Um português pelo Mundo: «Fight Club»

por maio 8, 2018

Guardo na memória a decoração do balneário de Portugal, na Arena de Matosinhos, com fotos de todas as atletas e uma inscrição na parede: “Fight Club”. Foi um momento único na vida, uma espécie de comunhão total.

Depois de ter acompanhado alguns Europeus em Portugal, nomeadamente os de Sub16 e Sub18 femininos, confesso que guardava o desejo secreto de competir em Portugal, no nosso país, perante a nossa família, amigos ou adeptos anónimos. Tendo vivido por fora alguns dos momentos mais memoráveis das nossas seleções jovens femininas, tinha esse misto de fantasia e realização profissional enraizado bem cá dentro de mim.

Sabia de antemão, até por testemunhos dos meus colegas selecionadores, que nem tudo eram rosas, pois a pressão e a distração por vezes jogavam contra a nossa seleção, mas, não obstante isso, os aspetos positivos eram inegavelmente em maior número e, portanto, sendo algo que nunca tinha tido a oportunidade de viver, era uma meta a atingir.

E foi com enorme alegria quando em Dezembro de 2015 recebi a notícia que tanto ansiava. Como devem imaginar, vivi com alguma ansiedade os momentos preparatórios que pareciam uma eternidade quando se tratava de chegar ao primeiro jogo, mas pareciam excessivamente rápidos e insuficientes quando se tratava de ter a Seleção pronta a competir.

Os dias que antecederam o primeiro jogo, já alojados em Matosinhos, foram complicados porque tínhamos de aceder a tantas solicitações que nem sempre era fácil focar no trabalho e sobretudo descansar nos restantes momentos. Registo com particular agrado as entrevistas gravadas para a “malta” da FPB, que foram de facto hilariantes e até bastante enriquecedoras no que toca a conhecer melhor as atletas, fora do cenário do “jogo” e do stress competitivo.

Guardo na memória a decoração do balneário de Portugal, na Arena de Matosinhos, com fotos de todas as atletas e uma inscrição na parede: “Fight Club”. Foi um momento único na vida, uma espécie de comunhão total entre o nosso espírito de grupo, necessariamente fechado e íntimo, com a FPB e o seu Departamento de Imagem, ao associarem-se a esta ideia comungada por toda(o)s: o “Clube de Combate” e a sua alma que ano após ano vinga nas Sub20.

Depois, o primeiro jogo, que, não tendo sido na Arena de Matosinhos mas em Custóias, se saldou por uma vitória ante a Bósnia. Porém, e a título pessoal, mais importante do que essa vitória foi ouvir “A Portuguesa” cantada na bancada. O turbilhão de emoções nesse momento foi muito complicado de gerir, até porque, independentemente das características de cada um de nós, somos todos latinos e vivemos a pátria sempre de uma forma muito própria e especial. Se somarmos a isto o facto de estar no estrangeiro desde 2013, acho que é fácil calcular como o saudosismo e o sentido patriótico impactaram em mim naqueles instantes.

Finalmente a bola ao ar e rapidamente se puseram de lado as emoções. De diferente do habitual, “apenas” o apoio quase ensurdecedor do público que representava efetivamente um “boost” energético bem sensível.

Durante o Europeu, as diferenças para os campeonatos realizados no estrangeiro eram óbvias. O isolamento, sobretudo depois dos jogos, era muito complicado, o que geralmente dificulta o trabalho de minorar os efeitos nocivos que podem resultar dos jogos, ganhando ou perdendo. As visitas ao hotel, que até podem ser um estímulo, também podem representar um fator de distração ou perturbação. Ou seja, se ganhamos no apoio que sentimos durante os jogos, perdemos no isolamento do grupo perante os fatores externos.

Se fica difícil pesar todos os prós e contras, duas conclusões parecem-me claras: por um lado, a sensação boa que fica sempre, depois de irmos de férias pelo que será mais positivo competir em Portugal; por outro, a tal realização pessoal ao competir por Portugal em território luso. E arriscaria dizer, com toda a segurança, que não deve haver um único treinador que não partilhe do mesmo sonho… porque estar num projeto nacional tem muito de alma e sentimento.

Até breve e divirtam-se com o Basquetebol.

por EUGÉNIO RODRIGUES

Autor

Eugénio Rodrigues

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