Todos sabemos que o LeBron está mesmo quase a ultrapassar Kareem Abdul-Jabbar no total de pontos marcados na carreira e certamente muitas linhas serão escritas – justificadamente – sobre esse feito completamente absurdo. Mas James fez algo recentemente que eu não sabia que estava na calha e me deixou ainda mais perplexo.
Ao marcar 46 pontos aos Clippers a 24 de Janeiro, LeBron James tornou-se o primeiro jogador da História da NBA a marcar 40 pontos ou mais num jogo a todas as 30 equipas na NBA. Nesse mesmo jogo, LeBron marcou nove triplos, o seu máximo de carreira. Com 38 anos, 20 temporadas e muitos, muitos quilómetros em cada perna, LeBron continua a arranjar forma de superar as já de si ridículas expetativas que tem tido desde que era apenas um adolescente.
Esta foi a 73.ª vez que superou a marca dos 40 pontos na temporada regular. Quando lhes juntamos as 28 vezes que o fez nos playoffs, chegamos ao nada redondo número de 101 – e não sei porque é estão a dizer que o meu OCD está prestes a expliodir por causa disso. Não sei de que estão a falar. Larguem-me.
Na entrada para esta época, era expectável uma regressão de LeBron. É perfeitamente natural que assim seja. Ele é um ser humano, não um super-herói. Mas às vezes engana. Sim, a capacidade atlética não está exatamente igual e, defensivamente, já não tem energia para marcar um adversário todo o campo, como antes, ou ser um terror ao pé do aro. Mas como pura máquina de ataque, James continua quase tão imparável como sempre.
Os 29.9 pontos de média são a sua 4.ª melhor de marca de sempre e LeBron junta a isto, ainda, 7 assistências e 8.5 ressaltos. O seu registo de 7.86 de real plus minus é o 4.º melhor na liga este ano – atrás apenas de Jayson Tatum, Nikola Jokić e Luka Dončić. Sim, o registo de vitórias e derrotas continua a não ser famoso (23-26, no momento em que vos escrevo este artigo), mas muito poucas dessas derrotas podem ser imputadas a LeBron. Na verdade, embora James esteja quase sempre em dúvida para jogar este ano devido a “ankle soreness”, a verdadeira razão dada pelo departamento médico deveria ser “hérnia nas costas”.
Depois de superar Kareem em total de pontos marcados, LeBron vai continuar certamente a aumentar a sua liderança e procurando outras novas metas ridículas para superar. O que ele está a fazer, com esta idade, não é normal. Se acho que vai continuar a lutar pelo título? Improvável, a não ser que o front office dos Lakers decida finalmente abrir os cordões às picks – e, mesmo assim, seria uma tarefa hercúlea. Mas isso pouco interessa agora. Teremos tempo de sobra para conversas de títulos e legados. Agora é o tempo de relaxar e apreciar o privilégio que é estar a ver história a acontecer à frente dos nossos olhos.
E sem fazerem trocadilhos idiotas com o nome dele, se não for pedir muito. Pessoas que se recusam a dizer o nome de jogadores sem fazer trocadilhos insultuosos são as piores. Simplesmente as piores.
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Inspirado pelos super-poderes de LeBron, deixo aqui então 5 grandes temporadas protagonizadas por jogadores com 35 anos ou mais (sem contar com o James, claro está):
Tim Duncan 2012-13 (36 anos, 16.ª temporada)
Se há jogador que poderíamos ter previsto que iria “envelhecer” bem, seria Tim Duncan, mas, ainda assim, não consigo deixar de destacar esta temporada. Com 36 anos, Duncan foi All-Star, nomeado para a All-NBA First Team e liderou os Spurs a mais umas finais. Provavelmente teria também amealhado mais um Finals MVP se tivesse sido campeão, mas a reviravolta épica dos Heat de LeBron mataram esse sonho. Mas viria a ter a sua vingança no ano seguinte.
Wilt Chamberlain 1971-72 (35 anos, 13.ª temporada)
Sim, nesta fase da sua carreira já não tinha os números absurdos que tinha nos seus primeiros anos na liga, mas é um sinal da sua excelência que médias de 14.8 pontos, 4 assistências e 19.2 ressaltos representem um declínio estatístico. Seja como for, Wilt continuava a ser um jogador absolutamente dominador e acabou por conquistar o seu segundo Finals MVP quando venceu o título pelos Los Angeles Lakers, na altura o mais velho de sempre a consegui-lo.
Karl Malone 1998-99 (35 anos, 14.ª temporada)
Depois da segunda derrota consecutiva contra os Chicago Bulls nas Finais, Karl Malone voltou determinado a mostrar o seu valor após a segunda “reforma” de Michael Jordan. A época foi peculiar – um lockout levou a que só começasse em Fevereiro – mas Malone liderou os Utah Jazz para o melhor registo da temporada – ex-aequo com os San Antonio Spurs. Pelo feito, conquistou o MVP, superando Wilt como o mais velho de sempre a erguer o troféu.
Michael Jordan 1997-98 (35 anos, 13.ª temporada)
Um ano antes de Karl Malone, Jordan conseguiu um feito ainda maior, com uma época em que não só conquistou o MVP da temporada regular, como se sagrou campeão pela 6.ª vez, arrecadando também o seu 6.º troféu de Finals MVP. E isto sem esquecer, claro, o famoso cesto contra os Utah Jazz com o qual confirmou o título. Só não está em primeiro nesta lista porque um dos critérios principais desta lista é a idade e, aí, há um líder incontestável.
Kareem Abdul-Jabbar 1984-85 (38 anos, 16.ª temporada)
Com 38 anos e 16 temporadas de NBA nas pernas – com muitas longas “runs” nos playoffs pelo meio – Kareem já não dominava como antes, mas, fruto de um regime de alimentação e exercício invulgar para a época, continuava a ser uma força quase imparável. Isso culminou no título de 1985, durante o qual o veterano se tornou Finals MVP pela segunda vez. Ainda conquistou mais dois títulos a seguir (5.º e 6.º da carreira), porque Kareem é um vampiro.
por PEDRO QUEDAS [@quedas]