Cade na terra do bloqueio direto

por mar 18, 2022

O início de temporada de Cade Cunningham foi lento e difícil de ver por vezes, com a primeira escolha do draft a demorar a habituar-se ao jogo da NBA. É normal? Absolutamente. Houve reações precipitadas? Pois claro que sim! O discurso para com rookies raramente é o mais ponderado.

Desde cedo Evan Mobley assumiu a liderança na corrida ao rookie do ano e não largará, assumindo-se como peça fulcral na época extraordinária dos Cavs. No entanto, ser o melhor novato não leva automaticamente a uma carreira mais preenchida. Nos últimos dez anos, apenas três escolhas número um ganharam o troféu de rookie do ano. E há exemplos de jogadores que não ganharam com carreiras mais preenchidas até ao momento: Ben Simmons bateu Jayson Tatum, Malcolm Brogdon ganhou um prémio que contava com Embiid, Ingram e Jaylen Brown e Michael Carter-Williams levou a melhor sobre Oladipo, Gobert e Giannis Antetokounmpo.

O que mudou?

A ascensão de Cade Cunningham é, ainda assim, já notória neste momento. O base dos Pistons acelerou após o seu início moroso e, principalmente desde a paragem para o fim de semana All-Star, tem-se exibido a um nível muito interessante. Nos últimos dez jogos, Cade está a lançar 50% de dois pontos (contra os 43.9% antes do All-Star) em quase 15 tentativas por jogo, mais seis do que anteriormente. Aliás uma das grandes diferenças tem sido o maior uso do lançamento interior: 73.5% dos seus lançamentos vêm de dentro da linha de três pontos, comparado com os 59.3% anteriores.

Outro aspeto importantíssimo no crescimento de Cunningham tem sido a capacidade para sacar faltas e ir para a linha de lance-livre. Com 3.7 faltas sofridas por jogo, Cade quase dobra as duas que sofria anteriormente e vai muito mais vezes para a linha de lance de lance-livre: quatro por jogo, contra as duas anteriores. Nota-se que Cade está mais confortável no meio da confusão e tem mais capacidade para usar a agressividade da defesa a seu favor. Tudo isto se tem traduzido, basicamente, em mais pontos para o base, que passou de 15.7 nos primeiros 44 jogos da temporada, para 22.3 pontos por jogo nos últimos 10.

Bloqueio Direto

No entanto, viemos aqui para falar de bloqueio direto e é isso que vamos fazer. As repetições aumentaram em mais de três por jogo, com Cade a passar de 0.86 pontos por posse para 1.04 nos últimos 10 jogos, em situações de bloqueio direto. É um grande aumento, provando que Cade está mais confortável para fazer o que sabe melhor: criar com bola na mão. Vamos dar uma olhadela às principais mudanças.

Contra defesas em drop, com o defensor de Cade a passar por cima do bloqueio, notava-se no início alguma displicência do base dos Pistons quando deixava de ver o seu defensor. Após passar o bloqueio, descansava, assumia que o seu trabalho estava feito e acabava por deixar a defesa recompor-se. Antes do All-Star, Cunningham finalizou com sucesso 40.5% dos lançamentos que fez contra este tipo de defesa.

No pós-All-Star, a história já bem diferente. Cade finaliza com sucesso 54.7% dos seus lançamentos nesta situação, mostrando muito maior atenção ao que se passa à sua volta e muito mais facilidade para controlar o seu defesa e manipular a defesa como pretende.

Outra situação notória é para onde vai a bola quando Cunningham não consegue o lançamento (ainda com o defesa a passar por cima do bloqueio e a perseguir). Os Pistons colocam normalmente os seus jogadores perto do canto no bloqueio direto e, desta maneira, a bola não volta para trás. Com um defesa nas costas do base, os Pistons estão basicamente em 5×4. Cade assistiu um colega 83% das vezes em que passou a bola ao roller, diminuindo o número de passes enquanto aumenta a quantidade de vezes que lança, mas também a eficácia do passe. Basicamente, não existe pick&pop quando a defesa vai por cima do bloqueio.

Contra defesas que passam por trás do bloqueio, mostro apenas lances pré-All-Star até porque depois, Cade Cunningham deixou basicamente de lançar nessas situações. Uma decisão sensata de um mau lançador exterior. Ele que antes lançava à primeira oportunidade, melhorou na capacidade de entender que pode procurar um melhor lançamento mais à frente na posse de bola e tem apenas quatro lançamentos feitos nos últimos 10 jogos a partir do bloqueio direto com o defesa a passar por trás, sendo apenas um desses lançamentos de três pontos. Antes disso, ia em 27.7% de três pontos nesta situação.

Para finalizar, a troca. Não há muitas situações em que as equipas decidem trocar num bloqueio com Cade Cunningham (faziam-no bem mais no início da época), mas quando o fazem, o base fá-las pagar. 46.3% das situações em que há troca e há um lançamento, a bola entra. Este número seria 55.9% se retirássemos as sete tentativas falhadas em que Cade optou por se ficar pelo lançamento exterior. Em 54.5% das situações em que Cunningham decide acabar dentro dos três pontos, a bola entra. O jovem dos Pistons mostra-se mais confortável a atacar e a criar com o drible em situações de mismatch neste momento, com a sua eficácia a aumentar e os adversários a decidirem que a troca não é uma situação positiva para a defesa.

Há, ainda, muito trabalho e crescimento a fazer por parte do jovem Cade Cunningham. Ninguém se torna uma estrela nesta liga do dia para a noite. Mas os sinais nos últimos tempos são muito encorajadores, relembrando a quem já ia duvidando, que Cade tem o potencial para ser um dos maiores mestres com bola a entrar na liga nos últimos anos. É um talento geracional na criação, especialmente a ler situações de bloqueio direto e o seu crescimento mostra isso mesmo, tal como o que ia fazendo antes de chegar à NBA ia fazendo prever. Cunningham tem tudo para se juntar aos artistas do bloqueio direto que entraram na liga recentemente.

por ANTÓNIO DIAS [@antoniodias_pt]

Autor

António Dias

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