Domantas Sabonis e a invasão europeia da NBA

por mar 16, 2024

Por motivos pouco sérios que pouco ou nada têm a ver com os meus “deveres” de analista da NBA – é por causa de fantasy, é sempre por causa de fantasy – tenho acompanhado de perto a temporada de Domantas Sabonis e notei que é estranho quão rapidamente nos conseguimos habituar à presença de  excelência discreta. Sabonis não faz afundanços espetaculares e mal dispara do exterior. E é um dos melhores jogadores em toda a NBA.

Desde que entrou na liga, o filho do lendário Arvydas Sabonis tem evoluído consistentemente as suas habilidades. Desde que se tornou All-Star em Indiana, tem-se revelado uma máquina de ressaltos e mostrado uma capacidade de passe da posição de poste que só superada por Nikola Jokic. Para efeitos de referência, no ano passado, Sabonis ficou em 7.º nas votações de MVP depois de ter terminado a época com médias de 19.1 pontos, 12.3 ressaltos e 7.3 ressaltos e ter liderado os Kings a um registo de 48 vitórias e 34 derrotas, terminando em 3.º lugar na Conferência Oeste.

Este ano, bizarramente, está a jogar ainda melhor. As médias subiram para 20.1/13.6/8.4 (à data da escrita deste artigo) e os Kings continuam a jogar tão bem como no ano passado. Apesar de estarem em 6.º na conferência, o rácio de vitórias e derrotas é exatamente o mesmo. O que se nota, na verdade, é um cada vez maior conforto dos Kings é montar a sua estratégia em volta do que Sabonis faz bem – que é lutar debaixo do cesto e manter os olhos sempre abertos para uma oportunidade de passe. De’Aaron Fox pode ser a faísca que eleva Sacramento nos grandes momentos, mas Sabonis é o motor que os mantém na corridas. O talento lituano é apenas um de muitos exemplos da injeção de talento europeu na NBA que se tem registado nos últimos anos.

A “invasão europeia” da NBA já é, mais do que apenas uma “ameaça”, uma realidade incontornável. Basta olhar para os vários prémios que serão entregues no final da temporada e ponderar quem são os favoritos para compreender esta realidade. Nikola Jokic é o favorito destacada para conquistar o seu terceiro MVP. Um dos principais rivais à conquista do troféu este ano? Luka Doncic. Que, diga-se, deverá também terminar a temporada com a distinção de melhor marcador.

Olhando para os outros prémios, a coisa mantém-se muito semelhante. O Defensive Player of the Year também aparenta estar essencialmente entregue ao pilar defensivo da melhor equipa defensiva na NBA: os Minnesota Timberwolves. Curiosamente – e para grande desgosto da diarreia de pássaro em formato humano que é o Gilbert Arenas –, outro europeu: Rudy Gobert, que deverá igualar Dikembe Mutombo e Ben Wallace com 4 DPOYs.

O mesmo acontece com o Rookie do Ano. Depois de um pequeno “flirt” com Chet Holmgren, os votantes não deverão poder escapar à realidade do absurdo que é Victor Wembanyama. E já se tornou bastante óbvio que este poderá estar na luta pelos dois prémios acima mencionados a relativo curto prazo. Só em Most Improved é que não há um europeu na luta. E mesmo assim, é importante não esquecer que quem ganhou o ano passado foi Lauri Markkanen.

Acima de tudo, é importante que a NBA – e os seus antigos jogadores e media – compreendam que a internacionalização da liga está cimentada. Deixou de ser uma escolha ou decisão estratégica. É, agora, um facto incontornável. E o que é interessante de notar, também, é que estes novos talentos não se encaixam apenas no modelo estereotipado do jogadores com good fundamentals. Espécimes menos atléticos que se safam porque são mais “inteligentes” e estratégicos a jogar. Rudy Gobert domina, em grande parte, devido ao seu corpo. Tal como Giannis Antetokounmpo e Victor Wembanyama, de formas drasticamente diferentes. Até Lauri Markkanen, não obstante o seu aspeto quase comicamente “cliché” do protótipo de um jogador europeu, destaca-se, acima de tudo, pelo modo como usa o atleticismo para marcar de uma forma ultra-eficiente que não se podia adaptar melhor à NBA moderna.

Nós, europeus, já sabíamos que era apenas uma questão de tempo até isto começar a acontecer. Para os americanos, parece que ainda falta um pouco para a poeira assentar. Esperemos que não demorem muito mais tempo, que a vida é muito mais divertida deste lado.

Autor

Pedro Quedas

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