Os livros das estrelas e 5 recomendações de leitura para a offseason

por jul 28, 2023

Hoje em dia deixou de ser tanto um tema, mas lembram-se quando as escolhas de leitura de LeBron James se tornaram um momento viral? Fosse através de (levemente coreografadas) fotos partilhadas nas redes sociais ou comentários feitos em entrevistas, viemos a descobrir alguns livros favoritos da superestrela. Livros tão distintos como “O Padrinho”, de Mario Puzo, “The Hunger Games”, de Suzanne Collins, “The Tipping Point”, de Malcolm Gladwell, ou até “O Alquimista”, de Paulo Coelho, uma escolha que gerou alguma celeuma. Talvez pela surpresa de se ver LeBron James a ler um livro escrito (originalmente) em Português. Talvez pelo livro que ele escolheu ser o equivalente literário a cruzar a carta astrológica do Correio da Manhã com um seminário de auto-ajuda do Gustavo Santos.

Piadas sarcásticas aparte, confesso que me chateia um pouco quando vejo o público em geral a duvidar abertamente sempre que um jogador afirma que leu sequer um livro. Percebo de onde vem a desconfiança. Como sociedade, de um modo geral, lemos muito pouco, e, ao associarmos atletas mais aos seus feitos físicos, desconfiamos que tenham capacidade para mais. E, sim, claro, a vasta maioria deles prefere passar o seu tempo livre a ouvir música ou a jogar videojogos. Mas existem alguns oásis interessantes que faz sentido explorar – e que devemos, até, enaltecer, em vez de cegamente questionar.

JJ Redick já proclamou a sua apreciação por “Sapiens: A Brief History of Humankind”, o êxito internacional do historiador israelita de Yuval Noah Harari, e Damian Lillard recomenda “Power of a Humble Life”, de Richard E. Simmons III. Deve ser dito, aliás, que muitos atletas tendem a gravitar para livros inspiracionais ou de auto-ajuda. Obras como “The Art of Happiness: A Handbook for Living” do Dalai Lama, recomendada por Andre Iguodala, ou “Stillness Is the Key”, de Ryan Holiday, sugerida por Manu Ginobili.

Se quisermos alguma variedade, podemos sempre contar com Brook e Robin Lopez. Nerds assumidos, sabemos que deles vamos sempre receber algumas pérolas de banda-desenhada. “Graphic novels” clássicas como “The Flash: Return of Barry Allen”, de Mark Waid, “Batman: The Dark Knight Returns”, de Frank Miller, ou “Watchmen”, do grande Alan Moore.

Poderia citar muitas mais recomendações de leitura de jogadores, mas gostaria de deixar esse trabalho para vocês. Talvez se sintam inspirados nessa viagem. Talvez tenham interesse em perceber um pouco mais os interesses pessoais dos vossos jogadores favoritos.

Porque foi essa a grande razão que motivou este texto. As férias reacendem sempre o meu gosto pela leitura e talvez, com a ajuda destes jogadores, consiga fazer o mesmo por outros. Quero mostrar que os jogadores têm mais camadas para além do seu talento com uma bola nas mãos. Quero, tanto quanto possível, proporcionar aos nossos leitores um ponto de partida para experiências diferentes, enquanto aguardamos ansiosamente que a temporada recomece.

Ou então queria apenas uma desculpa para fazer uma lista com recomendações sarcásticas e piadas idiotas com uma pitada de pseudo-intelectualidade. Quem sabe?

***

Inspirado por esta minha breve viagem literária, decidi fazer algumas recomendações literárias personalizadas para inspirar alguns jogadores durante esta “offseason”, em preparação para a próxima temporada:

“Deve Ser, Deve” | Guilherme Fonseca (Kyrie Irving)

Neste excelente livro, o comediante Guilherme Fonseca, que é meu amigo pessoal e que prometo que não me pagou para fazer publicidade ao seu trabalho, explora e disseca várias teorias da conspiração e demonstra – com um humor tristemente próximo da realidade – como são todas invariavelmente ridículas e muito semelhantes na sua idiotice. O meu objetivo com esta escolha seria tentar que Kyrie, ao ver esta dissecação daquilo em que pensa, irá acordar para a vida. Ou então vai acabar o livro a acreditar que Leiria não existe. Win-win.

“Harry Potter Saga” | JK Rowling (Victor Wembanyama)

Na saga de Harry Potter acompanhamos as aventuras de um rapaz que descobre não só que tem grandes poderes mas também de que é famoso. Nunca ninguém chegou a Hogwarts com expetativas tão elevadas. Quanto começa a jogar Quidditch, é automaticamente um dos melhores no desporto. Inevitavelmente, esta fama vem acompanhada de muita inveja e de rivais a trabalharem ativamente para o impedir de atingir o seu potencial. Victor tem muito a aprender com Harry. Acima de tudo, sobre a importância de encontrar uma Hermione.

“O Senhor Das Moscas” | William Golding (Luka Doncic)

Se formos além dos detalhes mais concretos sobre sobrevivência numa ilha deserta e sobre a pressão que crianças sentem quando são forçadas a crescer demasiado rápido, esta é, acima de tudo, uma história sobre dinâmicas de grupo e como amizades se podem tornar tóxicas. De como alguém pode começar como um amigo e rapidamente mudar para rival ou mesmo inimigo, devido à inerente fragilidade do contrato social quando debaixo de pressão. Os meus desejos de sucesso para Luka levam-me a querer-lhe enviar este livro para Dallas por correio.

“11/22/63” | Stephen King (Kevin Durant)

Neste romance do mestre do suspense e terror, somos colocados perante a possibilidade de poder voltar atrás no tempo e mudar o passado – seguindo-se uma reflexão sobre as consequências inesperadas daí surgem. Não vejo melhor recomendação para um jogador que esteve no centro de tantos eventos que mudaram a trajetória da NBA, desde não ser escolhido pelos Trail Blazers, a decidir assinar pelos Warriors ou até mesmo ter um pé demasiado grande. E tudo o que o faça largar o Twitter por um segundo que seja já é algo positivo.

“How The Grinch Stole Christmas!” | Dr. Seuss (James Harden)

Existe um grande jogador, a transbordar de talento. Mas quando chega aos playoffs, o seu jogo é um tormento. Os triplos já não entram e as faltas desaparecem. Na estrada rumo ao título, as suas pernas mal aquecem. Diz que quer ser um líder mas só pensa em si mesmo. Todo o génio nas mãos e o cérebro de um torresmo. Ninguém é mais consistente na arte de se apagar. Por isso recomendo Dr. Seuss na esperança de o ajudar. E se Harden ler o livro por uma grande razão, será para ser menos egoísta. E comer menos pão.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

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