Scouting report: Alex Sarr

por fev 10, 2024

O apetecível ‘big moderno’, a tenra idade, o perfil atlético trabalhável, a promessa ofensiva e a produção por minuto numa competição respeitável são bullet points que jogam todos a seu favor.

BIO

ANÁLISE DETALHADA

Atletismo

Atleta especial, na senda de outros prospects recentes, na maneira que conjuga grande mobilidade e fluidez com puro tamanho.

As medidas oficiais são 2.16 m com uma envergadura de 2.26m, que lhe permitem cobrir espaços num court de basquetebol como poucos conseguem. Tem umas pernas compridas, centro de gravidade alto, mas razoável força de core. É raro vê-lo perder o equilíbrio no espaço, o que é não é usual para este tipo de 4/5 longo.

Aliadas a estas medidas, estão as movement skills, com grande graça e fluidez a bailar, seja a deslizar este/oeste no espaço, a trocar de direcção/virar as ancas em ângulos difíceis, bem como a velocidade e muito boa aceleração de ponta em linha recta, que se evidencia bastante em transição. Tem um burst aceitável a sair do chão, especialmente fazendo a chamada a partir dos dois pés, mas mais do que o poder de impulsão, é a facilidade e rapidez com que sai do chão, em sucessivos saltos.  

Apesar da tape de 23/24 não ser madrasta nesse sentido, é evidentemente um jogador limitado no contacto físico. Não é especialmente largo, mas não lhe falta musculatura no ombros superiores. Posicionalmente, perde bastante na ausência de força nos membros inferiores.

Em termos de historial de lesões, tem lidado com uma lesão na anca que o deixou no estaleiro nas primeiras semanas do início do ano de 2024, depois de um escorregão num jogo da NBL. Fora disso, não existe um historial de lesões nos pés ou joelhos, que tendem a assolar jogadores com a fisionomia em questão.

Criação ofensiva

Big com um pacote de habilidades crescente. Num percentil mediano de desenvolvimento, é crível que venha a ser um bom closeout attacker/play finisher, possivelmente um criador ocasional a partir do elbow/perímetro, caso a sua curva evolutiva ultrapasse isso.

A maior parte da sua criação no perímetro vem de movimentos de penetração após a recepção, sendo raríssimo vê-lo a jogar no 1v1 em situações de halfcourt. Para alguém tão alto, tem um bom drible, confiante, criativo a conjugar múltiplos crossovers e atirar uns hop steps e spin moves pelo meio (adora spin moves). Esta destreza técnica, aliada ao first step longuíssimo, tornam-no alguém que facilmente bate o closeout e ultrapassa a primeira linha da defesa, colapsando o miolo. Quando lá chega, mostra o seu reportório de shotmaking, com fade Js, hop step jumpers e stepsides.

Sabe controlar o seu ritmo, mas não tem tanta confiança a atacar pela esquerda, e existe uma declarada tendência para iniciar a passada/pegar no drible demasiado longe do cesto. Decide mal a partir do momento em que a defesa colapsa em cima de si, e tem de substituir os jumpers contestados de meia distância por layups à volta do aro – em 28 posses de ‘catch and drive’, só 7 FGs foram layups. Para alguém tão grande e dotado, é um jogador pouco afirmativo, que protege mal a bola e se encolhe e precipita a jogar no meio das arvores, raras vezes atacando o peito do protector do cesto antes de finalizar.

É muito usado como DHO hub, e é aí que invariavelmente brilha. Sabe perfeitamente quando entregar (entendo o ângulo/timing do passe e do bloqueio), ou fingir o passe e meter a bola no chão, atacando o espaço interior com grande conforto de drible, fluidez corporal e agilidade. Emparelhá-lo a um ballhandler com pull up gravity pode ser um passo importante para desabrochar o seu pacote atacante.

É, acima de tudo, um projecto. Apenas produz 0.89 pontos por posse (PPP) neste tipo de situações ofensivas, mas a tape na Austrália é a de alguém que tem tijolos muito interessantes para construir qualquer coisa

A sua produção ofensiva no poste intermédio/poste baixo é praticamente inexistente – ao contrário do que acontece no perímetro, o treinador dos Wildcats raras vezes corre jogadas para Sarr receber a laranja enquadrado no interior.

Tendo em conta a fisionomia do francês, especialmente a falta de força de base, não é expectável que alguma vez venha a ser usado como criador (ou distribuidor) a partir do interior. É-lhe pouco natural procurar aninhar-se e oferecer linhas de passe. Mesmo que o faça, é-lhe difícil criar espaço no embate físico.

Das muitas poucas vezes que recebe em condições no poste baixo/intermédio, gosto da maneira como age rápido, virando sobre o pé pivot para encarar e atacar o defensor no drible, fazer o movimento inverso para o disparo à retaguarda ou, mais perto do cesto, subir para o hook. Não tem grande técnica neste tipo de ganchos, porém. Falta-lhe algum touch (mais sobre isto mais tarde), e o facto de ser atirado para aqui e acolá por defensores mais beefy faz com que facilmente perca o equilíbrio a subir para o layup, ou até o controlo do drible antes de subir para o lançamento em si.

Lançamento

Atirador inconsistente, que não tem os números para convencer avaliadores de que vai ter sucesso futuro, mas que apresenta uma confiança e versatilidade que abonam muito a seu favor.

Os números crus, como disse acima, não são entusiasmantes em termos daquilo que é o sucesso de conversão – 28.3% em 2.5 3s por jogo, 63 FT% em 2.6 tentativas. Se olharmos para 22/23, na Overtime Elite, as melhorias foram marginais – 25.5 3FG%, 66% em LLs.

Se partirmos os lançamentos em tipologias mais específicas, vemos que mesmo em triplos C&S, que são grande parte da sua dieta, e importante para a sua evolução e arquétipo como jogador, as %s estão apenas acima dos 30.

Catch and shoot 3s31.7% (41 FGAs)
Non-paint pull up jumpers23.5 % (17 FGAs)
Uncontested 3s36.4% (11 FGAs)

A mecânica, isolada, tem coisas boas – release point alto, bem rápido e difícil de contestar. Não tem o mínimo de hesitação em disparar no momento na recepção, o que, a meu ver, é sempre um bom indicador quando se está a tentar prever a progressão de um prospect com atirador. Alguém que se sente confortável a armar o lançamento, mesmo sem ser um especialista, vai sempre puxar o closeout e contribuir positivamente para o espaçamento ofensivo.

Ainda assim, existe alguma bizarria no disparo. Traz a bola bem abaixo e flecte o ombro direito para dentro no momento de armar o tiro, num ângulo pouco natural e que talvez lhe afecte a transferência de força para o disparo (ver imagem abaixo). Mete imensa mão esquerda na bola e trá-la bem acima da cabeça. Os pés também não são 100% consistentes e existe alguma consolidação a ser feita assim que chegue à NBA, para que se torne mais repetível.

Para um ‘futuro lançador’, tem um número muito considerável de falhanços feios (front rims, outros que nem tocam no aro) e o arco da bola muda muito de tentativa em tentativa.

A confiança que tem no J vai para além da ausência de hesitação no momento de armar o tiro, mede-se também na maneira como é experimental com tentativas off the drible. Tem grande facilidade e fluidez a transitar do drible para o tiro, quando está enquadrado, mas também com a base em desequilíbrio (a atacar com o ímpeto para a direita, em arranca-para, em marcha atrás). Como já tinha dito acima, adora atacar o closeout com um one-two fadeway pull up J.

Não me parece líquido que vá ser um atirador, dar-me-ia por satisfeito que estabilizasse como ‘bom o suficiente para espaçar decentemente’. Se a sua posição a longo prazo for a de 5, isso é mais do que ok.

QI e selecção de lançamento

Como finalizador de ataque assistido, entende claramente o seu papel e decide de acordo com isso, mas tem de trazer essa clareza de mente e tomada de decisão para quando tem oportunidade para criar com bola.

Essencialmente usado como roller/popper, no dunker spot ou em cortes, Sarr pisa os espaços certos, lê bem a defesa no momento do bloqueio e não perde tempo a finalizar, quando a oportunidade se apresenta. Raras vezes quebra o ritmo de jogo e não comete demasiado turnovers de decisão.

Traz essa mesma decisão e velocidade de execução, mas é um jogador mais falível no momento de atacar closeouts, onde demonstra uma paixão por finalizar grande parte das penetrações em drible com jumpers contestados na linha de lance livre que não é normal para alguém do tamanho dele. Mais do que mau processamento/’falta de inteligência’, talvez o problema seja técnico (desconforto com passadas curtas em drible) ou físico (falta de força para navegar o trânsito do pintado), mas má decisões são más decisões, independentemente da raiz da questão.

Abordarei no capítulo seguinte, mas nota positiva para a facilidade com que distribui a bola no meio-campo ofensivo. A visão e colocação de bola variam no sucesso, mas é um jogador que entende a defesa, ajudas e timings de passe.

Passe

Passador promissor, com flashes muito interessantes a distribuir como DHO hub, short roller e vector de transição.

Em termos técnicos, Sarr tem um perfil já bem avançado para um big de 18 anos. Há coisas muito boas a mencionar, nomeadamente a facilidade com que tenta e conecta passes a partir do drible vivo, com qualquer uma das mãos, não apenas os fáceis de tentar, mas também alguns de alta dificuldade e belo efeito, como este abaixo.

A sua altura é uma evidente vantagem e permite-lhe ‘ver por cima da defesa’ e ter linhas de passe que poucos têm à sua disposição. Contudo, nem tudo é bom na hora de executar, e Sarr falha vários passes onde simplesmente mete demasiada força na bola e compromete a precisão. 

Tal como na execução, Alex Sarr é inconsistente no que toca à visão de jogo e timing do passe. De grosso modo, quando joga enquadrado dentro de um ângulo de 180º, tem facilidade a encontrar os colegas, mas deixa muitos passes em cima da mesa quando joga de costas, o que não é necessariamente inesperado para um adolescente.

Muito por causa disto, o big dos Wildcats é um excelente passador no elbow (DHO, particularmente), misturando organicamente a ameaça da sua penetração em drible, a entrega e bloqueio para o ballhandler e o passe picado para as costas da defesa. Pesa todas as opções com muita agilidade de pensamento, lendo a intenção do colega e dos defensores directos deste two-man game. Com menos brilhantismo, mas também demonstra potencial no P&R, como short roll passer, e tornar-se-á ainda melhor quando as defesas respeitarem ainda mais a sua gravidade a afundar depois do bloqueio.

Onde claudica é a tentar distribuir no poste baixo/intermédio e como hub na linha de lance livre, onde as suas limitações a ver o jogo sobressaem um pouco mais.

Finalização

Uma das claras áreas a melhorar – Não é um bom finalizador à volta do cesto, o que é uma red flag para alguém que vai ter um papel muito de válvula de descompressão atacante nos primeiros tempos na liga.

Na teoria, as ferramentas físicas descritas no início deste texto são positivos, especialmente a rapidez do 1º e 2º salto, conjuntamente com a altura + envergadura. O burst vertical não é nada por aí além, e é um jogador que tem efectivas dificuldades a jogar na força/finalizar após contacto, mas aquilo que mais me preocupa com ele é a (falta de) qualidade das mãos – muitas, muitas vezes onde simplesmente perde a bola no momento da recepção, não sei se por má coordenação olhos/mão, se por fraqueza de mãos, mas é algo que acontece frequentemente.

Como mencionei no tweet acima, os números de finalização do pintado preocupam-me: 49% em tentativas de não-transição na NBL são valores baixíssimos, especialmente quando comparado com alguns prospects recentes de arquétipo semelhante. Poderíamos pensar que se trata de uma adaptação física de um jogador subdesenvolvido a uma liga mais possante, mas durante o verão, no Mundial U19, Sarr lançou 42% da mesma área contra competição da idade. Muitas vezes simplesmente não joga com a força e decisão que se lhe esperaria.

Também não me parece que tenha grande toque de bola à volta do vidro e há outras áreas de técnica fundamental onde pode melhorar, seja a desenvolver a mão esquerda, que mal-usa, ou simplesmente aprender a usar a off-hand para escudar as suas tentativas.

Algumas destas coisas são melhoráveis/contexto e o défice de força vs competição é algo que se trata na NBA, mas este arquétipo ofensivo costuma vir equipado com um chão mais alto do que aquilo que Sarr está preparado para oferecer, tendo em conta as dificuldades que acabei de enumerar, e que certamente não desaparecerão no primeiro embate na Association.

Ataque assistido/sem bola

Apesar das dificuldades a finalizar no pintado, peão extremamente útil como play finisher e bloqueador, muito devido ao tamanho/atletismo, inteligente ocupação de espaços e dinamismo com bola.

No P&R, Sarr tem potencial para ser um rim runner de grande qualidade. A sua altura, fluidez/velocidade a desbloquear e alargado raio de influência para receber passes abonam todos a seu favor. Para além disso, é, já hoje, o tipo de big que pode receber o passe 1-2 dribles antes do momento de rematar, dado o seu relativo conforto com bola.

Dito isto, não é um bom bloqueador, quase sempre aplicando ghost ou slip screens, que o ajudam a rollar cedo, mas que quase nunca permitem ao portador obter considerável separação. A má qualidade das mãos no momento da recepção também tende a atrasar o timing dos seus mergulhos e talvez ajude a explicar a infrequência com que é usado para finalizar P&Rs em Perth – apenas 19 posses na temporada 23/24, até à data, segundo o InStat, muitas vezes a partir de sets de 2-big horns que também não lhe facilitam o trabalho.

No P&P e no C&S, o sucesso do francês estará sempre associado à sua capacidade de se confirmar como um atirador confiável. Já escrutinei acima – a confiança e release point são indicadores positivos, tal como a facilidade que tem para ‘poppar’ para qualquer um dos lados e enquadrar a base com o aro no momento do tiro. A maneira como mescla as outras opções da posição da ameaça tripla, na altura da recepção, ajudam naquilo que Sarr pode ser como arma.

Mas onde Alex demonstra melhores números é como cutter e no dunker spot. O jovem poste paira sorrateiramente na linha de fundo e mostra inteligência e timing no momento de acompanhar a penetração e oferecer opções de passe na altura exacta, subindo para o afundanço com grande rapidez.

Também em transição, é Sarr uma peça muito perigosa, tendo na NBL a liberdade para ressaltar e iniciar posse. A sua passada larga, impecável velocidade de ponta, bom drible tornam-no extremamente perigoso, seja como trailing big, a fazer o leak out ou vestindo o papel de contra-ataque de um homem.

Ressalto

Apesar das claras dificuldades a jogar no contacto físico à volta do aro, acabo por sair agradado com aquilo que o vejo a fazer em jogo.

A falta de força e alto centro de gravidade são evidentes contras para aquilo que Sarr é e pode ser com ressaltador. Uma equipa que o escolha terá de estar preparada para sangrar na tabela defensiva, especialmente se o quiser tornar um poste a tempo inteiro.  Ainda é um pouco errático em termos de posicionamento, mas a capacidade para cobrir espaços em campo, a rapidez com que sai do chão no salto e o muito bom motor, incomum neste tipo de 4/5 mais fracos, são predicados valiosos para mascarar aquilo onde é mau.

Defesa individual

Tal como noutros capítulos, vou partir em várias coberturas de P&R, defesa no perímetro e no poste baixo.

É na defesa no P&R que está grande parte do dinheiro com Alex Sarr. Tamanho, agilidade, fundamentos.

A defender drop P&R, as características físicas do jovem poste são excelentes para negociar todos os pontos de pressão, ágil o suficiente para subir e tirar o pull up a nível do bloqueio, grande e longo para importunar tanto a meia distância como a tentativa no aro. Cada passada, seja lateral, seja em marcha-atrás é um hectare do court que Sarr come. A potencial escolha #1 é também muito ágil de ancas, o que lhe permite não descolar de mudanças bruscas de ritmo/direcção por parte do ballhandler. Mãos activas ajudam a complementar tudo isto.

Há coisas características da idade que não são boas, como a tendência que tem de se desposicionar ao subir demasiado perto do nível do bloqueio, várias vezes quase oferecendo uma troca ao adversário e colocando o seu parceiro de P&R em sarilhos contra postes. Também é apanhado muitas vezes em contrapé por encarar o portador com uma postura muito vertical e que o torna demasiado fácil de atacar a partir do drible.

Pick and roll handler0.65 PPP (23 FGAs)
Pick and roll roller1 PPP (14 FGAs)
Pick and pop0.64PPP (11 FGAs)

Para mim, onde Sarr é superlativo é em blitzes/traps e hedges. O coaching staff dos Perth Wildcats dá-lhe alguma liberdade e o francês usa-a para demonstrar toda a sua agressividade a subir acima do bloqueio e massacrar completamente o portador. Simplesmente demasiado grande, demasiado coordenado e fluido em áreas curtas e com uma envergadura que dinamita qualquer linha de passe. Também aqui, talvez um pouco agressivo a ficar com a acção e não retroceder para o homem, mas com a agilidade lateral e capacidade para recuperar espaço em backpedal, tem uma natural margem de manobra para voltar ao primeiro nível que quase ninguém tem.

Muitos destes predicados traduzem-se de forma positiva para momentos em que tem de trocar/defender 1 vs 1 no perímetro. Muito rápido a deslizar lateralmente em áreas curtas, fluido de ancas para mitigar mudanças de direcção. É um pouco ávido demais a ‘aceitar’ trocas e acaba por ter duelos individuais que não o favorecem nem ajudam a equipa. Tem uma tendência para oferecer meia passada à penetração em drible para depois se fiar nos braços para desarmar vindo de trás. Tem de fazer isto menos e conter e absorver no peito, há demasiadas ocasiões onde permite espaço e finalizam apesar da sua envergadura.

Tem sido protegido de defender no poste baixo, e justificadamente, porque as poucas vezes que teve de enfrentar postes ou extremos mais massudos, as dificuldades para aguentar posição tornam-se evidentes, especialmente com a falta de força de base que demonstra. É um dos pontos do jogo dele que terá de ter sido em conta em termos de construção de plantel para quem quer que o escolha, especialmente se for visto como um poste a longo prazo, que é a minha opinião.

Não é apenas um problema de força, muitas vezes batido por spins e moves de finesse por estar distraído ou fora de stance.

Defesa colectiva e protecção de cesto

A outra área onde o potencial de Alex Sarr deixa os scouts a salivar – a híper móvel protecção de cesto.

Para além da boa produtividade (7.7 Block rate %) numa liga física e de nível competitivo considerável, vale a pena voltar a repisar aquilo que são as suas ‘medidas cruas’ – 2.16 metros de altura, com uma envergadura de 2.26 em cima disso, um salto super-rápido e uma mobilidade/cobertura de espaço absurda. Tudo isto lhe permite chegar de X a Y com facilidade e, se necessário, jogar no erro como poucos podem.

Apesar de ter dificuldade a absorver carga de ombro no momento do contacto, o francês é uma presença realmente imponente a escudar o seu aro, não só a desarmar, mas também a demover tentativas. Ainda não tem a técnica de verticalidade e o timing do salto 100% afinados, mas evita fazer faltas.

Precisa de ser mais consistente noutros ‘fundamentos’ – confia demais no seu tamanho e por vezes sai do chão tarde demais para contestar, ou salta com a chamada feita pelo pé errado. Para além disso, tenta desarmar SEMPRE SEMPRE com a mão direita, algo que não só limita o seu impacto defensivo como me deixa perplexo. É demasiado talentoso para que o seu impacto seja menorizado por questiúnculas que pode trabalhar. Não pode ter momentos onde deixa que um base de 1.80 m finalize uma bandeja após penetrar em drible.

No geral, é super atento à penetração em drible e dá peel ao seu homem bastante cedo para vir conter no aro. Em cima disso, o facto de jogar minutos consideráveis a 4 na Austrália tem funcionado para a sua capacidade para ajudar a partir do canto. Mais uma vez, imensa cobertura de espaços mas também bom intelecto a antecipar ataque e ver o que está à sua frente.

Ponto final, paragrafo

Num ano manifestamente desinspirado em termos de qualidade de topo, Alex Sarr, entre lesões e fraca produção dos concorrentes, aproveitou para se começar a destacar como putativa escolha #1. E as razões estão à vista – o apetecível ‘big moderno’, a tenra idade, o perfil atlético trabalhável, a promessa ofensiva e a produção por minuto numa competição respeitável são bullet points que jogam todos a seu favor.

A tape está longe de estar livre de red flags – há demasiados momentos, tanto a proteger o seu aro como a atacar o pintado adversário, onde o impacto de Sarr passa estranhamente despercebido, o suficiente para que eu fique intranquilo. As raízes destes problemas são todas elas trabalháveis, e o francês tem o resto da temporada para dar continuidade áquilo que tem sido uma curva evolutiva interessante desde os primeiros tempos na Overtime Elite.

Ainda assim, e num plano mais filosófico, acredito que num draft tão ‘aplanado’, entende-se que as equipas talvez optem, mais do que em outros anos, por dar prioridade a prospects com um chão assegurado, de fácil encaixe para construção de plantel, ou com um programa evolutivo simplificado. Ora, com um draft populado por criadores ofensivos promissores, mas declaradamente imperfeitos, como Ron Holland e Nikola Topić, entendo bem que Sarr se destaque como alguém, por causa do arquétipo moderno e da natureza descomplicada e ready-made do seu perfil ofensivo, como aquele que melhor balança a promessa com a confiança. Se eu partilho dessa confiança? Ainda não o sei.

Autor

Nuno Soares

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