Filipe da Silva, antigo base que representou a selecção portuguesa nos Europeus de 2007 e 2011 e passou pela liga portuguesa ao serviço do CAB Madeira e da Oliveirense, foi treinador do fenómeno Victor Wembanyama na formação do Nanterre. O luso-francês não tem dúvidas quanto ao destino do poste de 2,21 metros que será a 1.ª escolha do draft da NBA, no próximo mês de junho.
Como é que foi a experiência defrontar pela última vez o Wembanyama na liga francesa?
Primeiro, é sempre um prazer a voltar a encontrar o Victor. Mesmo se as duas equipas só estão a 10 quilómetros uma da outra. Também já tínhamos alguns jogos-treino durante o ano.
O mais giro é que foi ele voltou à casa onde tudo começou, e foi um prazer para nós poder fazer um jogo oficial. Se calhar o último em Nanterre, porque já se prevê que vai para a NBA na próxima época. Por isso, havia muitas expectativas à volta desse jogo.
Foi também um dérbi. Tudo o que tem noção de dérbi, mesmo sendo contra o Victor, é um jogo para ganhar e tentar condicionar ao máximo, porque também o conhecemos bastante bem. Foi um prazer jogar contra ele. Foi um prazer voltar a encontrá-lo, falar um bocadinho sobre a os objectivos a curto prazo que vêm agora, dentro de algumas semanas. Como é um miúdo espectacular, é sempre bom voltar a falar com ele.
No final do jogo, o Victor Wembanyama estava visivelmente emocionado. Abraçou os adeptos e depois houve um abraço forte entre vocês, que também ficou registado. Que palavras é que trocaram?
Muito humilde, o rapaz. Muito humilde, o Victor. Tem grandes valores. Nós conhecemo-lo bem, conhecemos também a família, e não me surpreende nada a atitude que ele teve no final do jogo com nossos adeptos, com as pessoas envolvidas no clube. É sempre um prazer ouvir um agradecimento de um rapaz com quem partilhamos alguns momentos. É assim tão simples, mas algumas vezes podia esquecer com o que está a acontecer em redor dele, o lobbying feito à volta dele, podia mudá-lo, mas ele não muda porque tem grandes valores. E foram para palavras giras que ele teve sobre a minha pessoa, e que eu tive com ele.
Mas não gosto, mesmo aqui, de dizer que ajudei o Victor. Não, o Victor construiu-se sozinho porque já era um grande jogador. Ia ser e vai ser um grande jogador. O que nós tentamos aqui foi ajudar. Foi o caso de todas as pessoas envolvidas no clube. O preparador físico, que passou imenso tempo com ele, passava horas e horas com ele. Seja eu no trabalho individual, seja com o treinador do campeonato de Espoirs (Esperanças). Passamos imenso tempo. Houve situações em que houve muito riso, houve muitas confusões, mas isso foi sempre para o bem dele. E ele, nesse sentido, só agradeceu, porque ajudou-o a ser a pessoa que é hoje em dia, e colocou-o no caminho certo para atingir os objectivos dele. Foi simplesmente isso que que ele me disse.
Sobre o trabalho individual com ele. O Filipe chegou ao Nanterre um ano antes de o Wembanyama subir a sénior. Que tipo de trabalho foi desenvolvido? Trabalhava com ele antes de o Victor subir a sénior?
Sim. Quando eu cheguei ao clube, eu tive a área de desenvolvimento da técnica individual dos jogadores que estejam próximos de ser profissionais, dos prospects.
Nós temos uma boa formação. O Victor faz parte desta formação, mas havia outros jogadores, também. E eu, quando cheguei ao clube, foi nesse sentido: ajudar os jogadores que já estavam próximos de atingir o objectivo de treinar com a equipa principal e desenvolvê-los o melhor possível para eles atingirem rapidamente o nível competitivo para poderem treinar, numa primeira fase, e depois poderem jogar. E claro, o Victor fazia parte dessas pessoas.
O que posso dizer? O Victor é uma pessoa extraordinária ao nível de aprendizagem. Qualquer pessoa tem uma maneira de aprendizagem. Há pessoas que precisam de ler, de escrever, precisam de fazer, precisam de ouvir. O Victor é tudo. É capaz de ouvir uma informação e fazer o movimento, mas perfeitamente. Tem um cérebro acima da média que lhe permite fazer coisas e assimilar coisas. E quando se vê um rapaz de 2,21m, da forma como ele corre, da forma como ele dribla… A coordenação entre os sinais do cérebro e a forma como se movimenta, é incrível.
E o cérebro dele tem essa capacidade de aprendizagem. Eu mostrava um vídeo e dizia “Olha, tu tens que fazer isto e não isso”. Ele fazia logo, corrigia. Depois era só aumentar a intensidade, aumentar a dificuldade do exercício. E mesmo assim ele era capaz de fazê-lo rapidamente. É uma coisa que me marcou e que vai marcar, porque é por isso que ele vai ser um grande jogador. Ele é capaz de transferir rapidamente o treino para o jogo. E isso faz em que ele esteja mais confortável em qualquer situação.
Por exemplo, eu jogava a base e fazia exercícios de bases ao Victor. Tudo o que são aquelas finalizações desequilibradas, floater, um apoio, mão-mão, pé esquerdo-mão esquerda, pé direito-mão direita, tudo isso ele era capaz de fazer como base. Algumas vezes puxava por mim, porque pensava “Fogo, qual é o movimento em que pode ter ainda mais dificuldade para ele?”. Mas ele conseguia sempre.
Nas entrevistas que ele faz, fala sempre sobre nunca ter deixado que o colocassem numa caixa. Vai ao encontro do que diz, sempre fez exercícios de base, sempre preparou o jogo de base. No Nanterre, também houve essa preocupação de lhe dar tudo em todas as posições no campo?
Exactamente. Foi a vontade do treinador, foi a vontade do clube, também, não condicionar o Victor num sentido de, por ter 2,22m, ser só interior. E ele já era grande nas categorias sub-10, sub-12, sub-14. Era sempre o mais alto, e ninguém condicionou o Victor nesse sentido de dizer “Não, tu tens de jogar próximo do cesto”.
Agora, nós o que tentamos foi ajudar e dizer assim: “Victor, tu podes subir a bola, mas tens de ter cuidado no sentido de qual é o momento em que tu o podes fazer, qual é a liberdade que tu podes ter no momento do jogo”. Porque há os momentos decisivos do jogo e tem de se ter o mínimo de risco. Isso para ele também perceber o que se pretende no alto nível. Porque quando se fala de alto nível, fala-se de rendimento. E pode ter-se rendimento, pode driblar-se, pode fazer-se um passe nas costas, mas há sempre o momento. E se eu domino ou não o gesto técnico. E isso também fazia parte da aprendizagem dele.
Muitas vezes nós fazíamos vídeo com ele. “Olha, agora não era o momento, mas tu fizeste neste jogo, e fizeste muito bem nesta situação, neste momento do jogo, e aqui devias ter feito ou de outra forma.” E como era uma pessoa superinteligente, assimilava rapidamente a informação que lhe dávamos. E no jogo seguinte – nem no jogo, no treino seguinte – já tinha assimilado que naquele momento podia fazer tal coisa ou não.
Aprende muito rapidamente. É um jogador fácil de treinar?
Incrível. Muito fácil. Porquê? Porque ele tem a paixão pelo basquete. Ele não gosta de basquete, ele tem paixão pelo basquete. Nós algumas vezes tínhamos de pôr o Victor fora do campo. “Victor, chega!”.
As pessoas têm que ter a noção de que a carga de treino para o Victor era super-exigente, não podíamos ir lá além daquilo que estava previsto. Era controlada ao máximo.
A comida: ele comia cinco vezes ao dia. O preparador físico definia: “Hoje é X tempo de treino entre treino colectivo, musculação – que não era musculação, era trabalho de corpo, tudo. A carga escolar. Ele tinha uma cama na escola para poder descansar, seja 15, 20 minutos, 30, para descansar caso estivesse cansado. Porque com o corpo dele, o trabalho que era desenvolvido com ele, o pormenor do descanso era muito importante.
Isso também ajudou porquê? Porque o pai dele era fazia parte do atletismo, foi campeão na área do atletismo, e a mãe foi jogadora profissional de basquete, e sabem perfeitamente o que é importante no desenvolvimento de um atleta.
Por isso, muitas vezes eu dizia “Victor, chega”. “Não, mas eu tenho de acabar com 10 marcados.” “Não, chega, vai-te embora, amanhã há mais.” Isso é a mentalidade dos grandes, porque ele não gostava de errar, não gostava de falhar. E gostava de treinar.
Com toda essa preparação desde bem cedo, todo o trabalho de reforço num jogador que ia ser muito grande, já se notava desde que começou a trabalhar com ele, que era um jogador que estava a ser preparado para estes palcos que está prestes a alcançar?
Sim, sim, sim. Desde há muito tempo, já sabíamos que o Victor, se estiver bem fisicamente, se tiver a sorte de não estar lesionado, de não se lesionar. Porque ele tem um corpo diferente, é por isso que tem todo esse trabalho. Era mesmo feito com muita minúcia. Éramos rigorosos no trabalho desenvolvido. A carga do treino é mesmo muito importante para ele estar saudável, porque ele tem braços muito compridos, braços e pernas compridas, ossos muitos finos. Ele tem uma morfologia de um jogador fino.
E por isso, também o facto de ele ganhar peso… As pessoas estão sempre a dizer: “Ah, ele tem de ganhar peso”. Sim, mas se calhar ele não tem os ossos para isso. Por exemplo, se ele engordar de 30 kg, não sabe se os ossos vão permitir aguentar esse peso todo.
É por isso que é preciso ter muito cuidado no trabalho que é feito com ele, porque é um jogador diferente e sempre foi diferente. Quando era miúdo já era diferente. Há que ter esse cuidado das lesões. É só isso que pode condicionar o futuro do Victor.
Ele, apesar dessa preocupação que existe, para já, não tem registo de lesões assim de maior. Este ano, por exemplo, ainda não falhou nenhum jogo. Mas é algo que o preocupa, quando passar agora para uma época regular com 82 jogos?
Sim, é. Não posso falar das pessoas que vão trabalhar com ele. Agora, o que eu penso é que, se eles tiverem a vontade que ele tenha um rendimento a longo prazo, têm de ir com calma.
Porque 82 jogos, com aquelas viagens todas, a adaptação à intensidade da NBA… Não é pelo jogo em si. É a quantidade de jogos, a quantidade de viagens que pode vir a fragilizar o corpo dele, o descanso dele. A carga mental, que depois tem a ver com a receptividade dos membros. Por isso há que ter cuidado. Ter paciência que lhe permita desenvolver-se com tranquilidade.
Ainda sobre a formação. Quando ele fazia questões nessa ânsia que tinha por evoluir, eram questões mais focadas em detalhes do momento, ou o próprio Wembanyama já pensava no futuro e no que poderia vir a ser enquanto jogador?
Eram os dois. Por exemplo, tenho exercícios gravados, filmava e mostrava logo. O joelho entrava para o interior porque ainda não estava desenvolvido ao nível da força nas pernas. O joelho entrava um bocadinho. Eu mostrava e dizia “Victor, no lançamento que vamos trabalhar agora, tens de estar focado no joelho, não pode entrar”. Porque no momento sabia que podia ser um problema para ele, de acontecer uma lesão.
Depois, aumentar sempre a dificuldade. Porque ele tinha a capacidade de fazê-lo. E depois também mostrar que a alto nível ele vai ter de desenvolver outros movimentos, vai ter de dominar certos movimentos porque vão condicioná-lo nesse aspecto. Ele estava sempre à procura, e fazia esse pedido de termos sempre vontade de melhorar rapidamente o que ele pode ser no futuro.
Uma história. Era a época após a covid-19, 2020-21. Nós tivemos uma série de jogos em Abril e o Victor já começava a fazer parte só da nossa equipa. Ele tinha facilidade ao nível do lançamento. Disse-lhe: “Victor, olha, vamos começar já a antecipar a linha de 3 pontos da NBA” Isto na parte final da época, já a época tinha acabado. Eu disse-lhe: “Olha, tu vais fazer um pick and pop e vais lançar um metro atrás.” Ele estava quase a nove metros e lançava com uma facilidade incrível. Fez nove em dez. Havia um jogador australiano, o Brock Motum, que jogou no Valencia e jogou connosco. Ele ficou assim a olhar para o miúdo e perguntou-me. “Mas é a primeira vez que ele lança assim?”.
Depois o que foi giro é que houve o Campeonato do Mundo de sub-19. Ele foi, acabou a época, depois encaixou logo para o Campeonato do Mundo com a selecção. E há uma jogada logo nos primeiros jogos em que ele faz pick and pop e lança quase do meio-campo, como o Steph Curry. E ele enviou-me uma mensagem, “Filipe, lembras-te do que nós trabalhamos?”
Pronto, isso é o Victor. Sempre à procura de ser mais difícil, de conseguir coisas mais fantásticas.
Ele este ano teve aqueles dois jogos com a G-League Ignite, quando foi jogar à América, e diz que sentiu que o estilo de jogo da NBA e o campo maior o beneficiam. Também concorda com essa afirmação?
Claro. O Victor consegue fazer os números que está a fazer em defesas mais fechadas, com regras FIBA. Agora vais pôr o Victor num campo maior, mais espaços, menos ajudas. O Victor vai chegar e vai ser incrível. O primeiro ano, se ele não tiver lesões – e espero que não – vai ser fácil para o Victor. Não havendo ajudas, vai ser muito fácil.
Qual vai ser o impacto do Wembanyama logo ao entrar?
Vai mudar o jogo da NBA, como o Steph Curry fez a lançar de muito longe. Há cada vez mais jogadores a lançar de muito longe. Como o Damian Lillard, o James Harden, o próprio Klay Thompson. Jogadores como o Jokic, que sobe a bola agora, joga a poste, mas é o primeiro a lançar o contra-ataque. São jogadores que são especiais para mim, jogadores especiais.
A NBA mudou, a filosofia dos jogos flutua muito. Quando o Shaq apareceu, por exemplo, as equipas jogavam de outra maneira, Hakeem Olajuwon, Shaquille O’Neal, David Robinson. E depois foram-se criando jogadores grandes com mais agilidade, mais facilidade que permitiram que o jogo estivesse mais aberto, os cinco abertos.
O Victor vai ser um deles. Vai mudar claramente o jogo da NBA.
É o protótipo perfeito para esta era nova, não é?
Sim, sim.
Quais diria que são os pontos fortes do Wembanyama. E é um jogador já bastante completo, mas quais as fraquezas?
É assim, nós conhecemos bem o Victor. Cada vez há mais espaço e ele vai usar a envergadura dele. O facto de ele poder atacar o grande num espaço mais aberto… O que nós tentámos foi fechar os espaços, condicionar ao máximo com pressão, cada vez que ele tinha a bola. Diminuir o espaço entre ele e o defensor, estar mesmo próximo dele. E, quando receber, fechar o espaço também à volta dele. Mas, por exemplo, na NBA já não pode acontecer. Não se pode ajudar tanto como nós fizemos.
Além disso, limitar as zonas de conforto dele. Neste momento, o Victor, eu conheço-o bem e sei tudo o que é para a direita é menos confortável. Ele está menos confortável por causa da força da perna. A esquerda está muito mais desenvolvida, neste momento. Ele sente-se mais confortável a ir para o lado esquerdo, porque tem a ver com a força, o equilíbrio, a agilidade dele. Foi um bocadinho isso, também, mas nós conhecemo-lo bem, e sabemos também as zonas de conforto dele, e tentamos condicioná-lo.
Ontem também falei com um antigo adjunto da NBA sobre a ida do Wembanyama, e ele dava uma das ideias para tentar contrariá-lo. Seria, por exemplo, colocar alguns bases mais fortes fisicamente. Deu um exemplo do Marcus Smart, por exemplo, ou interiores como o Draymond Green. Mas a questão é ele é tão grande que não há sequer problema em lançar.
Não há problema em lançar. Aconteceu no jogo de terça-feira. O nosso jogador estava mesmo perto dele. O Victor apanhou a bola, afastou-se um bocadinho dele, levantou os braços e lançou por cima dele. São coisas contra quem ninguém pode lutar. É envergadura, o tamanho.
E outra coisa. Ele é um jogador muito inteligente, porque sabe rapidamente, durante o jogo, saber quem está à frente dele, onde o adversário vai estar numa situação desconfortável. E ele vai encontrar maneira de não estar desconfortável. E, da mesma forma, os problemas que tu vais colocar-lhe, ele vai rapidamente encontrar uma solução. É um jogador muito inteligente, sabe perfeitamente onde estão os pontos fortes dele naquele momento e as escolhas conforme quem está à frente dele.
A forma como ele vê e fala do jogo é muito interessante. Ele fala sempre do basquetebol como uma forma de se exprimir dentro do campo, quase como se fosse fazer uma obra de arte. E é alguém que também gosta de cultura, tem essa característica. Já se notava desde muito novo?
Sim, é isso. Eu treinei o Victor. O treinador dos sub-18 estava doente e eu orientei o Victor pela primeira vez quando ele era sub-15, mas já jogava com os sub-18. Ele chegou ali, a primeira jogada quando entrou dentro de campo: apanhou a bola, levantou a perna e fez um passe entre as pernas para encontrar um jogador só do outro lado.
No desconto de tempo disse-lhe: “Ó Victor, foi lindo o que tu fizeste”. E ele diz assim “O que eu quero é divertir-me e quero dar espectáculo às pessoas”. Ele quer divertir-se, essa é a primeira coisa, e quer dar espectáculo às pessoas, para mostrar que é um jogador diferente. E vês, durante o ano fez coisas incríveis. Ele dizia-me “eu quero ser diferente”.
Outra história. Quando estávamos no trabalho individual, dizia que queria fazer coisas de base. Disse-me assim: “Filipe, qual é a primeira letra Do meu nome? É um V. Sabes o que é V em numeração romana? É o 5. Eu quero jogar as cinco posições, temos de trabalhar as cinco posições.” Ele está sempre a tentar divertir-se, encontrar coisas diferentes. A noção de espectáculo para ele é importante. Aquela noção também é o que lhe traz aquele prazer que o faz muitas vezes rir-se dentro do campo.
É isso que para si também o torna um talento especial?
Sim, claro. Porque muitas vezes temos pessoas que têm aquela ambição, aquela motivação, um bocadinho fechados, não deixam passar nenhuma emoção.
E o Victor, não, o Victor dentro de campo, a primeira coisa que ele diz é “Eu quero ter prazer”. É um jogo para ele, e essa noção de prazer é importante. E algumas vezes nas camadas jovens, esquecemos que é um jogo antes de ser um trabalho.
Outra coisa que também se vai notando é que o Victor Wembanyama é alguém que já sabe muito bem o que vale, e alguém que está preparado mentalmente para o que aí vem. Também acha que tem o que é preciso para resistir?
Sim, sempre foi. Já quando era mais jovem no clube, havia muitas pessoas à volta do Victor, muito lobbying, muitas pessoas, marcas – Nike, Reebok.
E o Victor… E os pais, também tem se dar crédito aos pais, mérito aos pais, que tentaram sempre que o Victor mantivesse os valores que lhe foram dando durante a infância. Os pais são pessoas muito humildes, trabalhadoras e isso tudo faz com que o Victor aja da forma como ele está a gerir isso tudo à volta dele. Eu acho que poucas pessoas podiam ter a cabeça no sítio como ele está a ter neste momento.
Uma última pergunta, e também só mais pessoal e de opinião, onde é que gostava de ver o emblema na NBA?
Eu gostava que ele fosse para Portland ou para San Antonio. Ele, como diz, não tem preferência. Ir para San António, vai com Popovich, que já teve estrelas, mas jogadores diferentes, e conseguiu acompanhar o desenvolvimento dos jogadores para chegar ao topo.
E Portland, porque está com um jogador – se ele ficar, penso que fica – o Damian Lillard, que pode tirar alguma pressão por ser a estrela da equipa, e assumir algumas funções dentro do campo, o que pode permitir crescimento ao Victor com tranquilidade. Se ele for para as outras, na minha opinião, sem nenhuma crítica, há menos possibilidades disso.
Não tenho mais nada a perguntar sobre o Victor Wembanyama, mas não sei se há mais alguma coisa que não tenha dito e que queira dizer sobre ele.
Acho que está tudo dito. É um miúdo espectacular, antes ainda de falarmos de jogador. É um miúdo com uma simplicidade, com uma humildade, honestidade incrível. E viu-se pelas imagens. Queria só referir isso: nós jogamos o dérbi, é como o Sporting-Benfica, em termos de quilómetros e tudo, e tu vês um miúdo que está do outro lado, e vai ter com os adeptos adversários, a ser abraçado.
A emoção dele, quando ele me deu aquele abraço, demonstra que sabe de onde vem, que tem valores e mostra a pessoa que ele é. Depois outra coisa: ele vai ser um jogador fantástico. As pessoas não têm noção, mas eu acho que podemos ver o próximo LeBron James, Michael Jordan, que mudaram a NBA e que são uma referência para a NBA. Eu acho que o Victor pode vir a ser esse jogador.
por JOSÉ VOLTA E PINTO [@zevolta97]