poste baixo. Não tem a melhor visão para ver o lançamento difícil (skip pass para o canto oposto), mas também nem sempre reage à aproximação do defensor com um kick out para o homem mais próximo.

A inacção e falta de instintos afiados faz com que sejam muitos os momentos onde já só o passe complicado esteja disponível. Um pouco dentro do tema da precipitação ofensiva, e para finalizar, Wemby pode melhorar a lidar com o relógio de ataque.

Passe

Bom passador, com boa capacidade de unir os pontos e potencial para se tornar um playmaker avançado assim que consiga ler o jogo com um pouco mais de agilidade.

Apesar de usar predominantemente a mão direita, não se coíbe de usar a off hand e tem boa colocação e técnica a transitar do drible vivo para o passe. É confiante a passar a bola em momentos de transição e adora disparar balas no meio-campo ofensivo, tomando proveito da sua altura para ter linhas de passe ao seu dispor que mais ninguém no mundo tem.

É um bom ‘offball passer’ – entende quando tem de fazer o passe para manter uma defesa em descompensação, não se agarrando demasiado à bola. Gosto especialmente da sua capacidade de passe interior e pode vir a beneficiar de jogar com outro poste, visto que Wemby é bom a atacar closeouts e fazer o dump off, em acções de poste alto/baixo e especialmente talentoso como playmaker no short roll, onde demonstra técnica, criatividade e, importantemente, paciência. Um pouco como o floater de 3 pontos, Victor pode vir a popularizar um touch pass de volleyball para conectar em passes curtos.

Tem muito a crescer como passador a partir dos desequilíbrios criados por si próprio. Ainda não entende bem a maneira como o seu ataque aterroriza os adversários e não é um jogador que tenha a inteligência para manipular linhas de passe ou antecipar a acção da defesa, da mesma forma que não tem uma visão de jogo por aí além – denuncia demasiado os seus passes, forçando acções que são obvias e arriscadas, especialmente quando procura colegas no garrafão, deixando kick passes abertos na linha de 3.

Tenho bastante curiosidade para o ver como distribuidor em outras acções no meio-campo ofensivo, seja como hub em acções de DHO, ou como P&R handler (LOL). Acho sinceramente que se pode facilmente tornar num bom pocket passer em pouco tempo. Os skip passes e tudo o que é encontrar acções no lado fraco, vem a seguir.

Finalização

Bom finalizador a volta do aro, a lançar perto dos 70%. Aqui, o motor, a técnica e o atletismo combinam-se de forma frutífera.

As ferramentas físicas são uma das grandes razões para a sua produtividade e potencial como finalizador nas áreas interiores, não só a conjugação de envergadura e altura, mas também o respeitável poder de impulsão, o controlo corporal e enorme tamanho das mãos, que lhe permite tratar a bola como se fosse um berlinde.

https://twitter.com/NBA/status/1618228922990350336

E as mãos não são só grandes, são boas também. Wemby não é nenhum Wiseman e mostra capacidade para agarrar a bola no meio do trânsito, recolhendo passes difíceis.

Estes dois últimos pontos são factores importantíssimos para Victor, mesmo com falta de força pura, jogar eficientemente no meio das arvores – a capacidade de ‘palmar’ a bola liberta-lhe a off hand para proteger o drible/tentativa de lançamento, e as movement skills aumentam-lhe a capacidade de absorver contacto e ajustar o corpo, bem como procurar ângulos diferentes para o aro.

Também é bom em termos técnicos, especialmente de meia distância. Tem bom toque e demonstra-o nas suas tentativas de ganchos e runners.

Existe uma óbvia lacuna técnica, que já tenho vindo a mencionar – a mão esquerda está bastante atrás em termos de evolução técnica. Isto nota-se não só na qualidade das tentativas canhotas, como também na maneira como força lançamentos com a direita, mesmo quando isso significa recorrer a ganchos e finalizações em extensão de ângulos muito mais difíceis.

Ataque sem bola

Aqui, vou tocar brevemente em várias vertentes daquilo que deve ser o ataque sem bola de um jogador como Wembanyama no basquetebol moderno. Não entrarei em enormes detalhes, porém, uma vez que estive recentemente, num vídeo que podem encontrar no YouTube do Borracha Laranja, a falar sobre isto.

No P&R, Wemby é um peão dinâmico. Não é um bom bloqueador, faz quase exclusivamente slip screens, mas é esperto a ajustar o ângulo do bloqueio sem fazer faltas, super ágil a desbloquear e mergulhar, apanhando frequentemente a defesa em contrapé quando esta aplica coberturas mais agressivas. Como rim runner, a qualidade das mãos, a fluidez, o tamanho, a confiança, tornam-no numa arma temida. E não é só finalização de jogadas, existe verdadeira capacidade de distribuição no short roll.

O tiro exterior tornam o francês cada vez mais numa opção de C&S. As percentagens têm tendido a melhorar, e essas melhorias vêm de mão dada com um bom volume, zero hesitação e um release point virtualmente imperturbável. O sucesso do lançamento vai obrigar a defesa a agarrá-lo na linha de três pontos, o que também lhe facilita a vida como opção drible/passe/tiro a receber a atacar o closeout.

Estes predicados traduzem-se todos no P&P. Da mesma forma que mergulha para o cesto com agilidade, também abre para qualquer um dos lados, recebe, coloca os pés e dispara. Como falei no vídeo, não é só receber e disparar, Wembanyama aproveita o momento da recepção para, por vezes, utilizar a ameaça tripla para iniciar o seu próprio ataque com drible.

Fora disto, Wemby também é uma opção activa em transição, seja a fazer o leak out e oferecer uma linha de passe de campo inteiro, como homem que ressalta e passa, ou que ressalta e transporta em drible. Para além disso, é bom a aparecer como atirador tardio no topo, oferecendo uma linha ao portador e esticando a defesa.

Ainda assim, aquilo que me agrada e surpreende mais é a maturidade e rapidez de pensamento com que ocupa espaços, entendendo onde se posicionar para atacar zonas 2-3, para oferecer linhas de passe ao portador que leva com uma trap no P&R, ou simplesmente a abrir para fora em backpedal quando entende que tem um colega a penetrar em drible, de modo a descongestionar o meio.

Ressalto

Ressaltador competente que tem sido relativamente produtivo, mesmo não jogando a poste a tempo inteiro – 18.3 de DReb%, 6.1 de OReb%.

O favorito à escolha #1 tem alguns problemas, especialmente quando joga a poste ou simplesmente está a ressaltar a partir de zonas mais interiores, onde a falta de força e o elevado centro de gravidade faz com que seja movido da sua posição inicial e tenha dificuldade a navegar ‘seals’. Ainda assim, tem bom motor e bom segundo salto, especialmente na tabela ofensiva a dar seguimento aos seus próprios falhanços.

Para além de sangue na guelra, Wemby é sólido a ler o campo e tentar selar o seu próprio homem, não fica perdido a navegar a maionese, é proactivo e tem boas mãos para não deixar fugir a bola. É agressivo a crashar a tabela, flectindo de fora para dentro e sabe como transformar ressaltos em oportunidades em transição.

Defesa individual

Vou dividir o texto em vários trechos, abordando diferentes coberturas P&R e defesa individual no perímetro e poste baixo.

Como defensor no P&R, Wembanyama tem potencial para ser uma peça defensiva verdadeiramente especial, com versatilidade para ser pelo menos competente em quase todos os esquemas que o treinador queira utilizar.

Em drop coverage, a cobertura mais comum na NBA, Wembanyama começou o ano com algumas arestas por limar, com lapsos de posicionamento e de postura, mas também com alguma indisciplina, a morder demasiado fácil em shot fakes e a tentar roubos de bola tontos no portador, que levavam a que perdesse o equilíbrio e cedesse linha de penetração.

Mas a verdade é que o progredir da temporada ajudou Wemby a corrigir consideravelmente estas rotinas e fundamentos, e o francês é neste momento quase imperturbável a conter no meio.  O seu perfil físico ajuda-o a fazer praticamente tudo, conseguindo posicionar-se mais perto do cesto, em deep drop, e ainda assim usar a sua envergadura para perturbar um midrange pull up J do portador, ou vir mais junto da linha do bloqueio e deslizar lateralmente caso o portador ataque em linha recta, ou usar a sua mudança de direcção e equilíbrio alienígenas para não perder o ballhandler caso este snake e ataque o cesto para o lado oposto. 

Aqui, se puder referir outros pontos a melhorar, seria a melhoria da comunicação com o defensor do portador da bola na acção de bloqueio directo, e a actividade das mãos para cortar o pocket pass.

Wembanyama tem sido raras vezes usado em hedges no Mets 92, mas tem correspondido quando lhe é pedido para executar, e não é uma cobertura que lhe seja estranha, visto que foi utilizado como hedge big nos dois anteriores clubes. Existe potencial físico para prosperar nesta cobertura, ou em blitzes, perturbando seriamente o portadora com a sua amplitude de movimentos, equilíbrio no espaço e envergadura.

De forma semelhante, as movement skills e tamanho ajudam-no imensamente a trocar e defender 1 para 1 no perímetro, várias posições. É bastante atento e ávido para trocar no momento do bloqueio, mais do que em drop, e consegue deslizar e conter ou desarmar. Ainda assim, a falta de força posicional faz com que tenha alguma dificuldade a manter-se colado a jogadores que usam o ombro para lhe atacar o peito com violência.

Pode melhorar a sua postura (demasiado vertical, pernas juntas) e a maneira como usa o pé da frente (demasiado próximo do portador) para melhorar o seu equilíbrio. É um jogo perigoso, mas às vezes pode-se dar ao luxo de usar a sua envergadura para dar um pouco mais de espaço à penetração e perseguir vindo de trás, coisa que nem sempre faz bem.

A defesa de poste baixo é aquilo que é expectável para um gigante com um corpo imaturo. É combativo, oferece o peito ao impacto e a sua standing reach dificultam a tentativa de lançamento de qualquer jogador, mas ainda é deslocado da sua posição com alguma facilidade. O Metropolitans tem tentado contornar esta deficiência ao colocá-lo a jogar como um roamer na posição de 4, evitando que tenha um encargo defensivo mais constante no poste baixo. Seguramente vai haver um período de adaptação na NBA e replicar esta estratégia pode ser benéfico.

Defesa colectiva e protecção de cesto

Tal como com o ataque sem bola, também abordei este tópico num vídeo de mais de 20 minutos no YouTube do BL.

Dando continuidade ao que disse no vídeo e escrevi no capítulo acima, Victor é um protector de cesto com imenso potencial, muito produtivo na liga francesa (10.7 Block rate %), com enormes dimensões, mas também mobilidade incomum.

Como protector de cesto primário, é um defensor paciente. Para um jogador da sua idade, não é um íman de faltas e tem facilidade a utilizar qualquer uma das mãos para fazer o desarme violento. Não traz as mãos para baixo no momento do contacto, coisa que o ajuda a evitar o apito.

https://twitter.com/TheBoxAndOne_/status/1606290509789552640

O défice de músculo, ainda assim, prejudica o seu impacto como intimidador no aro. Adicionalmente, é um pouco letárgico, seja a assumir uma posição de verticalidade a reagir à penetração, seja a subir para o salto no momento de contestar o layup. Neste último ponto acho que, para além de ausência de urgência, existe um load time desapontante que deixa a impressão que chega um danoninho tarde demais ao contest.

Já o disse no vídeo, mas o seu QI defensivo é bom, mas não excelente. Apesar de jogar mais a 4 do que a 5, opera sempre relativamente perto do cesto e não tem sido colocado em posição de ter de fazer rotações complexas para meter uma tampa no aro. Quando é obrigado a fazê-lo, mostra ainda algumas inconsistências – Não é o tipo de jogador que só vê aquilo que está a frente dos olhos, a jogada no vídeo abaixo mostra uma combinação de leitura de jogo e capacidade de cobrir espaços, mas estes momentos aparecem frequentemente ‘ensanduichados’ no meio de uma rotação tardia e outra tonta.

Existe, ainda assim, muita low hanging fruit aqui, muitas deficiências simples de desatenção que a rotina e experiência vão apagar, e que, por isso não me fazem duvidar do potencial DPOY.

Ponto final, parágrafo

Há muito vaticinado como a escolha #1 de um fortíssimo draft de 2023, só um grave problema de saúde tirará essa coroa a Victor Wembanyama. Apesar da forte concorrência de Scoot Henderson, é inegável que o francês é um talento histórico, não só na quantidade de talento, mas também no formato como este se apresenta – nunca tínhamos visto um shotmaker gigante com a versatilidade para ser tudo aquilo que quiser no lado defensivo da bola.

Para além do talento, acho importante referir que o jovem francês tem navegado a sua carreira com astúcia, rodeando-se da intelligentsia gaulesa ex-NBA. A mudança para o Mets 92, vindo do histórico ASVEL, não terá sido óbvia ou fácil, mas o retorno de Wemby à periferia de Paris permitiu-lhe ter aquilo que não tinha em Lyon – assumir o papel #1 incontestável numa equipa disponível a dar-lhe esse palco, e que construiu à volta dele um plantel com ballhandlers (Waters, Besson) e postes beefy (Fall Faye), que encaixam no seu jogo.

Não consigo simpatizar com o vaticínio de uma carreira HOF, do ‘melhor prospect desde o LeBron’, e outros que tal. É dogmático e parvo, aproveitador do buzz à volta do miúdo e nada benéfico para ele. Mas como prospect é único e excepcional, e é isso que interessa aqui. 

por NUNO SOARES [@NunoRSoares]

Autor

Nuno Soares

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