Novos papéis, novos rumos e 5 jogadores que só precisavam de novas equipas

por nov 5, 2022

Quando pensamos nas equipas que visualizamos, realisticamente, a tornarem-se campeãs no final desta temporada, alguns nomes saltam para a frente da nossa mente. Milwaukee Bucks, Golden State Warriors, Boston Celtics ou até mesmo Los Angeles Clippers ou Philadelphia 76ers, apesar dos seus arranques meio atabalhoados. O que têm estas equipas em comum? Continuidade. São plantéis que se têm mantido juntos e criado hábitos que, quase sempre, levam ao sucesso.

Mas que interesse tem isto, não é verdade? Isso são conversas para se ter daqui a muitos meses. No início da temporada o que interessa é o que novo, diferente. Ninguém acompanha o Woj ou o Shams no Twitter para saber quem renovou contrato para ficar na mesma equipa. Nesta fase, o que nos atrai o olhar são os jogadores que mudaram de equipa e nos oferecem a possibilidade de uma equipa nova quebrar a hegemonia dos normais “grandes”.

Comecemos por olhar para um par de talentos que gostavam tão pouco um do outro que os Utah Jazz decidiram mandar os dois para o mais longe possível. E ambos têm tido amplas oportunidades de mostrar o seu talento, ainda que com resultados… um pouco diferentes.

Em Minnesota, Rudy Gobert continua igual a si mesmo. Alguns pontos, muitos ressaltos, muitos desarmes de lançamento e, de um modo geral, o mesmo impacto positivo na defesa. Os Timberwolves passaram de uma defesa mediana no ano passado para uma das melhores neste arranque de temporada – uma subida de 13.º para 9.º, em termos de rating defensivo. Infelizmente, a eficiência ofensiva evoluiu no sentido contrário, passando da 7.ª melhor em 2021-22 para 21.ª neste primeiros oito jogos da temporada. Os principais medos que foram levantados após a polarizadora troca que levou o poste francês para os Timberwolves estão, para já, a revelar-se verdadeiros. Towns e Gobert demoram em encontrar formas fluidas de partilhar o campo e a equipa parece, a espaços, não mais que uma coleção de individualidades. Será interessante acompanhar o que Minnesota vai fazer para não repetir apenas o relativo sucesso do ano passado.

Já com Donovan Mitchell, a conversa tem sido muito, muito diferente. Logo no primeiro jogo dos Cavaliers, Darius Garland lesionou-se e Mitchell viu-se forçado a assumir automaticamente um papel de maior liderança na produção ofensiva da equipa. E digamos que tem corrido absurdamente bem. O base não só está com máximos de carreira em assistências (7.1) e pontos (31.1) – ainda que deva ser dito que está a jogar mais minutos que o normal, também –, como está a fazê-lo de uma forma muito mais eficiente. E, surpreendentemente, parece ter também reencontrado os seus instintos defensivos, algo que há muito o tinha abandonado em Utah. O que não deixa de ser curioso, dado que Mitchell vinha da universidade como, supostamente, um especialista defensivo. Teremos de ver como o seu jogo irá continuar quando tiver mesmo de partilhar a posse de bola com Garland, mas os primeiros indícios são inegavelmente positivos.

Para além destes nomes mais badalados, outros têm mostrado também uma rápida adaptação aos seus novos colegas. Dejounte Murray mal tem acusado o toque de ter partilhar a bola com Trae Young, mostrando uma química automática que nem todos necessariamente esperavam – pelo menos não de forma tão rápida. Já Jalen Brunson rumou aos Knicks e a expectativa era que ele mantivesse a sua normal eficiência e estilo de jogo mas com um pouco mais de volume. E é exatamente isso que tem acontecido. O base tem trazido aos Knicks o que estes mais precisavam: uma mão segura no leme, um jogador cujo maior talento é dar espaço aos outros para brilharem.

E depois, claro, temos Lauri Markkanen. Os Utah Jazz têm sido umas das mais inesperadas histórias deste arranque de temporada. Apontados para serem uma das piores equipas na liga – e firmemente na contenda por Victor Wembanyama –, os Jazz estão com um registo de 7 vitórias e 3 derrotas. Estão a fazê-lo de uma forma muito rara na NBA: jogando como equipa, com todos a remarem na mesma direção. Sem egos. Ainda assim, Markkanen tem-se destacado um pouco mais, finalmente mostrando todo o talento que se esperava dele quando foi escolhido em 7.º no draft de 2017. Isto tem acontecido não apenas com um aumento geral em números estatísticos mas também com uma nova atitude em campo. O finlandês está mais assertivo, confiante, sem medo de assumir os grandes momentos.

Há uma forte probabilidade dos Utah Jazz começarem a perder muito mais jogos do que os que ganham. É possível, se não mesmo provável, que voltem a estar na luta pela primeira posição no draft. Mas continuam a ter Lauri Markkanen. Uma de muitas provas vivas de como é fútil vaticinar a carreira de um jogador sem lhe dar tempo para a construir.

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Para terminar este texto sobre a esperança de um futuro melhor, vamos recordar alguns jogadores que encontraram esse oásis:

JJ Redick

Vamos começar com este porque é o que dói mais, como fã dos Orlando Magic. JJ Redick chegou a Orlando com algum hype. Tinha sido o Jogador do Ano na NCAA, em 2006, e ainda detém todos os recordes de pontos da prestigiada (e odiada) Universidade de Duke. Quando chegou aos Magic, sabia-se que ia começar por ter de lutar por mais minutos, mas a expectativa era que tal acontecesse com relativa rapidez. Mas os minutos tardavam em chegar. Acabou por ser trocado para os Bucks, numa troca que trouxe Tobias Harris para Orlando, mas também aí não se adaptou. Em 2013, chegou aos Clippers, onde rapidamente se tornou titular e a principal arma exterior dos Clippers da era “Lob City”, ao lado de Chris Paul, Blake Griffin e DeAndre Jordan. Hoje é um analista respeitado, mas para mim será sempre conhecido como um dos maiores tiros nos pés dos meus Magic.

Bruce Bowen

Depois de completar quatro anos na universidade, em 1993, Bruce Bowen esteve disponível para o draft mas não foi escolhido por ninguém. Seguiram-se algumas temporadas a jogar no estrangeiro ou em ligas menores nos EUA antes de se estrear, em 1997, na NBA, pelos Miami Heat. Ao início, jogou poucos minutos e ainda saltitou entre os Celtics e os 76ers, antes de ter a sua primeira temporada com minutos de titular, novamente com os Heat, em 1999-00. No ano seguinte, já com 29 anos, chegou aos San Antonio Spurs, e a sua carreira mudou do dia para a noite. Seguiram-se três anos consecutivos na All-Defensive Second Team e depois mais cinco na All-Defensive First Team. Bowen tornou-se uma pedra basilar dos Spurs de Tim Duncan, Tony Parker e Manu Ginobili, conquistando três títulos e mostrando como é possível ser essencial sem nunca atingir sequer 10 pontos de média.

Chauncey Billups

Billups foi a 3.ª escolha no draft, pelos Boston Celtics, e entrou na NBA com intenções de dominar. Uma relação turbulenta com Rick Pitino condenou esse arranque e levou a que fosse trocado para Toronto ainda como rookie. Ainda passou depois pelos Nuggets e pelos Timberwolves, onde começou a ter um pouco mais de oportunidades. Em 2002, assinou pelos Pistons e, logo na primeira temporada em Detroit, conquistou a alcunha de “Mr. Big Shot”, pela sua capacidade de converter lançamentos nos momentos mais decisivos. No ano seguinte, ladeado por Richard Hamilton, Tayshaun Prince, Rasheed Wallace e Ben Wallace, liderou a sua equipa a um título surpreendente, vencendo os Lakers de Shaq e Kobe por 4-1 nas Finais. Billups foi, até, nomeado Finals MVP. No final de uma carreira de 17 temporadas, tinha sido também 5 vezes All-Star, 3 vezes All-NBA e 2 vezes All-Defensive. Nada mau para um draft bust.

Kyle Lowry

Chegado aos Grizzlies, vindo de Villanova, Lowry perdeu grande parte da sua primeira temporada na NBA devido a lesões. Depois, chegou Mike Conley Jr. e, ao ver que ia perder a maioria dos seus minutos para o então rookie, Lowry protestou – e começou a ser visto como má influência. Foi trocado para os Rockets e começou a conquistar um pouco mais de minutos, mas, quando saiu Rick Adelman para entrar Kevin McHale, voltou a entrar em conflito com o treinador. A fama de problemático continuava a crescer. Foi parar aos Raptors. E, aí, tudo mudou. Em menos de dois anos tornou-se um alicerce fulcral da equipa, formando uma relação pessoal e profissional com DeMar DeRozan que elevou Toronto de novo aos playoffs. Lowry acumulou 6 presenças no All-Star Game, uma nomeação para All-NBA e até o primeiro título para a cidade de Toronto. Hoje, é considerado um dos melhores Raptors de sempre – se não mesmo o melhor.

Ben Wallace

Com “apenas” 2,06 metros de altura – numa era em que o jogo físico no garrafão era a norma – Ben Wallace viu o draft de 1996 começar e terminar sem ver o seu nome a ser escolhido. Acabou por ir parar a Washington, onde não conquistou muitos minutos, e depois, já em Orlando, começou a mostrar um pouco mais do seu potencial. Mas, quando os Magic foram buscar Grant Hill, Wallace foi parar aos Pistons, onde rapidamente se tornou um dos melhores postes da NBA, apesar de ter um jogo ofensivo quase inexistente. Liderou a liga em ressaltos duas vezes, e partilha – com Dikembe Mutombo – o recorde de 4 nomeações como Defensive Player of the Year. Foi também campeão em 2004 e tornou-se um dos poucos postes na liga que genuinamente dificultava a tarefa a Shaquille O’Neal. Em 2021, foi eleito para o Hall of Fame e é, sem grande discussão, o melhor jogador undrafted da História da NBA.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

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