Scouting report: Ausar Thompson

por mar 27, 2023

Um canivete suíço em esteroides.

Os irmãos Thompson – Amen e Ausar, são dois prospects singulares, por múltiplas razões. São os dois primeiros grandes nomes da Overtime Elite, que se apresenta como um novo caminho para a NBA, e é meio liga profissional de basquetebol, meio garrafa de Mountain Dew, são dois supremos atletas, como há poucos na Association, e são também são gémeos monozigóticos.

Este último pormenor, como é bom apanágio com gémeos, faz com que sejam tratados quase como a mesma pessoa, ou, neste caso, o mesmo jogador. Ora isso não é verdade e vou tentar convencer-vos disso mesmo! Amen e Ausar não são o mesmo jogador, não encaixam nas mesmas equipas e não cumprem o mesmo papel num court.

Assim, o texto hoje vai ser um pouco diferente – Um mashup entre dois scouting reports e um jogo de ‘Quem é quem?’, um hino a todos os gémeos que sentem a sua individualidade atacada e suprimida pelo facto de existir outro indivíduo fenotipicamente igual a si!

Dados biográficos

2022/2023: 27.3 Min/J – 16.3 Pts/J, 7.1 Res/J, 6.1 Ass/J, 2.4 Rou/J, 1.1 Des/J, 56.2 FG%, 29.8 3FG%, 66.2 FT%

Atletismo

As suas medidas são prototípicas para um wing na NBA moderna – altura, largura, envergadura mais do que cumprem. Apesar de bem acima da média, não é um atleta tão nuclear como Amen em termos de poder de impulsão, velocidade no open court ou explosão na passada. 

O seu atletismo sobressai imenso quando se move este – oeste, mais do que norte – sul. Tem uma capacidade absurda de deslizar lateralmente e cobrir grandes espaços como se nada fosse, os seus pés são ágeis e leves e a coordenação motora das suas ancas permite-lhe mudar de direcções como se nada fosse. Reflexos muito, muito ágeis.

Tal como Amen, também não é um jogador incrivelmente forte, mas nota-se que, mais do que o irmão, ganhou alguma massa muscular extra na transição de 2021/22 para 2022/23.

Papel ofensivo: Versatilidade e técnica em 2 metros de pessoa

Ausar projecta mais como um wing secundário, que pode criar ocasionalmente, unir os pontos em situações de defesa inclinada ou simplesmente agir como um finalizador de jogadas.

Apesar de muito bom atleta, o #0 dos Reapers não tem um first step tão explosivo, não é tão decidido, flexível nem tão vertiginoso a cobrir espaço como Amen, e, como tal, tem mais dificuldade a separar do defensor e chegar ao pintado apenas com puro burst.

Ausar compensa com uma penetração em drible mais técnica e mais cerebral, adequada para um criador secundário – Tem, sem exagero, uma das 4 melhores técnicas de drible da 1.ª ronda, conseguindo conjugar múltiplos dribles simples e diferentes crossovers para criar consecutivas hesis, mudanças de direcção e velocidades para deixar o defensor em constante dúvida.

Usa passadas de diferente amplitude e aplica um bom spin move para a esquerda para sacudir o homem. Não vive no pintado, como o irmão, mas tem um toque de bola acima da média na meia distância e tem muito mais facilidade a transitar do drible para o tiro, seja nessa zona ou em PUJs de 3.

O que me leva ao lançamento. Tal como Amen, existe motivo para desconfiança – 29.8% de 3, 66.2% da charity stripe em 22/23, 23.6% 3PT% e 65.3 FT% em 21/22, e a técnica também não é ideal (nota-se alguma desconfiança na maneira como ‘prepara’ os pés no gather, inconsistências na transferência de energia para a parte superior do corpo e no uso das mãos).

Ainda assim, a projecção é mais optimista do que a de Amen. Os ajustes no tiro têm resultado em ligeiras melhorias e Ausar mostra maior confiança com pull ups e sidesteps de 3, tem alguma versatilidade na meia distância e terminou a temporada em ascendência, tanto em conversão como em volume – 38.5% em 7.6 3PA, 82.4% em 3.4 FTA, nos 5 jogos de playoff da OTE. O tiro que deu o caneco aos City Reapers colocou a cereja no topo do bolo.

Como passador a partir da penetração em drible, é muito competente a encontrar o homem na linha de 3, bem como debaixo do cesto. Encontra cutters a partir do elbow e é excepcionalmente criativo e tecnicamente avançado a procurar linhas de passe em transição. Levanta a cabeça ainda antes de ressaltar e é irreverente na maneira como usa shovel passes, touch passes, dispara lasers com uma mão e tenta passes picados de elevada dificuldade.

 Ao contrário de Amen, peca por ser um operador mais rudimentar no P&R. A sua visão e capacidade de manipulação das ajudas está mais atrás, optando por passes mais simples e até chegando a falhar algumas linhas abertas, especialmente quando o big abre para a linha de 3. Tem uma tendência maléfica de parar o drible imediatamente depois de usar o bloqueio, matando a criação de vantagem que o bloqueio lhe oferece.

Papel defensivo: Defesa individual como há pouca

Um dos defensores de topo na classe de 2023, que tem os mais importantes ingredientes para se tornar um stopper na asa. Embora mais conservador que o irmão, é um defensor colectivo inteligente e uma ameaça a criar stocks.

Ausar é um brilhante atleta lateral, conseguindo deslizar com o portador, seja em áreas curtas ou longas, sem perder o fôlego e ceder espaço. É muito ágil e tem reflexos afiadíssimos, conseguindo frequentemente antecipar-se à penetração e absorver o contacto no peito, negando linha para o cesto. Tem também boas mãos e não é demasiado agressivo a usá-las, entendendo que poder ir para o roubo apenas após o momento em que contem.

Para além disso, tem umas ancas muito mais flexíveis que o irmão, dificilmente perdendo o enquadramento com o portador de bola, mesmo quando este tenta grandes mudanças de ritmo ou direcção. Mesmo a defender P&R e outras acções que impliquem navegar bloqueios, sabe baixar o ombro e diminuir o volume de corpo, raras vezes perdendo a anca do defensor. Em certos casos, porém, embate contra bloqueios mais violentos e perde o equilíbrio.

Prevejo que vá ter alguma dificuldade a defender 4s e alguns 3s mais fortes nos primeiros tempos, mas a sua estrutura é robusta o suficiente para que isto vá, progressivamente, deixando de ser um problema. Assim, pode-se tornar uma peça bem versátil a defender múltiplas posições no perímetro.

É um defensor colectivo inteligente, com bom sentido posicional, bom timing nas ajudas e burst para engolir espaços. Por defender muito mais o ponto de ataque/matchups defensivos específicos, as suas qualidades como criador de caos na backline não são tão notórias como em Amen, mas Ausar é agressivo nas linhas de passe, bem como uma forte presença interior a ajudar a partir dos cantos. Toma proveito do seu pop vertical para intimidar tentativas no aro.

Notas finais e possíveis encaixes na NBA

Apesar de não ser dono de uma tão natural capacidade para desequilibrar, como acontece com o irmão, Ausar Thompson apresenta-se como, na minha opinião, um dos 6 melhores prospects deste draft de 2023. É o mesmo que escolher um #1 ofensivo?  Não, mas numa NBA onde encontrar qualidade na asa é tão difícil, há muito para gostar num wing complementar turbinado, com tamanhas medidas, atletismo, destreza/versatilidade defensiva, capacidade de decidir com bola e finalizar jogadas.

Dos dois gémeos, pode-se fazer um forte argumento de que o lançamento é mais crucial para a carreira de Ausar, como um role player deluxe. Grande parte do valor de ter os Shawn Marions e os Kirilenkos está, não só na mutabilidade e polivalência, mas também na ausência de pontos verdadeiramente atacáveis. As equipas esquematizam para mascarar as debilidades das estrelas, usando estes jogadores, não o oposto. Será assim muito importante monitorizar o lançamento promissor de Thompson, para que este cumpra o que é de si esperado em campo.

Se olharmos para possíveis destino, o encaixe em Charlotte intriga-me. Os Hornets de LaMelo gostam de correr e Ausar iria imprimir ainda mais velocidade, poder de finalização e criatividade na distribuição. No meio-campo ofensivo, o seu atletismo e capacidade de chegar ao pintado em drible e alternar entre bola e sem bola, removeria alguma pressão a LaMelo. O nascente jogo de Mark Williams podia ajudar Thompson a afinar a sua performance no P&R. Os Magic são também uma opção que me entusiasma, mas poderá vir a ser perigosa, quando várias das peças basilares da jovem equipa têm um tiro exterior streaky.

por NUNO SOARES [@NunoRSoares]

Autor

Nuno Soares

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