Num fim de semana em que Aveiro voltou a ser palco das decisões no basquetebol feminino em Portugal, o Grupo Desportivo da Escola Secundária de Santo André regressa ao Barreiro com a 2.ª Taça Federação da sua história, batendo, na final, o Sport Lisboa e Benfica por 59-55, numa reedição da Final da Liga Betclic Feminina da temporada passada e da Final da Taça Vitor Hugo desta época, que abriu um ano repleto de surpresas, incerteza e espetáculo para todos.
Para além de uma Final intensa, o caminho percorrido pelas oito equipas presentes nesta prova acrescenta ainda mais valor ao legado de uma competição que vai na sua 14.ª Edição.
Uma história repleta de conquistas diversas
Com um caminho que é percorrido desde a temporada 2009/2010, a Taça Federação conta com sete equipas vencedoras, sendo que o nome do CAB Madeira está inserido no primeiro troféu, numa Final frente ao conjunto açoriano do CJ Boa Viagem, equipa que, em 2012, viria também a sorrir para as fotografias e vídeos de comemoração da vitória nesta prova.
Em catorze edições, o Quinta dos Lombos leva a maior quantia de títulos para o seu Museu, com quatro vitórias em Finais: 2011, 2014, 2017 e 2018. Já o CAB Madeira leva três Taças Federação, acrescentando à vitória na primeira edição, as conquistas em 2013 e 2015.
Para além das duas equipas já mencionadas, o GDESSA Barreiro (2016 e 2024), SL Benfica (2022 e 2023), União Sportiva (2019) e Olivais FC (2020) já tiveram a possibilidade de levantar o cobiçado troféu, nesta competição que reúne os oito primeiros classificados na primeira volta da Fase Regular do primeiro escalão, agora denominado de Liga Betclic Feminina.
Para a 14.ª edição, os oito conjuntos que garantiram presença nesta prova foram: União Sportiva (1.º classificado), GDESSA Barreiro (2.º), CP Esgueira (3.º), SL Benfica (4.º), Imortal BC (5.º), CAB Madeira (6.º), Quinta dos Lombos (7.º) e CPN (8.º).
O favoritismo reinou em Esgueira e Ílhavo
Na sexta-feira, o Pavilhão do Clube do Povo de Esgueira e o Pavilhão Municipal Capitão Adriano Nordeste receberam os encontros dos Quartos de Final da Taça Federação, com o primeiro jogo a ser, de forma surpreendente, o mais equilibrado.
Em Ílhavo, o Sportiva bateu o conjunto do CPN por 59-57, num encontro em que o conjunto insular esteve a liderar por 19 pontos de vantagem (31-12), mas as comandadas de Agostinho Pinto deram uma excelente resposta, levando o atual líder do campeonato ao limite, numa clara demonstração da imprevisibilidade que vamos assistindo no basquetebol feminino em Portugal. Monique Pereira (Sportiva) foi uma das atletas em destaque (12pts, 14res), com a internacional venezuelana Genesis Rivera (CPN) a ser uma das impulsionadoras da luta da equipa de Ermesinde (24pts, 10res).
Já no duelo que principiou quinze minutos depois em Esgueira, foi a vez do Benfica garantir a passagem para as meias finais com uma vitória perante o Imortal, naquela que foi uma reedição da Final da Taça Federação da temporada passada. 75-54 foi o resultado final, num jogo que começou equilibrado, mas que no segundo quarto pendeu para a turma encarnada, com Keilanei Cooper (Benfica), em evidência nesta partida (28pts, 6/9 3P) e Sydne Wiggins (Imortal) a ser um farol de esperança para os algarvios (11pts).
De regresso ao Pavilhão Capitão Adriano Nordeste, o jogo entre GDESSA e Quinta dos Lombos pendeu para a equipa do Barreiro, que venceu por 76-48, vingando a derrota na Supertaça Feminina desta temporada frente ao conjunto de Carcavelos. Com uma história similar ao duelo entre Benfica e Imortal, o segundo quarto (parcial de 19-7) foi o momento chave para a vitória do GDESSA, numa contenda em que quatro jogadoras treinadas por André Martins marcaram dez ou mais pontos: Krystal Freeman (17pts), Maianca Umabano (17pts), Milica Ivanovic (15pts) e Márcia da Costa Robalo (13pts). Já do lado do Quinta dos Lombos, a atleta cubana Nahomis Hardy foi a voz do inconformismo (16pts).
No último jogo da noite, em Esgueira, o conjunto da casa bateu a turma madeirense do CAB por 79-60, com Trudy Walker-Benjamin (Esgueira) a destacar-se como a MVP da partida, com um duplo-duplo já habitual para a poste norte-americana (19pts, 12res). Lesila Finau, colega de Filipa Barros na Universidade de California Baptist na temporada passada, procurou ser a resposta aos problemas criados pelo CP Esgueira, mas não foi o suficiente para a equipa insular (13pts, 9res).
Entre as quatro candidatas, foi “ESSA” que sorriu no fim
Com as meias finais a colocarem frente a frente as quatro primeiras classificadas da Liga Betclic Feminina, o Pavilhão do Clube do Povo de Esgueira recebeu os restantes jogos da competição, com dois bilhetes para a Final a serem atribuídos no último sábado.
Na primeira meia final, o Sport Lisboa e Benfica, à procura da terceira conquista consecutiva da Taça Federação, venceu o União Sportiva por 65-54, num reflexo de uma equipa que se encontra mais perto do nível elevado que apresentou nas últimas épocas. Apesar de um início titubeante, com diversas lesões e alterações no plantel, as comandadas de Eugénio Rodrigues derrotaram o conjunto que, juntamente com o GDESSA, apresentava o maior grau de consistência ao longo da presente temporada, com a exibição de Marta Martins (17pts) a ser um dos pontos-chave da vitória do Benfica, bem acompanhada por Letícia Soares (13 pts) e Raphaella Monteiro (11pts), que chegaram recentemente ao clube encarnado. Audrey Warren procurava ser a resposta açoriana (10pts), mas não foi o suficiente para a turma insular atingir a Final da prova.
De seguida, foi a vez de GDESSA e CP Esgueira entrarem em ação, num duelo em que o público seria um fator de motivação extra para as jogadoras treinadas por André Janicas, mas uma entrada fortíssima do GDESSA alterou os planos da equipa da casa, com um parcial de 21-9 no primeiro quarto. No total, o conjunto do Barreiro marcou 14 triplos e venceu por 69-48, no encontro em que, mais uma vez, André Martins contou com diversas jogadoras a marcar dez ou mais pontos: Milica Ivanovic (17pts), Krystal Freeman (13pts), Maianca Umabano (12pts) e Joana Lopes (10pts). No Esgueira, Trudy Walker-Benjamin voltou ao seu duplo-duplo (20pts e 12 res) e Gabriela Raimundo (11pts, 8res, 4ast) procurou trazer alguma inspiração para uma equipa que é, cada vez mais, uma confirmação no principal escalão do basquetebol feminino em Portugal.
Eis que, depois de oito, sobravam duas equipas, as que lutaram pelo título de campeãs nacionais na época passada (vitória do GDESSA) e pela Taça Vítor Hugo deste ano, curiosamente também em Aveiro, no Pavilhão do Clube dos Galitos (vitória do Benfica).
Nesta “terceira” final entre GDESSA Barreiro e SL Benfica, o resultado final de 59-55 espelha as consequências de um jogo intenso, equilibrado, com momentos de tensão até ao último segundo. Com as “águias” a assumirem a liderança da partida durante grande parte do tempo do jogo, a vantagem nunca superou a casa das dezenas. No derradeiro quarto da contenda, um parcial de 17-8 favorável ao GDESSA foi o suficiente para o segunda Taça Federação da história deste clube, com a defesa coletiva e o sangue frio de Márcia da Costa Robalo, eleita jogadora da década de 2010 em Portugal, a serem fatores decisivos para o troféu chegar até à Escola Secundária de Santo André. A MVP do encontro foi Magdalena Szajtauer, que com treze ressaltos, um roubo de bola e dois desarmes de lançamento, foi sempre uma presença importante para a equipa de André Martins, com Isabela Jourdain (Benfica) a fazer um dos jogos mais consistentes pela camisola encarnada (16pts).
No final, a festa do GDESSA contrastava com a tristeza do Benfica, mas quem sorriu foram, novamente, os adeptos da competitividade, da imprevisibilidade e do nível dos jogos no “nosso” basquetebol feminino. A Taça Vítor Hugo (SL Benfica), Supertaça Feminina (Quinta dos Lombos) e a Taça Federação (GDESSA Barreiro) são bons pronúncios para os troféus que restam conquistar (Taça de Portugal e Liga Betclic Feminina), mas, para já, as celebrações pertencem a “ESSA”, que, entre oito equipas que deram tudo o que tinham, levaram para casa mais um momento que fica a eternidade.