O dia 27 de dezembro de 2019 ficará marcado na memória de Chandler Parsons, mesmo que tenha passado despercebido para a maioria dos seguidores da NBA. Foi nesse dia que, em Atlanta, numa partida frente aos Milwaukee Bucks, Parsons jogou os últimos dez minutos na NBA. Numa temporada marcada por lesões, incapaz de fazer dois jogos consecutivos, Parsons lutava para dar uma boa imagem de líder de balneário, de forma a conseguir ter propostas no mercado de free agents do verão seguinte. No entanto, em janeiro de 2020, envolvido num acidente com um condutor embriagado quando regressava a casa, Parsons sofreu várias lesões que não mais o permitirão ser profissional de basquetebol. O anúncio foi feito esta semana e levou-nos todos a lembrar-nos de que nos tínhamos esquecido dele.
Será injusto que Chandler Parsons seja recordado por episódios negativos. As lesões que marcaram a sua carreira, o acidente onde acabou envolvido, o progressivo esquecimento, um contrato elevadíssimo que nunca conseguiu cumprir à altura com os Memphis Grizzlies. Numa entrevista, ainda antes do acidente, Parsons perguntava quem, no seu perfeito juízo, recusaria uma proposta daquelas? Ao lançar a questão, Parsons fazia apenas o apelo humano que qualquer figura pública faria, ao pedir para que nos coloquemos no seu lugar. Mas hoje já ninguém quer ser Chandler Parsons.
Com uma carreira universitária nos Florida Gators, orientado por Billy Donovan, fechada com chave de ouro com o reconhecimento de jogador do ano da Conferência SEC, Chandler Parsons entrou pela porta pequena na NBA, como escolha da segunda ronda dos Houston Rockets, num ano marcado pelo lockout da liga. Isso permitiu-lhe uma curta passagem pelos franceses do Cholet antes de se estrear com os texanos. Numa equipa construída à volta de James Harden, Chandler Parsons foi a segunda figura em duas épocas consecutivas, primeiro com a ajuda de Jeremy Lin, depois já com Dwight Howard na equipa. Duas presenças nos playoffs e uma saída para os Dallas Mavericks no final do contrato.
Em Dallas, os problemas físicos complicaram bastante a vida de um excelente lançador que, pela sua compleição física, conseguia somar números debaixo do cesto e mostrar um bom entendimento do jogo. As lesões foram sendo disfarçadas com a sua capacidade de contribuir para uma equipa que vivia a ressaca do título e assistia ao envelhecimento do seu núcleo duro. No entanto, não deixou de ser surpreendente que, em 2016, os Memphis Grizzlies lhe oferecessem um contrato de 94 milhões de dólares pelo qual ele dificilmente poderia responder. Não respondeu. As lesões foram-se sucedendo e Parsons transformou-se num peso para uma equipa que transportou para o jogador o peso do erro cometido.
Esta semana voltamos a lembrar Chandler Parsons não por aquilo que ele não alcançou, mas pelo jogador que foi. Para outros sonhos deixaremos a reflexão do jogador que poderia ter sido. O passar do tempo levou-o a instalar-se na Califórnia e será aí que planeará viver o resto dos seus dias. Antes do acidente que sofreu, os seus planos incluíam transformar-se numa referência e num exemplo para jovens jogadores, através de campos de verão e bons conselhos. Que isso não se tenha perdido pelo sofrimento destes últimos anos. O melhor Chandler Parsons, mesmo longe do objetivo, sempre foi homem de acertar.
LUÍS CRISTÓVÃO [@luis_cristovao]