Entendo que tenha uma maior amplitude entre chão e tecto e que ‘escolhas seguras’ como Zach Risacher possam ter prioridade, especialmente num fraco Draft de 2024 onde talvez os GMs queiram apenas sobreviver sem fazer asneira da grossa, mas o texano tem facilmente o tecto mais alto da classe, juntamente com Alex Sarr.
BIO
ANÁLISE DETALHADA
Atletismo
Um wing super novo e com um atletismo puro do mais elevado que existe na classe do Draft de 2024.
‘Vendido’ como um extremo, é mais um wing baixo/base jumbo, apesar dos oficiais 2,03 metros de altura e dos oficiosos 2,10 de envergadura. Tem uma cintura fina/alta e um tronco algo inflexível, que não ‘bate certo’ com as pernas extremamente maleáveis, ágeis e fortes. Curioso para ver se as medidas se confirmam no Combine, porque não parecem bem verdadeiras.
Movement skills especiais. Apesar de ainda se estar a descobrir, e de precisar de massa no tronco, move-se agilmente no espectro este-oeste, reage a estímulos com facilidade e encaixa em qualquer fresta no court. Fluído de ancas, arranca e pára, mudando de direcções com facilidade. Grande capacidade para fechar espaços.
É igualmente vertiginoso verticalmente, com grande explosão na passada e velocidade de ponta com bola, que se evidenciam em momentos de transição e que o tornam uma constante fonte de desequilíbrio ofensivo. Um saltitão, Holland apresenta um poder de impulsão impressionante, seja a fazer a chamada com um ou dois pés – os 40 afundanços em 29 jogos são números bem respeitáveis, e um indicador da facilidade que tem para subir às nuvens.
Falhou grande parte da 2ª metade da temporada regular 23/24, por precaução, depois de uma lesão num tendão do polegar, em fevereiro. Fora disso, jogou grande volume de minutos e não tem um historial de lesões no high school que faça soar qualquer tipo de alarme.
Criação ofensiva
Wing com alta capacidade de desequilíbrio, que tem um chão de um closeout attacker + vector de transição e um tecto de criador secundário, especialmente se o drible e o lançamento progredirem positivamente.
Na Ignite, Holland surgiu como a principal peça atacante do elenco, sendo atirado para a ribalta ofensiva – 26.8% USG e sofrendo um pouco com falta de eficiência (47% eFG) e tomada de decisão (1.07 Ass/TO ratio), como consequência. Muita da sua dieta foi transição (mais de 20% dos seus FGAs), mas no halfcourt tanto foi usado a atacar closeouts, em DHOs e outras acções de bloqueio em que recebe em vantagem, tendo também tido a oportunidade para criar com bola (22.2% das acções foram ISO e P&R BH).
A criar no perímetro, Holland é um incrível straight line driver, que chega à área restritiva com imensa facilidade, à boleia do seu excelente first e second step, muito explosivo e repentino. Gera imensa força, baixando o seu centro de gravidade e consegue transformar esta explosão em massa bruta e desalojar defensores directos maiores que si com shoulder drops. Super agressivo, motor constantemente ligado.
Esta capacidade para gerar vantagens em dribble pen, torna-o potencialmente dinâmico em ISO play. Mais do que isso, é, já hoje, uma arma potente como DHO receiver e a atacar closeouts – todo o tipo de acções que lhe ofereçam uma rampa de lançamento para explodir e dar a facada final na defesa, sem ter de pensar muito.
Holland é um pouco rudimentar na penetração em drible, ainda. Ataca essencialmente pela direita, e mesmo quando o faz pela esquerda, tenta várias vezes desacelerar e puxar a bola de volta para o lado direito com um swim move muito característico. Resulta bem, mas torna-o mais unidimensional.
O seu tronco subdesenvolvido e a sua sobre agressividade fazem com que frequentemente perca o equilíbrio em penetração e se fique por FGAs de má qualidade ou turnovers. O drible é fluído na conjugação de múltiplos crossover, mas são tudo dribles de explosão, havendo poucas mudanças de ritmo. Controlo de bola muito incerto, nota-se que tem dificuldade em trazer a bola à velocidade do corpo, parar e subir. Várias vezes faz ‘passos’ a atacar a partir da recepção, um possível indicador de desconforto no trabalho de pés e drible.
No geral, tem ferramentas muito especiais que precisam de nuance e de um ambiente um pouco mais favorável do que aquele que teve em Henderson, Nevada.
No P&R, Holland é um trabalho em desenvolvimento. As deficiências que apontei acima (controlo de ritmos, drible, falta de paciência) contribuem todas para que seja um portador limitado. A isto se junta o facto de não ter bem um jogo intermédio, um floater ou push shot (apenas 5 floaters em 62 P&R FGAs), que lhe permitam punir defesas que queiram afundar no deep drop e tirar-lhe o garrafão.
Tem potencial para caçar e punir trocas, assim que melhor souber utilizar o bloqueio directo a partir do topo, mas não o vejo como mais do que um P&R BH ocasional no halfcourt. Ainda assim, espero que aterre numa equipa que seja criativa o suficiente para extrair o seu atletismo, confiança e criatividade com bola (P&Rs semi-transição, DHOs, snug P&Rs).
Gosto de ver as engrenagens a mexer e vê-lo a encontrar o passe certo no canto oposto, mesmo que meio segundo mais tarde. É animador e a seta tende a apontar para cima, no que toca à visão e tomada de decisão.
Em transição, é um autêntico animal e os números apoiam essa noção 1.29 PPP na temporada 23/24. O seu atletismo brilha ainda mais em open court, carregando a bola a uma velocidade estonteante e finalizando com poder. Muita da sua proficiência em contra-ataque prende-se com o talento que tem como playmaker defensivo – Está sempre pronto para atacar linhas de passe, quebrar entregas de bola e ajudar a um passe de distância, para roubar e levar de uma costa à outra.
Não acho que seja tão bom a descortinar atiradores aqui, mas gostava de ter visto Jason Hart a usar drag screens e trailing bigs para desbloquear ainda mais o playmaking de Holland.
Passe
Passador criativo e atrevido que sabe utilizar o seu atletismo para oferecer bolas fáceis aos colegas, mas que ainda sofre muito no que toca a diagnosticar situações.
Começando pelas coisas que gosto, Holland tem uma capacidade inata para usar o seu atletismo e criar vantagens no 1v1, fazendo as defesas colapsarem para rodar no garrafão. O jovem da Ignite usa isso para muitas vezes encontrar o kickout fácil ou o passe para o dunker spot destapado, sem espinhas. Tem uma boa técnica com a mão direita, adaptada ao seu estilo velocidade furiosa, e conseguir disparar lasers com grande força, a partir do drible vivo.
Dito isto, é algo dependente da sua mão dominante para passar e tem uma tendência para fazer passes com excessiva força, que contribuem para uma crónica falta de precisão.
Gosto da sua visão de jogo, especialmente de fora para dentro, onde a possibilidade de scannar todo o court existe. Para alguém que joga a 100 km/h, tem momentos de penetração em drible onde faz o passe antecipando a rotação da defesa, não meramente reagindo ao que o adversário já fez.
Onde falha mais é no P&R, mesmo contra um simples drop, onde se percebe que tem maior dificuldade a processar todas as decisões simultâneas que uma defesa tem de fazer. Parte disto é imaturidade, insegurança no drible, excesso de velocidade no seu jogo, mas também uma necessidade de chegar ao pintado que não se justifica. O rácio Ass/TO aponta muito para isso (1.07). Muito precipitado a lidar com a pressão quando esta sobe acima do nível do bloqueio.
Acho-o um pocket passer francamente mau, seja em termos de técnica de passe como de timing, mas tem acções a procurar o skip pass para o canto oposto que me animam.
Lançamento e Ataque sem bola
Um ponto de interrogação no jogo de Holland e, na minha opinião, aquilo que pode ser a maior condicionante para que seja um wing de qualidade na NBA.
Vamos olhar para alguns dos números crús, que à primeira vista, não são muito animadores – 44.3 FG% (15.6 FGA), 24 3FG% (3.6 3FGA) e 75.7 FT% (5 FTA). Se partirmos os lançamentos em tipologias de lançamento, vemos que os números não são especialmente melhores. Terá de se tornar um atirador estático mais viável para fazer a defesa agarrá-lo na linha, até para facilitar o seu driving game. Os números da charity stripe são os melhores indicadores da amostra G-League.
Catch and shoot 3s | 29.8% (47 FGAs) |
Pull up jumpers | 31.5 % (54 FGAs) |
Uncontested 3s | 16.7% (12 FGAs) |
A mecânica está longe de estar quebrada, e eu gosto bastante da ausência de hesitação, do volume e da disponibilidade para experimentar diferentes tipos de pull up Js (bom cross stepback). É fluído no momento de transitar do drible vivo para o tiro.
Ainda assim, não tem a melhor forma do mundo, especialmente na base, onde tem uma chamada de pés muito estreita/inconsistente e que parece limitar a transferência de energia para cima. Também parece meter muita mão no momento de libertar a bola, o que talvez contribua para que o lançamento seja mais descontrolado e haja mais variação de tiro a tiro.
Um bocadinho à semelhança do que escrevi para Alex Sarr há uns meses, Holland tem alguns falhanços ‘sem espinhas’ (muito curtos, a bater no vidro e quase não ir ao aro) e o arco do lançamento é inconsistente.
No que toca a ataque sem bola, Holland é um jogador dinâmico, que não deixa que o tiro exterior limite a sua utilidade.
O wing da Ignite jogou com alguma frequência a um passe de distância do P&R central, maioritariamente na asa, um pouco menos nos cantos. Nunca foi tratado como um não-atirador, o que lhe facilitou imenso o trabalho como um ‘ataca closeouts’, mas, e como expliquei acima, precisa de continuar a provar às defesas que não deve ser abandonado na linha.
Embora não tenha sido muito usado nesse sentido, tem bons fundamentos para que se possa tornar um bom cutter – explosão e rapidez em áreas curtas. Acima de tudo, nota-se que tem um bom entendimento de ângulos e antecipação das defesas em bloqueios longe da bola (pindowns, split screens). Tem uma certa propensão para bloquear para os outros, coisa que não é comum em wings tão novos e não é o tipo de ‘passador sem bola’ que prenda a bola ou que invente e procure um passe mais difícil do que aquilo que é o lógico. Mantém a bola a rodar.
Por fim, e como já disse acima, é um dos melhores a jogar em transição e transformar defesa em ataque em toda a classe e tem tudo para conseguir replicar a façanha na NBA.
Finalização
Finalizador atleticamente dotado, mas que apresenta deficiências técnicas que tornam alguns dos seus números algo preocupantes. Na temporada 2023/2024 – 67.1% na área restritiva, 40 afundanços, 52.4% em layups.
Os predicados atléticos – explosão a partir de qualquer pé, coordenação corporal e força tornam Holland num jogador perigoso à volta do cesto. É frequente vê-lo a subir para afundar ou pelo menos procurar abraçar o contacto físico no pintado. Para além disso, sabe usar a tabela para se proteger de defensores, muitas vezes subindo de um lado e guardando a bola até estar ‘do outro lado’ do cesto, para a depositar.
Apesar da mentalidade agressiva e dos predicados atléticos, tem claras deficiências técnicas, com a mão esquerda à cabeça. Apenas cerca de 15% das suas tentativas junto do cesto são com a sua mão não dominante e isto é evidente na tape, onde se vê Holland a recorrer a ângulos difíceis para voltar para a mão direita. Não tem bons números em touch shots (34%) e os próprios números em layups não são bons. Demasiado descontrolado em muitas ocasiões.
Para mim é a outra área que urgentemente precisa de melhoria, juntamente com o tiro. Para alguém que gera tantos lançamentos junto ao aro, falha demasiados bunnies perto do cesto. Acho francamente que com um tronco mais estável e uma mão canhota minimamente confiável os problemas se dissiparão, mas é preciso que quem o escolha faça o trabalho de casa e diagnostique se, por exemplo, estes problemas de finalização não serão também maus indicadores para a sua progressão como atirador.
Ressalto
Bom ressaltador, especialmente para alguém que deverá ser um 2/3 no longo prazo. Números bastante respeitáveis, tanto na tabela defensiva (16.2 de DReb%), como na ofensiva (4.1 de OReb%).
É outra área onde o seu atletismo vertical contribui positivamente, conjuntamente com o seu motor imparável. Luta com grande intensidade para cavar posição e compete por todo o tipo de bolas 50/50. Joga ‘acima da sua posição’. A sua capacidade para agarrar ressaltos defensivos traz dinamismo ao seu ataque de transição.
Defesa individual
Defensor de perímetro versátil, com atletismo, motor e agressividade para ser um factor a defender ponto de ataque contra wings pequenos e bases. Potencial como defensor em acções de bloqueio directo. Pontos por posse cedidos, em diferentes tipos de jogada:
Catch and drives | 0.93 PPP (41 FGAs) |
Hand offs | 0.51 PPP (39 FGAs) |
P&R Handler | 0.67 PPP (33 FGAs) |
Isolation | 0.88 PPP (17 FGAs) |
Screen offs | 1.27 PPP (15 FGAs) |
Holland apresenta excelente agilidade lateral e reflexos afiados e, quando na stance correcta, desliza este-oeste com grande facilidade e consegue navegar frestas estreitas, por entre bloqueios. É fluído a girar as ancas e mudar de direcção e bastante agressivo a usar as mãos para tentar incomodar o controlo de bola do adversário directo, ou a subir para o contest.
Bom em situações de defesa quebrada, muito por causa da sua agressividade a disputar bolas 50/50, explosão a ir de A a B e facilidade em momentos de start and stop.
Tal como escrevi acima, é para mim um defensor de bases e 3s pequenos. Não acredito nos 2,03 m e apesar da boa envergadura posicional, a cintura fina e tronco subdesenvolvido tornam-no um pouco inviável a defender acima da posição, mesmo que adicione musculo na NBA.
Sofre daquilo que todos os jovens wings sofrem nesta altura – Indisciplina na técnica, muitas vezes apanhado com a stance vertical, deixa-se bater com facilidade. Adicionalmente, tenta pressionar demasiado o drible e desposiciona-se face ao portador. Tem um talento inato para perseguir offball, partir acções de DHO e navegar bloqueios, mas a técnica a encarar o bloqueio também não é ideal.
No P&R, tem momentos de blue screen e necessita de um segundo para perceber se deve perseguir e recuperar ou trocar para o bloqueador. Permite que a vantagem seja amplificada.
Defesa colectiva
Um excelente playmaker defensivo, com uma conjugação absurda de motor e instintos para atacar linhas de passe e quebrar jogadas. Indisciplinado e inconsistente, mas francamente impactante, os números dizem isso mesmo – 2.4 steals e 0.9 blocks por jogo em 2023/24.
Como defensor colectivo, Holland foi usado num misto de papéis, maioritariamente a um passe da penetração no topo, ajudando a partir da wing, mas também ocasionalmente nos cantos, a perseguir atiradores, mas também a ter a ocasional tarefa de aparecer no cesto para ajudar com alguma protecção de cesto secundária.
Em termos daquilo que pode melhorar, Holland demonstrou uma propensão para momentos de ball watching em que deixa o atacante fugir ou cortar nas costas. É sobre agressivo e é frequentemente apanhado em contrapé por atacar uma linha de passe demasiado à queima ou meter a mão onde não deve num stunt.
Tem de ser colocado num papel mais exclusivamente de perímetro, a ajudar a um passe de distância e a perseguir e quebrar handoffs. O seu pulmão, antecipação e timing são características especiais nesta área do court.
Ponto final, parágrafo
Ron Holland começou a temporada 2023/24 como #1 mais ou menos consensual, mas maior parte dos big boards, mas rapidamente viu a sua estrela cair, consequência da desastrosa temporada colectiva e da alta carga ofensiva, que trouxeram para o discurso comum questões sobre o seu lançamento e imprudência no processamento de jogo e tomada de decisão.
Dito isto, o stock de Holland é hoje incompreensível para mim. O wing da Ignite é facilmente o meu número 2 – é o americano mais novo da classe (Faz 19 anos 3 semanas depois do Draft), tem um perfil atlético único na classe numa posição de valor, um motor absurdo e produziu imenso (e em volume) num ambiente colectivo francamente mau, mas numa liga difícil. Entendo que tenha uma maior amplitude entre chão e tecto e que ‘escolhas seguras’ como Zach Risacher possam ter prioridade, especialmente num fraco Draft de 2024 onde talvez os GMs queiram apenas sobreviver sem fazer asneira da grossa, mas o texano tem facilmente o tecto mais alto da classe, juntamente com Alex Sarr.
O contexto, de desenvolvimento e dentro de jogo, serão cruciais para o ex-Ignite. Parece uma lapalissada, e é, mas com Holland é tão mais evidente. Não só por existir um gameplan especializado para extrair valor, em ambos os lados, desde o dia um na NBA, como pelo facto dos pontos críticos do jogo do wing (finalização e especialmente o jumper) serem abordáveis e melhoráveis. Acertem a curto prazo e têm um game breaker energy wing em 2025, acertam a longo prazo e têm um All-Star em 2030.