Acordei com aquela vontade de arranjar todas as desculpas para ficar. Mas quero ir, quero perseguir o sonho, quero mostrar a mim própria do que sou capaz, quero saber até onde posso chegar.
Tinha acabado de chegar da Seleção Nacional, estava muito cansada após uma viagem de 30 horas que me trouxe de Telavive a Prince George, mas com muita vontade de jogar e ajudar a equipa a manter a liderança na conferência Canada West. Defrontámos os Timberwolves e ganhamos o primeiro jogo com alguma facilidade, joguei 20 minutos e contribuí com 19 pontos, 3 assistências e 6 roubos de bola (melhor exibição da época até agora). Pensei: “Afinal não estava assim tão cansada e com o jet lag…”
No dia seguinte percebi o quanto estava errada. Estive em campo treze minutos, quase não conseguia correr e muito menos jogar. Perdemos o jogo, perdemos a liderança e, no final, sentia-me muito mal, física e emocionalmente. No amargo da primeira derrota da época também senti no olhar das minhas colegas que, naquele momento, eu tinha falhado.
A derrota também serviu para mostrar à equipa que era preciso continuar a trabalhar e foi o que fizemos durante toda a semana que antecedeu a receção ao líder, os Horns de Lethbridge. Vencemos ambas as partidas e consegui voltar ao meu nível . Embaladas pelas boas exibições em casa e superada a derrota, deslocámo-nos a Vancouver para defrontar os Thunderbirds e somámos mais duas vitórias.
Estávamos no início de Dezembro, o Campeonato regista uma pausa e começa a época dos exames, vem aí o stress dos exames e depois as férias de Natal. Primeiro, três semanas de noites mal dormidas, refeições mal amanhadas e muitos nervos. No Canadá, os estudantes nacionais necessitam de obter média superior a 80% e os internacionais de 65% para poderem continuar a competir, e esta regra é mesmo levada a sério. Tenho na equipa uma jogadora da seleção canadiana que está impedida de jogar esta época por ter concluído o ano anterior com média inferior à necessária.
Depois dos exames, as notas, felizmente boas, mas o melhor estava para chegar. É dia 20 de Dezembro e vou começar a preparar a mala para o regresso a Portugal, no dia seguinte. Na bagagem, trago todas as emoções do primeiro semestre, mas também as muitas saudades de casa. No regresso, o reencontro com a família, com os amigos, e com a luminosidade ímpar e temperatura amena que contrastam com os 35 graus negativos que deixei em Regina.
Mais uma vez, foi tudo muito rápido. Por entre as iguarias e o bacalhau, próprios do Natal, revisitar os amigos e a família e cumprir o plano de treinos que me foi incumbido, o final do ano aproximou-se, vertiginosamente. Assim, no dia 31 Dezembro, ao ver o sol caminhar para Oeste, pela última vez em 2017, foram muitas e boas as imagens que revi. À noite, com o fogo de artifício como pano de fundo sobre a praia de Albufeira, Adeus 2017 – que bom foste para mim, Olá 2018 – desejo que tragas saúde e sucesso a TODOS.
E chegou a hora do adeus a Portugal para viajar de novo até ao Canadá. Acordei, na manhã do dia 3 Janeiro, com aquela vontade de arranjar todas as desculpas para ficar. Mas quero ir, quero perseguir o sonho, quero mostrar a mim própria do que sou capaz, quero saber até onde posso chegar. Num ápice, estou no aeroporto e tenho a primeira surpresa: vou na SATA e é a minha amiga Paula que vai liderar a tripulação de cabine. A viagem foi um espetáculo, mudaram-me para a 1.ª classe, depois convidaram-me para o cockpit, onde assisti à descolagem e à aterragem em Toronto. Foram todos excecionais e estou muito agradecida pela extraordinárias experiências que me proporcionaram a bordo. Estava tão radiante como o sol que atravessava as janelas do cockpit.
Tenho a certeza de que não haveria melhor forma de deixar Portugal e voar até ao Canadá. Mais certeza tive quando cheguei a Regina e a companhia Canadiana que me transportou desde Toronto perdeu a minha mala e deixou-me, literalmente, sem roupa, sem sapatos, nada. Foi chegar e ir às compras, com 35 graus negativos. Sem dúvida que posso afirmar que cheguei “fresquinha” e com muita vontade de recomeçar.
por CAROLINA GONÇALVES