Sim, falta cerca de um mês para a primavera, mas este é o momento de começarmos a preparar a estação que aí vem. Não me refiro a moda, mas àquilo que a NBA pode trazer nestes últimos jogos de fase regular, mais playoffs. Com um terço de fase regular por jogar, há equipas em crescendo, outras em queda e ainda outras que têm estado em alta rotação durante toda a temporada. Olhemos então para quem se vem posicionando para um final de temporada em grande e quem começa a gerar preocupação.
Minnesota Timberwolves
A melhor defesa da liga, com um defensive rating de 108.2 (o único abaixo de 110) é também o quinto melhor ataque da NBA nos últimos 10 jogos. A equipa de Chris Finch lidera o oeste e prepara-se para ter vantagem caseira na primeira ronda dos playoffs pela primeira vez em vinte anos – da última vez, em 2003/04, acabaram derrotados pelos Lakers nas finais de conferência.
Com quatro dos sete melhores lineups da NBA em termos de offensive rating nos últimos dez jogos realizados, dois nomes constam de todos eles: Anthony Edwards e Rudy Gobert. A dupla tem sido difícil de parar, com Edwards a conseguir 1.02 pontos por posse (PPP) em bloqueios diretos, enquanto Gobert vai em 70 screen assists e 1.76 PPP a partir de bloqueio direto nas últimas dez partidas. Há ainda dois jogadores que estão em três desses quatro conjuntos entre os sete melhores ataques da NBA: Nickeil Alexander-Walker e Jaden McDaniels. São três jogadores com melhores valências defensivas que estão presentes nos melhores momentos de ataque dos Wolves. Porque a defesa sufocante da equipa de Minnesota leva a transições e cestos fáceis, mas porque há também movimento, porque Alexander-Walker está a lançar sem hesitação e porque a eles normalmente se juntam Karl-Anthony Towns ou Naz Reid, a lançar 40.7% e 42.3% em triplos a partir do passe, respetivamente. Uma equipa que se preza pelo trabalho defensivo começa a encontrar o seu espaço ofensivo.
Cleveland Cavaliers
Vencedores de dezoito dos últimos vinte jogos, os Cleveland Cavaliers são a equipa mais quente da NBA neste momento, tendo já ultrapassado os Milwaukee Bucks no segundo lugar do Este. A segunda melhor defesa da liga não figura nos dez melhores ataques da NBA desde o início da temporada, mas é o segundo melhor nos últimos dez jogos, com um offensive rating de 121.5. Muitos anunciaram um funeral apressado dos Cavs quando Mobley e Garland se lesionaram, mas a equipa de JB Bickerstaff tornou-se num rolo compressor ofensivo quando ninguém esperava. E mesmo com o regresso de ambos, os Cavaliers vão mantendo os altos níveis ofensivos.
Os três melhores lineups dos Cavs contêm Caris LeVert e Isaac Okoro, apenas um poste (Jarrett Allen em dois, Mobley no outro) e apenas um base (Donovan Mitchell em dois, Garland no restante), o que dará a Bickerstaff algo em que pensar. Se por um lado, Mitchell, Garland, Mobley e Allen são os quatro melhores jogadores da equipa, como é que a mesma funciona melhor quando apenas dois deles estão em campo? São questões que o treinador da equipa de Cleveland terá de responder com a maneira como estrutura a sua rotação, especialmente nos playoffs.
Uma equipa que tem vivido do seu tiro exterior, com Okoro, Mitchell, LeVert e Strus a lançarem acima dos 35% após passe e contribuições interessantes de Sam Merrill e Evan Mobley nessa categoria, para além da capacidade de chegada ao cesto de Garland, LeVert, Mitchell e Niang. Allen e Mobley providenciam a proteção de cesto que tantas transições oferece – 1.32 PPP em mais de 15 posses por jogo – a uma das equipas que mais rápido tem jogado ultimamente. É definitivamente interessante este crescimento dos Cavs e serão, obviamente, uma das grandes defesas da liga. Resta saber como se comporta o ataque daqui para a frente.
Phoenix Suns
Era de esperar uns Phoenix Suns com poder de fogo ofensivo, depois das aquisições de verão. Mas quem era capaz de dizer que a equipa de Frank Vogel figuraria como quarta melhor defesa nos últimos dez jogos? Com Kevin Durant, Devin Booker e Grayson Allen sempre presentes nas melhores combinações defensivas, a equipa do Arizona apresenta um defensive rating de 110.7 nas últimas dez partidas e deixam vislumbrar um pouco daquilo que os playoffs podem trazer. Incluindo minutos de Kevin Durant como 5. Com a chegada de Royce O’Neale, esse cenário torna-se ainda mais possível, rodeando KD de atiradores.
A ideia ainda está na fase embrionária e não será muito usada antes dos playoffs, mas Vogel poderá ter algo interessante aqui. Os Suns negam melhor as entradas para o cesto, tornando a proteção do cesto em proteção do pintado, podendo trocar qualquer ação defensiva e ter ajuda e recuperação próxima.
Golden State Warriors
Talvez ainda não seja hora de acabar com os Warriors… constantemente no top 10 ofensivo durante toda a temporada, os Warriors são a sexta melhor defesa nos últimos dez jogos e começam a prometer um final de temporada de qualidade. A inserção de Jonathan Kuminga no cinco inicial traz a Kerr um defensor longo, ativo e com grande mobilidade. É, aliás, o único jogador presente nos três melhores cincos defensivos dos Warriors nos últimos dez jogos.
Uma equipa que volta a ter a capacidade de trocar facilmente, que faz renascer Klay Thompson vindo do banco e ganha energia, não só com Kuminga mas também Podziemski. E convém dar uma nota a Lester Quiñones, que acaba de assinar contrato com a equipa e é mais um defensor longo e móvel, que tem ganho minutos nas últimas partidas.
O ataque continua a ser letal. 120.9 de offensive rating, 1.29 pontos por posse em lançamentos exteriores após passe e 1.28 PPP após bloqueio indireto. Andrew Wiggins parece ter acordado e está a lançar 52.6% em catch and shoots, 50% para Curry, 46.7% para Quiñones, 45.5% para Thompson e 38.5% para Podziemski. Isto nos últimos dez jogos. As percentagens sobem para os Splash Brothers quando se trata de lançamentos em movimento (após bloqueio indireto), com Curry a lançar uns inacreditáveis 57.5% em quatro tentativas por jogo e Thompson 54.1%, com quase o mesmo número de repetições.
Denver Nuggets
Será altura de começar a fazer soar os alarmes em Denver? Os campeões chegaram à paragem para o All-Star com cinco vitórias e cinco derrotas nos últimos dez jogos, incluindo três derrotas consecutivas. Em todas as derrotas, nunca os Nuggets chegaram aos 110 pontos e por três ocasiões nem os 100 alcançaram, o que os levou ao quarto pior offensive rating da liga nas últimas dez partidas.
As quatro combinações de jogadores mais utilizadas tiveram todas um net rating negativo, incluindo o cinco inicial da equipa. Apenas Jamal Murray e Aaron Gordon lançaram acima dos 35% da linha de 3 e só Jokic parece ter sido capaz de fazer pontos a partir do bloqueio direto nas últimas partidas. Para uma equipa que não é elite defensivamente, o funcionamento do ataque ganha um destaque maior.
Todas as equipas passam por momentos de menor fulgor e ninguém duvida da capacidade ofensiva dos Nuggets. Mas a equipa de Mike Malone está a jogar pela primeira vez com um alvo nas costas e num Oeste com tanto equilíbrio, qualquer queda tem mais impacto. Principalmente se pensarmos na vantagem que os jogos caseiros proporcionaram aos Nuggets nos últimos playoffs.
Milwaukee Bucks
Donos de um dos piores recordes da NBA nas últimas dez partidas, a experiência Doc Rivers não está, para já, a correr como os Bucks pretendiam. Depois de uma troca explosiva que levou Damian Lillard até Milwaukee para melhorar o desempenho ofensivo da equipa, os Bucks não estão sequer perto de serem o melhor ataque da prova. São, aliás, o nono pior nos últimos dez jogos, com 111.9 de offensive rating.
O cinco mais utilizado, com Lillard, Beasley, Crowder, Antetokounmpo e Lopez tem estado bem, o que traz esperança aos adeptos dos Bucks, mas quase tudo o resto tem sido negativo. A equipa é estranhamente má em transição e a jogar a partir do poste. E se a primeira se deve muito à sobre-utilização do tiro exterior em situações de contra-ataque por parte de toda a equipa, a segunda tem no seu segundo jogador com mais repetições (Bobby Portis) um sério problema. São 37.8% a partir do poste em 3.7 lançamentos por jogo, menos 0.1 que Giannis Antetokounmpo – que está a lançar 65.8% no mesmo espaço temporal.
Há arestas a limar e um plantel muito pouco profundo, o que tem levado a uma queda abrupta dos Bucks nos últimos jogos, perdendo inclusive um segundo lugar que parecia relativamente seguro. Os playoffs trarão uma rotação menos larga, o que poderá ajudar, mas os Bucks têm muito trabalho a fazer para chegarem a essa fase da época descansados.
Philadelphia 76ers
“Como vão os Sixers lidar com a ausência de Embiid?”, perguntavam os analistas mal se soube da lesão do então favorito a MVP. Até agora, nada bem. Com apenas três vitórias nos últimos dez jogos, os Sixers têm o segundo pior defensive rating, com 123.7. Paul Reed não é Embiid, nem anda lá perto e a ausência de Tobias Harris não ajuda. Mesmo do lado ofensivo, os Sixers estão mais perto dos piores 10 do que dos melhores.
Nos últimos dez jogos, os adversários dos Sixers estão a lançar 5.2% debaixo do cesto e 1.6% no pintado acima daquilo que faziam anteriormente. A equipa de Nick Nurse permite mais transições por ser menos eficiente ofensivamente, mais pontos em bloqueio direto e também mais e melhores lançamentos exteriores ao adversário. Em queda livre sem o seu melhor jogador, a equipa de Philadelphia está já mais perto da zona de play-in do que do terceiro lugar e precisa rapidamente de encontrar soluções para colmatar a prolongada ausência de Embiid.
Pequenos apontamentos
Quatro equipas situam-se em lugares opostos ofensiva e defensivamente, nos últimos dez jogos. Os Hawks (melhor ataque da liga nesse espaço de tempo), os Jazz e os Knicks estão no top 10 de melhores ataques, mas também de piores defesas. Já os Houston Rockets têm uma das melhores defesas da liga, mas um dos piores ataques. Se aos Knicks podemos atribuir às ausências recentes a queda defensiva, as equipas de Atlanta e Utah têm mantido esse estatuto durante o ano. Marcam muitos pontos, mas sofrem tantos ou mais, o que não permite uma subida na tabela. Aos Houston Rockets tem faltado a consistência ofensiva, já que defensivamente continuam a mostrar valências.
Os Celtics continuam em alta, sendo a única equipa top 5 ofensiva e defensivamente. São também uma de duas equipas top 5 dos dois lados do campo nos últimos dez jogos, o que só prova que tem havido consistência. Só uma catástrofe retirará à turma de Boston o melhor recorde da liga.
Atenção aos Miami Heat. Depois de sete derrotas consecutivas no final de janeiro, a equipa de Erik Spoelstra encarrilhou, venceu seis dos últimos oito jogos e é a terceira melhor defesa da liga nos últimos dez, com 109.8 de defensive rating. As três melhores lineups defensivas dos Heat nos últimos dez jogos incluem… Caleb Martin.
Não se esqueçam dos Lakers. O nono melhor ataque da liga nos últimos dez jogos conta sempre com LeBron James, Anthony Davis e Austin Reaves nos seus melhores momentos ofensivos. Com um offensive rating de 118.9, os melhores momentos surgem em transição ou catch and shoot. E para isso vão contribuindo as subidas de produção nesse aspeto de Rui Hachimura e Taurean Prince, a lançarem 44% e 43.8%, respetivamente.