A verdade que não dá para escapar nesta equipa é a de que os Timberwolves não são bons quando KAT e Gobert estão simultaneamente em campo, e ainda pioram quando apenas um dos dois está no court. Apenas com Towns, a equipa torna-se elite a atacar, mas ainda mais elite a sofrer pontos; com Gobert é ligeiramente acima da média no ataque, e surpreendentemente má na defesa.
Desde que se tornou oficial a troca que levou o poste francês Rudy Gobert de Utah para Minnesota, muita tinta correu sobre o valor pago pelos Timberwolves a Danny Ainge e como é que, afinal de contas e em pleno 2022, iria correr a coabitação de dois jogadores que, sendo quase a antítese perfeita um do outro, ocuparam durante a sua carreira a mesma posição em campo.
Quanto ao preço, poucas dúvidas houve de que os Utah Jazz conseguiram extorquir a equipa de Minneapolis quase ao limite do absurdo: para além de Patrick Beverley, Malik Beasley e Jarred Vanderbilt – jogadores que por si só tinham valor para serem aposta, ou futuramente trocados – os Timberwolves cederam ainda Leandro Bolmaro (escolha de primeira ronda em 2021, numa pick adquirida aos Knicks por outras duas de primeira ronda – uma delas é Immanuel Quickley), Walker Kessler (a sua primeira escolha no draft de 2022), quatro escolhas futuras de primeira ronda desprotegidas e ainda uma pick swap. Repetimos: os Minnesota Timberwolves cederam oito escolhas de draft (três delas sob a forma de dois prospects) e três jogadores que cabem em qualquer rotação da liga, por um poste com 30 anos de inegável impacto defensivo, mas com capacidades limitadas no ataque. Para além disso, a sua idade não encaixava com o projecto de médio e longo prazo da equipa – isto se esse projecto for construir em torno de Anthony Edwards (20, à data da troca) e Karl-Anthony Towns (26) – e, mesmo no presente, dúvidas legítimas havia se seria Gobert o alvo correcto para um investimento que muitos apelidaram de um all-in dos Timberwolves.
Muito maior foi a discussão em torno dessa dúvida, com argumentos fortes e posições vincadas de ambos os lados: não era particularmente difícil encontrar quem achasse que o emparelhamento Gobert-KAT era uma ideia terrível, ou então quem sugerisse que, à semelhança do que vimos em 2021/22 com os Cleveland Cavaliers, era perfeitamente possível juntar dois big men com sucesso dentro de campo. Pessoalmente, projectei estes Timberwolves como uma muito boa equipa de fase regular simplesmente por causa da acumulação de talento, mas que nos playoffs acabaria por ser exposta. E assim começou a temporada.
Fast forward para o primeiro mês de NBA que hoje se completa, e o cenário está longe de ser famoso: os Timberwolves ocupam o 10.º lugar da conferência com um registo de 7-8, três jogos atrás do líder, mas apenas com 1.5 jogos de vantagem sobre os antepenúltimos Spurs, apesar de terem tido o quinto calendário mais fácil até ao momento. O ataque é mediano e a defesa é a 20.ª melhor do campeonato, algo quase inédito numa equipa que conta com Rudy Gobert; o seu cinco inicial é a terceira unidade com mais minutos da liga (198), e aquela que tem o segundo pior NetRtg de entre todas as que acumularam mais de 150 minutos, apenas ‘superada’ pelos titulares dos Pistons.
Fora do campo, as coisas não correram muito melhor: houve o episódio em que Anthony Edwards foi multado por um post envolvendo atitudes misóginas, Karl-Anthony Towns foi afectado por uma doença que o fez perder bastante peso, Rudy Gobert foi infectado novamente com o novo coronavírus, KAT enviou uma mensagem ao regime alimentar de Anthony Edwards, e Ant enviou uma mensagem ao staff técnico. Enfim, um ror de má energia que não augura nada de bom para o entrosamento da equipa.
Em campo, perceber a dinâmica da equipa à volta de Karl-Anthony Towns e Rudy Gobert é o melhor caminho para pintarmos o quadro do que são estes Timberwolves:
Lineup | Minutos | OffRtg | DefRtg | NetRtg |
Timberwolves, 22/23 | 725 | 112.4 | 113.0 | -0.7 |
KAT + Gobert | 284 | 106.1 | 107.8 | -1.7 |
KAT s/ Gobert | 233 | 119.2 | 122.0 | -2.8 |
Gobert s/ KAT | 136 | 113.2 | 118.0 | -4.8 |
S/ ambos | 73 | 113.7 | 94.9 | +18.8 |
Welp. Vamos ignorar a última linha, que representa apenas 10% da temporada, e acontece em incrementos muito pequenos e situações absolutamente excepcionais. A verdade que não dá para escapar nesta equipa é a de que os Timberwolves não são bons quando KAT e Gobert estão simultaneamente em campo, e ainda pioram quando apenas um dos dois está no court. Apenas com Towns, a equipa torna-se elite a atacar, mas ainda mais elite a sofrer pontos; com Gobert é ligeiramente acima da média no ataque, e surpreendentemente má na defesa.
A boa notícia é que com ambos em campo a equipa apresenta a sua melhor prestação defensiva – uma marca que seria a terceira melhor da liga. O investimento no francês significa necessariamente que terão de partilhar o court por largos minutos, algo que têm feito cerca de 22 minutos por jogo (em linha com a dupla Mobley-Allen, por exemplo). Haver esta base defensiva é um bom sinal, pois significa que há esperança na defesa de Karl-Anthony Towns fora da posição 5, apesar das falhas óbvias e recorrentes. Chris Finch terá de continuar o trabalho deste lado do campo e descobrir soluções ofensivas para a equipa: KAT está a lançar da área restritiva o menor volume da sua carreira, e fá-lo com menos de metade das vezes que aquela que lança triplos – por muito bom lançador que o poste norte-americano seja, não faz qualquer sentido tentar mais de dois triplos por cada lançamento que efectua junto ao cesto. A presença de Gobert no pintado está obviamente a afectar a quantidade de vezes que Towns recebe a bola no interior, e está com o menor número de participações no ataque dos últimos cinco anos.
O francês, por seu turno, tem estado mais em jogo do que no último ano em Utah, onde tanto se queixou: depois de receber 21 e 17 passes por jogo nas últimas duas temporadas, o número este ano é de 23. No entanto…
O principal problema de um ataque com Rudy Gobert é que inevitavelmente se vai transformar num de bloqueio directo: a intenção não é necessariamente o poste receber a bola, mas antes a sua ‘gravidade’ ao desfazer para o cesto servir de ameaça e descompensar a defesa, principalmente a partir do lado fraco, de onde vem a ajuda. Apesar de efectivamente transformar KAT bastantes vezes num spot-up shooter, está a funcionar (especialmente em lineups sem Towns); é na defesa que o rendimento do francês tem caído, onde o Defensive Plus-Minus está nuns assustadores -0.4 (+2.2 de carreira)… mas será culpa dele?
Olhando em maior detalhe, os Wolves são a 10.ª equipa que menos cede lançamentos de dois pontos, e são os 5.º a forçar a pior percentagem ao adversário – isso é bom! As más notícias vêm da linha de triplo, onde a equipa é a 3.ª que cede maior volume de triplos e permite aos adversários convertê-los a uma percentagem top-10 em toda a NBA. Às vezes de formas… estranhas:
Lances insólitos à parte: D’Angelo Russell apresenta um Defensive Plus-Minus de -1.2; Anthony Edwards, de -1.9. Rudy Gobert não pode cobrir as deficiências defensivas de três jogadores simultaneamente, especialmente como nem são assim tão pequenas, para usar um eufemismo. Para isso, então era melhor ter continuado com Patrick Beverley e Jarred Vanderbilt, que foram o segredo do relativo sucesso dos Wolves na temporada passada, simplesmente por serem dois e assim conseguirem cobrir em maior volume (de jogo e em área no campo) o que os outros três jogadores não conseguem.
Chris Finch terá até janeiro, quando o mercado agita, para que o esquema defensivo à volta de Gobert, e de Gobert + KAT, melhore; o investimento no francês foi demasiado grande e os Wolves não podem – nem vão – afundar de imediato esse custo. Caso isso não aconteça, e com tão pouco capital para ser cedido, os olhos virar-se-ão para Karl-Anthony Towns, se a equipa não encontrar o rumo das vitórias. O poste tem um registo histórico absolutamente lastimável, e a sua produção explosiva no ataque raramente tem tido correlação com o sucesso colectivo.
Depois de ter estado optimista na pré-temporada, confesso que esfriei bastante em relação a esta equipa: são um conjunto de jogadores, que todos juntos dão um resultado bastante inferior ao valor das partes, e duvido que este plantel enquanto construído resulte em grandes dividendos. A defesa precisa de muito trabalho, e parece-me complicado chegar a bom porto desse lado da bola com o actual plantel; teria no entanto muitas dúvidas antes de puxar o gatilho numa troca por KAT. Uma solução possível? Trocar D’Angelo Russell por um pacote que trouxesse pelo menos duas peças defensivas positivas de volta, e um base suplente. Anthony Edwards poderia ter mais bola, e dividir responsabilidades com esse base; o conjunto desses dois bons defesas, com Jaden McDaniels e Gobert, poderiam ajudar a formar uma muralha competente para proteger Ant e KAT. Veremos. Os lobos estão numa encruzilhada e não é óbvio o caminho que os transformará numa alcateia.
por LUCAS NIVEN [@lucasdedirecta]