Tatum come, mas também põe a mesa

por jun 10, 2022

Os americanos têm uma expressão para aqueles jogadores que colocam os seus colegas em posições vantajosas para marcar: são os table setters. Jogadores que fazem o trabalho e são exímios na arte de criar chances para os seus companheiros. Nestas finais da NBA, um jogador conhecido maioritariamente pela sua capacidade como marcador de pontos, tem ascendido na arte de pôr a mesa. Esse jogador é Jayson Tatum e esse tem sido um dos grandes segredos dos Celtics.

Não se enganem, Jayson Tatum continua a ser um marcador de pontos extraordinário e um dos melhores em toda a liga. Mas o que o tem diferenciado nestes playoffs, e especialmente nas finais, é a capacidade para colocar os seus colegas em posição para marcar. Tatum tem sido claramente o portador de bola primário de Udoka – por alguma razão, todas as séries com 40% ou mais dos pontos dos Celtics serem criados por Tatum, são nestes playoffs. A eficiência dos colegas tem também o dedo de Tatum, que tem sido um maestro com bola. Um crescimento necessário e que eleva o extremo da turma de Boston para o nível acima.

Durante os playoffs, apenas dois jogadores tiveram mais front court touches que Tatum: Nikola Jokic e Nikola Vucevic. Sendo que ambos totalizaram cinco jogos e Tatum já vai em 22. A bola tem estado nas mãos de Tatum, é ele quem decide e, especialmente nestas finais, tem decidido excecionalmente bem. Não só a lançar, mas principalmente a distribuir.

Começamos por aquilo que Tatum oferece sem precisar de driblar a bola. Após passe, consegue ler a jogada antes desta acontecer e colocar os colegas na melhor posição para marcar. Tatum sabe que após o passe vem o bloqueio direto (e os Warriors também sabem) e, por isso, não precisa sequer de colocar a bola no chão. Espera que os Warriors se concentrem nele ou que cometam um erro e fá-los pagar por isso.

Em relação aos números, um deles salta à vista para Tatum: os paint touches, que desceram de 2.4 durante todos os playoffs para 1.7 nas finais. Um sinal claro da dificuldade em entrar na fortaleza montada pelos Warriors perto do cesto, mas também uma oportunidade para Tatum fazer crescer o seu playmaking. Para Golden State, o objetivo é tirar a bola da mão de Tatum, o mais rápido possível. E para isso, precisam de vários defensores. Aqui está talvez o maior crescimento do jovem Celtic. Em vez de forçar a penetração, é paciente com bola e controlado na penetração. Mal usa o drible e percebe que vem a ajuda, solta para o colega livre de marcação, aproveitando a atenção que lhe é dada.

Há, por fim, também alguns momentos em que Tatum ultrapassa a primeira barreira dos Warriors e entra na “boca do lobo”. O que para muitos seria um problema, até para o próprio Jayson noutros anos, é hoje um convite agradável. Trazer até si o máximo de atenção e o maior número de adversários significa que terá mais opções para colocar a bola nos seus colegas. Tatum chama até si essa responsabilidade e, mais do que isso, aprendeu a usá-la em seu benefício.

Não é por acaso que os Celtics conseguiram ganhar um jogo em San Francisco com Tatum a lançar 3/17 para 12 pontos. As 13 assistências foram um máximo de carreira para Tatum, que deixou constantemente os seus colegas a lançar sem oposição. Sim, Tatum tem marcado que se farta de qualquer maneira desde o jogo 2 e vai buscar o seu lançamento quando quer, mas é no capítulo das assistências que se tem evidenciado.

E é exatamente este o ponto que o faz subir de nível, é deste Tatum que os Celtics precisam. Um Tatum ponderado, que sabe trazer o jogo até si e definir o seu próprio ritmo. Sem forçar, sem entrar em pânico. Lê a defesa, antecipa a jogada do adversário e age de acordo com o que lhe dão. Porque Jayson Tatum vai sempre conseguir “comer”, mas toda a gente aprecia quando ele também põe a mesa.

por ANTÓNIO DIAS [@antoniodias_pt]

Autor

António Dias

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