Durante muito tempo qualquer debate sobre como os melhores jogadores de todo o mundo poderiam ser melhores que os melhores dos EUA era apenas uma oportunidade para “profissionais do contra” exercitarem os seus músculos de irritação. Era um debate sem qualquer sentido que não o de perder tempo. Mas hoje, já não é tanto assim.
No último “MVP tracker” do site oficial da NBA, quatro dos jogadores no top 5 são “estrangeiros”: Jokic, Gilgeous-Alexander, Doncic e Antetokounmpo. Só Tatum está lá a representar os red, white and blue. Isso levou-me a pensar sobre quem sairia vencedor num grande confronto, a sério, entre estas duas hipotéticas equipas. E foi isso que decidi fazer, através de uma comparação direta, posição a posição. Comecemos:
POINT GUARD
STEPHEN CURRY vs. LUKA DONCIC
Steph Curry é uma lenda do jogo. E continua a ser um talento absurdo com a capacidade de virar qualquer partida sempre que os seus triplos começam a carburar. Simplesmente imparável. Mas, nesta fase das suas carreiras, tenho de dar a vantagem ao Luka. Estamos a falar de um jogador com a capacidade de fazer todos os outros jogarem ao ritmo dele, ditando o jogo como bem lhe apetece, seja como marcador ou como passador. E penso que nem é preciso falar de como ele se eleva nos momentos decisivos, desde que entrou na liga.
VANTAGEM: WORLD
SHOOTING GUARD
ANTHONY EDWARDS vs. SHAI GILGEOUS-ALEXANDER
Anthony Edwards é um dos jogadores mais entusiasmantes em toda a liga. Desde a espetacularidade no ataque ao empenho na defesa, tornou-se finalmente o líder que os Wolves precisavam. Mas, com a ascensão de Shai Gilgeous-Alexander ao estatuto de super-estrela – e um dos três principais candidatos ao MVP –, a vantagem aqui terá de ir novamente para a equipa “do mundo”. É um duelo incrivelmente apertado, mas há uma consistência de performance com Gilgeous-Alexander que Edwards ainda não atingiu totalmente.
VANTAGEM: WORLD
SMALL FORWARD
JAYSON TATUM vs. LAURI MARKKANEN
Aqui a vantagem é clara para a Team USA. Adoro o Lauri Markkanen e acho genuinamente que as skills dele como lançador e – importante não esquecer – nos ressaltos, tornam-no o tipo de talento que pode muito bem ser um 2º ou 3º melhor jogador numa equipa candidata ao título. Mas o Tatum simplesmente está noutro nível. Não só ao nível do ataque, onde faz tudo o que Markkanen faz e acrescenta uma maior capacidade de criação individual, mas, acima de tudo, no plano defensivo, algo pelo qual normalmente não recebe crédito suficiente.
VANTAGEM: USA
POWER FORWARD
ANTHONY DAVIS vs. GIANNIS ANTETOKOUNMPO
Este é provavelmente o confronto mais “apertado” em todo este exercício. No papel, o Anthony Davis está muito perto de ser o jogador perfeito. É um dos melhores defensores em toda a liga e é muito versátil no ataque. Quando saudável. Essa incerteza e o facto de do outro lado estar Giannis, acaba por dar a vantagem à Team World. Giannis é um espécime físico como a NBA nunca viu, com a força para atropelar os defensores mais “leves” e a velocidade para passar pelos mais pesados. E a defesa, principalmente nos playoffs, é de elite.
VANTAGEM: WORLD
CENTER
BAM ADEBAYO vs. NIKOLA JOKIC
Custa-me colocar o Embiid aqui quando ele não jogou ainda uma única vez pela equipa dos EUA. Assim, escolho aquele que é um dos meus jogadores favoritos em toda a NBA, Bam Adebayo. Um poste capaz tanto de ancorar uma defesa muito sólida à sua volta como de fazer o ataque mexer com os seus bloqueios e bons instintos de passador. Mas o resultado final seria sempre o mesmo: Nikola Jokic é o melhor jogador em toda a NBA e a mais pura definição de um sistema ofensivo por si mesmo. Vantagem para o (provável) MVP desta temporada.
VANTAGEM: WORLD
VEREDICTO FINAL
Numa comparação direta entre os potenciais melhores cinco titulares dos EUA contra os do resto do mundo, a resposta é clara: os jogadores internacionais não só entraram no debate como estão, neste momento, na mó de cima. O talento ofensivo é simplesmente tão demolidor que, principalmente no basket moderno, acabaria por se tornar imbatível.
Dito isso, existem algumas ressalvas que devem ser feitas. Primeiro, a vantagem defensiva está claramente do lado dos EUA. São simplesmente mais atléticos e versáteis nesse lado do campo. Adicionalmente, se esta comparação fosse alargada para formar plantéis inteiros de cada lado, os EUA voltariam a ter uma vantagem considerável. A segunda linha dos americanos está essencialmente ao mesmo nível que a primeira. Com os “estrangeiros”? Nem por isso. Mesmo com Wembanyama a chegar para reforçar o frontcourt.
Mas é incrível que a discussão nunca tenha estado tão relevante. Agora, finalmente, é um debate válido. E porque é eu me lembrei disto agora? Talvez porque esta poderia ser uma forma interessante de revitalizar o All-Star Game. Talvez porque o Shai e o Sabonis são dois jogadores “estrangeiros” que essencialmente garantiram a minha presença nos playoffs da minha liga de fantasy este ano. Ou talvez porque, apesar de ter passado boa parte do início do texto a criticar quem começa debates parvos só para poder ser do contra… eu vivo para isto.