Finalizada a primeira volta da Liga Feminina, é tempo de fazer um balanço do desempenho das equipas, sublinhar os destaques individuais e lançar previsões para a segunda volta da competição.
As previsões que fiz na crónica de lançamento da Liga estão, no final da primeira volta, praticamente a bater certo. Os seis candidatos ao título que referi (União Sportiva, GDESSA, CAB Madeira, Quinta dos Lombos, Benfica e Vagos) ocupam as seis primeiras posições, estando o Vagos empatado com o Boa Viagem na 6.ª posição, sendo que as equipas que elenquei como candidatas aos últimos seis lugares, ocupam as posições que foram previstas.
A avaliação que faço, com base nos diversos jogos que vi, é que, apesar de continuar haver equilíbrio, o nível de qualidade de jogo baixou, tendo em conta que as condicionantes financeiras e o número reduzido de atletas seniores portuguesas assim o obrigam.
No final da primeira volta, houve várias jogadoras que se destacaram. A MVP Global é a ugandesa do Boa Viagem, Claire Lamunu, enquanto a MVP Portuguesa é Sara Djassi, do União Sportiva. Já a MVP jovem é Ana Carolina Jesus, das campeãs nacionais GDESSA.
Considerando um mínimo de seis jogos disputados, o cinco ideal da competição é composto por Tainá Paixão (Olivais), Ashli Payne (GDESSA), Sara Djassi (União Sportiva), Claire Lamunu (Boa Viagem) e Trudy Armstead (Vitória SC). Djassi surge, igualmente, no cinco ideal português, do qual também fazem parte Inês Viana (CAB Madeira), Márcia Costa (GDESSA), Rosinha Rosário (CAB Madeira) e Emília Ferreira (GDESSA).
União Sportiva (11V-0D)
Terminou a primeira volta em 1.º lugar, sem conhecer o sabor da derrota. Apresenta-se como um dos principais candidatos à conquista do título nacional, com Sara Djassi a realizar a sua melhor temporada, juntando-se à regressada Felicité Mendes, que tem melhorado o seu desempenho de jogo para jogo, passando pelas brasileiras Raphaella Monteiro e Letícia Rodrigues e ainda contando com o contributo importante de Áurea Mendes. Formam um grupo, que apesar de reduzido, é bastante homogéneo e forte. Já a norte-americana JoAnna Smith, apesar de alguns bons desempenhos, principalmente a nível ofensivo, está de saída dos Açores.
GDESSA Barreiro (9V-2D)
As campeãs nacionais terminam a primeira volta com duas derrotas, apesar do bom desempenho. Notou-se em alguns jogos a fadiga da participação europeia e algumas lesões, que não possibilitaram à equipa ser tão consistente a nível exibicional como nos habituou nas últimas temporadas. A figura de proa da equipa do Barreiro continua a ser Márcia Costa, bem secundada por Ashli Payne e Emília Ferreira, juntando-se ainda Ana Carolina Jesus, que aproveitou a saída de Catrina Green para ganhar minutos e ter bons desempenhos.
CAB Madeira (9V-2D)
A equipa madeirense, apesar do desinvestimento (aguardar pelos próximos dois meses para se confirmar ou não), teve um excelente desempenho, com as atletas portuguesas a terem um papel de destaque e de grande compromisso de equipa. O facto de terem realizado nove jogos da primeira volta no seu reduto também terá sido um fator que contribuiu para este desempenho, tendo a equipa de João Freitas apenas perdido um jogo. As internacionais portuguesas Inês Viana e Rosinha Rosário têm sido as vozes de comando, sempre “bem acompanhadas” por Marcy Gonçalves e Catarina Miranda.
Quinta dos Lombos (7V-4D)
As duas derrotas na deslocação aos Açores fizeram com que a equipa de José Leite caísse para o 4.º lugar. Nesta equipa, com talvez mais soluções na competição, têm-se destacado a maliana Kankou Coulibaly e a portuguesa Josephine Filipe, a quem se podem juntar as jovens Beatriz Jordão e Ana Carolina Rodrigues. Com a entrada da brasileira Sub19 Raphaella Marciano, a equipa de Carcavelos ganha mais uma opção, confirmando-se como uma das principais candidatas a vencer as provas em Portugal.
SL Benfica (6V-5D)
A equipa do Benfica, apesar de um começo de prova intermitente, venceu nas últimas três jornadas, demonstrando uma equipa mais entrosada, mais consistente e com um potencial ofensivo muito forte. As principais figuras têm sido as norte-americanas Dejza James e Ladondra Johnson.
Boa Viagem (5V-6D)
As terceirenses são capazes do melhor (vitórias com o Lombos e em Vagos) e do pior (derrota por 32 pontos na Luz e derrota com o Olivais nos Açores). No entanto, demonstram que, apesar do plantel curto, têm um cinco inicial forte e que se pode bater com qualquer equipa da Liga. Os grandes destaques têm sido Claire Lamunu e a bielorrussa Viktoryia Pankova (que, na segunda época em Portugal, tem sido mais consistente nas suas exibições). Há ainda a referir Sara Ressurreição, que está a realizar a sua melhor época como sénior, a nível estatístico.
AD Vagos (5V-6D)
O Vagos começou a prova moralizado pela vitória na Taça Vítor Hugo e, após ter vencido cinco jogos em oito realizados, terminou a primeira volta com três derrotas consecutivas, descendo ao 7.º lugar (em igualdade pontual com o sexto). Demonstra, em alguns dos jogos, pouca eficácia ofensiva e um ataque pouco fluído. A nível estatístico, a atleta que mais se destacou foi norte americana Brittni Montgomery, apesar de, nos últimos jogos, ter estado mais “apagada”. Já Inês Faustino e Daniela Domingues foram as atletas que mais se destacaram nos contributos pontuais da equipa. Com a chegada da canadiana Erin Chambers, a equipa de João Janeiro perfila-se como um forte candidato a entrar na luta pelas vitórias nas diversas provas.
Académico FC (3V-8D)
A equipa de Américo Santos é constituída apenas por atletas portuguesas e conseguiu, nas primeiras sete jornadas, vencer três partidas. No entanto, perdeu os últimos quatro jogos. As atletas que mais se destacaram nesta primeira volta foram Isabel Costa e Joana Cortinhas. Visto que a equipa do Porto não se irá reforçar com qualquer atleta estrangeira, prevê-se que venha a ter mais dificuldades da segunda volta da prova, sendo uma das equipas que terá mais dificuldades em manter-se na liga.
Algés (3V-8D)
O Algés obteve três vitórias com adversários do “seu” campeonato, sendo que o triunfo em Guimarães acabou por ser algo surpreendente. Artémis Afonso, Márcia Carvalho e Rita Santos têm “carregado” a equipa com os seus desempenhos, tanto ofensivos como defensivos. Tal como o Académico, sem o reforço de atletas estrangeiras a equipa de Lisboa junta-se ao lote de formações que irá lutar para não descer.
Olivais Coimbra (3V-8D)
A equipa de Coimbra iniciou a prova só com atletas portuguesas e com a equiparada Vânia Sengo, não conseguindo vencer qualquer jogo. Com a chegada dos reforços Tainá Paixão e Christin Mercer, a equipa orientada por José Araújo venceu três dos últimos cinco jogos. Com o último reforço apresentado, a bem conhecida Norianna Haynes, a equipa do Olivais perfila-se como um dos candidatos aos playoffs, uma vez que fica com um cinco inicial bastante forte.
Vitória SC Guimarães (3V-8D)
As vimarenses começaram muito bem o campeonato, vencendo os três primeiros jogos realizados em casa. No entanto, a produção da equipa baixou nas jornadas seguintes, não vencendo qualquer jogo desde a 5.ª jornada, apesar de, nas últimas duas, o reforço sérvio Marija Radovic já ter dado o seu contributo. As três atletas que estiveram em maior destaque na primeira volta foram Trudy Armstead, Carissa Crutchfield e Sílvia Fortunato, mas esta última saiu do clube no final da 7.ª jornada. A equipa de Guimarães está no lote de equipas que lutará pelas últimas seis posições na fase regular.
Ovarense (2V-9D)
A equipa de Jorge Maia prometeu muito na Taça Vítor Hugo, ao apresentar um jogo mais maduro e consistente. No entanto, esse desempenho não se verificou no início do campeonato, averbando oito derrotas nas oito primeiras jornadas. Com os regressos de Alison Bouman e Ana Santos, a equipa de Ovar venceu duas das três últimas partidas e demonstrou outra capacidade no jogo interior, o que poderá levar a equipa a ser mais competitiva. Os principais destaques foram Mikaela Shaw, as irmãs Raimundo e, mais recentemente, Alison Bouman.
Tal como na primeira crónica, mantenho as minhas apostas. No entanto, poderá haver equipas que acabaram a primeira volta mais em baixo na tabela classificativa que poderão chegar aos playoffs muito competitivas, complicando a vida aos que estão no topo.
Para finalizar, não poderia deixar de falar de dois temas importantes, ainda para mais quando já falei deles nos locais próprios.
O primeiro é que não faz sentido uma equipa realizar oito jogos em casa na primeira volta, quando esta primeira volta dá apuramento aos oito primeiros classificados para a Taça da Federação.
O segundo diz respeito às jornadas duplas nos Açores: porque é que têm que ser as equipas açorianas a ser obrigadas a realizar cinco jornadas duplas em casa, quando o objetivo destas jornadas duplas é poupar dinheiro às equipas que se deslocam? Porque não serem as equipas que se deslocam a realizar jornada dupla?
Que volte a ser lançada a bola ao ar! Bons jogos para todos!
por JOÃO SANTOS