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Há mais de dois anos escrevi o meu primeiro texto neste espaço. O primeiro rookie da NBA nascido em solo português dava os primeiros passos pelos Kings. No caso, os Stockton Kings da G-League. Decidi então revisitar esse artigo e fazer uma pequena comparação com os dias de hoje. Neemias Queta já não é um rookie, mas continua a tentar encontrar o seu espaço na NBA. Algo que parece estar cada vez mais perto, nos Celtics com o melhor recorde da liga.
Defesa 1×1
Inicio esta análise do jogador que é Neemias Queta hoje em dia pelo lado defensivo. Há um claro desenvolvimento muscular do poste português nos últimos anos. E se isso lhe permite aguentar melhor o choque e os confrontos interiores, acabou por lhe tirar alguma mobilidade. Neemias é o jogador dos Celtics que mais pontos por posse de bola permite aos adversários no um contra um – 1.60. Não é com muita frequência que se encontra nessa posição, mas em situações em que tem de trocar e ficar com um base mais técnico e capaz de criar com bola, o português sofre devido ao espaço que tem de dar. O desenvolvimento físico a que tem sido sujeito ajuda também a explicar os números, para alguém que se tem de ir habituando a um corpo “novo”.
Por outro lado, a defender extremos ou bases mais físicos e menos capazes tecnicamente, Neemias Queta vai mostrando mais facilidade na defesa de perímetro. Em situações em que o atacante não vai “dançar” à sua frente, mas sim tentar atacar o cesto ou lançar imediatamente, o português é bem mais capaz de manter a sua posição, reagir a uma finta ou mudança de direção e manter a sua posição.
Defesa do bloqueio direto
Alguns dos mesmos problemas são visíveis na defesa ao bloqueio direto. Queta é também o jogador da equipa de Boston que mais pontos por posse permite ao portador da bola em bloqueio direto – 1.18 PPP. Muitas vezes a defender em drop, Neemias acaba por dar espaço a quem tem bola para finalizar com um lançamento exterior. Por outro lado, Neemias Queta é o terceiro jogador que sofre menos pontos por posse como defensor quando o finalizador é o bloqueador, sendo o jogador que mais vezes está envolvido nessas ações.
Neemias é também dos jogadores que mais turnovers força no bloqueio direto, principalmente ao bloqueador, devido à sua capacidade de recuperação. Contém o jogador com bola e regressa rapidamente ao seu jogador, principalmente quando este rola para o cesto.
Cobertura do espaço
Cada vez mais importante para um poste na NBA, a cobertura do maior espaço possível ajuda uma defesa a ter mais jogadores perto da bola e ser capaz de reagir a mudanças da mesma. Embora um pouco menos móvel, Neemias consegue oferecer essa cobertura por ter, apesar de tudo, mais mobilidade que outros postes mais pesados, uma envergadura interessante e um melhor conhecimento do jogo. Um pouco à imagem daquilo que Robert Williams oferecia aos Celtics.
Proteção do cesto
Com 0.4 desarmes de lançamento e apenas 13.6 minutos de média por jogo, o rácio de Neemias é intrigante. Mas a defesa de cesto é bem mais que desarmes de lançamento e, embora o português permita a concretização de 60% dos lançamentos feitos perto do cesto, a verdade é que também só permite 5.5 lançamentos nessa zona por jogo. Mais do que um jogador que desarma lançamentos, a paciência, tempo de salto e tamanho de Neemias retira muitas vezes aos adversários a possibilidade e até a vontade de lançar perto do cesto.
Ressaltos ofensivos
Do lado ofensivo, seria de esperar uma redução de responsabilidades com bola comparado àquilo que vimos Neemias fazer na universidade de Utah State e até pelos Stockton Kings. Principalmente quando é colocado numa equipa como os Boston Celtics. Queta é hoje em dia um rim runner, responsável por bloquear e rodar para o cesto onde pode receber a bola para finalizar ou atacar o ressalto após lançamentos falhados. Neemias é, aliás, o melhor ressaltador ofensivo dos Celtics, com dois ressaltos por jogo, mesmo sendo o poste com menos minutos. E chega a esse ponto pelo trabalho que coloca mal um lançamento está a ser preparado.
Passe
Mesmo assim, há bola para Neemias Queta tentar encontrar os colegas. A facilidade de passe no poste alto já vinha de Utah State e os Celtics certamente sabem que o português tem essa capacidade e usam-na por vezes. Com leitura rápida com a bola na mão, é sempre inteligente colocar jogadores à volta de Neemias que consigam cortar e fugir à defesa, seja para conseguirem a bola ou abrir espaço para os colegas.
Finalização
É raro ver um lançamento fora da zona do pintado por parte de Neemias Queta nesta altura da carreira e o gráfico mostra isso mesmo. A maioria dos lançamentos surge a partir de passe para finalização imediata debaixo do cesto, daí Neemias ser o segundo jogador com mais eficácia dos Celtics (atrás de Kornet), embora com mais tentativas de lançamento que Kornet.
Quando pressionado, Queta opta muitas vezes pelo gancho, que ainda não é um lançamento que o deixa totalmente confortável, especialmente com a mão esquerda. Foge um pouco do defesa e deixa a mão secundária sair da bola demasiado cedo, o que dificulta a ação de lançamento. Ao atacar o defesa, ganhará espaço, ficará mais perto do cesto e será, certamente, mais eficiente.
Neemias é já um dos melhores bloqueadores da equipa dos Celtics. Com bloqueios fortes – o tal trabalho físico ajuda – e bem estabelecidos, o poste consegue espaço para os portadores da bola atacarem. Logo aí os Celtics ganham vantagem e criam oportunidades em dois contra um. Quando o defensor se compromete com o portador e com os atiradores de Boston a espaçar o campo, acaba por sobrar muito espaço para encontrar Neemias em alley-oops. É um excelente alvo para passes altos, com bom raio para apanhar a bola, o que o torna num excelente jogador para encontrar após bloqueios diretos.
Em ocasiões em que a defesa tira essa possibilidade, abre-se espaço a meio da área pintada. Gosto muito do push shot de Neemias Queta. Pronto a subir mal recebe a bola, parece sempre confortável a subir para o cesto da zona à volta da meia lua, com bom toque perto do cesto. Uma boa arma para Queta ter frente a postes que acabam por fechar um pouco mais a zona próxima do cesto.
Há claramente um Neemias Queta diferente daquele que se estreou na NBA em 2021 e ainda mais daquele que saiu de Utah State. A proteção de cesto continua lá e a finalização perto do cesto também. Porém, com o trabalho muscular realizado, Neemias é hoje em dia um jogador mais preparado para o contacto físico e menos para a defesa versátil constante no perímetro. Ofensivamente, as responsabilidades diminuíram, mas a especialização fará bem ao português. Com a temporada a correr bem em Boston, será de esperar que Queta se mantenha por Massachusetts por algum tempo.
