Um dos melhores bases desta era regressa de lesão igual a si próprio… mais ou menos.
2022 foi um ano complicado para Damian Lillard: Perdeu grande parte da época passada por lesão e, no pouco que vimos, não parecia o jogador de alto nível a que estávamos habituados. Começou novamente esta época com altos e baixos a nível da sua durabilidade e participou apenas em 11 dos primeiros 23 jogos da equipa.
Mas os Trail Blazers nunca pararam de reconstruir o grupo à sua volta e a contar com o seu impacto e “Dame” parece finalmente estar numa posição de corresponder de novo às pesadas expectativas. Nos quatro jogos que disputou desde o seu mais recente regresso, está a registar uma média de 33.8 pontos por jogo e está com um total de 28/55 (50.09%) em tentativas para lá da linha de três pontos.
O ponto de exclamação foi na noite de segunda-feira, onde Lillard capturou novamente a atenção do mundo do basquetebol. No que se revela mais um golpe numa fase dura dos Timberwolves, não foi necessário ao base atingir a meia-hora de tempo pessoal em jogo para completar 11 lançamentos de três pontos em apenas 17 tentativas.
Quando palavras não fazem justiça, mais vale mostrar:
Mas vendo estas imagens e maravilhando-nos com o talento demonstrado, a segunda coisa que se destaca é quantos destes lançamentos ocorrem directamente após um passe de um companheiro de equipa. Especialmente conhecendo o histórico de quem estamos a falar aqui.
Não é novidade que Lillard possui a habilidade de ser uma ameaça para um “tiro certeiro” a qualquer distância do cesto. Como um dos melhores artistas de longe da história da liga, esta noite solidificou Lillard com o seu 4.º jogo com mais de 10 triplos concretizados – uma marca apenas superada pelos Splash Brothers, Klay Thompson (6 jogos) e Stephen Curry (vinte e d-… espera, o quê?… Sim, 22 jogos.)
Mas se o par de jogadores que fez carreira em Golden State sempre existiu num ambiente desenhado para colocar a bola nas suas mãos já com uma abertura de lançamento, Lillard sempre teve de trabalhar muito mais com o próprio drible. A dependência de jogar em pick and roll tradicional ou em um contra um não é necessariamente problemática quando um jogador é tão talentoso nessas ações, mas certamente é um motivo pelo qual Lillard tem uma distância média de triplos muito superior à dos outros grandes shooters. É um problema exacerbado para um jogador mais pequeno, que precisa de criar mais espaço para libertar o lançamento.
Distância média (ft) | |
Trae Young | 27.71 |
Damian Lillard | 27.40 |
Stephen Curry | 27.26 |
Kevin Durant | 26.03 |
Kyrie Irving | 26.03 |
Buddy Hield | 25.53 |
Klay Thompson | 25.08 |
E durante estes anos era justo dizer que tanto Young como Lillard se destacavam como jogadores que monopolizam bastante a bola e que pareciam até ter uma aversão a se movimentarem e a explorar espaços vazios quando sem ela.
No entanto, os ventos em Portland parecem estar a mudar.
Era preciso criar um contexto no qual Damian estivesse confortável em ceder mais o controlo do ataque e o plantel encontra-se repleto de jogadores que conseguem controlar acções ofensivas e colocar pressão na defesa. São exemplos Josh Hart, Jerami Grant e, particularmente, Anfernee Simons. A capacidade de Simons de ele próprio ser uma ameaça em pick and roll e um foco de atenção permite a Lillard dedicar-se a aproveitar qualquer abertura momentânea.
Outra forma como Lillard consegue mais uns lançamentos rápidos e com ritmo é agindo como trailer na transição ofensiva. Hart, Simons, Winslow e Grant são todos jogadores atléticos e que procuram rapidamente tornar uma jogada defensiva num cesto imediato, antes que a oposição se consiga repor posicionalmente. E como a reacção natural de uma defesa nestes ataques rápidos é proteger o interior, o Dame pode “ficar para trás” e deslizar para uma abertura no perímetro. Quando um adversário percebe que o jogador que parou de correr na linha é um dos melhores shooters de sempre, provavelmente já é tarde demais.
Os números da época actual de Lillard reflectem esta disponibilidade para acções longe da bola. O site da NBA separa os lançamentos triplos feitos directamente após o drible (pull up) ou lançamentos efectuados no seguimento de receber um passe (catch and shoot). Olhando para as últimas cinco épocas:
Época | Pull up por jogo | Catch & shoot por jogo |
2018-19 | 5.3 | 2.5 |
2019-20 | 7.6 | 2.2 |
2020-21 | 8.1 | 2.3 |
2021-22 | 7.1 | 2.5 |
2022-23 | 6.2 | 4.7 |
E olhando para a frequência das acções finalizadas por Lillard que são mais baseadas em movimento do jogador sem bola comparando com a sua habitual estratégia de pick and roll, as tendências apontam no mesmo sentido:
2018-19 | 2019-20 | 2020-21 | 2021-22 | 2022-23 | |
Pick and Roll | 44.7% | 51.7% | 46.3% | 41% | 34.8% |
Spot Up | 5.2% | 5% | 5.2% | 8.4% | 7.7% |
Off-Screens | 5.4% | 3.1% | 4% | 6.6% | 9.5% |
Transição | 10.9% | 9.7% | 9% | 10.5% | 11.6% |
Isto não quer dizer que estamos a ver um jogador completamente novo. A nova disponibilidade para deixar a bola encontrá-la no rumo do ataque é notável, mas Lillard é, e será sempre, alguém que brilha ao gerar pontos por si próprio em qualquer contexto: Na actual época, Lillard está em 11.º na NBA nos jogadores com mais utilização em pick and rolls e em 6.º se estivermos a falar de isolation (um contra um). Mais importante ainda é que está no 82º e 91º percentil de eficácia, respectivamente, em cada uma – uma força de ataque como poucas outras.
Portland pode continuar um caminho de diversificação ofensiva no rumo ao “pós-heliocentrismo” da sua estrela. Mas a região do Pacific Northwest American estará sempre a acertar os relógios de acordo com “Dame time”.
por MARTIM PARDAL [@MEmpire25]