Três armas e um potencial problema

por abr 15, 2022

Lágrimas, subidas a mesas e camisolas a voar na direção das bancadas. A noite de terça-feira foi de arromba em Minneapolis, ao ponto de já toda a gente se ter esquecido que uma senhora colou a mão ao chão. Os Minnesota Timberwolves derrotaram os Clippers e garantiram o 7.º lugar no Oeste, marcando encontro com os Memphis Grizzlies.

A turma de Los Angeles, que vinha ganhando jogos em catadupa após o regresso de Paul George, chegava ao play-in como favorita para muitos e, em boa parte do jogo, pareceu confirmar esse favoritismo. Porém, Chris Finch tinha um plano que acabou por dar resultado mais perto do fim: fazer da noite da estrela dos Clippers e do seu companheiro Reggie Jackson um completo pesadelo.

Jarred Vanderbilt foi o primeiro defensor direto de PG, com a preocupação de impedir que a bola lhe chegasse às mãos. Com 2,06m de altura e 2,15m (yup) de envergadura, a tarefa ficava mais fácil. Vanderbilt condicionou sempre a receção de George, criando uma barreira à qual o extremo dos Clippers tinha dificuldade em fugir. Raramente permitiu que este usasse o drible e tem tamanho suficiente para alterar o lançamento. No fim, ainda serviu de free-safety, andando pelo campo em ajudas constantes, enquanto McDaniels e Beverley se preocupavam com os portadores de bola dos Clippers.

Menos agressivo nas linhas de passe mas mais móvel, Jaden McDaniels entrou para o lugar de Vanderbilt para conter Reggie Jackson enquanto George descansava e depois ficar com PG. As instruções eram claras: pressionar a campo inteiro, mandar para a mão esquerda e obrigar Paul George a ver-se livre da bola. McDaniels fez o seu trabalho na perfeição, mesmo que a capacidade de marcar pontos de Paul George tenha estado em evidência.

Agora imaginem que tinham um dia de trabalho esgotante. Têm uma hora de trabalho restante, com um projeto para acabar. Agora imaginem que têm durante essa hora alguém a falar-vos ao ouvido de tudo o que é não interessante na vida, com uma voz aguda, que entra ouvido adentro e mói. Pois, foi mais ou menos isso que Paul George viveu quando ao fim de 45 minutos de jogo, Chris Finch decidiu colocar Beverley a defendê-lo. O base dos Wolves arredou George do jogo, depois de andar o resto do tempo a atormentar o outro criador, Reggie Jackson, com a sua energia e agressividade.

Paul George havia de acabar o jogo com 34 pontos e Jackson com 17, mas a maneira como os conseguiram acabou por ter influência na parte final do jogo, em que se notou a exaustão de ambos. Foi aí que os Wolves ganharam o jogo, “chatear” até aos últimos momentos e forçar a más decisões e menos acerto.

O elefante “gato” no meio da sala

Houve no entanto algo no jogo de terça que não estava nos planos de Finch e que acabou por ajudá-lo, embora trazendo mais dúvidas do que certezas para os playoffs. A exibição de Karl-Anthony Towns deixou a desejar e a falta de mobilidade no lado defensivo do poste era o primeiro ponto no scouting report dos Clippers para este jogo.

Desde o início, o plano de jogo dos Clippers estava delineado: usar bloqueios diretos com o jogador defendido por KAT e atacar a defesa da estrela dos Timberwolves. Uma estratégia que estava a resultar, mesmo quando o treinador de Minnesota ajustou e colocou Towns a defender mais próximo do bloqueio na segunda-parte. Obviamente, Towns será parte integrante e fundamental da estratégia ofensiva dos Wolves contra Memphis, mas é preocupante quando um adversário vai a tua casa atacar a tua maior estrela incessantemente e consegue o pretende sempre que quer. Como podem então os Timberwolves resolver este problema.

Na realidade, a melhor solução provavelmente nem é grande coisa, mas é o que há para já. Os Wolves tentarão ao máximo esconder KAT dos bloqueios diretos, mas quando estes acontecerem, defender em drop, ter a defesa próxima e obrigar os jogadores bloqueados a um esforço extra constante na recuperação da posição.

O problema (sim, apresentei a solução e depois o problema)? Isto abre “buracos” noutros sítios. Os Grizzlies não têm um criador como Paul George, mas Ja Morant é um diabo à solta no bloqueio direto e, rodeado de lançadores, pode criar muitos problemas a esta defesa dos Wolves, principalmente quando os bloqueadores são tão bons finalizadores e passadores como os de Memphis.

Haverá trabalho extra para os três principais defensores da turma de Minnesota, que enfrentarão um desafio diferente com Ja Morant. Menos facilidade no pull up, mas muito mais rapidez a criar problemas aos seus jogadores interiores. A série entre estas duas jovens equipas tem tudo para ser longa e aguerrida. E, embora o seu lugar não esteja de todo em risco, até porque o que oferece ofensivamente é imenso, não me surpreenderia em ver Towns preterido em certos momentos de jogo em que os Timberwolves tenham de apertar o cinto defensivamente.

por ANTÓNIO DIAS [@antoniodias_pt]

Autor

António Dias

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