Scouting report: Jabari Smith

por mar 31, 2022

ANÁLISE RESUMIDA, ou algo para ler numa curta viagem de Metro


Dados Biográficos

  • Filho do ex-NBA Jabari Smith e primo de Kwaaaaaaaaameee Brown /endSAS;
  • Jogou quatro anos em Sandy Creek HS, no seu estado natal da Georgia;
  • Competiu no circuito AAU pelo projecto Atlanta Celtics (sim, leram bem);
  • Medalhado de ouro do FIBA Americas U16 2019, pela Team USA;
  • Vencedor do prémio Mr. Georgia Basketball 2021. Nike Hoops Summit, McDonald’s All-American e Jordan Brand All-American em 2021;
  • Recruta #7 da classe HS de 2021 para o site Rivals.com, #6 para a 247Sports.com e ESPN100.
  • Vencedor do prémio SEC Freshman of the Year da presente temporada, sucedendo a nomes do Anthony Edwards, Karl-Anthony Towns, Ben Simmons e Anthony Davis.

Estatísticas de Jogo

Papel Ofensivo:

  • Puro shotmaker alto e longo, com um jogo muito virado para o perímetro. Um dos, se não O MELHOR atirador do Draft, que consegue assumir um papel secundário como espaçador/movement shooter, ou pegar na bola no 1v1, encarar e disparar por cima do seu homem, tanto do poste alto como do exterior. Ainda assim, é unidimensional a criar com bola e não coloca pressão no cesto, com um drible inseguro, visão de jogo e tomada de decisão mais fracos. Mas, com tão jovem idade, imensa gravidade no tiro e boas ferramentas físicas, existem razões para optimismo.

Papel Defensivo:

  • Bom defensor individual no ponto de ataque, com rápidos reflexos a reagir ao portador, capacidade de deslizar lateralmente, mãos activas e um motor honesto. Idealmente, alguém que vai defender 3s e undersized 4s no 1v1. Relativamente às suas tarefas colectivas, nem sempre roda com consistência, mas tem bons momentos a posicionar-se e ajudar a partir de uma segunda linha defensiva. É longo o suficiente para oferecer alguma protecção de cesto secundária. 

Em que equipas faz sentido?

Se olharmos pelo benefício das equipas, Jabari encaixa em muito franchise, no sentido em que oferece imenso espaçamento e versatilidade de usage, ao mesmo tempo que tem potencial e polivalência defensiva, tudo numa posição de muita elevada procura. Para o bem do desenvolvimento do jogador, acredito que seria melhor ser escolhido por uma equipa que já tenha algum tipo de criador principal, ou, pelo menos, alguém que seja um inteligente distribuidor de jogo, de maneira que Smith não seja obrigado a carregar uma elevada carga ofensiva, numa altura em que não está preparado para tal. No topo da lottery, Detroit parece-me uma interessante solução – Cade (e até Killian Hayes) são uma dupla de bons passadores/decisores, que colocariam a bola onde o Tiger precisa, sem que este tenha uma constante responsabilidade de criar no 1v1. Isaiah Stewart não seria o companheiro ideal, defensivamente falando, mas isso não é remotamente uma razão para não escolher Jabari. No mesmo sentido, uma equipa como os SAS podia ser uma solução interessante. Portland intriga-me, assumindo que Lillard fica, mas numa equipa em movimento, é difícil prever o que quer que seja.

https://twitter.com/cjmarchesani/status/1495819784751095821

ANÁLISE DETALHADA, ou algo para ler entre o Anna Karenina e os 100 Anos de Solidão

Atletismo

Jogador com excelentes medidas para jogar na asa. Apresenta algumas limitações atléticas que precisam de trabalho.

De novo, começando com as medidas – tem uma combinação de altura (2,08m) e envergadura (2,16m) impressionante para a posição. Aliado a isto, tem características físicas, nomeadamente a largura dos ombros, que lhe permitem adicionar algum músculo à estrutura física. A aliar a isto, Jabari possui uns reflexos e capacidade de reacção especiais, algo que se nota bem no lado defensivo da quadra, e é ágil a deslizar lateralmente, bem como a correr de norte para sul, mesmo que não tenha uma velocidade de ponta por aí além.

De forma semelhante, não é um típico saltitão, mas consegue imprimir alguma elevação no salto, especialmente com a chamada a um pé, e uma carpete vermelha para explodir.

Apresenta algumas limitações atléticas – para alguém que não é o Chet Holmgren, tem problemas em jogar na força, sendo facilmente deslocado da sua posição e até atirado para o chão por algumas cargas de ombro. Perde o equilíbrio com alguma facilidade, fazendo lembrar Obi Toppin, alguém que era super entroncado, mas que não fazia o leg day no ginásio!

Sem ser, de todo, tão pronunciado, acredito que o problema com Smith possa ser semelhante – um centro de gravidade relativamente alto, e uma base onde não existe tanta força, sendo as pernas algo delgadas. A juntar a isso, o jogador tem alguma falta de flexibilidade na parte inferior do corpo, algo que o prejudica quando tenta atacar o cesto.

Criação ofensiva

Novamente, vou partir esta parte em vários subtópicos, nomeadamente poste alto e perímetro, por esta ordem. Não vou abordar o jogo de JS no poste baixo, por não achar pertinente – é um jogador que não opera como criador nessa zona do campo, e duvido que isso vá mudar na NBA.

Começando então pelo poste alto – é alguém que gosta de receber no elbow e jogar 1v1. É rápido a iniciar a ofensiva assim que tem a bola, optando por receber e usar o pivot para encarar o defensor e lançar imediatamente, meter 1-2 dribles, transitar para um stepside e disparar, ou tentando encostar no homem para alguns dribles antes de subir. As percentagens nesta zona do campo (35.8% em 176 lançamentos, 69.8% deles não assistidos) são um indicador de uma necessidade de diversificação do seu jogo, mas aquilo que aparece em tape, por sua vez, é prova clara daquilo que ele é como um incrível conversor de lançamentos difíceis.

Uma nota final para a maneira como (não) lida com double teams nesta zona. A sua gravidade como scorer puxa imensa ajuda, e Jabari tem de aprender a manipular, em vez de se colocar em situações onde lança com 2 homens pendurados.

Vou passar agora para a criação individual no perímetro, aproveitando para abordar algumas habilidades que cabem neste termo guarda-chuva, como o drible, a capacidade de explodir na passada, força, shotmaking (de novo), pressão no aro.

A criação individual no 1v1 é muito semelhante ao que faz no poste alto, tanto em termo de prós, como de contras. Jabari gosta de usar e abusar da sua capacidade nuclear como shotmaker, recebendo e atirando quase imediatamente. Quando não o faz, dá bom uso ao seu jab step, para desequilibrar o homem (ou criar angulo para usar um bloqueio), mas sendo sempre parco com o drible e raras vezes tentando infiltrar o pintado (Apenas 14.8% de todas as suas tentativas são à volta do aro).

É importante notar que, mesmo com pouco pressão no aro, Jabari tem um FT Rate saudável (38.5), sacando imensas faltas oportunas a partir do tiro, onde usa aqueles swipe moves de baixo para cima, para fazer o arbitro apitar.

Quando ataca o interior, consegue fazê-lo tanto pela esquerda como pela direita, mas, no geral, não é um bom criador de desequilíbrios no 1v1, faltando algum sumo na primeira passada, não sendo especialmente explosivo quando planta o pé, elusivo a mudar de direcção, nem forte a deslocar o defensor em linha recta.

Depois, existem maus hábitos que podem ser facilmente melhorados, como iniciar a passada muito cedo, ou simplesmente acariciar, em vez de atacar, o tronco do seu homem e/ou do protector de cesto, tudo ‘microhabilidadezinhas’ que podem ser corrigidas e que o podem ajudar a ser mais eficiente no ataque ao cesto.

A mais preocupante vertente do seu jogo é o drible. Jabari tem um muito mau drible para um jogador de perímetro e tem uma notória desconfiança em usá-lo, o que explica grande parte daquilo que é o seu perfil de criação individual. Smith não é especialmente criativo a dançar no 1v1, não protege muito bem a bola, nem baixa o centro de gravidade quando ataca, mas aquilo que é mais notório é a falta de segurança com que dribla, sendo que a bola lhe pode saltar da mão enquanto dribla entre as pernas, quando carrega em transição ou quando está a atacar o pintado (muitas vezes, enquanto ataca com balanço, parece que se ‘esquece’ da bola atrás do corpo). É difícil diagnosticar se é um problema de tamanho de mãos, ou, mais provavelmente, de coordenação olhos-mãos, mas, para mim, é a maior limitação e o maior entrave a incluí-lo na conversa com os restantes candidatos à posição #1.

É sempre difícil projectar desenvolvimento de jogador/habilidades particulares no vácuo, mas Smith precisa que o drible seja competente o suficiente para criar outras avenidas de criação no 1v1, ou, pelo menos, capitalizar no seu perfil como um atirador nuclear.

Lançamento

Passando de uma zona negra para uma bem brilhante, trata-se de um dos melhores atiradores da classe, com uma forma perfeitinha e intocável, e uma capacidade absurda de encestar bolas difíceis.

Os números na temporada que passou no estado do Alabama são impressionantes – 42.2% de 3 pontos, num volume elevado (187 tentativas) e 79.9% da linha de lance livre (164 tentativas) são um belo teaser futuro, com os números de 2 fora do pintado a serem os valores menos proveitosos (35.8% em 176 tentativas).

Acredito completamente que o sucesso como atirador se vai conservar durante a carreira, especialmente se for mais inteligente com a selecção do seu ataque e se for ladeado por jogadores que lhe coloquem a bola no sítio certo, coisa que não aconteceu este ano.

A forma é indiscutivelmente correcta, não existindo problema algum com a colocação dos pés, a transferência para a parte superior do corpo, ou com o release point, que é altissimo e praticamente imperturbável.

Armado com esta combinação de tamanho e shooting, Jabari consegue converter tudo, desde o mais simples C&S, até aos mais difíceis jumpers, stepsides com um homem pendurado, tiros em desequilíbrio a cair à retaguarda, you name it! Não existem grandes evidências de movement shooting, a sair de bloqueios indirectos, por exemplo, mas com aquilo que mostrou, não tenho grandes dúvidas de que tem a capacidade para relocar, colocar os pés por baixo do tronco, subir e disparar, qual jumbo Klay Thompson.

Esta capacidade como shooter/shotmaker vai ser o seu ganha-pão na NBA, e pode muito bem ser uma habilidade saca-rolhas, no sentido em que a maneira como as defesas vão reagir à sua gravidade (indo por cima nos bloqueios, fechando closeouts muito agressivamente), podem ajudá-lo a criar vantagens mais facilmente, mesmo sem um burst ou drible por aí além.

QI e selecção de lançamento

Não é o processador de jogo mais arguto e tem muitas gorduras que precisam de ser cortadas na sua selecção de lançamento.

Como já falei em cima, o seu perfil de tiro é muito virado para o perímetro – linha de 3 e poste alto, raras vezes procurando atacar o garrafão. Acredito que isto seja tão consequência de uma selecção de lançamento e interpretação de jogo subótima, como da desconfiança que demonstra em meter a bola no chão, como falei anteriormente.

Ref.: https://dsamangy.shinyapps.io/2022_NBA_Draft_App/, actualizado até 26 de Jan

Não sendo um jogador particularmente inteligente, creio que evoluções incrementais no seu driving game podem ajudá-lo a encontrar um balanço entre garrafão e perímetro, onde já domina. Ainda assim, notam-se claras imaturidades no seu jogo – não sabe lidar com double teams, cometendo erros não forçados ao meter o drible depois de puxar a ajuda, não sabe aproveitar trocas em isolamentos, ficando-se pelos jumpers do costume, não consegue perceber que tem linhas de ataque ao cesto disponíveis, mesmo quando o treinador corre um empty side post up para ele.

Há aqui uma questão filosófica interessante – um perfil de lançamento difícil, para alguém que o consegue converter, é um problema? O Steph Curry também lança bolas que, por ser o Steph, são aceitáveis. Isto é uma questão que me faz pensar sobre o Jabari, que não sendo o Steph, é um atirador monstruoso. Mas a verdade é que ninguém deve viver apenas de tough shotmaking, o tiro exterior, mesmo para os melhores, é volátil, e o extremo vai ter de interiorizar.

Passe

Não é o melhor dos passadores, especialmente a pensar o jogo, mas tem vindo a evoluir no sentido de tomar decisões simples mais rapidamente.

Um bocado como consequência das deficiências técnicas que já falei, não tem um grande reportório a passar a bola em movimento (transição, por exemplo), ou a partir de um drible vivo, seja com qualquer uma das mãos. Dito isto, quando parte de uma posição estacionária, consegue fazer passes tecnicamente sólidos, imprimindo boa velocidade e colocação, com a mão direita ou com as duas.

Mais do que a vertente técnica, preocupa-me uma certa combinação de visão de jogo deficiente e tomada de decisão tardia com a bola na mão, nem sempre vendo aberturas simples, em eventuais drive and kicks ou depois de puxar ajudas quando isola no poste alto.

O jogo com Syracuse, ainda no início da temporada, foi um exemplo de como demora algum tempo a adaptar-se a situações de jogo. Aqui, foi colocado como o homem no meio da clássica zona 2-3 dos laranjas, onde a sua gravidade como scorer obrigou a segunda linha da defesa a subir, deixando Walker Kessler aberto no dunker spot para passes simples, passes esses que começaram a ser feitos, mas apenas na segunda parte.

Estando longe de ter o tipo de interpretação de jogo, criatividade e manipulação para resolver problemas à medida que os enfrenta, guardo optimismo no facto de parecer ser alguém que aprende algo com novas situações de jogo e guarda na cassete.

Para além disso, com o progredir da temporada, começou a fazer alguns passes de forma mais célere, mostrando inclusive um ou outro skip pass bem colocado do poste baixo para um triplo na wing oposta, coisa que não é fácil.

Não vou falar de como opera como portador no P&R, um futuro ponto importante do seu jogo, por não ser algo que lhe foi pedido em Auburn, mas, mesmo duvidando que alguma vez vá ser um savant, tem potencial para fazer os passes simples (pocket pass assim que o big mergulha), especialmente se tivermos em conta que a defesa vai ter sempre de respeitar a ameaça do seu pull up game após sair do bloqueio directo.

Finalização

Apesar de apresentar problemas (resolvíveis) a finalizar à volta do aro, apresenta bons números dentro do garrafão (65.1% em 63 tentativas).

Começando pelo bom, Jabari é sólido tecnicamente a finalizar bandejas e tem um shooting touch bastante bom, natural dos grandes atiradores. Ao contrário do que já vi escrito e falado por outros draftniks, não tenho problemas em relação à maneira como usa a mão esquerda – é claramente alguém que prefere finalizar com a mão dominante, mas nada fora do comum num jovem desta idade. Para além disso, é longo, e a sua envergadura vai ser sempre um ponto positivo.

Os pontos mais negativos prendem-se com questões que já fui mencionando ao longo do texto. Em primeiro lugar, é bastante avesso ao contacto físico, e isso nota-se na baixa percentagem de tentativas no pintado, mas também na maneira como inicia a passada muito antes de chegar ao aro, ou na forma como quase nunca usa cargas de ombro para tentar mover o jogador que está a proteger o cesto.

Aqui, há uma mistura de maus hábitos, que podem ser corrigidos, mas também de características físicas menos impressionantes, como alguma falta de força e equilíbrio para alguém do seu tamanho, bem como uma explosão vertical subóptima, quando salta no meio do trânsito. Não tem grande controlo corporal nem flexibilidade para finalizar com panache entre as frestas que aparecem.

As percentagens à volta do aro, que já mencionei, são respeitáveis, mas é preciso voltar a referir que o volume é muito pequeno (e apenas afundou 14 vezes em 21/22) e que estes valores não filtram tentativas em transição, ambos factores que contribuem para alguma desconfiança no que toca à ‘veracidade’ desta taxa de conversão.

Por fim, gostava de o ver experimentar tipos de lançamento diferentes na meia distancia (runners e floaters, por exemplo), algo que pode contribuir para a diversificação do seu ataque e que confio que conseguiria converter com algum conforto.

Ataque sem bola

Como tenho feito nos dois anteriores scouting reports, vou dividir este tópico em pequenos temas.

Começando com o que poderá oferecer como atirador estacionário no C&S, é alguém que, com o seu release point altíssimo, rapidez técnica e de decisão, bem como qualidade como atirador, é mais do que confiável para espaçar a partir do canto ou da wing. Mostra saber posicionar-se sem bola, abrindo para fora enquanto um colega penetra, de maneira a desimpedir o interior.

De forma oposta, não acredito que deva ser frequentemente utilizado como homem do bloqueio directo no P&R. Teoricamente, tem alguma fluidez vertical no espaço, que lhe permite cortar para o cesto, mas não faz incríveis bloqueios e não tem nem a explosão de um homem alvo, nem o poder de passe de um short roller.

Para mim, seria mais bem empregue como peça de diversão no P&R, a bloquear para o bloqueador e abrir para 3 em acções como Spain, para obrigar o seu homem a agarrar a linha, desimpedindo ainda mais o garrafão. Bruce Pearl usou-o, inteligentemente, como ‘abre latas’ de P&R e teve algum sucesso.

No P&P, um pouco da mesma maneira que no C&S, o seu tiro exterior oferece-lhe muito potencial. Pode fazer bloqueios rápidos (slip, ghost) e abrir imediatamente para fora, tendo oportunidade para disparar ou usar esta acção para caçar trocas e encontrar potenciais matchups favoráveis no 1v1.

Ressalto

Apresenta números respeitáveis durante a temporada que agora finda – 23.4 de DReb%, e uns menos bons 3.5 de OReb%.

O quão bom/mau é como ressaltador será algo que estará sempre atado à posição onde o colocarem – como 3, onde não antevejo grandes problemas, ou como stretch 4, onde pode ter alguns matchups mais desconfortáveis a proteger a sua tabela.

Dito isto, ferramentas físicas como a altura, largura dos ombros e envergadura, em combinação com uma boa disciplina posicional, ajudar-lho-ão a mitigar alguma falta de força, que torna os seus boxouts um pouco porosos.

Defesa individual

Ao contrário do que fiz com os scouting reports do Paolo e Chet, focar-me-ei nas suas valências como defensor individual no perímetro, muito mais do que noutras coisas. Apesar de ser, nominalmente, um stretch 4/big wing, Jabari foi, maioritariamente, usado para defender o ponto de ataque.

No perímetro, Smith é um bom defensor individual, com potencial para crescer, e versatilidade para poder vir a defender extremos e alguns bases. Com uma intersecção de motor, interesse, altura, envergadura e técnica consistente, foi um dos bons defensores de perímetro na NCAA, sendo capaz de se ‘sentar’ na postura correcta e deslizar lateralmente, de maneira a conter penetração.

Tem uns reflexos absurdos a reagir à primeira acção do portador de bola, muitas vezes bloqueando completamente a linha de ataque e usando as suas mãos para perturbar o drible do adversário. Para além disso, tem passadas longas e umas ancas relativamente fluidas, permitindo-lhe manter-se enquadrado com o seu homem, mesmo quando este tenta alguma mudança de direcção mais súbita.

Mesmo quando cede uma linha para o cesto, o seu tamanho permite-lhe jogar no erro, tornando-lhe possível contestar tentativas de lançamento vindo de uma posição de desvantagem. Ainda assim, existem algumas matchups onde tem mais dificuldades, particularmente contra power wings, e jogadores fortes que lhe ataquem o peito, onde o défice de força aparece, invariavelmente, como uma desvantagem.

Em termos de navegação de bloqueios, é um bocado verde a passar por cima. Faz um esforço para diminuir o volume do corpo com o tronco, mas o trabalho de pés não acompanha e frequentemente cede espaço ao portador da bola. Existe margem de progressão, mas o facto de se mostrar consciente da presença do bloqueio é um positivo, numa altura da carreira onde muitos jovens não conseguem ver ou antecipar o aparecimento de um bloqueio directo.

Não me vou estender em relação a como irá defender o P&R como big. Não há muita tape desse tipo de situações em Auburn, e não creio que Jabari vá ser viável como small ball big, pelo menos para já. Dito isto, na teoria, tem o tamanho e sentido posicional para ser decente em drop defense, bem como a switchability para trocar no bloqueio directo e defender o portador, por tudo o que descrevi imediatamente acima.

Defesa colectiva

Defensor colectivo sólido que oferece ajuda à volta do seu cesto.

Apesar de alguns lapsos, com momentos onde alguém corta nas suas costas ou onde Jabari fica a olhar de longe para a bola, é sólido a rodar para conter penetrações, taggando o P&R roller vindo da asa ou do canto e conseguindo recuperar para o seu homem, muito por causa da sua passada larga.

Tem um bom sentido posicional quando defende o corner shooter e consegue rodar para aparecer no pintado e usar o seu tamanho e verticalidade para desarmar ou desincentivar a finalização, tendo registado um sólido Block rate de 3.8%. Tenho registado que, muitas das vezes em que não roda, parece ser por confiar (demais) na capacidade do seu colega de frontcourt Walker ‘meto uma tampa no cesto’ Kessler. Devia acreditar mais no seu primeiro instinto, até porque pode não ter o luxo de ser emparelhado com um grande defensor na NBA.

Os closeout são uma área onde não é particularmente bom. Consegue ir de X a Y com facilidade, mas a maneira como enquadra o homem, ou se posiciona para tirar linhas de passe, muitas vezes não é a melhor. Não é uma preocupação, mas é uma área a trabalhar.

Ponto final, paragrafo

Este trio no topo do draft de 2022 traz questões filosóficas interessantes. Se Paolo Banchero representa o valor da criação ofensiva como prioridade máxima, e Chet nos faz questionar sobre se é possível outras habilidades, ou arquétipos de jogador, se podem assumir como a principal proposta de valor no topo de um draft, Smith traz questões muito pertinentes sobre a curva evolutiva de um jogador e até que ponto certas habilidades podem ser melhoradas.

Com a maior facilidade de encaixe, um chão seguro e a idade mais tenra dos três, não há como não ver Jabari como um candidato a ver o seu nome chamado em primeiro lugar por Adam Silver, mas eu argumento que, mais do que os outros dois, o extremo tem um caminho sinuoso em termos de atingir o seu tecto.

Muitas vezes vejo a evolução de um jogador ser tratada como se fosse um jogo de 2k, ou uma espécie de fait accompli (‘ai ele vai evoluir’), quando na verdade, o desenvolvimento é muito afectado por contexto, e um verdadeiro enigma. Ora Jabari Smith tem 2 grandes problemas – drible e entendimento de jogo (ou feel, QI basquetebolístico, o que lhe quiserem chamar), ambas habilidades de difícil progressão, para além de algumas limitações atléticas. A evolução do jogador nestes campos vai definir o que é que ele se vai tornar, se um Rashard Lewis/MPJ que defende, ou alguém com muito mais sumo ofensivo (que, pelas vossas mães, não é o KD).

A facilidade com a qual o coloco a #3, talvez #4, prende-se com o facto de não confiar que Jabari vá progredir o suficiente nestas habilidades core, para se tornar mais do que um shotmaker. É uma avaliação difícil e feita no vácuo, sem contexto de equipa, e claro, é um jogador novo, que não é burro, que teve de ser emparelhado com 2 péssimos chuckers a base e que tem alguns indicadores interessantes, mas faço esta avaliação com base no baixo nível de base que ele mostra a driblar, numa curva evolutiva que não tem crescido muito nos últimos 2 anos, bem como na ausência de precedentes históricos (Que jogadores se tornaram grandes pensadores do jogo durante a sua carreira, que já não o fossem? Pergunta sincera). 

Posso estar errado, claro, e como tal consigo-o ver como #1 com toda a naturalidade, nos boards de outras pessoas, mas o papel de scouting envolve avaliar e projectar. Projectar é difícil.

por NUNO SOARES [@NunoRSoares]

Autor

Nuno Soares

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