A minha aventura no Canadá: O mês das decisões

por maio 3, 2018

Olho para trás e não podia estar mais orgulhosa daquela menina que chegou a Regina em Agosto de 2017. (…) Estava prestes a aterrar em Lisboa. Corri para os braços da minha família. Tinha dois pedidos.

O calendário não parou e rapidamente chegou o dia da Final da Conferência Canada West. O adversário, a Universidade de Saskatchewan, era nem mais nem menos que o nosso grande rival e campeão em título. Uma equipa recheada de boas jogadoras, várias internacionais pelo Canadá e uma treinadora experiente…

Uma atmosfera de jogo extraordinária, um pavilhão completamente cheio de fervorosos adeptos de ambas as equipas, o jogo foi intenso e muito disputado até ao intervalo. No 3.º período “explodimos” em campo e conquistamos uma vantagem que soubemos gerir até ao apito final. Nesse momento, senti-me invadida por uma imensa felicidade. Éramos campeãs de Conferência no primeiro ano, na minha primeira final. A noite prometia, os fãs exultavam de alegria e foi por entre gritos de alegria que foi anunciado:

“Player of the game is Carolina Gonçalves – Regina University”. Foi arrepiante, foi intenso, foi muito bom.

Por fim a entrega dos prémios, os festejos entre colegas de equipa, treinadores, adeptos e a entrevista televisiva. Olhei a câmara, partilhei o que me ia na alma e, por fim, em direto, enviei beijinhos e muitas saudades para a minha família que ficou a apoiar em Portugal até às 3h da manhã.

À noite, foi muito difícil adormecer. A adrenalina continuava em alta e revia todo o “filme” da final, uma e outra vez. Por fim, as chamadas telefónicas para casa e, vencida pela exaustão de emoções, o sono acabou por vencer.

A meio da semana, por entre treinos e scoutings, mais emoções: Carolina Gonçalves, Canada West Rookie of the Year.

Apesar de ser um prémio de reconhecimento de todo o meu trabalho ao longo da época, não houve tempo para celebrações, a final 8 Nacional estava à porta e não podia distrair-me, era preciso manter o foco nesse objetivo.

Primeiro jogo da Final 8, contra a Universidade Laval, campeã da sua Conferência, e a vitória colocou-nos na meia final e fui MVP do jogo. Entrámos empolgadas no jogo da meia-final, onde voltámos a defrontar Saskatchewan, com quem disputaríamos a presença na final Nacional. Perdemos o jogo por três pontos e ficou demonstrado que não há dois jogos iguais. Não estivemos bem, também por mérito do adversário, eu também não estive ao nível do jogo anterior e uma pequena lesão num dedo da mão direita condicionou-me. Mérito de quem ganhou o direito a jogar a final, grande frustração para nós que acreditámos ser possível ganhar e sermos campeãs em casa, diante dos nossos adeptos.

Numa noite difícil, foi o carinho dos adeptos e, particularmente, da família e amigos – mesmo à distância – que me confortou e incentivou para o derradeiro jogo da época.

Havia um pódio para conquistar e foi com esse espírito que entrámos em campo para defrontar a campeã em título, a Universidade de McGill. Vencemos, num jogo muito equilibrado e disputado até ao último segundo. Ganhámos por três e garantimos um lugar no pódio, mas não foi fácil ver as novas Campeãs de Carleton subir ao lugar mais alto. Estávamos tão perto delas e estivemos tão perto de poder vencer…

Terminavam os jogos de basket desta minha primeira época no Canadá e voltava o quotidiano das aulas, trabalhos, apresentações e exames na Universidade. Porém, repentinamente, a meio da semana, fui chamada com alguma urgência pelo o meu treinador. A época já tinha acabado, não fazia ideia do que seria… Fui o mais rápido possível e, quando entrei, vi o Dave com um semblante visivelmente satisfeito, a contrastar com a tristeza dos últimos dois ou três dias: “Entra. Tenho uma notícia para ti”, disse-me. Naquele momento sentei-me e percebi que a notícia só podia ser boa: “És a Rookie do Canadá. Parabéns! A gala anual será no próximo sábado e tens que fazer um discurso, prepara-te bem”.

A gala foi espetacular, mas confesso que só consegui desfrutar alguma coisa depois do “discurso”. Preparei-me bem, treinei o discurso, escrito num papel para não me esquecer de nada e gostei. Foi bom, um salão repleto a aplaudir-me e o reconhecimento por todo o trabalho realizado. Tinham razão os meus pais quando me disseram, logo após a notícia: “Quando pegares nesse prémio, lembra-te sempre de todas as horas de treino, de todos os sacrifícios que fizeste e continua a sonhar. Só com muito trabalho podes alcançar outras metas e vencer novos desafios”.

O tempo voou e, depois de umas mini-férias em Nova Iorque para recarregar baterias e de muitas noites de sono investidas a preparar os exames finais, estava na hora de regressar a Portugal. Sim, estava na hora de voltar a CASA. Nem queria acreditar!!! O meu primeiro ano estava concluído.

Olho para trás e não podia estar mais orgulhosa daquela menina que chegou a Regina em Agosto de 2017. Um ano de muitos sacrificios, trabalho, aventuras e novas amizades chegara ao fim. Esta mulher estava prestes a aterrar em Lisboa. Aterrei e corri para os braços da minha família. Tinha dois pedidos: comida portuguesa e ir à praia. Não há país que se compare a Portugal!

Agora está na hora de descansar, usufruir e preparar-me para o meu próximo desafio.

por CAROLINA GONÇALVES

Autor

Carolina Gonçalves

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