Os Jazz tocam música nova

por nov 4, 2022

Ainda Danny Ainge limpava o pó ao tanque escondido na garagem, e já Will Hardy e os novos Jazz lhe começavam a estragar os planos. Após um verão que viu a turma de Utah começar uma reconstrução, trocando Rudy Gobert e Donovan Mitchell e deixando sair Quinn Snyder, as expetativas eram de um ataque feroz ao tanking. Mas o que se viu nas primeiras semanas de NBA foram uns Jazz a carburar a todo o gás e a surpreender toda a gente, com vitórias sobre os Nuggets, Grizzlies e Pelicans, por exemplo.

Mas porquê? O que leva uma equipa com tanta gente nova, incluindo o seu staff técnico, a surpreender desta maneira? E, principalmente, serão estes resultados sustentáveis? O que são estes Jazz e para onde caminham é exatamente aquilo que tentamos descobrir, analisando o que se fez até agora.

Uma força finlandesa

O verão de Lauri Markkanen prometia uma mudança no que o finlandês vinha fazendo, com médias de 27.9 pontos e 8.1 ressaltos no EuroBasket, incluindo um jogo de 43 pontos que eliminou a Croácia nos oitavos de final. E em Utah, Markkanen só tem mostrado que o bom momento é para continuar. Com total liberdade para se expressar, o finlandês tem sido o destaque dos Jazz, em pontos, ressaltos ofensivos, no contra-ataque, a marcar perto e longe do cesto. Enfim, toda uma panóplia de opções que Lauri oferece a Will Hardy.

No bloqueio direto vemos logo toda a versatilidade de Lauri Markkanen. Com bola nas mãos (sim, leram bem), o finlandês tem sido capaz de trazer alguns pontos para os Jazz. Seja a aproveitar mismatches, a ler os buracos que a defesa deixa ou simplesmente a mostrar a sua capacidade para fabricar pontos, Markkanen oferece a opção do bloqueio direto como portador, normalmente com um base/extremo atirador a bloquear.

Como roller no bloqueio direto, Markkanen é o 10.º em toda a liga em pontos por posse (PPP). Com excelente leitura da defesa e do espaço à sua volta, é capaz de receber já tendo feito a devida “vistoria” à área e à sua volta, o que o torna capaz de decidir. A sua mobilidade, explosividade a partir de um pé e capacidade para contorcionar o seu corpo ajudam certamente.

Reconhecido como um stretch forward desde que entrou na liga, tem vindo a aperfeiçoar essa faceta. Obriga constantemente a defesa a tomar a melhor opção de entre as más opções e quando o deixam sozinho com espaço, é habitualmente um problema. Seja a rodar para o meio ou com bloqueio para o empty corner, Markkanen lança de onde quer.

Por falar em lançar, o finlandês será sempre um problema para os defesas com o espaçamento que oferece fora da bola. Principalmente em situações de bloqueio direto no topo, Markkanen é sempre uma ameaça do lado da ajuda e obriga o seu defensor a decidir. A facilidade com que se recoloca e a velocidade de lançamento impressionam, com 5.7 pontos por jogo em catch & shoots esta época.

A equipa de Will Hardy é a segunda em toda a NBA em PPP a partir de bloqueios indiretos e Markkanen (juntamente com Clarkson e Beasley) lideram a equipa nesse aspeto. Mais uma vez, a capacidade de leitura de Lauri a trazer-lhe vantagens, podendo sair em curl, parar para lançar ou receber mais perto do cesto para um lançamento fácil.

Os Jazz são terceiros na liga em pontos a partir de turnover e oitavos em pontos por posse em transição. Lauri Markkanen lidera a equipa na primeira e é segundo na transição, atrás de Conley. A rapidez que demonstra apesar do tamanho, arrancando logo que a equipa recupera a bola e a facilidade que tem em entrar para o cesto e finalizar acima do aro fazem dele um dos melhores jogadores da associação em contra-ataque.

O «drive and kick game»

Mas não só de Markkanen se faz esta equipa. Hardy assenta o jogo da sua equipa no espaçamento e constantes penetrações para o cesto. Com o pessoal necessário para executar este tipo de ataque, o pintado está normalmente aberto para entrada de jogadores como Sexton, Conley, Clarkson ou Horton-Tucker, que beneficiam e muito do espaço que os “seus grandes” oferecem.

Seguindo a filosofia dos “5 abertos”, há muito espaço para pôr pressão no cesto e atacar após passe ou finta de drible. É incrível a gravidade de quase todos os jogadores que Will Hardy tem à sua disposição, não permitindo ajudas muito profundas e abrindo a área perto do cesto bem mais do que o normal. Os Jazz são a 4.ª equipa em termos de penetrações por jogo e 6.ª em paint touches.

Quem normalmente é obrigado a ajudar numa penetração, principalmente as que vêm do topo? É a última linha da defesa. E quem fica sozinho? Pois, os atiradores dos cantos. Os Jazz são terceiros na liga em pontos a partir de catch & shot e segundos em percentagem de pontos em triplos do canto. E a razão principal está nas penetrações constantes e constante movimento, de jogadores e da bola, que obrigam a ajudas e deixam jogadores nos cantos completamente à vontade. Jarred Vanderbilt e Malik Beasley são, respetivamente, o 8º e 9º em percentagem de lançamento do canto, mas são vários os atiradores que a equipa de Utah tem à disposição.

Dois ataques são melhores que um

Com tanta gente no perímetro, seria de esperar um baixo número de ressaltos ofensivos. Mas a realidade é que os Jazz são a quinta equipa que mais ressaltos ofensivos coleciona. Porque colocam muita gente no ressalto, logo que o lançamento sai e porque bloquear um jogador a partir do perímetro é bem mais difícil do que perto do cesto. Não são poucas as vezes em que os Jazz colocam três jogadores no ressalto ou que conseguem múltiplas tentativas. E isso, obviamente, ajuda a conseguir mais pontos. Neste capítulo, dominam Vanderbilt e Markkanen, com 2.2 ressaltos ofensivos por jogo.

Criar o caos na defesa

Mas não só de ataque se faz uma equipa. Embora mais tímida e com mais propensão ao erro, a defesa dos Jazz tem momentos de excelência, principalmente inspirados em Jarred Vanderbilt, um dos melhores defesas da liga, seja fora ou na bola. Os Jazz são terceiros na liga em roubos de bola e Vanderbilt – juntamente com Kelly Olynyk – é 20.º, com 1.6 cada. Rápidos e móveis, os Jazz são capazes de defender um maior espaço e provocar problemas a quem procura penetrar ou passar. Fecham também muito bem o pintado e têm mãos rápidas para rapidamente recuperarem a bola.

Voltando um pouco ao início: esta forma é sustentável? Provavelmente não. Os Jazz estão em reconstrução, a ideia deverá ser capitalizar no draft e, para tal, jogadores serão trocados. E quase todos os jogadores da rotação fazem sentido para os contenders. Para além disso, a defesa (embora sejam 9.º em defensive rating) não oferece grande confiança em nenhum aspeto em particular e a equipa vai vivendo muito do fator surpresa.

Porém, mesmo que os Jazz venham a cair, esta não deixa de ser uma equipa a acompanhar todo o ano no League Pass (quando estiver a funcionar corretamente). Will Hardy montou uma equipa de basquetebol positivo, rápido e a aproveitar as virtudes dos seus jogadores. Os Utah Jazz são divertidos e continuarão a criar problemas .

por ANTÓNIO DIAS [@antoniodias_pt]

Autor

António Dias

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