Scouting report: Jaden Ivey

por abr 27, 2022

ANÁLISE RESUMIDA, ou algo para ler numa curta viagem de Metro

  • Vem de uma família de atletas – a mãe é uma ex-WNBA e tanto o pai como o avô paterno jogaram na NFL;
  • Jogou os três primeiros anos de liceu em Marian High School, antes de transferir para a conhecida La Lumiere School, no seu último ano;
  • Competiu na Nike EYBL 2018, tendo representado o projecto Indy Heat; 
  • Na sua primeira temporada em Purdue, foi nomeado para a Big Ten’s All-Freshman Team;
  • Medalhado de ouro e parte da equipa do torneio na FIBA World Cup U19 2021, pela Team USA;
  • Recruta consenso de 4 estrelas para todos os principais sistemas de ranking;
  • First-team All-Big Ten e Consensus second-team All-American no final da presente temporada.

Estatísticas de Jogo

Papel Ofensivo: 

  • Eléctrico two guard que se pode vir a assumir como um criador ofensivo secundário. Com incrível velocidade de ponta e criatividade, é um shot de adrenalina no ataque em transição de qualquer equipa. No meio-campo ofensivo, é um two level scorer, que consegue disparar a partir do drible ou usar explosão na passada para bater o seu homem e chegar ao pintado. Não tem um bom jogo intermédio e tem de tomar decisões mais consistentes a operar o P&R, isto apesar de ser um bom passador, em termos de técnica, e visão de jogo.

Papel Defensivo: 

  • Defensor individual com perfil atlético para se tornar um positivo no ponto de ataque, especialmente a defender as duas posições de base. Tem boas medidas, óptima agilidade lateral, tempo de reacção e momentos positivos a navegar o bloqueio directo. Tem um bom faro para fazer jogadas nas linhas de passe e na protecção de cesto, embora não seja o defensor mais disciplinado, tanto a defender o portador, como nas ajudas e grande parte do seu valor defensivo é teórico.

Em que equipas faz sentido?

Jaden Ivey encaixava que nem uma luva nos Detroit Pistons. Com uma combinação de ball skills e puro atletismo, o base tem o potencial para virar o ataque de transição do franchise do Michigan de pernas para o ar, oferecendo, ao mesmo tempo, um mais natural criador de desequilíbrios num meio-campo ofensivo onde Cade Cunningham está sobrecarregado. O encaixe entre os dois funcionaria bem – Ivey está habituado a mover-se sem bola e teria a vantagem de atacar oportunamente a partir de acções secundárias (closeouts, sair de bloqueios indirectos a cortar para o cesto, correr side P&Rs), tirando proveito da capacidade de passe da pick #1 de 2021. Alternativamente, a possibilidade de desfasar os minutos dos dois significaria que existiria sempre alguma capacidade de criação no 1v1, coisa que não aconteceu este ano. Ao mesmo tempo, Ivey traria mais agilidade e polivalência à defesa no ponto de ataque de DET. Olhando para outras equipas da lottery, existe demasiada intersecção de habilidades com os prospects dos Rockets para fazer sentido em HOU, e ORL já tem um backcourt densamente populado. Equipas em semi reconstrução, como POR ou IND (que bem que encaixava ao lado de Tyrese Haliburton) podiam ser destinos interessantes, numa óptica de obtenção de valor puro. 

ANÁLISE DETALHADA, ou algo para ler entre o Anna Karenina e os 100 Anos de Solidão

Atletismo

Um dos melhores atletas da classe.

Começando pelas medidas, Ivey é ligeiramente undersized para um prototípico shooting guard, com uns oficiais 1,93m e uma envergadura que, ao olho nu, me parece mais próxima dos 2m, mais do que dos 2,08m que já vi escritos por aí (teremos de esperar pelo combine!). Por outro lado, não sendo um tanque ao jeito de ANT, parece-me ter a estrutura física para carregar uma quantidade saudável de músculo, com uma base sólida e uns ombros relativamente largos.

Por outro lado, o jovem base é extremamente ágil e fluido no espaço, sendo capaz de acelerar num ápice e atingir velocidades estonteantes em linha recta. Isto torna-se facilmente verificável em transição, onde Jaden pega fogo ao jogo com imensa facilidade, mesmo em curtos espaços de tempo, como por exemplo a sair de bloqueios indirectos.

De forma semelhante, é um excelente saltitão, que certamente irá receber convites para futuros concursos de afundanços (pobre desgraçado), não precisando que lhe estendam a passadeira vermelha para fazer uma chamada a um pé e quase tocar com a testa no aro. Mais surpreendente do que o puro poder de impulsão, é uma capacidade quase alienígena com que combina explosão com incrível controlo corporal e flexibilidade, dando uma ideia de que, por vezes, quase flutua no ar.

Não o coloco na gaveta Jalen Green em termos de burst na primeira passada, diria que está um danoninho atrás, mas compensa com passadas muito largas, conseguindo aumentar a velocidade na segunda e terceira passada.

Criação ofensiva

Ao contrário dos anteriores scouting reports, e por virtude daquilo que é o perfil deste jogador, vou falar quase exclusivamente do que é a sua criação a partir do perímetro, tocando no 1v1, P&R (que também falarei mais tarde) e transição.  

Depois de um ano de freshman mais anónimo, Ivey surge como um marcador de pontos de alta utilização e média eficiência (27.7% USG, 58% TS). Na prática, Ivey foi o principal criador de perímetro de Purdue, mas nunca um #1 incontestável – o seu halfcourt game teve sempre muita sinergia com o jogo interior dos Boilmakers, servindo o gigante Edey, ou jogando 1-2 em DHOs com um criador de poste alto/baixo Trevion Williams (ou Nikola Jokic, para os amigos).

Começando então pela sua criação individual no perímetro, Ivey sente-se bem a enfrentar o seu homem e colocar o drible. Quando não ataca imediatamente a partir da recepção, gosta de adormecer o defensor, ou com sucessivos dribles entre as pernas, ou com um hang dribble antes de explodir na passada. Tem um belo shoulder drop, consegue atacar tanto pela esquerda como pela direita, e, apesar de ainda não ser um mestre do ritmo do seu próprio jogo, consegue desacelerar na passada, combinar uma passada muito curta seguida de outra longa, ou mudar violentamente a direcção do drible para sacudir o seu homem durante a penetração. Há flashes de brilhantismo.

Como consequência, é alguém que, para um base novo, coloca bastante pressão no pintado oposto (FT Rate de 47; 36.7% das suas tentativas totais são no aro). 

Ainda assim, muitas vezes nota-se como ataca o cesto sem um plano, perdendo a calma e precipitando-se na tomada de decisão quando se apercebe que não se separou do seu defensor ao atacar em linha recta, resultando em turnovers e faltas ofensivas evitáveis. Tem de diversificar o seu driving game. A aliar a isto, o seu drible, apesar de criativo, nem sempre é o mais seguro, perdendo frequentemente a bola, especialmente quando tenta um crossover por trás das costas em desaceleração. É um movimento técnico complicado, mas é preciso notar. A adicionar a isso, não é muito sólido a proteger a bola com a off hand.

Mais a frente falarei a fundo do seu lançamento exterior, mas Ivey tem crescido consideravelmente neste departamento, e mostra possuir um pull up jumper game, tendo capacidade para transitar do drible para o lançamento no 1v1, sacando de um stepback 3 ocasional. Não é alguém que separe com muita naturalidade neste tipo de execuções, mas a ameaça do seu driving game dá-lhe alguma margem de manobra para subir e disparar.

O P&R é onde há problemas mais bicudos. 

Despachando o bom primeiro, Ivey é excelente a atacar coberturas conservadoras a partir de high P&Rs ou bloqueios em semi-transição, basicamente todo o tipo de acções que lhe ofereçam uma rampa de descolagem para acelerar e finalizar na cara do protector de pintado. No fundo, são acções onde consegue tirar partido do seu puro atletismo e criatividade no espaço. 

Por outro lado, Ivey é menos bom em sets de P&R no meio-campo ofensivo. A lidar com coberturas agressivas (traps, hard hedges), o base é um misto de bom e mau. Existem momentos onde mostra paciência e compostura para manter o drible e ‘entreter’ os dois defensores, enquanto procura passar para o bloqueador solitário, mas também existem exemplos onde mata o drible ou joga sozinho e com demasiada velocidade, tentando forçar a drive, ou só procurando o passe em momentos tardios.

Atacar contra drop, a cobertura de P&R mais comum, vai ser o seu maior desafio na NBA. Ivey tem um fraco jogo de meia distância (29% em 100 FGA de 2, fora do pintado), fruto da ausência de um floater ou de um pull up de meia distância (talvez devido à velocidade natural do seu jogo?), assim que sai do bloqueio directo, e isso nota-se na maneira como as equipas lhe oferecem o meio do campo.

A adicionar a isto, Ivey tende a jogar com a mesma electricidade com que joga no open court, não demonstrando a paciência e ritmo que são necessários ao P&R, seja para criar uma linha para o pocket pass, ou para tirar o seu defensor da jogada com um bom snake dribble

Existem, de novo, bons momentos esporádicos (já sabe ‘dividir’ o bloqueio e cortar no meio), e Jaden é um passador criativo, com boa visão e um desequilibrador nato. Falta experiência e maturidade, MAS a evolução no midrange terá de aparecer para desbloquear tudo isto.

Por fim, vou tocar na transição ofensiva. Como já fiz alusão, Jaden Ivey é um dos melhores criadores em transição e semi-transição na NCAA, algo que creio que se irá traduzir com toda a facilidade na NBA. É alguém que adora atacar a sua tabela e iniciar ataque, tirando partido da sua explosão e velocidade de ponta para chegar ao cesto oposto num piscar de olhos, bem como de uma incrível execução técnica e boa visão para descortinar atiradores tardios. Mesmo como não portador, é um jogador que tem excelente feel para acompanhar o portador e preencher espaços, seja nos cantos ou a cortar para o cesto. 

Lançamento

Alguém que, não sendo um atirador sem pontos de interrogação, evoluiu consideravelmente neste seu segundo ano em West Lafayette. 

Olhando então para as percentagens, Ivey lançou 35.8% de 3 em 179 tentativas (20/21: 25.8% em 97); os já mencionados 29% de non-paint 2s (100 tentativas, 20/21: 27.9% em 43 tentativas) e 74.4% da charity stripe, em 207 tentativas (20/21: 72.6% em 73). 

A sua mecânica de lançamento apresenta dois problemas – a ausência de elevação no salto, bem como o release point do tiro, muito à frente da cara. Não acreditando que isto vá resultar em algum tipo de problema de transferência de energia, até porque a trajectória da bola aparenta ser competente, mas não consigo deixar de questionar se esta combinação de características, juntando ao facto de se tratar de um jogador relativamente baixo, não lhe irão dificultar a capacidade de fazer sair o tiro, ou simplesmente torná-lo facilmente perturbável.  

Ainda assim, estou optimista em relação ao seu sucesso como atirador. Ivey melhorou consideravelmente da primeira para a segunda temporada, como mesmo durante o decorrer da primeira (34.9% de 3 nos últimos 7 jogos). Para além disso, é alguém que demonstra capacidade para converter lançamentos difíceis, seja a partir do drible (pull up jumpers, stepbacks de 3, lançou 33.3% a partir do drible), como a receber e atirar (alguns momentos a sair de bloqueios e lançar triplos em movimento). 

Ainda assim, acredito mais num sucesso na região dos 33-35% de 3 num volume médio a alto. A mecânica pode pesar e existe em mim sempre alguma dificuldade em acreditar neste tipo de melhorias de conversão na região dos 10%, especialmente quando o sucesso da linha de lance livre se situa na região dos 70% e existem problemas de execução na meia distancia, o que pode indicar alguma falta de shooting touch em floaters e runners, como já mencionei acima. 

QI e selecção de lançamento

Um jogador que precisa de diversificar a sua selecção de lançamento e abrandar o ritmo, mas que está longe de ser um entendedor pouco natural do jogo. 

Devido à natureza veloz e atlética do seu jogo, bem como a sua juventude, Ivey é alguém que tende a decidir, aqui e ali, de forma apressada, não conseguindo pautar o seu jogo. Isto costuma resultar em alguns lançamentos precipitados, incapacidade de lidar com double teams ou faltas ofensivas, e é uma das principais razões para as suas deficiências como operador de P&R.

Ainda assim, não é um mau decisor e parece-me estar dentro daquilo que é a curva evolutiva de maturação de um base de 20 anos. Mostra momentos no P&R, mostra coisas boas a lidar com pressão, mostra saber quando ou não forçar um 1v1, da mesma forma que sabe identificar quando algum colega tem um mismatch ofensivo. 

Em termos de selecção de lançamento, como a imagem abaixo indica, Ivey é alguém que prefere encontrar pintado ou tiros exteriores. Não se pode dizer que evite activamente lançamentos de meia distância, mas não há como negar o facto de ser apenas um two level scorer, que, como já mencionei, precisa de melhorar a sua técnica na zona intermédia.

Passe

Não sendo um savant que manipula e antecipa linhas de passe, é um passador incrivelmente criativo, com competente visão e que tira proveito do seu atletismo para manufacturar linhas de passe.

Começando então por estes positivos, Ivey é alguém que tira proveito da sua capacidade natural para pressionar o cesto e colapsar a defesa para encontrar linhas de passe simples, seja o kickout para o canto, seja a destapar um big no dunker spot. É um verdadeiro Westbrook na maneira como transforma o seu atletismo em bolas fáceis para os outros.

A adicionar a isto, o base tem uma excelente técnica – é capaz de passar com qualquer uma das mãos, transitando do drible para o passe com toda a facilidade, imprimindo imensa velocidade em passes picados ou em lasers precisos. Gosta de ser criativo e de misturar passes simples com whips, shovel ou no look passes. Para além disso, o seu incrível hang time permite-lhe pairar no ar enquanto ‘espera’ que novas linhas de passe se criem. 

Tem boa visão de jogo, especialmente para alguém que joga tão rápido, e a combinação de todas estas características tornam-no num ainda melhor portador de bola em transição, tal como já falei acima.

Apesar de bons momentos aqui e acolá, o Boilmaker falha mais como operador no P&R. Em parte, devido ao facto de não ter suficiente ritmo e nuance para esperar que certas linhas de passe surjam, em outra parte por não ser alguém que antecipa e manipula os movimentos dos defensores à sua frente. Para além disso, não é incrivelmente alto, e como tal não tem todos os tipos de passe à sua disposição. Por fim, a ausência da ameaça de um midrange game é algo que o afecta. Fica uma mixórdia de bom e mau abaixo.

Finalização

Finalizador habilidoso, que tira proveito do seu atletismo para converter com segurança à volta do cesto (67.9% em 162 FGA no aro).

Mais uma vez, tem uma combinação de características atléticas que lhe atribuem múltiplas vantagens para finalizar entre as árvores – bom poder de impulsão, combinado com incrível controlo corporal e flexibilidade, tornando quase corriqueiros layups reversos ou up and unders onde usa a tabela para se proteger. Apesar de ser não ser um base alto, consegue baixar o centro de gravidade e, tomando proveito da sua velocidade de ponta, gerar potencia para desalojar o seu defensor individual, ou até o protector, por vezes até sendo capaz de absorver contacto no peito e finalizar em desequilíbrio. 

É agressivo a procurar o garrafão e é um dunker prolífico, com 28 conversões em 21/22, um dos apenas 15 jogadores com até 1,93cm com ≥25 afundanços, em toda a NCAA DI 21/22.

Em termos de técnica, tem um claro défice de utilização da mão esquerda, notando-se um certo desconforto com layups canhotos, apresentando uma propensão para voltar para a mão direita para finalizar, contorcendo o corpo de forma pouco natural, em momentos em que ataca pela esquerda. Por fim, e como já disse, tem de adicionar movimentos técnicos para desbloquear a sua meia distância, como alguma combinação de floaters, runners, push shots ou midrange pull ups.

Ataque sem bola

Vou, mais uma vez, partir este tema em diferentes subtópicos.

Olhando para a sua utilidade no C&S (lançou 35.5% de 3 nesta situação), acredito no seu sucesso como atirador mais do que o suficiente para o considerar um potencial positivo neste campo. Será, pelo menos, bom ao ponto de manter o seu defensor posicionalmente honesto, oferecendo espaçamento apropriado e puxando um closeout quando receber a bola. Mais do que um atirador estacionário, compro-o como uma boa peça a sair de bloqueios indirectos, mostrando em 21/22 ser capaz de converter difíceis triplos em movimentos. 

Não há como negar que Purdue foi uma boa escola para Ivey neste sentido. Tendo alternado entre responsabilidades com e sem bola, o base habituou-se, desde cedo, a movimentar-se sem a #borrachalaranja, a fazer bloqueios para os bigs da sua equipa (cross screens), a sair de bloqueios indirectos para receber/atirar. Ivey é muito activo e um bloqueador super decente para um base.

É um jogador que corta com propósito, oferecendo frequentemente linhas de passe ao portador, seja na linha de fundo durante ataque de meio-campo, seja a preencher espaços em transição. Para além de um elevado nível de actividade, a aceleração e velocidade de ponta tornam Ivey num cutter ainda mais proficiente. Um ponto positivo, sem dúvida.

Ressalto

Ressaltador capaz, para alguém que ocupa uma posição mais exterior. Números decentes na tabela defensiva (15 de DReb%), menos a ofensiva (2.7 de OReb%), claro.

Gosta de abandonar o seu homem cedo para, que nem um míssil, aparecer como um peão extra na tabela defensiva. A sua capacidade de ir de A a B com imensa rapidez, agressividade e poder de impulsão, tornam-no num ressaltador vistoso. 

A sua propensão para atacar a tabela defensiva vinda do perímetro foi uma parte essencial do sucesso do ataque em transição de Purdue, permitindo-lhe agarrar e iniciar imediatamente ataque. Inclusive, os bigs dos Boilmakers, Edey e Williams, agiam frequentemente de maneira a fazer o boxout para que Ivey conseguisse limpar a tabela.  

Não se trata de alguém incrivelmente bom nos boxouts, e tem alguma propensão para perder a concentração e ficar a olhar para a bola, mas não é um negativo que se sobreponha a esta capacidade que tem como playmaker das tabelas.

Defesa individual

Defensor que, na teoria, tem ferramentas físicas e nível de actividade adequado para ser um factor a defender o ponto de ataque.

Ivey é um base com excelente agilidade lateral e ancas fluidas na troca de direcção, características que lhe oferecem capacidade para ficar à frente do portador no 1v1. Mesmo quando o batem no ponto de ataque, o Boilmaker consegue, fruto da sua agilidade a cobrir espaços, ficar na jogada e contestar vindo de trás. 

É um base com medidas prototípicas e como tal, não é um jogador muito trocável – irá defender, primariamente, 1s e 2s. O seu perfil atlético torna real a possibilidade de conseguir vir trocar para posições acima em casos pontuais (se incluído em defesas que trocam muito no bloqueio, por exemplo), mas não tem força suficiente para conseguir manter-se, consistentemente, à frente de jogadores com mais músculo e altura. 

Não se pode dizer que Ivey é alguém que se está nas tintas para a defesa, mas a sua performance a nível de actividade, postura defensiva e atenção tem alguns picos e vales durante o decorrer de um jogo. É aquele jogador que dá uma chapada na madeira, assume o matchup difícil e seca-o num minuto, e na posse seguinte deixa o jogador mais lento em campo batê-lo num closeout mal feito. Precisa de maior constância, arriscar menos, algumas das razões pelo qual é um teórico, mais do que um real defensor positivo.

Como defensor no P&R (em drop, especialmente), tem momentos francamente bons – Apesar de nem sempre identificar a presença do bloqueio com consistência, Ivey demonstra uma capacidade outlier de navegar bloqueios directos e diminuir o volume do seu corpo para passar por cima, não cedendo espaço ao portador. Mesmo quando cede, mostra urgência em recuperar posição na anca do portador e tenta contestar vindo de trás.

Defesa colectiva 

Tal como na defesa individual, um misto de bons instintos com disciplina melhorável.

É um jogador que tem um faro como playmaker defensivo, com uma propensão natural para fazer ‘jogadas WOW!’, ajudando velozmente a partir do lado fraco para quebrar um passe desleixado, ou rodando a partir do canto para matar uma drive/desarmar uma tentativa de layup. Tem decentes números de ‘stocks’ – 1.7% Stl Rate e 2% Blk Rate, o último relativamente alto para um base. 

A juntar aos bons instintos, tem um forte pulmão e não é activamente desinteressado. Tenta comunicar com os colegas, faz um esforço para navegar bloqueios indirectos e luta bastante para negar o passe em entregas de bola em mão, ou em passes de entrada no poste alto/baixo.

Porém, tem alguns dos mesmos problemas de que já falei no anterior capítulo. Tem lapsos de concentração, frequentemente deixando o seu homem fugir e cortar ou atacar a tabela enquanto fica a olhar para uma jogada no lado oposto. É inconsistente na frequência das ajudas, ou ajuda demasiado agressivamente (ajuda muito a um passe de distância no canto, oferecendo uma linha muito simples ao portador), da mesma forma que não é muito disciplinado na maneira como faz os closeouts

Não faz muitas faltas (2.2 faltas por 40 min), o que é positivo para um playmaker defensivo que joga mais com instinto do que com cabeça. 

Ponto final, paragrafo

Com uma segunda temporada fantástica em Purdue e um excelente mundial sub-19, Jaden Ivey atirou-se para o topo do draft de 2022, mesmo atrás de Jabari, Paolo e Chet. 

Apesar de não preencher uma área de tamanha escassez posicional ou de arquétipo, como talvez os jogadores acima de si, Ivey parece-me ter uma boa combinação de chão seguro + tecto médio – alto. Olhando para a primeira parte: todas as suas áreas mais frágeis me parecem, de alguma maneira, melhoráveis, ou por partirem de um nível basal competente (drible, P&R), ou pelo facto de o jogador ter mostrado uma curva evolutiva notável em habilidades semelhantes (jumpshooting de 3 vs midrange). Para além disso, Purdue foi uma boa escola para Ivey, que mesmo que não melhore significativamente com bola, já é um óptimo atleta, um revolucionário do jogo em transição, um cutter e um finalizador. Custa-me imaginar que não encontre um papel na NBA, independente de contexto específico.

Para mim, Ivey será, idealmente, um disruptor defensivo, e do outro lado um criador de transição e um operador secundário no meio-campo ofensivo, que alivia uma opção #1, atacando defesas inclinadas, toma proveito de matchups favoráveis para ganhar no 1v1 e funciona como espaçador e atacador de closeouts

Ainda assim, o tecto máximo estará sempre associado ao factor atletismo, que lhe pode colocar um foguetão nas costas em relação aquilo que poderá ser no ataque. Por isto, e apesar de não partilhar dessa opinião, consigo imaginar um mundo onde uma equipa mais arrojada, com a mentalidade (certa), de que o topo do draft é para home runs, optar por intrometer Ivey no meio do trio, que parece incontestável.

por NUNO SOARES [@NunoRSoares]

Autor

Nuno Soares

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