Lucky 13: Márika na neve

por mar 12, 2018

O KSC Szekszárd, primeiro classificado da liga húngara, disse que era comigo que queria contar. Eu não pude recusar! Para trás ficaram as minhas miúdas, o que não foi nada fácil. Este, sim, foi o desafio: dizer que eu não ia ficar até ao fim.

Hey, confesso que, todas as vezes que vos escrevo, penso: “Por onde vou começar?”
Desta vez é mesmo difícil selecionar. Aconteceu tanta coisa este último mês, mas, como sempre, o mais fácil é começar pelo princípio.

Estava a sair do ginásio quando me ligaram da Federação a perguntar que número é que eu queria usar, caso a situação se resolvesse, e eu, feita louca, disse à pessoa para escolher por mim. Não ligo muito a essas coisas, gosto de jogar com o #13, mas não passo mal se não o tiver. Ali, no momento, saiu-me o #1, sinceramente sem acreditar que, uma semana depois, iria receber uma chamada a dizer que tinha dois dias para estar no Algarve.

E começa aqui a aventura.

Cinco dias com treinos bi-diários para saber o que muitas ouvem há anos nas seleções, dois jogos para jogar, doze dias para fazer tudo com régua e esquadro. Ao meu lado tinha colegas de equipa que, até ali, só as via do outro lado, e um grupo que me recebeu muito bem!

Como se não bastasse tanta mudança em tão pouco tempo, no segundo dia de estágio recebi uma mensagem no facebook. Vi que era do manager de uma das equipas contra quem tínhamos jogado na Eurocup. Estava curiosa, mas, ao mesmo tempo, com medo que viesse mais uma situação difícil a caminho. E assim foi: a minha primeira oportunidade de jogar fora de Portugal.

Durante muitos anos as pessoas perguntavam: “Mas porque não vais jogar para fora? Tenta ir para Espanha, arranjas facilmente equipa…”

A resposta é simples. Eu nunca quis sair do país! Não por falta de vontade, mas decidi que o basquetebol seria levado com seriedade, sim, mas que a prioridade era investir na minha formação e na profissão que escolhi. E assim foi até ao dia 6 de Fevereiro de 2018, o dia em que o KSC Szekszárd, primeiro classificado da liga húngara, disse que era comigo que queria contar. Eu não pude recusar!

Para trás ficaram as minhas miúdas, o que não foi nada fácil. Este, sim, foi o desafio: dizer que eu não ia ficar até ao fim.

Uma delas, assim que soube, enviou-me um texto enorme. Deixo-vos aqui uma parte, para perceberem que é impossível escrever-vos sobre isto sem chorar: “Por acaso insultei-te com amor, mas insultei. Na minha cabeça, tu nunca nos ias deixar, mas após uns minutos eu entendi. Tu não nos deixaste, tu continuas sempre connosco para tudo, apenas vais estar uma beca mais longe…”

Depois de dias de choradeira, foi chegar dia 15 com a Seleção, pegar nas malas e viajar dois dias depois para a Hungria. E cá estou eu, a viver com neve até aos joelhos. Já tive que comprar umas botas, que em Portugal não me servem de nada, mas aqui salvaram-me a vida.

Bem, a partir de agora já sabem onde me encontrar: “Anita na neve”.

Fiquem desse lado. As coisas estão a ser bem interessantes e 3000 pessoas a ver um jogo de basquetebol feminino é só espetacular!

Volto no próximo mês já com novidades para os playoffs e para mostrar um pouco da minha vida por Szekszárd.

P.S.: A claque do clube achou que Márcia era um nome difícil e decidiram que agora sou Márika, para os amigos. 🙂

por MÁRCIA COSTA

Autor

Márcia Costa

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