What’s my age again: A importância da idade para o sucesso nos playoffs

por maio 4, 20240 Comentários

Estava eu a refletir sobre o que tem acontecido nestes playoffs até agora – enquanto me deleitava com o prazer nostálgico do punk rock que dominou os meus ouvidos durante a minha formação musical na adolescência – quando me deparei com um dado curioso: à data da escrita deste artigo – a 3 de Maio, antes dos jogos de sexta à noite começarem –, dos oito duelos da primeira ronda, seis destes foram ganhos ou estão a ser ganhos pela equipa com a média de idades mais jovem.

Ora vejamos. Os Pacers, que têm uma média de idades de 25,7 anos, derrotaram os veteranos Bucks, com uma média de 29,3. Também os Knicks (27,1 de média) derrotaram os Sixers (28,6). Equipas como os Thunder (25,0) e os Timberwolves (26,2) venceram os seus confrontos com vassouradas em que a sua vantagem de capacidade atlética e velocidade de execução ficou evidente. Mesmo equipas com um pouco mais de presença de veteranos, como os Celtics (26,7) ou os Mavericks (26,7 também), venceram ou estão a vencer contra equipas manifestamente mais ”velhas”. Restam as duas excepções: os Lakers (26,6), que eram apenas marginalmente mais novos que os Nuggets (26,9) mas que são liderados pelo jogador mais velho na liga, e os Orlando Magic (24,3), que estão a perder, para já, contra os Cavaliers (27,1), mas ainda vão a tempo de dar uma alegria a este que vos escreve.

Inspirado por estes dados curiosos e imbuído pelo espírito rebelde de três gajos a correrem nus em público no vídeo musical que inspirou o título deste artigo, decidi tentar perceber o que tem motivado esta ascensão da juventude nos playoffs deste ano.

Comecemos com o óbvio. A popularidade crescente da NBA – não apenas nos EUA, mas também um pouco por todo o mundo – tem levado a injecções consideráveis de talento nos últimos anos. E essa avalanche de novos jogadores teria de, mais tarde ou mais cedo, começar a receber o testemunho dos veteranos que os precederam. Ou a arrancá-lo à força, se necessário. Com trash talk ao barulho, ao bom estilo do Anthony Edwards.

Mas questiono-me também se a resposta não poderá estar também na evolução das táticas na NBA. Com a crescente complexidade dos esquemas tácticos na NBA e a omnipresença de considerações analíticas no modo como se orienta uma equipa em campo, seria de esperar que isto privilegiasse os veteranos, armados com mais saber acumulado. Mas eu tenho uma opinião diferente.

Primeiro, estes novos jogadores entram na liga já com esse “chip” ligado, sem terem de mudar muitos dos seus hábitos para ir ao encontro das indicações dos analistas estatísticos. Em segundo lugar, muitas das inovações estratégicas focam-se em tornar o jogo mais veloz, com decisões mais rápidas. Mesmo considerando a relativa “desaceleração” que tende a acontecer nos playoffs, temos visto jogos muito rápidos, com ataques velozes ao cesto, triplos em transição e um jogo mais “aéreo”. Isto favorece claramente o jogo ofensivo dos jogadores mais atléticos e com maior explosão. Será interessante ver se esta tendência continua, à medida que a pressão for aumentando, ronda a ronda.

Não quero terminar este artigo sem ressalvar que, claro está, muitos dos maiores casos de sucesso deste ano têm tido também um forte contributo por parte dos veteranos da nossa liga. Sim, é verdade que os Thunder têm estado incríveis com uma equipa absurdamente jovem e com muito pouca liderança veterana, mas, ainda assim, eles são a exceção. Os Timberwolves estão a ser liderados por um muito jovem Edwards, mas este tem tido enorme apoio de veteranos como Rudy Gobert e Mike Conley. E embora os Boston Celtics tenham muitos jogadores relativamente jovens em posições de lideranças, não deixam de ser “jovens” com uma experiência fora do normal de presenças em grandes momentos nos playoffs.

Ainda assim, tem sido um bálsamo ver esta nova geração crescer à frente dos nossos olhos. Jogadores como Anthony Edwards, Luka Dončić, Tyrese Maxey ou Paolo Banchero a brilharem ao mais alto nível de competição e pressão. Novos talentos em ascensão, com a cabeça livre de considerações de legados e com os olhos continuamente focados no futuro.

“Nobody likes you when you’re 23

And you still act like you’re in freshman year”

Embora, sim, seja irritante ver pessoas cheias de energia e que não guincham sempre que se levantam de uma cadeira. Essa canalha.

Autor

Pedro Quedas

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