Os ganhos pós-lotaria

por dez 25, 2023

Os primeiros meses de temporada são habitualmente uma altura de aprendizagem e habituação para um rookie. Numa classe de qualidade superlativa no topo, Victor Wembanyama e Chet Holmgren têm dividido as atenções de jornalistas, comentadores e adeptos. Mas há vida para além dos dois principais candidatos a rookie do ano. Especialmente para quem foi escolhido depois da lotaria, provando o seu valor cedo na nova época.

Craig Porter Jr.

Começamos até por quem acabou por não ser escolhido. Craig Porter Jr. é um desconhecido para o adepto comum da NBA, mas tem sido um dos mais utilizados nos Cavaliers, principalmente com os problemas na rotação exterior da equipa de Cleveland. Com a lesão de Darius Garland, Porter Jr. deverá voltar a ter o destaque que teve quando Donovan Mitchell esteve de fora.

Um jogador com excelentes capacidades para chegar ao cesto, explosão e verticalidade, Porter impressiona também pela sua capacidade para aguentar cargas na altura de finalizar e manter-se focado na concretização. É um jogador que cria muito a partir do drible – mais de 60% dos seus lançamentos são não-assistidos, segunda melhor marca entre rookies – e não tem problema nenhum em assumir a batuta. Marca 1.34 pontos por posse a partir do bloqueio direto, com uma quantidade baixíssima de turnovers. Usa a sua velocidade para chegar ao pintado, sendo um dos melhores novatos a finalizar perto do cesto. Tem um drible baixo e controlado, um baixo centro de gravidade e é muito bom a aproveitar ocasiões de contra-ataque, tornando a defesa em ataque numa questão de segundos. 

Porter Jr. é um base com uma boa visão de jogo, capaz de punir defensores adormecidos. Terceiro entre rookies em assistências, ele descobre colegas a partir de ações rápidas, usualmente a partir do topo. Sendo um jogador que ataca o cesto com intenção de marcar, as suas assistências surgem habitualmente do perímetro, com tempo para ver o campo e encontrar a melhor opção de passe.

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Keyonte George

Irreverente e imprevisível, Keyonte George encontrou espaço na rotação dos Utah Jazz e assume-se como um nome a ter em conta no backcourt da equipa de Will Hardy. Capaz de executar rápidas mudanças de direção, George deixa o seu defensor para trás mantendo-se próximo do chão e usando o seu copo como um escudo. Tem a capacidade de parar a sua corrida num pequeno momento, o que ajuda a conquistar espaço para finalizar. É um dos melhores rookies a aproveitar erros ofensivos do adversário para marcar do outro lado e é um promissor marcador de pontos de todos os sítios do campo – 10.9 pontos por jogo, quinto entre rookies.

O jogador com mais assistências da sua classe até agora, Keyonte impressiona pelas leituras rápidas e algum estilo colocado nas suas entregas. Com cinco assistências por jogo, Hardy confia na 16ª escolha do draft para organizar a sua equipa e colocar os colegas na melhor posição para marcar. Encontra pequenos espaços na defesa para colocar a bola e entende o melhor timing para fazer o passe. Consegue também manter o ataque num bom ritmo, fazendo a bola rodar de um lado ao outro. Aliás, apesar das suas assistências darem nas vistas, a grande maioria delas são passes simples no seguimento de um ataque, que mantêm a bola a rodar e encontram a melhor opção disponível, sem grande necessidade de um exibicionismo extra.

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Jaime Jaquez Jr.

Muito se criticou a escolha dos Heat no draft passado, com muitos analistas a colocarem Jaquez bem abaixo do 18º lugar onde foi escolhido – uma grande parte deles, na segunda ronda. A verdade é que, se havia um claro Heat player naquela classe, Jaime tinha claramente de fazer parte da lista. E o extremo de origem mexicana tem excedido expectativas, jogando como alguém que já está na NBA há anos.

Ofensivamente, Erik Spoelstra já confia no jovem para criar, seja a partir do poste ou bloqueio direto. Sem esquecer as leituras que Jaquez faz sem bola, aparecendo no sítio e momento certo a cortar para lançamentos fáceis e espaçando bem o campo, com capacidade no tiro exterior. Tudo isto leva Jaime a ser o quarto rookie em pontos, o sétimo em percentagem de lançamentos de campo e o décimo em percentagem de triplos convertidos.

O segundo entre os mais novos em roubos de bola – juntamente com Bilal Coulibaly – Jaquez Jr. usa as tais leituras rápidas e instintos para perceber o que o ataque fará e antecipar-se para conseguir roubar a bola. Spoelstra confia nele para defender alguns dos melhores executantes da liga, com Jaquez a mostrar a sua capacidade para defender na bola, usando fisicalidade e facilidade de movimentos para alguém do seu tamanho. Mas há também a questão da leitura fora da bola, onde o ex-UCLA se sente ainda mais confortável. É rápido a ajudar, consegue trocar e procura sempre estar ativo.

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Julian Strawther

Strawther ganhou algum mediatismo com excelentes exibições na pré-temporada, mas não é fácil entrar na rotação de uma equipa campeã e os primeiros jogos foram passados maioritariamente no banco. Ainda assim, o talento da 29ª escolha do draft não passava despercebido a Michael Malone e a lesão de Jamal Murray só acelerou a inevitável inclusão de Strawther na rotação dos Nuggets.

Julian Strawther entende muito bem o jogo, não é alguém que tenta forçar constantemente uma ação com baixa probabilidade de dar certo e, por isso, encaixa tão bem nesta equipa de Denver. Consegue espaçar o campo e lançar do exterior sem hesitação. Mas é também capaz de colocar a bola no chão e jogar bloqueio direto ou atacar closeouts. É um jogador que se molda àquilo que a equipa lhe pede e que portanto, pode desempenhar diferentes funções dentro do campo.

Cria problemas defensivamente devido ao seu tamanho e constante atividade, com leituras rápidas que os seus 21 anos e três épocas universitárias ajudaram a moldar. Chegado à NBA após vários jogos por Gonzaga, onde ganhou confiança e cresceu bastante como jogador, ajudou a que a transição para Julian fosse mais fácil que noutros casos. É um jogador que já entende bem o jogo e as tendências ofensivas, o que o torna mais facilmente num defensor disruptivo.

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Marcus Sasser

Chegou a Detroit como uma quinta ou sexta opção para o backcourt dos Pistons, mas a verdade é que Marcus Sasser, 25ª escolha do draft, conseguiu impressionar Monty Williams e garantir o seu lugar na rotação de uma equipa que tem tido muitos problemas. A turma de Detroit revela dificuldades em tirar o melhor da sua maior promessa – Cade Cunningham, primeira escolha em 2021. Em Marcus Sasser podem estar algumas das soluções para esse problema.

Um atirador exterior a lançar 42.5%, com 1.32 pontos por posse em catch and shoot força a defesa a dar-lhe menos espaço, o que abre caminho para Cade. Sasser é também um criador com bola, habituado a procurar o seu lançamento e encontrar soluções, seja para si ou para os companheiros. Chega bem perto do cesto, consegue finalizar antes da chegada dos protetores de cesto apesar do seu tamanho e tem um excelente trabalho de pés, capaz de iludir defesas.

Marcus Sasser é o oitavo rookie com mais assistências, apesar de ser talvez a quarta escolha da equipa para ter bola. Com a facilidade que tem para chegar ao pintado, atrai defesas e solta facilmente para encontrar atiradores. Tem boa visão de jogo e sabe colocar a bola no sítio certo e no momento certo, começando cada vez mais a ter atenção redobrada por parte das defesas contrárias.

O talento médio da liga continua a crescer e, como tal, tem sido cada vez mais fácil encontrar jogadores capazes de contribuir imediatamente mais tarde no draft – ou até fora dele. Estes cinco jogadores são apenas exemplo do que muito bem se tem feito na NBA. Caberá cada vez mais aos clubes não só encontrar estes jogadores, mas também dar-lhes as ferramentas e o tempo para errar e crescer que os jogadores que enumerei têm tido.

Autor

António Dias

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