O primeiro empurrão

por jan 7, 20181 Comentário

Não foram fáceis os meus primeiros treinos. A mudança dos três passos do andebol para os dois do basquetebol eram uma dor de cabeça e aquilo custava a sair. A técnica de lançamento é refinada e a minha era terrível e bruta.

Nasci em 1980 e sou natural de Salreu, uma pequena aldeia, agora vila, no concelho de Estarreja. Das sete freguesias que formavam esse concelho, seis tinham uma equipa de andebol. Não será difícil, por isso, adivinhar que desporto eu tinha abraçado.

Decorria o ano de 1993 e, por algum motivo que não me recordo, a época de andebol tinha terminado mais cedo e um amigo da família, o “Neca”, fez-me um convite: experimentar o basquetebol.

“És alto, vais dar-te bem!”, dizia o “Neca”.

Eu sabia que existia basquetebol em Estarreja, mas apenas porque alguns dos meus amigos (entre eles o filho do “Neca”) praticavam. Nunca tinha visto um jogo e, na verdade, nunca me tinha interessado muito pela modalidade.

Decidi ir experimentar. O que pode ser pior que passar cinco ou seis meses sem praticar desporto, para um miúdo de 13 anos? Valia a pena o “risco” e decidi dar uma hipótese à insistência do “Neca” e do “seu” desporto.

Não foram fáceis os meus primeiros treinos. A mudança dos três passos do andebol para os dois do basquetebol eram uma dor de cabeça e aquilo custava a sair. A técnica de lançamento é refinada e a minha era terrível e bruta. Confesso que estes e outros gestos técnicos fizeram parte de alguns dos meus pesadelos nesses primeiros tempos.

Mas houve qualquer coisa naquela “borracha laranja”, no convite do “Neca” e na minha decisão inconsciente, no final desse verão, que iriam condicionar toda a minha vida futura.

Decidi abandonar o andebol e jogar basquetebol. E, aí, a minha viagem começou…

Foram três anos de iniciação em Estarreja, com grandes recordações e amizades que duram até hoje e – claro – muitas boleias do “Neca”. Seguiu-se o Beira-Mar, onde aprendi o que era sacrifício por algo que gosto, treinos depois das aulas longe de casa e jantares frios e solitários por volta da meia-noite.

Os dois anos seguintes foram passados na companhia de mais onze jovens nos dois primeiros centros de alto rendimento criados em Portugal. Saudades da família e dos amigos, mas as dificuldades eram ultrapassadas no campo e nas amizades que criei. Só tenho que agradecer por isso, pois a minha evolução foi notória e o sacrifício compensou.

No ano de 1999 assino o meu primeiro contrato profissional no Ginásio Clube Figueirense e assim estava concluído um dos primeiros objetivos a que me propus quando iniciei esta aventura no basquetebol: ser profissional.

Na época 2000/2001, surge o convite da Ovarense. O clube que tinha acabado de ser campeão nacional e que ia jogar a Euroliga queria contar comigo. Foi um sonho tornado realidade.

Foram anos de sonho os que se seguiram. Ser profissional de basquetebol, jogar numa das principais equipas do teu país, lutar por títulos, ganhar, perder, criar amizades, competições europeias, conhecer o mundo, estágios, seleção nacional, interromper por um ano esta ligação ao clube que aprendeste a gostar, regressar e continuar a fazer aquilo que mais gostas. Tudo isto rodeado por uma família que foi crescendo e que sempre me apoiou só pode ser fantástico e é algo de que me orgulho.

Na verdade, nunca pensei que este caminho fosse possível, eu era apenas um miúdo de Salreu que jogava andebol.

Com estes anos de “viagem” aprendi que, na vida, todas as decisões, por mais pequenas e insignificantes que te possam parecer na altura, vão condicioná-la, e que existem pessoas que passam na tua vida para deixarem algo marcante em ti.

Tenho que agradecer ao basquetebol tudo o que me deu, e foi muito, e a muitas pessoas toda a ajuda que me deram e continuam a dar para poder fazer aquilo que mais gosto, que é jogar basquetebol. A família, acima de tudo, os amigos, colegas de equipa, treinadores e dirigentes, mas não poderia deixar passar a oportunidade de agradecer aquele primeiro empurrão, aquela primeira insistência e aquele primeiro acreditar ao Prof. Dr. Manuel Marques da Silva, o nosso “Neca”.

Muito obrigado, “Neca”.

por ANDRÉ PINTO

Autor

André Pinto

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