Um português pelo Mundo: O meu primeiro Europeu

por mar 21, 2018

A opção lógica foi treinar num pequeno ringue junto ao hotel, sempre que o tempo o permitia. As deslocações para os jogos eram feitas com escolta policial, viaturas essas que, em muitos casos, eram carros da ONU.

Conforme tenho referido em crónicas anteriores, já vai longa esta minha participação nos trabalhos das seleções femininas, sobretudo no escalão Sub20, mas há seguramente um que tenho de recordar com especial carinho, não só porque foi o meu primeiro Europeu mas porque foi em…Sub18.

É verdade, este trajeto Europeu não se iniciou em Sub20, mas em Sub18. Substituindo o Professor Carruna e iniciando a preparação na Páscoa de 2005, era suposto colaborar apenas naquela campanha… Pois bem, afinal acabei por me demorar um pouco mais… e já lá vão 13 anos.

Tendo o Ricardo Vasconcelos no staff técnico, depressa chegámos a Agosto e o entusiasmo era de tal ordem que o facto de irmos para a Bósnia & Herzegovina passou completamente para segundo plano.

Aterramos na Croácia e assim que entramos na Bósnia, realizámos que afinal a questão de termos o Europeu naquele país não iria ser de somenos importância A fronteira mais não era do que dois contentores e uma cancela. Rapidamente percebemos que o pós-guerra era algo muito presente e nada ultrapassado.

No percurso até Bihac, cidade onde se realizava a competição, o cenário saltava-me aos olhos como se de um “soco no estômago” se tratasse.

Ali mesmo, em plena Europa, a cerca de 3000km de distância, as ruas estavam praticamente destruídas ou esburacadas. Ruínas de casas por todo o lado e as que se mantinham de pé tinham buracos de obuses, nalguns casos do tamanho de uma mão. Restos de tanques de guerra destruídos na beira da estrada e mesmo alguns destroços de aviões. Praticamente todas as casas tinham um pequeno jardim e um cemitério! Sim, um cemitério. Mais tarde foi-me explicado que, em tempo de guerra, não havia lugar a cerimónias mais formais, pelo que as pessoas eram enterradas junto às suas casas.

Apesar de estarmos em Agosto, chovia copiosamente e o cenário era ainda mais dantesco pelos tons cinzentos dominantes. Chegados ao hotel, que apesar de tudo era “generoso”, verificamos que ficava a cerca de 30 minutos dos pavilhões, pelo que iria envolver quase duas horas diárias de transporte para treinos e jogos.

A opção lógica foi treinar num pequeno ringue junto ao hotel, sempre que o tempo o permitia. As deslocações para os jogos eram feitas sempre com escolta policial, viaturas essas que, em muitos casos, eram carros da ONU face ao número muito limitado de veículos policiais. Os táxis em que nos deslocávamos para ir ver jogos eram carros absolutamente normais, sem taxímetro e onde o preço era fixado a olho… e em função de quem lá entrava.

Um dos pavilhões de jogos, que não estava acabado, tinha apenas dois balneários e os funcionários fumavam alegremente no hall de entrada. As bancadas eram uns bancos suecos e toda a gente tinha acesso por uma porta apenas.

Pois bem, ainda assim guardo as melhores e mais ternas memórias desta competição, pelos motivos já enunciados, porque nos classificámos em 7.º lugar (nada mau para uma estreia absoluta) e porque constituiu um marco histórico na minha vida e que ainda hoje estimo, como se estivesse em Agosto de 2005.

Fico-me por aqui com um “até breve” e divirtam-se com o basquetebol.

por EUGÉNIO RODRIGUES

Autor

Eugénio Rodrigues

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