O Dunk Contest não tem solução e 5 soluções para o All-Star Weekend

por fev 15, 2023

Temos de aprender a aceitar afundanços mais “normais” de novo. Temos de aprender a não exigir o impossível e depois ficarmos desapontados porque não foi possível. Temos de aprender a ser mais positivos em relação a um evento que é suposto ser uma festa.

Este sábado, entre muitos outros eventos do All-Star Weekend, vai decorrer mais uma edição do famoso (infame?) concurso de afundanços. O alinhamento deste ano conta com nomes como Trey Murphy III, Kenyon Martin Jr., Mac McClung e Shaedon Sharpe, o rookie dos Blazers com apetência para explodir para o aro. Não… esperem. Sharpe retirou-se do Dunk Contest e, no seu lugar, vai Jericho Sims.

Sim, não é um alinhamento especialmente atraente. E depois da desgraça do ano passado, o entusiasmo está cada vez mais reduzido. Durante anos os fãs suplicaram que LeBron participasse e Ja Morant também tem sido “assediado” nesse sentido. Mas, quase garantidamente, não vai acontecer. E isso não tem de ser o fim do mundo. Toda esta conversa de falta de estrelas no Dunk Contest é, na verdade, um pouco acessória ao sucesso do concurso.

Seria interessante ter mais estrelas? Claro. Mas eles não querem. E têm boas razões para tal. É fácil dizer que os jogadores não deveriam ter medo de fazer má figura, mas vivemos em tempos diferentes. O escrutínio, na era das redes sociais, nunca foi tão virulento e inescapável. Quem diz que aguentaria isso se fosse pago milhões, está a falar com a arrogância de quem nunca terá de passar por isso.

Mas devemos sequer ter a preocupação de levar mais estrelas ao Dunk Contest? Muitos consideram o Dunk Contest de 2016 como um dos melhores de sempre – se não mesmo o melhor. E que estrelas teve? Nem uma. Estão a pensar no LaVine e no Gordon? Pensem outra vez. Na altura do concurso ambos estavam ainda apenas no seu segundo ano e eram tudo menos estrelas nas suas equipas. Na verdade, ambos saíram do banco na maioria dos jogos da temporada. O sucesso do concurso foi, sim, uma catapulta para o estrelato de ambos.

Também Nate Robinson ganhou vários concursos e nunca esteve perto de ser uma estrela. O que não quer dizer que não existam concursos memoráveis quando estrelas participam. Dwight Howard já era um nome estabelecido quando encantou os fãs com o seu “Superman Dunk”. Já quando Blake Griffin participou – e ganhou – o tom geral foi de desilusão.

Isto para dizer que é incerto. Porque é importante compreender uma coisa. Um bom Dunk Contest tem ZERO a ver com as estrelas que participam. Tudo depende apenas de uma coisa. Uma única. Os afundanços têm de ser bons. Ponto. Quando os afundanços são bons, o concurso é bom. Quando não são, não é. E não há mudança de regra ou recrutamento de estrelas que garanta bons afundanços.

E chegamos, em fim, à minha teoria para o declínio da qualidade dos Dunk Contests nos últimos anos: o nível de dificuldade está demasiado elevado. Ou antes, estamos demasiado exigentes. Experimentem ver concursos de afundanços de há 20, 30 ou 40 anos atrás. Iriam ficar admirados com o quão… “básicos” os afundanços parecem. De ano para ano, para ter um 50, é exigido aos jogadores que façam melhor e diferente. Sempre. Melhor e diferente.

Mas, ao contrário de personagens do DragonBall Z – que só têm de treinar um pouco mais em cúpulas com simuladores de gravidade para atingir novos níveis de força –, seres humanos têm limites físicos. E chega a uma altura em que não dá para saltar mais alto, dar mais uma pirueta no ar.

Temos de aprender a aceitar afundanços mais “normais” de novo. Temos de aprender a não exigir o impossível e depois ficarmos desapontados porque não foi possível. Temos de aprender a ser mais positivos em relação a um evento que é suposto ser uma festa. Porque enquanto mantivermos esta atitude, cada vez menos jogadores vão querer participar. Estrelas ou não.

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Depois de um artigo inteiro em que andei a dizer às pessoas para pararem de serem chatas, vou terminá-lo com uma lista das mudanças que eu faria, porque eu gosto de ser muito consistente na minha hipocrisia:

Criem o NBA Jam 2×2 Tournament

Quem é que não quereria ver isto? Poderíamos ter equipas a enviar as suas melhores duplas, NBA Jam-style. Poderiam ser combinações clássicas de guard/big, poderiam ser dois shooters, dois monstros atléticos, o que preferissem. A escolha faria parte da estratégia. Poderíamos ter equipas de jovens contra equipas de veteranos. Equipas mistas. Equipas de lendas. Equipas de celebridades. Até poderíamos ter uma equipa com o Wesley Snipes e o Woody Harrelson, só para agradar aos fãs mais “old school”. Sim, poderia ser também um torneio 3×3, mas isso já se assemelha perigosamente a basket “à sério”. O que queremos aqui é puro caos e diversão.

Coloquem anónimos no Jogo das Celebridades

Imaginem esta situação. Jogo das celebridades está a decorrer. De repente, tudo pára. Duas pessoas aleatórias são sorteadas ao acaso para jogar no resto do jogo. O jogo continua enquanto as pessoas se preparam e depois entram e jogam com as celebridades. Para as pessoas em questão, é um momento bonito para recordar. Para os espetadores, acontece uma de duas coisas: ou são uma desgraça e é divertido mas ninguém leva a mal, porque não tiveram preparação; ou então são inesperadamente bons e temos momentos virais como uma dona de casa a acertar dois triplos de seguida e a festejar com o Michael B. Jordan.

Tragam de volta o Shooting Stars

Este evento era simples mas divertido. Era rápido, tinha alguma emoção e fazia o seu serviço sem chatear muito. Eu sei que não parece que o estou a vender especialmente bem, mas às vezes simplesmente precisamos de algumas coisas que satisfaçam. Que não vivam sempre naquele limiar entre triunfo apoteótico e brutal desilusão. Que sejam bons. Nem mais. Nem menos. Apenas bons. E quem diria que não a ver o Chris Bosh regressar à competição, agora como “lenda” e a continuar o seu legado de domínio a lançar do meio-campo?

Domingo precisa de mais um evento

Uma das razões para tantos se sentirem desiludidos pelo All-Star Game – creio – é também o facto de ser apenas um evento. Depois de sábado, em que somos bombardeados por uma apoteose de eventos de todas as formas e feitios, chegamos a domingo e temos… um jogo. Um jogo recheado de estrelas, sim, mas um jogo, não obstante. Acaba por saber a pouco. Este dia precisa de mais um evento. Podem escolher qualquer um dos que eu já propus acima – mas escolham um. A rampa de lançamento para o jogo pode ser um pouco mais fluída.

Os fãs têm de mudar de atitude

Sim, há sempre alguns ajustes aqui e ali que se podem fazer no All-Star Weekend, mas, deve ser dito, o evento é perfeitamente aceitável. Certas coisas beneficiariam de algumas mudanças mas a vasta maioria é o que é. É impossível manter a atenção dos fãs durante três dias seguidos. Alguns eventos vão sempre ficar um pouco esquecidos. Mas não é preciso reagir como se fosse o fim do mundo. Claro que devemos ter emoções, mas têm de ser sempre negativas? Temos sempre de recompensar a insistência dos eternamente chatos? Este é um evento sobre pura diversão. Nunca será suficiente para os que são incapazes de a sentir.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

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