Venham conhecer os «Role-Stars» da NBA

por jan 21, 2023

Já sabemos: o All-Star está aí à porta, e é altura de fazer balanços sobre quais têm sido os principais artistas, discutir quem tem melhores números e colegas mais ou menos competentes, tudo embrulhado num concurso de popularidade que às vezes redunda em… Andrew Wiggins. Matéria fascinante. Na verdade, elegem-se os preferidos do público, jogadores, e media, onde se espera que os melhores dos melhores nos entretenham durante 48 minutos, no fim, inconsequentes.

Mas… e os outros melhores? Onde fica a distinção para aqueles que, no seu papel, têm feito épocas sensacionais, elevando a sua equipa noite após noite com mais um extra pass, um triplo certeiro, uma deflexão preciosa, ou uma rotação defensiva que se antecipa ao que o ataque quer fazer? Nada temam: chegaram os Role-Stars da NBA em 2023, de acordo com um critério meticulosamente elaborado ao longo de mais de 34 anos: o meu olho. Bem, na verdade, para chegar a uma definição mais ou menos consensual de role player, arranjei como balizas os seguintes citérios:

                – Usage Rate, menor do que 25%. Foi decidido mais ou menos a olho, mas jogadores com uma utilização superior a esta têm na sua esmagadora maioria um papel mais preponderante que aquele a que queremos almejar;

                – Minutos por jogo, inferiores a 30. Esta é fácil: jogas mais de meia hora por jogo, és mais do que um role player. Estudasses.

Filtrando esta lista no basketball-reference.com, ficamos então com um rol de tipos fascinantes, dos quais tomei a liberdade de escolher uns quantos. Nenhum destes jogadores irá a Salt Lake City disputar o jogo das estrelas, mas eu pagava bem mais dinheiro para ver uma partida entre esta gente com uma matilha de cães dentro deles, e no fundo é isso que conta, como eles certamente saberão. Ah, e as equipas serão feitas à moda All-NBA (dois G, dois F, e um C), que eu não quero cá lineups disfuncionais no jogo das estrelas do meu coração. Avante.

CONFERÊNCIA OESTE

G – Tyus Jones, Memphis Grizzlies

Dificilmente haverá melhor maneira de começar esta selecção do que com aquele que é, simplesmente, o melhor base suplente da NBA (desculpa, TJ McConnell). Com máximos de carreira em pontos (10.6), assistências (4.8), triplos (1.6) e eFG% (.528), tudo o que faz é liderar a segunda unidade dos Grizzlies a autênticos banhos de bola ao adversário, partilhando ainda alguns minutos com Ja, oferendo-lhe valiosas posses sem bola, onde tem sido excelente a cortar. A equipa assiste mais com ele em campo, perde menos vezes a bola, e tem um melhor offensive rating. Um luxo.

G – Bruce Brown, Denver Nuggets

Já sabíamos todos que isto ia acontecer, não já? Um dos melhores cutters em toda a NBA juntou-se neste defeso ao jogador que melhor passa a bola na liga. Como é que os Nets decidiram prescindir de Bruce Brown será sempre algo que não vou compreender (Kyrie e KD, com Brown/O’Neale/Claxton podia muito bem ser o melhor 5 do campeonato), como também não percebo o jogador não ter atraído mais do que o valor da taxpayer midlevel exception com que os Nuggets o aliciaram. Se calhar foi ele que quis, e ainda bem. As estatísticas avançadas não lhe fazem favor nenhum, por estar tanto tempo em campo quando Jokic descansa. No entanto, os máximos de minutos, pontos e triplos só são ultrapassados em importância pelo que faz sem bola e pela sua versatilidade defensiva, onde a capacidade de ganhar o ressalto e assumir matchups desvantajosos para Jamal Murray ou Porter Jr. são absolutamente essenciais.

F – Trey Murphy III, New Orleans Pelicans

Um dos segredos mais mal guardados da excelente classe de rookies de 2021, rapidamente saiu do anonimato devido às constantes lesões de Zion e Brandon Ingram (e Herb Jones). Está a dobrar os seus minutos e mais do que a dobrar a marcação de pontos face ao ano passado, e é já indiscutivelmente um dos melhores spot-up shooters em toda a NBA (39.7% em 5.5 tentativas de triplo por jogo). A defesa tem sido boa, e dá a sensação de ainda nem ter arranhado o seu potencial desse lado; com Dyson Daniels e Naji Marshall, lidera um trio de wings que tem ajudado muito a equipa de New Orleans a manter-se no topo do Oeste enquanto os titulares vão perdendo jogos.

F – Aaron Gordon, Denver Nuggets

O MVP desta equipa. Se dissemos que Bruce Brown nasceu para jogar com Jokic (o rapaz é coisa para ser culpado de ter produzido 40% deste ‘cinco’…), o que dizer de Aaron Gordon? O extremo está a lançar 59% de campo (65% em lançamentos de 2 pontos!), ocupando zonas interiores com inteligência, quer cortando sem bola, que massacrando adversários menores, enquanto o génio sérvio criar a partir dos cotovelos. 54% dos seus lançamentos são a menos de um metro do mesmo (carreira: 36%), sendo 62% deles assistidos. Um jogador que vivia uma vida ineficiente a ser a primeira opção em Orlando, é afinal um dos melhores role players da NBA por ter desenvolvido uma simbiose perfeita com a estrela da sua equipa. Magistral.

C – Alperen Şengün, Houston Rockets

Fiquei algo surpreendido pelo turco estar elegível (USG: 22%, MPG: 27.4), e até sabe um pouco a batota poder contar com ele, mas pronto, é isto que acontece quando os teus bases não te passam a bola e o teu treinador acha que isto se calhar faz falta um Bruno Fernando na partida de vez em quando. Ganhamos nós. “Alpi” está a fazer um segundo ano sensacional com máximos de carreira na folha estatística inteira, e a alcunha de “baby Jokic” cada vez aparece mais. Silas teima em não o utilizar por problemas defensivos (que existem), mas se calhar devia estar mais atento ao facto da equipa aumentar bem mais a sua produção ofensiva com ele em campo, e nem sequer o utilizam correctamene. Deixem jogar o Şengün.

Restante equipa / Menções honrosas:

G – Terance Mann, Los Angeles Clippers; Jose Alvarado, New Orleans Pelicans

F – Kyle Anderson, Minnesota Timberwolves; Jarred Vanderbilt, Utah Jazz

C – Walker Kessler, Utah Jazz

WC – Kevon Looney, Golden State Warriors; Santi Aldama, Memphis Grizzlies

CONFERÊNCIA ESTE

G – Malcolm Brogdon, Boston Celtics

Pois, se calhar entusiasmei-me ao apelidar Tyus Jones de melhor base suplente da NBA. Brogdon tem um caso tão bom ou melhor que Tyus, e talvez seja mesmo o candidato mais forte ao prémio de Sexto Homem do Ano em toda a liga. Um veterano com capacidade mais que suficiente para ser titular praticamente onde quisesse, abraçou o novo desafio com uma competência de elite, ora liderando o banco, ora juntando-se aos titulares quando o jogo assim o pede. Apenas na sua sétima época na liga (como assim?!), o já veterano de 30 anos é o principal responsável pela estabilização do jogo ofensivo de Boston, e o carácter de líder aliado à postura com que encara o seu papel, foram com certeza factores decisivos para os Celtics terem retomado o atropelo na fase regular que aplicaram na segunda metade do ano passado, apesar do mais do que atribulado Verão.

G – De’Anthony Melton, Philadelphia 76ers

Há jogadores fetiche, e depois há De’Anthony Melton. Morey acertou em cheio quando trocou o contrato do lesionado Danny Green para Memphis, trazendo para Philadelphia talvez o melhor 3-and-D da primeira metade do campeonato (39% de triplo, 1.9 roubos de bola): um demónio defensivo no portador da bola ou a saltar linhas de passe, traz imprevisibilidade aos lineups lentos de Harden/Embiid e ajudou muito a segurar as pontas da equipa nas ausências do “Barbas” primeiro, e de Maxey depois. O impacto positivo foi de tal modo, que Doc Rivers pode mesmo ter sido obrigado a entregar-lhe a titularidade.

F – Bobby Portis, Milwaukee Bucks

Como Lauri Markkanen, um homem que soube construir uma carreira depois de uma passagem decepcionante pelos Chicago Bulls. Líder da liga em duplos-duplos vindos do banco, é também ele um dos bons candidatos a Sixth Man. A sua excelente capacidade de ressalto permite quer a Brook Lopez quer a Giannis maior agressividade ao lançador no pintado, e o tiro exterior (que até atravessa a pior fase da carreira) é absolutamente indispensável pelo espaçamento que oferece para o grego operar na área pintada. Bobby Portis, o ‘Mayor of Milwaukee’, pedra essencial a uma equipa que quer ser campeã. Bebam.

F – Bol Bol, Orlando Magic

Não achavam mesmo que eu ia deixar Bol Bol de fora, pois não? Com 23 anos acabados de fazer e na sua quarta temporada na NBA, o filho de Manute simplesmente explodiu e entrou de rompante em cena, sendo sem dúvida um dos jogadores mais divertidos de ver em toda a liga, pela imprevisibilidade (ou indisciplina táctica, depende se forem analistas divertidos ou uns chatos do caraças) com que aborda praticamente cada lance. Vem aí o desarme de lançamento da noite, ou a violação de goaltending mais absurda da semana? Esta jogada em transição, vai afundar dando dois passos da linha de triplo ao cesto, ou vai parar o drible e lançar como se fosse um Steph Curry bidimensional? Um deleite de ver acontecer à frente dos nossos olhos, e ainda está a arranhar o que pode ser enquanto jogador de basket (espero eu).

C – Nicolas Claxton, Brooklyn Nets

Que outra maneira haveria para terminar esta selecção, se não com um jogador que até tem um caso decente para integrar o jogo All-Star? Claxton tem sido, simplesmente, um grande candidato a Jogador Defensivo do ano: um poste desenhado a régua e esquadro para o esquema de trocas que melhor favorece Brooklyn, usa toda a sua agilidade e velocidade de pés para cobrir muito terreno na segunda linha defensiva dos Nets. Desenvolveu uma grande química com KD desse lado, e 2.7 desarmes de lançamento por jogo (lidera a NBA) para apenas 2.3 faltas é algo verdadeiramente notável. Também do outro lado transformou-se num jogador excelente no ecossistema de Brooklyn, aproveitando os recorrentes 2×1 às principais estrelas, e o espaço oferecido pelos lançadores para mergulhar no pintado, liderando também toda a NBA em percentagem de lançamento, com uns inacreditáveis 73%.

Restante equipa / Menções honrosas:

G – Derrick White, Boston Celtics; Alex Caruso, Chicago Bulls

F – Quentin Grimes, New York Knicks; Grant Williams, Boston Celtics

C – Mason Plumlee, Charlotte Hornets

WC – Myles Turner, Indiana Pacers; AJ Griffin, Atlanta Hawks

por LUCAS NIVEN [@lucasdedirecta]

Autor

Lucas Niven

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