What if #2: “The Natural”, Brandon Roy

por jul 23, 2022

O desporto é, habitualmente, uma reflexão imperfeita da nossa sociedade. Tal como na vida, também no basquetebol o inesperado bate à porta de todos, por boas e más razões, alterando drasticamente um caminho que parecia certo. Devido a problemas pessoais, lesões, falta de motivação, entre outros fatores, ficamos privados de vislumbrar a grandeza contínua daqueles que, durante a sua vida, mostraram que eram capazes de o fazer.

Os “What Ifs” da NBA existem em grande quantidade, neste caso, de uma forma “natural”. Brandon Roy tinha nas mãos o futuro desportivo da cidade de Portland, encantando o mundo basquebolístico com o seu talento, mas os seus “joelhos de Aquiles” trataram de interromper uma carreira que tinha tudo para chegar a patamares únicos.

Primeira paragem, Seattle.

Brandon Dawayne Roy nasceu a 23 de julho de 1984, em Seattle, Washington, e foi lá que deu os seus primeiros passos no basquetebol, mostrando muito cedo os seus dotes “naturais” para a modalidade. Em Garfield High School, “B-Roy” era considerado um dos melhores jovens jogadores no estado de Washington e o seu nome era constantemente falado para o NBA Draft de 2002, numa altura em que ainda era possível fazer a transição direta da “secundária” para a melhor liga de basquetebol do mundo.

Apesar da sua elegibilidade e de, inicialmente, declarar-se para o Draft de 2002, Roy optou por tentar a sua sorte no basquetebol universitário, mas o caminho para lá chegar não foi tão fácil como o fazia parecer com a “borracha laranja” nas suas mãos.

Com tremendas facilidades no basquetebol, Brandon tinha alguns problemas de aprendizagem na escola, que o levou a repetir os exames de admissão para a universidade por quatro ocasiões, acabando, à quarta tentativa, por conseguir o que tanto desejava, tornando-se no primeiro membro da sua família (pais e irmão mais velho) a estudar na universidade.

Permanecendo em Seattle, foi na Universidade de Washington que Brandon Roy procurava desenvolver as suas capacidades basquetebolísticas, mas o primeiro ano não foi o mais fácil para o jovem de 18 anos, aparecendo num total de 13 jogos pelos Huskies, contando com alguns problemas nos joelhos, que viriam a ser um passado bem presente no seu futuro.

Após a sua terceira temporada em Washington, na qual jogou como “sexto homem”, o nome de “B-Roy” era apontado ao Draft de 2005, mas com o seu colega de equipa Nate Robinson a declarar-se ao Draft, Roy preferiu permanecer na NCAA, vendo a sua época sénior como uma possibilidade de ser titular e poder ser escolhido numa posição acima no Draft de 2006.

Esta foi a melhor decisão que Brandon Roy poderia ter tomado, assumindo-se, sem contestação, como a estrela dos Huskies, com médias de 20.2 pontos, 5.6 ressaltos e 4.1 assistências por jogo, demonstrando, num palco maior, toda a sua versatilidade ofensiva que lhe era reconhecida em Garfield, sendo eleito jogador do ano da Conferência Pac-10.

Futuro da NBA: Portland, Oregon

No Draft de 2006, os Portland Trail Blazers procuravam restruturar a equipa, depois de alguns anos conturbados após um período de relativo sucesso, com jogadores como Steve Smith, Scottie Pippen e Rasheed Wallace no comando do conjunto no início dos anos 2000.

Procurando começar de novo e afastar-se da alcunha de “Jail Blazers”, a equipa de Oregon apostou tudo no Draft, com diversas trocas. Tendo, originalmente, a quarta pick (Tyrus Thomas), os Blazers conseguiram a segunda pick do Draft, LaMarcus Aldridge, numa troca com os Chicago Bulls, e a sexta pick, numa troca com os Minnesota Timberwolves, ficando com um tal de “Brandon Roy”…

O futuro parecia traçado para os Portland Trail Blazers, que tinham em Aldridge e Roy pilares de futuros sucessos do franchise. Na primeira temporada da dupla em ação, o sucesso coletivo não era esperado, com um plantel repleto de jovens jogadores, mas a qualidade de “B-Roy” abrilhantou os pavilhões da NBA.

O seu primeiro jogo no palco das estrelas foi, curiosamente, na sua cidade natal, Seattle, num encontro frente aos SuperSonics, marcando 20 pontos à frente da sua família e amigos. Uma lesão no calcanhar esquerdo afetou Brandon Roy nos primórdios da época, deixando-o de fora durante 20 jogos.

Apesar da ausência, “B-Roy” voltou à máxima força, com médias de 16.8 pontos, 4.4 ressaltos e 4.0 assistências por jogo em 2006/07, valendo-lhe o prémio de Rookie do Ano, ficando apenas a um voto de ser escolhido de forma unânime.

Com um registo de 32 vitórias e 50 derrotas, os Trail Blazers entravam na Draft Lottery de 2007 com possibilidades de ter uma das primeiras escolhas do Draft. Brandon Roy foi o escolhido para representar o franchise e acabou por ser o talismã da sorte (pelo menos assim achava), pois Portland ficou com a primeira escolha do Draft de 2007, num ano em que dois jogadores eram vistos como futuras estrelas da NBA: Greg Oden (Ohio State) e Kevin Durant (Texas), com os Trail Blazers a apostarem no Poste de Ohio State.

O trio de Aldridge, Roy e Oden era visto por muitos analistas como o futuro da liga, com Roy e Oden como as principais figuras. Com a lesão de Greg Oden na pré-época, que viria a perturbar toda a carreira do atleta (assunto para uma outra edição do What If), os Trail Blazers voltaram a falhar a presença nos Playoffs, mas assistiram ao desenvolvimento claro de Brandon Roy como ator principal do Rose Garden, com médias de 19.1 pontos, 4.7 ressaltos e 5.8 assistências por jogo.

Encontrando-se na sua segunda época na NBA, “The Natural”, alcunha dada por Brian Wheeler (narrador dos Portland Trail Blazers), foi escolhido para o All-Star Game de 2008, tornando-se no primeiro All-Star dos Blazers desde 2001 (Rasheed Wallace), cimentando, desta forma, o seu estatuto como futuro da liga.

No meio do sucesso, o início do calvário

Antes do início da temporada 2008/09, Brandon Roy submeteu-se a um procedimento médico para retirar alguma cartilagem que estava a causar irritação no seu joelho esquerdo, conseguindo estar pronto para o início da temporada em Los Angeles, frente aos Lakers de Kobe Bryant, um dos seus ídolos.

O início de temporada foi de luxo para o shooting guard, com um buzzer-beater frente aos Houston Rockets a 6 de novembro e um mês depois, a 18 de dezembro, Roy assinou o máximo de carreira, 52 pontos, com uma exibição de luxo frente aos Phoenix Suns, uma das equipas em destaque na Conferência Oeste.

14 em 27 de lançamentos de campo, 19 em 21 da linha de lance livre, 5 em 7 da linha dos três pontos, seis assistências, cinco ressaltos e zero turnovers, numa pura demonstração da classe, versatilidade e “naturalidade” do jogo de “B-Roy”.

https://www.youtube.com/watch?v=_yViWEJEsZk&ab_channel=VintageDawkins
(Brandon Roy – Career High 52 Points vs Suns – Highlights)

Reconhecido pela sua qualidade no clutch, Roy tinha já no seu pecúlio 24 lançamentos que empataram ou trouxeram vitórias aos Blazers nos últimos 35 segundos de uma partida, isto apenas em dois anos e meio de basquetebol profissional. Médias de 22.6 pontos, 4.7 ressaltos e 5.1 assistências valeram a Brandon Roy uma seleção para o “Jogo das Estrelas”em 2009, sendo também escolhido para a All-NBA Second Team, assumindo-se como o segundo melhor shooting guard da liga, atrás do seu ídolo Kobe Bryant, que afirmou, em 2010, que Brandon Roy era “o jogador mais difícil de defender na Conferência Oeste”, dizendo também que “B-Roy” era um jogador que não tinha “qualquer fraqueza no seu jogo”.

Para além do sucesso individual, o ano de 2009 marcou também a primeira presença dos Trail Blazers nos Playoffs desde 2003, com um registo de 54-28, garantido assim o quarto lugar na Conferência Oeste e um duelo frente aos Houston Rockets na primeira ronda, num ano em que, apesar dos problemas físicos de Greg Oden, os Trail Blazers adicionaram talentos europeus como o espanhol Rudy Fernandez e o francês Nicolas Batum.

A primeira experiência nos Playoffs não foi a melhor para a equipa de Portland, acabando por perder a série por 4-2, mas o futuro continuava a parecer certo e repleto de sucessos para um franchise importunado por azares ao longo de décadas.

A época de 2009/10 começou com diversas lesões para os Blazers, mas com Roy a continuar o trabalho desenvolvido nas últimas temporadas, motivado por assinar um mais do que merecido “max contract”, válido durante quatro temporadas e com objetivos de levar a equipa mais longe nos Playoffs.

(Brandon Roy – Portland Trail Blazers Highlights)

Voltando a ser escolhido para o All-Star Game pelo terceiro ano consecutivo, Brandon Roy não pôde participar devido a uma lesão na perna direita. Já com os Playoffs à vista, “B-Roy” lesionou-se a 11 de abril de 2010, desta feita no joelho direito. Após uma cirurgia ao seu menisco, era expectável que Roy falhasse, pelo menos, a primeira ronda dos Playoffs, mas a vontade de ajudar a equipa fez com que voltasse no Jogo 4 da série frente aos Phoenix Suns, mostrando algumas debilidades físicas no decorrer da eliminatória, acabando os Blazers por cair novamente na primeira ronda, por 4-2.

Em 2010/11, a época começou de forma relativamente normal para Brandon Roy, mas após o primeiro mês de jogos, era visível que os joelhos que começaram a demonstrar a sua fraqueza na Universidade de Washington traíam a projeção natural da carreira de uma futura lenda da NBA.

No início de 2011, Roy submeteu-se a uma cirurgia aos dois joelhos, regressando a 25 de fevereiro, acabando por fazer grande parte da temporada a partir do banco.

Naquela que seria a sua última ida aos Playoffs, Brandon Roy procurava levar os Trail Blazers para a segunda ronda dos Playoffs, mas acabaram novamente eliminados, desta feita pelos eventuais campeões de 2011, os Dallas Mavericks, novamente por 4-2, numa série em que Roy começou todos os encontros no banco, jogando uma média de 23 minutos de jogo e apresentando uma versão de si mesmo que era irreconhecível ao jogador versátil, atlético e confiante que contagiava o Rose Garden de pura energia.

Antes do início da temporada 2011/12, e com apenas 27 anos, Brandon Roy anunciou, de forma inesperada, que iria acabar a sua carreira, relevando que os seus joelhos tinham degenerado de tal forma que lhe restava pouca cartilagem entre os ossos dos dois joelhos. De um momento para o outro, um atleta sem fraquezas dentro do court demonstrava que o basquetebol é, realmente, um espelho da vida, em que tudo pode desaparecer num piscar de olhos, sem aviso antecipado.

B-Roy” ainda tentou um regresso à NBA em 2012/13, acabando por assinar pelos Minnesota Timberwolves, que, na altura, tinham como principais estrelas Kevin Love e um jovem Ricky Rubio. Depois de utilizar o número 7 em Portland, Roy voltou a usar o número 3 que abrilhantou a Universidade de Washington, mas acabou por disputar apenas 5 jogos na fase regular, e no final da temporada acabou por retirar-se de vez da NBA, aos 28 anos de idade.

O legado de uma curta “lenda”

Após o final da sua carreira como jogador, Brandon Roy, decidiu, em 2016, assumir o cargo de treinador principal da Nathan Hale High School, em Seattle, treinando, entre outros, futuros jogadores da NBA como Michael Porter Jr (curiosamente outro jogador, que, infelizmente, poderá ter uma trajetória similar a Brandon Roy).

(Brandon Roy Interview w/ Michael Porter Jr.)

Em março de 2017, recebeu o prémio Naismith National High School Coach of The Year, depois de uma temporada perfeita, com um registo de 29 vitórias e 0 derrotas, acabando, no final da temporada, a regressar ao local onde tudo começou, Garfield High School, para assumir o comando da sua antiga escola.

Apesar de uma carreira incompleta, Brandon Roy assume que está feliz com as suas experiências, dizendo que “apesar de tudo, tive a possibilidade de ter aqueles primeiros anos, ao contrário de outros, como Greg Oden, que nunca os tiveram”. Estas declarações e modo de estar na vida representam muito daquilo que Brandon Roy apresentou dentro e fora do campo, repleto de classe e de gratidão pelos momentos vividos.

No dia em que celebra o seu 38.º aniversário, “The Natural” fica, para sempre, na memória de quem teve o privilégio de o ver no seu auge e apesar de ter poucas hipóteses de entrar no Hall of Fame, está, eternamente, no coração de uma geração.

Parabéns, B-Roy.

por JOSÉ PEDRO BARBOSA [@J_Pedro_Barbosa]

Autor

José Pedro Barbosa

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