Um português pelo Mundo: a saga israelita

por fev 15, 2018

A dada altura, vê toda a gente sair disparada da carrinha, em pânico… Motivo: havia um saco desportivo não identificado debaixo de um dos assentos e a suspeita que pudesse conter algo nocivo levou àquela reação.

Já vai longa esta minha participação nos trabalhos das seleções femininas, sobretudo no escalão Sub20 e, como devem calcular, os episódios são muitos. Uns mais curtos, outros mais longos, uns positivos ou hilariantes, outros menos agradáveis (felizmente em menor número), uns que são narráveis, ao passo que outros nem por isso.

Hoje descrevo três pequenos episódios, ocorridos em momentos diferentes, mas todos com a mesma protagonista, a nossa congénere de Israel.

 

No distante ano de 2005, precisamente quando iniciei este percurso, então ainda no escalão de Sub18 femininos, realizamos um estágio de preparação conjunto com Israel, em Lisboa. Pela primeira vez, percebemos na pele o que é viver o pesadelo deste país e das suas representações, ainda que a uma escala evidentemente reduzida. Para além do trato de muitos dos seus responsáveis raiar o irascível, as preocupações com a segurança são absolutamente paranóicas aos olhos do “mortal e pacato português”, entenda-se.

O episódio tem o meu bom e “velho” amigo Ricardo Vasconcelos como “vítima”, pois, face aos inúmeros problemas logísticos de então, prontificou-se a ajudar na condução de uma carrinha que levava parte da equipa de Israel – é verdade, nós selecionadores também temos de ter esta capacidade de “improviso” e desengane-se quem pensa que vivemos num mundo perfeito e ideal à parte dos demais.

A dada altura, vê toda a gente sair disparada da carrinha, em pânico… Motivo: havia um saco desportivo não identificado debaixo de um dos assentos e a suspeita que pudesse conter algo nocivo levou àquela reação. Agora imaginem a surpresa do Ricardo até perceber o que se estava a passar!

 

O segundo episódio teve lugar em Kavadarci, ano de 2010, durante o campeonato europeu de Sub20 feminino.

Infelizmente, os horários da nossa seleção no que tange às refeições eram muitas vezes coincidentes com os de Israel, pelo que víamo-nos forçados, não poucas vezes, a ter de esperar pela inspeção do local pelos polícias e seguranças, tínhamos de guardar silêncio em respeito pelos seus momentos de oração e ainda conviver com atitudes tão próprias daquele povo como a de um jantar, onde nos foi dado para comer um prato de esparguete com molho de tomate, sem mais…

Ora apesar de reclamarmos educadamente, o resultado foi o mesmo que zero. Já uma dirigente israelita, que abriu as portas da cozinha “à patada”, que gritou descontroladamente com o pessoal da copa, que terá batido com alguns utensílios de cozinha, conseguiu ter direito a um belo atum… Há coisas que nunca mudam!

 

Finalmente, o terceiro episódio teve lugar em Telavive, durante a campanha de qualificação para o campeonato europeu sénior feminino, em 2012. Na altura, como adjunto do Ricardo Vasconcelos e na companhia do meu amigo de tantas “guerras”, José Araújo.

Num sábado, deparamos com a tradição/imposição religiosa de não poder acionar quaisquer máquinas durante aquele dia. Desde ter de beber e comer alimentos frios no refeitório do hotel, desde percecionar que a vida naquela dia, tal como a conhecemos, mudara radicalmente em função daquela regra, até um dos elevadores do referido hotel funcionava de maneira distinta. Ou seja, para que as pessoas não tivessem de acionar o botão para chamar o elevador ou premir o botão para escolherem um determinado piso, o elevador andava todo aquele tempo para cima e para baixo, parando automaticamente em todos os pisos do hotel.

A “vítima”, desta vez, foi o Araújo, que, de muletas (pois havia contraído uma lesão), entrou sem saber no dito elevador e teve de aguentar todas as paragens, não fosse o hotel ter alguns vinte pisos e ele estar num dos últimos!

 

E pronto, por agora fico por aqui, com a promessa de voltar no próximo mês com mais “estórias” à volta desta Borracha Laranja.

por EUGÉNIO RODRIGUES

Autor

Eugénio Rodrigues

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