A toxicidade do debate de MVP e 5 momentos da temporada que voam acima do veneno

por mar 17, 2023

Por norma, gosto de manter este espaço limpo de idiotices – excepto as que eu digo. Sou um ditador da minha própria verborreia. Nos meus artigos, esforço-me por destacar o positivo na liga, aquilo que nos faz celebrar, saltar da cadeira, as memórias que nos tornaram fãs em jovens e as futuras memórias que estamos a construir agora. Mas, infelizmente, um fenómeno recente motivou-me a quebrar, temporariamente, a minha própria regra.

Ao contrário de alguns anos recentes, em que a corrida ao MVP tem tido tendência a ficar decidida bem antes da temporada terminar, este ano tem-se tornado mais uma… corrida. Neste momento temos três grandes candidatos: Nikola Jokić, Joel Embiid e Giannis Antetokounmpo. Seria de esperar que isto fosse uma boa notícia, certo? Emoção, incerteza, debates. Não é isso que dizemos sempre que queremos? Mas, como de costume, a natureza humana tinha de estragar tudo.

Que fique bem claro. Eu compreendo que o desporto acende emoções. E que, por vezes, essa chama arde demais e descamba para a cegueira. Eu tendo a ser fundamentalmente contra essa forma de sentir o desporto, mas não nego aos outros o direito de assim o fazerem. Mas este ano está pior. Está mais desgarrado, mais cego, mais tóxico. Tornou-se uma versão basquetebolística dos debates Messi/Ronaldo, em que, invariavelmente, os fãs de um jogador passam mais tempo a insultar o outro que a elogiar o seu.

Para mal dos meus pecados, gosto de debater estas questões nas redes sociais. Gosto de ser exposto a perspetivas diferentes da minha e debater temas da NBA de uma forma tanto divertida quanto informativa. Isto é quase sempre difícil, mas recentemente tornou-se impossível. Os fãs do Embiid não param de dizer mal da defesa do Jokić, os fãs de Giannis questionam-se porque é que ele é imune a voter fatigue e os fãs de Jokić ficam defensivos e disparam para todos os lados.

Junta-se a isto a suprema idiotice de Kendrick Perkins, que achou que seria interessante adicionar um componente racial à questão – acusando a maioria dos membros dos media de votarem mais no Jokić por serem brancos –, e criou-se um nível de toxicidade insuportável. Especialmente irritante neste ponto é que ele não está remotamente interessado em ter um debate sério sobre a possibilidade de bias na votação. A única intenção dele foi gerar cliques, audiência, engagement. O que interessa se estamos a mexer num barril de pólvora sempre na iminência de explodir? Esse problema é dos outros. É de uma cobardia tal que ainda me irrita só de o escrever aqui, vários dias depois de ele o ter dito.

Quanto a quem deve vencer? Não tenho uma opinião firme, ainda. Acho que a corrida está apertada o suficiente para ir para qualquer um dos três – tanto em métricas analíticas como a nível de estatísticas brutas, sucesso em equipa ou importância de cada um dentro da equipa. Se a votação fechasse agora, provavelmente votaria Jokić, mas é um daqueles anos em que o argumento contrário é bastante forte também.

Mas façam esses argumentos com um mínimo de honestidade intelectual. A Humanidade perde mais alguns neurónios sempre que alguém argumenta que o Jokić não devia ganhar porque se outros sofreram pela resistência dos votantes em dar três MVPs de seguida, ele não deveria ser imune. Portanto, nesta lógica imbatível, se há um erro que tem sido cometido ao longo do tempo, a melhor solução é continuar a cometer esse erro, para não ofender a memória dos antigos lesados. Nem consigo exprimir bem a idiotice deste argumento. E em relação às questões de “porque é o Jokić é imune e não os outros?”. Não temos maneira de saber. Só vamos saber se isto é uma mudança de paradigma ou um caso isolado quando a situação se voltar a colocar com outro jogador, no futuro.

Mas claro que isso não vai impedir os fãs de continuarem a vomitar veneno sem filtro. Há quem ache este lado do desporto “divertido”. Eu não sou um deles.

***

Depois de um texto tão marcado pela negatividade, senti que precisava de algo para adoçar o palato. Assim, deixo-vos com uma seleção de alguns dos momentos mais “felizes” desta temporada:

“Light the beam!”

Quando a época começou e olhámos para a equipa dos Sacramento Kings, o potencial certamente estava lá. Domantas Sabonis é um excelente jogador ofensivo, De’Aaron Fox parecia rejuvenescido e ambos estavam rodeados de bons atiradores. Havia pelo menos a esperança de poderem quebrar o jejum dos playoffs mas, sendo os Kings… os Kings, a expetativa era que se fossem abaixo, mais tarde ou mais cedo. Mas isso não aconteceu. Os Kings têm o melhor ataque na liga e estão na luta pelo 2.º lugar na conferência, com um lugar nos playoffs essencialmente garantido. E o “light the beam” foi uma invenção inspirada. São, de longe, os campeões das “boas vibes”.

LeBron James bate recorde de pontos

A 7 de Fevereiro, num jogo contra os Oklahoma City Thunder, LeBron James ultrapassou finalmente o total de pontos de Kareem Abdul-Jabbar, um recorde que se pensava ser imbatível. Alguns dias antes, quando marcou 46 pontos aos Clippers a 24 de Janeiro, James tornou-se também o primeiro jogador da História da NBA a marcar 40 pontos ou mais num jogo a todas as 30 equipas na NBA. O LeBron é incrível e ter tido o privilégio de acompanhar toda a sua carreira deixa-me feliz.

Charles Barkley renova por 10 anos com a TNT

Com um contrato no valor de 100 milhões de dólares durante os próximos anos, Charles Barkley renovou como analista da TNT. Curiosamente, este valor é bem mais alto do que o total que o lendário jogador fez durante a carreira – cerca de 40 milhões. Eram tempos diferentes. Mas o que interesse é que vamos continuar com o Chuck nas nossas televisões, com a sua mistura interessante de boas posições sociais, análise inconsistente e grande sentido de humor. Todos precisamos do Chuck nas nossas vidas.

Mac McClung brilha no Dunk Contest

Com afundanço incrível seguido de afundaço incrível, Mac McClung trouxe uma injeção de entusiasmo de volta ao concurso de afundanços, para gáudio tanto dos espetadores como das estrelas presentes. Foi um momento de felicidade espontânea para McClung, que chegou ao concurso diretamente da G-League. Se salvou o concurso?  Não necessariamente. Já falei sobre isso num artigo anterior. Mas, pelo menos este ano, ficámos todos de barriga cheia.

Ke Huy Quan vence o Óscar

Na mais recente cerimónia dos Óscares, Ke Huy Quan venceu a estatueta de Melhor Ator Secundário, pelo seu excelente trabalho em “Everything Everywhere All At Once”. A vitória foi especialmente doce dado que, depois dos seus papéis icónicos em criança como Short Round, em “Indiana Jones And The Temple Of Doom”, e Data, em “The Goonies”, o ator viu-se afastado da indústria, devido a falta de papéis para atores asiáticos. A sua vitória foi ovacionada por inúmeros colegas em Hollywood e um dos momentos mais felizes do último Domingo. O que tem isto a ver com basket? Absolutamente nada. Mas eu também faço cobertura jornalística de cinema e fiquei tão contente com a vitória do Ke Huy Quan que não resisti a exprimi-lo aqui também. Deal with it.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

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