A esperança que não mata: a subtil melancolia de ser fã dos Magic

por mar 30, 2024

Tenho uma confissão a fazer. Tenho um hábito de consumo de entretenimento que não é necessariamente bem aceite pela sociedade. Eu gosto de ver… reações a filmes no YouTube. Sim, pessoas que não conheço a filmarem-se a ver filmes que eu já vi milhões de vezes e a comentarem sobre a experiência. Nunca conseguirei explicar bem porquê, mas é muito reconfortante. É o chocolate quente do YouTube.

Um dos filmes mais populares nestas reações é “The Shawshank Redemption”. Um clássico sobre ter ou não ter esperança, sobre o poder – ou terror – de ousar sonhar com um futuro melhor. A certa altura do filme, “Red” diz a Andy Dufresne que é perigoso ter esperança. Que a dor da realidade nos magoa ainda mais quando é precedida da possibilidade de algo mudar. É mais seguro, para a nossa estabilidade mental, simplesmente nunca assumir que algo vai correr bem. E porque estou a falar disto? Porque este filme profético descreveu na perfeição a subtil melancolia de ser fã dos Orlando Magic.

Ou pelo menos um fã mais veterano, como eu. Curtido por anos de desapontamento e temperado com raios de luz de competência. Vejo os fãs mais novos, ano após ano, a criar expectativas altas e a antever um regresso aos playoffs que nós, os mais velhos, sabemos que não vai acontecer. Mais vale estabelecer objetivos modestos e atingi-los do que passar época após época a arrancar os cabelos em frustração. É esta a lição que tentamos passar aos mais novos e tendemos a ter sempre razão. Excepto este ano.

No momento em que vos escrevo este texto, os Orlando Magic estão em 5.º lugar na Conferência Este, com um registo de 42 vitórias e 30 derrotas. Estão em boa posição para chegar diretamente aos playoffs sem ter de passar pela roleta do “play-in”, algo pelo qual teríamos dado graças, no arranque deste ano.

Uma das principais razões para esta ascensão tem sido o desenvolvimento acelerado de Paolo Banchero e Franz Wagner. Ou antes, o desenvolvimento continuado. Porque nenhum deles teve uma explosão assim tão destacada. Estão simplesmente melhores, Um pouco melhores. Melhores, acima de tudo, a jogar um com o outro. É uma química em construção que, não estando ainda perfeita, certamente está a caminhar na direção certa.

E se, no ataque, ainda há arestas a limar nesta equipa, onde não há nada a apontar é na defesa. Todos os jogadores, desde as maiores estrelas aos jogadores de banco que jogam pouco mais que 15 minutos por jogo, mostram uma entrega absolutamente incomparável, elevando os Magic à 3.ª melhor defesa em toda a liga, atrás apenas dos Timberwolves e dos Celtics. No ano passado, Orlando terminou a temporada em 18.º nesta métrica.

E como aconteceu isto? Tem sido, claramente, um esforço coletivo, pautado pela pressão na bola e pelo ataque constante nas tabelas, eliminando segundas oportunidades aos adversários. Um dos grandes porta-estandartes desta nova identidade dos Magic tem sido Jalen Suggs, um sério candidato a All-Defensive First Team este ano. Suggs é o clássico defensor incansável que mantém constante pressão no playmaker adversário e força turnovers com a sua agressividade. E sempre foi assim. Portanto, o que mudou?

Ironicamente, um dos maiores impulsos à sua ascensão como defensor tem sido a melhoria no ataque. Quando entrou na liga, o lançamento de Suggs estava uma desgraça tal que, por melhor que ele defendesse, não havia como mantê-lo em campo. Este ano, com uma percentagem no tiro exterior de 39,5%, Suggs tem tido mais minutos com os titulares, tem jogado mais nos grandes momentos. E o seu impacto tem sido incomparável.

Esta potencial regresso dos Magic aos playoffs será uma oportunidade de ouro para testar o valor destas novas jovens estrelas da equipa. Tentar perceber quem assume os grandes momentos e quem quebra perante a pressão. Perceber melhor em que rumo devemos continuar a crescer, especialmente no ataque. O veterano escaldado em mim quer dizer que é só para isso que esta experiência deve servir. Mas quem sabe? Nenhuma equipa na liga é totalmente desprovida de pontos fracos portanto… quem sabe? E se Banchero e Wagner derem mais um salto com os holofotes a brilhar? E se a defesa continuar a este nível, ou ainda melhor? Será assim tão descabido permitir-me o luxo de ter esperança?

“Remember, Red, hope is a good thing, maybe the best of things, and no good thing ever dies.”

Raios, quem é que disse isto? Deixem ir ao YouTube a ver se encontro lá a resposta. Prometo que não me distraio demasiado com vídeos de reações.

Autor

Pedro Quedas

Subscreva a nossa Newsletter