A diferença está nos pormenores

por fev 4, 2022

Entrou na liga como um high-flyer, o cabeça de cartaz de cada jogo pelas suas ferramentas físicos e poderio atlético. Porém, hoje, Ja Morant é tão mais que isso. É um titular quase unânime no jogo All-Star e um dos melhores bases em toda a NBA, a receber considerações para o prémio de MVP e a catapultar os Memphis Grizzlies para a melhor temporada dos últimos largos anos.

Mas quais são realmente as diferenças do Ja de 20/21 para o de 21/22? Sinceramente, não são muitas. Mas são os pequenos detalhes que levam ao maior reconhecimento de Morant como um franchise player e uma das faces da NBA. São diferenças que, embora pequenas e aparentemente insignificantes, o levam para todo um novo nível.

Apesar dos minutos jogados se manterem aproximadamente os mesmos, Morant está a lançar mais e melhor, tanto de dois como de três pontos. Também as suas idas à linha de lance-livre aumentaram, bem como os ressaltos e roubos de bola. Reafirmo que a diferença, não sendo grande, acaba por provar que pequenos detalhes podem mudar toda a perceção à volta do jogador. O melhor recorde também acaba por o provar.

Bloqueio direto ofensivo

O bloqueio direto continua a ser o tipo de jogada mais utilizado por Morant, sendo que o base dos Grizzlies subiu a eficácia dos mesmos de 0.94 para 1.05 pontos por posse de bola, em relação à época passada. É uma subida considerável, mesmo tendo em conta o menor número de jogos.

A maior facilidade com que consegue ler os movimentos da defesa, neste caso colocando o corpo à frente e selando o defesa, sem sentir a necessidade de olhar para trás, coloca-o em vantagem, permitindo uma saída mais rápida e um controlo maior do que a defesa em ajuda está a fazer.

Existe também uma maior atenção ao melhorado lançamento exterior de Ja. Os postes envolvidos nos bloqueios diretos defendem mais perto e obrigam Morant a reagir mais rápido. Ao fazer a finta mais perto do defesa e devido à sua velocidade e agilidade, o base dos Grizzlies acaba por conseguir deixar a ajuda para trás e conseguir lançamentos mais fáceis.

Quando o poste defende mais atrás, Morant tem um floater suficientemente confiável para usar sem problemas. A diferença, este ano, está na colocação do corpo. Morant acabava os floaters em queda ou desequilibrado, demorando mais tempo a subir por causa disso. Esta época, nota-se um maior foco no equilíbrio e controlo corporal, saindo um lançamento mais fluído e rápido, que não permite que o defesa conteste tão facilmente.

Bloqueio à mão

O envolvimento de Ja Morant em handoffs diminuiu esta época, mas a eficácia aumentou (0.82 para 0.98 pontos por posse). A descida na quantidade de vezes em que esta jogada é usada explica-se pelo maior número de vezes em que Morant é o iniciador, partindo menos vezes fora da bola. Ainda assim, a subida na eficácia é fácil de perceber visualmente.

Tanto na receção em corrida, como parado, a diferença está na paciência, rapidez de execução e atenção aos detalhes. A finta para colocar o defesa no local onde quer, a passagem mais próxima do poste para não abrir espaço ao defesa ou a finta apenas quando a ajuda está comprometida parecem apenas pormenores, mas acabam por ser a diferença na qualidade do lançamento conseguido.

1×1

Tal como é o caso nos bloqueios diretos, também a frequência e a eficácia aumentaram no 1 contra 1. Morant passou de 0.89 para 0.95 pontos por posse, com maior número de repetições. Uma maior concentração na evolução técnica e de leitura de jogo e menos foco na explosividade e atletismo, tornam-no um jogador mais completo e imprevisível. Por consequência, torna-se bem mais complicado de defender. As ferramentas físicas continuam lá, mas são complementadas por um jogo mais técnico, algo que ajudará a longo prazo.

Defesa ao bloqueio direto

Embora a quantidade de vezes em que defende bloqueios diretos se mantenha igual, a quantidade de pontos por posse diminuiu. Nota-se em Morant uma maior vontade, aceitando o contacto e um foco em agir ao invés de reagir. Quando sabe que vem o bloqueio, Ja “ataca” o portador da bola, criando desconforto no mesmo e estando mais pronto a fugir ao bloqueio e recuperar a sua posição.

No vídeo podemos assistir a 3 situações diferentes. Havia um baixar de guarda quando vinha o bloqueio, mesmo que quase não houvesse contacto. Havia também uma reação tardia e a desistência contra jogadores mais físicos. Tudo isso parece corrigido, com Morant a aumentar a agressividade e a recuperar muito mais rápido a posição, com leituras mais rápidas e maior contacto físico.

Defesa 1×1

A quantidade de vezes que os atacantes usam o 1×1 com Morant diminuiu, o que atesta à sua maior capacidade defensiva. Os pontos por posse diminuíram de 1.1 para 0.73, o que é uma descida incrível. O controlo corporal e equilíbrio que já falamos atrás contribuiu para estes dados, com que Morant a exibir-se muito mais controlado na defesa ao jogador com bola e criando mais problemas.

Os pequenos pormenores que tornam a época de Ja Morant no sucesso que tem sido são fáceis de explicar: experiência e maturidade. Olhando para o que Morant faz, a diferença não parece tão grande se compararmos com a época passada, mas os pequenos detalhes são o que usualmente diferem os melhores dos bons bases na NBA. E Morant chegou já a um ponto em que é um dos melhores da liga e a cara da sua equipa, que possui o terceiro melhor recorde da associação. Tudo isto no seu terceiro ano. O seu crescimento é impressionante e tem tudo para continuar.

por ANTÓNIO DIAS [@antoniodias_pt]

Autor

António Dias

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