“Slim Reaper” no deserto: O encaixe de Kevin Durant em Phoenix

por fev 18, 2023

Mais uma vez, a adição de Kevin Durant resulta no nascimento de uma nova super-equipa. Enquanto aguardamos a sua estreia, podemos projectar como se encaixa em algumas das principais acções da sua nova equipa.

O maior evento da última semana de trocas é também um dos mais sonantes negócios da história da NBA. Contam-se com as mãos as instâncias de jogadores deste calibre serem incluídos nestes negócios a meio de época e Kevin Durant, um dos 15 melhores jogadores de sempre na NBA, foi trocado para se juntar a Devin Booker, Chris Paul e DeAndre Ayton no Arizona.

As repercussões na conferência Oeste são imediatas. Quando se aplica o conceito de “portabilidade” em basquetebol, não há provavelmente um jogador no panteão mais fácil de encaixar em qualquer sistema: Durant é uma máquina de pontos mesmo sem necessidade de dominar a bola, a ameaça da sua presença é o suficiente para causar erros defensivos e é eficaz a qualquer distância. Isto sem mencionar que se encontra no meio de uma das suas melhores épocas da carreira ao nível do impacto defensivo – o que facilita a parceria com Ayton, um grande downgrade defensivamente face a Claxton.

ÉpocaD-EPM (Ranking)D-LEBRONOn/Off ‘half-court’ PPP (Percentil)
2017-18-0.5 (265.º)-0.33+5.12 (12.º)
2018-19+0.5 (105.º)+0.79-0.2 (51.º)
2020-21+0.3 (180.º)-0.11+0.7 (42.º)
2021-22+1.2 (73.º)+0.43-4.4 (85.º)
2022-23 (39 GP)+1.9 (28.º)+0.60-5.3 (90.º)

Mas há também características do lado de Phoenix que imediatamente vão de acordo ao estilo de jogo que o próprio KD procura. Por um lado, Durant tem desenvolvido a sua capacidade de passe e movimentação de bola; Phoenix por sua vez, segundo o tracking da NBA, está no top-4 em Potenciais Assistências (passes que resultam em lançamentos de companheiros de equipa, concretizem a tentativa ou não) e no mais pequeno ratio entre o número de passes e o número de assistências – apenas Golden State, uma casa que em tempos Kevin escolheu em parte pelo seu estilo de basquetebol, também se encontra no top-4 em ambos.

Por outro lado, para bem ou para o mal, Phoenix reforça a sua estratégia de falta de ataques directos ao cesto e procura de um jogo mais à base de lançamentos de média-distância. A dieta de lançamentos de Durant é uma versão mais extremada – e mais eficiente – da que os Suns já têm vindo a fazer.

 Phoenix Suns 2022-23 (Ranking entre equipas)Kevin Durant 2022-23 (Percentil entre jogadores)
Frequência de lançamentos no cesto27.4% (29.º)15% (9.º)
Frequência de lançamentos de média-distância38.5% (2.º)60% (99.º)
Frequência de lançamentos triplos34.1% (17.º)24% (26.º)
eFG% prevista pela localização de lançamentos53.6% (30.º)48.2% (2.º)
eFG%53.4% (22.º)60.7% (85.º)
(Dados de CleaningTheGlass e PBPstats)

Esta convergência tem uma consequência muito prática: Muitas das acções ofensivas que os Suns já executam estão exactamente à procura dos tipos de oportunidades que o próprio Durant mais privilegia.

Com todos os principais jogadores disponíveis, Phoenix gosta de jogar com o Devin Booker na wing oposta à que Paul está a operar, sempre disponível para atacar rapidamente uma defesa que se encontra desequilibrada pela acção inicial. Agora, os efeitos de ter Kevin Durant como parte dessa primeira acção com CP3 ou ser ele o jogador pronto a receber e a atacar o espaço gerado vai esticar muitas defesas para além das suas capacidades.

Assim, vale a pena dedicar um pouco a ver jogadas específicas utilizadas durante esta época no qual a mera substituição de um dos seus membros pelo Kevin Durant são imediatamente colocadas em modo turbo.

O uso de staggered-screens em Phoenix consiste tipicamente num bloqueio inicial por um jogador que consiga “escapar” para um lançamento de perímetro enquanto o segundo bloqueio é normalmente o Ayton, pronto para um corte directo para o cesto.

Nos dois exemplos acima, Cam Johnson e Mikal Bridges são ignorados e dado todo o espaço possível para o triplo, enquanto a defesa se focou mais em seguir Ayton e proteger o interior. Esta decisão pode provar-se muito menos óbvia quando se tratar de um lançamento aberto de Kevin Durant. No fundo, o DeAndre (que na presente época tem tido uma eficácia ofensiva aquém das expectativas) está prestes a ter as finalizações mais fáceis da sua carreira se estiver disposto a cortar de forma agressiva para o cesto.

A versatilidade e tamanho extra também permite a Durant agir igualmente como um base ou como um poste em diferentes momentos de bloqueio. Ele pode forçar defesas a cometer erros de decisão após um ghost screen que funciona como distracção inicial:

Ou pode perfeitamente abrir espaço a uma das outras estrelas fora da bola, e sendo ele próprio uma ameaça (umas boas ordens de magnitude acima do Landale nesse aspecto), não se pode deixar um defensa em drop ou focar apenas em impedir o lançamento do outro lado:

Os Suns parecem estar a usar Spain Pick and Rolls (bloqueios directos seguido por um bloqueio do defesa do screener original) menos frequentemente esta época mas a ideia de usar Durant para o backscreen pode muito facilmente levar que os dois defesas acabem por se comprometer ao mesmo jogador quando ele e Ayton se cruzam no pintado.

Pensemos agora num hipotético: um bloqueio directo no qual não há ninguém no lado forte da jogada (empty side pick and roll). Vemos que no passado existiam sempre opções o qual as defesas podem ignorar e era sempre possível para os defesas atribuídos a Paul e Ayton dar uns passos em direcção ao interior já que nenhum deles é provável de tentar lançar antes da linha de lance-livre.

Aqui vamos para além da ideia que Durant no lado fraco será um problema que a defesa não pode tão facilmente ignorar como Torey Craig ou Josh Okogie. Porque se o bloqueio directo for entre Paul e Durant, isso expande o tipo de problemas com que a defesa se tem de preocupar – especialmente se Booker estiver a um passe de distância above the break.

Claro que uma defesa pode ter a versatilidade defensiva para enviar ajuda após o bloqueio e ter todo o resto das rotações que isso implica a ocorrer em perfeita sintonia, forçando os Suns a ter de rodar a bola até ao canto mais distante. Isto acaba por ser a melhor opção se Craig ou mesmo TJ Warren forem os receptores finais… Mas se nessa posição estiver Damian Lee, que tem um faro natural para essas chances e está a lançar o que parece ser 170% dos cantos, a história inverte-se depressa.

Por fim, a parte mais poética de todas é que as jogadas mais usadas para criar lançamentos para Mikal Bridges são perfeitas para o jogador pelo qual ele foi trocado, já que muitas eram desenhadas para gerar tentativas de midrange.

Estas jogadas para Bridges começavam tipicamente partindo de uma posição inicial de horns, onde o extremo vai depois receber a bola do outro lado de um bloqueio de Ayton na linha de lance-livre. Havia outras combinações iniciais mas convergem quase sempre para Ayton a executar um bloqueio para Bridges atacar a mesma zona. Só que em vez de lançar 44% em pull ups de dois pontos, Kevin Durant tem uma absurda eficácia de quase 60%!

Dando um passo atrás, é fácil sentir que se está a analisar em demasia algo que é no fundo simples: Um talento supremo que consegue complementar qualquer equipa juntou-se a uma máquina que tem demonstrado ser supremamente bem oleada quando não está a batalhar lesões durante um ano inteiro.

Ainda estamos longe de saber quais as repercussões que o fim desta infame iteração dos Brooklyn Nets irá ter nos playoffs destes próximos anos. Mas se os Sixers estão mais completos que nunca e se o par de Luka Dončić e Kyrie Irving tornou-se imediatamente o melhor duo de bases no planeta, o potencial ofensivo dos Suns aliados a Kevin Durant é se calhar o mais alto de todos.

E não é preciso memória muito longa para recordar o que aconteceu da última vez que uma equipa que já tinha chegado às finais juntou KD ao seu plantel.

Desfrutemos das festividades All-Star porque podemos não estar prontos para o que nos espera do outro lado.

por MARTIM PARDAL [@MEmpire25]

Autor

Martim Pardal

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