Cá estou eu com a segunda parte do “Novo CBA para totós”, um pequeno comentário ao que já se sabe do novo CBA, o Acordo Coletivo de Trabalho que rege as regras da NBA no que diz respeito a tudo o que é a atividade da liga e a sua relação laboral entre os franchises e os jogadores.
No texto anterior falei de sete situações diferentes que o novo CBA vai impactar o funcionamento da liga. Neste texto vou falar de, pelo menos, outras tantas e vou começar relembrando que aparentemente o novo CBA vai entrar em vigor no início do “novo ano” da NBA, a 1 de Julho de 2023 e vai ter uma duração de sete épocas (a NBA e a NBPA têm opção de rescindir contrato um ano antes). E também que se espera que haja algumas questões que poderão ser introduzidas ao longo do tempo mas que ainda não se sabe tudo sobre o texto oficial do acordo.
Entretanto surgiram informações novas e vou começar voltando ao ponto 1, ou seja, a nova Taça da Liga da NBA. Segundo novas informações, o novo in-season tournament, que espero que não se chame Taça Carslberg, para além do prize money que já era conhecido para os vencedores, vai ter bónus financeiro para os jogadores das equipas que cheguem às finais, às meias-finais e mesmo aos quartos-de-final. A fase a eliminar da competição supostamente terá estas fases a serem disputados no início de dezembro e garantirá 50 mil dólares a todos os jogadores das equipas que cheguem aos quartos-de-final, 100 mil dólares a todos os jogadores das equipas que cheguem às meias-finais, 200 mil dólares a todos os jogadores das equipas que cheguem à final e o já conhecido prémio final de meio milhão de dólares a todos os jogadores da equipa que vencer a competição. Em suma, considerando um plantel 15 e 18 jogadores (mínimo de 15 jogadores com contrato e máximo de 18 com até três jogadores com um contrato de two-way), a NBA vai distribuir entre 13,5M e 19,8M de dólares em prémios nesta nova competição.
Agora que já “fechamos” o que ficou a dizer, vamos continuar com que ainda não foi dito.
O fim do Load Management?
O novo CBA traz um nova medida que se fala que tem como intuito minimizar o load management. Estrelas maiores a ficar de fora de jogos, sobretudo jogos importantes com muita exposição mediática é um “problema” de imagem que a liga encara há uns anos. Não há uma fórmula fácil para lidar com isto mas aparentemente há aqui uma tentativa de fazer alguma coisa acerca disso. Então, tendo em conta que é um facto de que os jogadores preocupação com a validação do seu jogo nos prémios individuais anuais, o novo CBA vai definir um número mínimo de jogos que um jogador tem de estar presente para ficar elegível para as equipas All-NBA e também para os prémios de MVP e Jogador defensivo do ano. Para um jogador poder ser escolhido para estas honras individuais, ele terá de estar presente em pelo menos 65 jogos, fazendo pelo menos 20 minutos nesses jogos. Haverá alguma nuance e espaço de manobra nisto com a liga definir uma margem de três jogos para jogadores que tenham uma lesão que acabe com a época e também dois jogos em que se o jogador fizer pelo menos 15 minutos, continuará a estar elegível. Na minha opinião, eu acho que os limites são razoáveis e os jogadores habitualmente escolhidos para estes prémios geralmente jogam na vizinhança destes limites. Simplesmente traçou-se uma “linha na areia”. O mínimo de 20 minutos parece prevenir aquele tipo de situações em que as equipas poderiam colocar o jogador em campo durante uns segundos para cumprir sem que o jogador seja “realmente utilizado” e a margem de 17 jogos vai de encontro à necessidade de não obrigar os jogadores a atuarem em sequência de alta exigência, tendo em conta que uma equipa joga, neste momento, no máximo cerca de 15 back-to-back, ou seja, jogos em dias consecutivos.
Outra mudança que passou um pouco em claro e que está dentro desta categoria é que as equipas All-NBA passam a não ter critérios de posição. Desde 1956 as All-NBA têm dois bases, dois extremos e um poste e essas obrigações terminam. Sou completamente a favor desta mudança. Acho muito bem que ser All-NBA seja um honra que deva pertencer aos 15 melhores jogadores da época, algo que, muitas vezes não acontecia em virtude de ter de ser respeitada uma “quota posicional”. Sobretudo numa era da NBA onde as posições são cada vez mais “sobrepostas” e análogas, importando muito mais o papel em campo do que uma categorização arcaica do que é o protótipo físico de um atleta ou que espaço do campo ocupa.
Veredito – 👍
Second round picks exceptions (Rob Pelinka rule)
O novo CBA vai criar uma nova exceção salarial. A second round pick exception. Como o nome indica, esta exceção é criada para escolhas de segunda ronda e vai dar flexibilidade às equipas de manter por mais tempo jogadores que foram escolhidos na segunda metade do draft.
Até agora, se uma equipa quisesse assinar um jogador escolhido na segunda ronda por mais do que dois anos de contrato mínimo, teria de usar cap space ou uma outra exceção salarial. Agora, estes jogadores terão direito à sua própria exceção e as equipas poderão oferecer mais anos de contrato às suas próprias segundas rondas numa medida que pretende valorizar habilidade de draftar de uma equipa e também não limitar o uso das restantes exceções contratuais na construção do plantel. Esta nova regra está a ser carinhosamente de apelidada de Rob Pelinka Rule pela sua “apetência” em usar as exceções ao máximo e não deixar espaço para oferecer mais tempo de contrato às próprias escolhas de segunda ronda. Tendo em conta que os Lakers até têm bastante sucesso em encontrar talento no fundo do draft, isto depois torna-se um problema para manter estes jogadores no plantel. Agora, o Sr. Rob Lowe, digo, Pelinka, vai poder continuar a draftar bem e agora poder aproveitar durante mais tempo o produto dessa habilidade.
Veredito – 👍
Jogadores passam a poder-se associar-se a casas de apostas e empresas vendedoras de canábis e também a tornarem-se investidores nos franchises
Isto parece-me algo lógico em ambos os cenários se bem que de formas diferentes. Com a liga a deixar cair a canábis enquanto substância proibida e com as recentes parcerias ao nível das apostas desportivas, só faz sentido que seja autorizado aos jogadores poderem lucrar com isso ao associar-se com empresas do sector, algo que não era autorizado até agora.
O segundo ponto surge da vontade dos jogadores em poder lucrar com a extrema valorização que os franchises têm tido nos últimos anos e os valores pelos quais têm trocados de mãos. Assim sendo, os jogadores vão poder investir (e potencialmente lucrar) nos franchises da NBA e WNBA através de fundos de investimento com posições nos mesmos. Faz sentido que os jogadores possam, através de investimento, poderem lucrar com bons resultados financeiros de um produto em que eles são fundamentais para o sucesso.
Veredito – 👍
Escalões do Tax como mudanças
Já há muito tempo que os franchises reclamam que as regas do tax são muito punitivas. Embora ninguém ligue muito a bilionários a chorar por dinheiro, a verdade é que os patamares do tax foram definidos quando o salary cap (os max, as exceções, etc e etc) era basicamente metade do que é atualmente. Ora, o novo CBA vai retificar isso, supostamente criando mais distância entre os patamares e fazendo-os crescer anualmente à mesma velocidade que o cap.
Isto vai permitir espaço de manobra para as equipas poderem pagar tax sem a coisa tornar-se proibitiva e qualquer medida que potencialmente leve a maior investimento competitivo das equipas, é algo que não me oponho.
Veredito – 👍
Boost nas Room e MLE exceptions
Duas importantes exceções de contrato vão ter um boost com o novo CBA.
A Room Exception, a única exceção que está ao dispor das equipas que atuam na free agency como equipa abaixo do cap, vai ter um aumento de 30% para além do aumento normal associado ao aumento anual do cap. Ou seja, uma exceção que estava programada valer 5,4M no primeiro ano de contrato, vai passar a 7,6M. A duração máxima do contrato também passa de dois para três anos.
A Non-Tax Payer Mid-Level exception (MLE), à disposição das equipas a operar acima do cap mas abaixo do tax, também vai ter um aumento, embora uns mais modestos 7,5%. Mesmo assim, vai subir de 10,5M para 12,2M no primeiro ano de um contrato que pode ir até 4 anos.
É basicamente uma atualizações em exceções importantes que, no caso da MLE, é muitas vezes, a única arma significativa que muitas equipas têm para poder melhorar a sua equipa no verão.
Veredito – 👍
Cumprimento do Salary Floor
Exsite um salary cap na NBA mas também existe um salary floor. Tendo em conta que a fatia dos ganhos da liga que são destinados aos jogadores são distribuídos através dos salários, existe um limite mínimo que as equipas têm de pagar ao longo da época. Ora, esse valor é sempre definido no final da época e se uma equipa não cumprisse com o valor mínimo, teria de passar um cheque com a diferença para distribuir pelos seus jogadores. O novo CBA introduz nuance a esta questão. Segundo o novo acordo, as equipas que não cumprirem o salary floor no primeiro dia da época regular, ou seja, que não tenha no primeiro dia da época, contratos cuja totalidade cumpra com o limite mínimo, não vão poder receber os valores das multas de tax que são distribuídos pelas equipas que não estão no tax. Estes valores habitualmente chegam aos milhões de dólares por equipa e certamente vai fazer com que o salary cap seja respeitado desde início.
Veredito – 👍
Mudanças nas regras dos RFAs
Os Restricted Free Agents (RFA) têm aqui algumas mudanças que lhes são benéficas. A Qualifying Offer, a oferta de contrato de um ano por parte do franchise que torna o jogador RFA (e que pode ser aceite pelo jogador e torná-lo um free agent pleno no ano seguinte), vai ter um aumento de 10%, tornando-se mais competitiva, caso o jogador não concorde com a extensão de contrato que o franchise lhe está a oferecer. Veremos se o aumento será suficiente para valer a pena atuar, numa fase tão prematura da carreira de um jogador, num contrato de um ano. Outra mudança benéfica para os jogadores nesta situação é o período que as equipas dos RFAs têm para igualar ofertas de contrato de outras equipas, que passa de 48 para 24 horas. Isto vai aumentar a probabilidade de existir ofertas de outras equipas pois não têm o dinheiro preso na free agency durante tanto tempo enquanto a loucura das contratações está a acontecer.
Veredito – 👍
Extensões de contrato mais “aliciantes” para os jogadores
Em nome do player empowerment, do jogador a tomar as rédeas do seu próprio destino, há uns CBAs atrás, a capacidade de uma equipa de estender o contrato de um jogador seu, tornou-se exígua. Era muitíssimo mais compensatório para um jogador, do ponto de vista financeiro, tornar-se free agent, mesmo que a intenção fosse manter-se na própria equipa. Sobretudo se estivéssemos a falar de um jogador que se valorizou acima do contrato em que estava a jogar. No último CBA as coisas melhoraram um pouco, no entanto, se um jogador estendesse um contrato existente, o franchise estava limitado a oferecer-lhe, no primeiro ano de extensão, 120% do valor do contrato. Neste novo CBA, os franchises passam a poder oferecer 140% do valor atual em extensões de contrato, o que é bom mas não sei se será bom o suficiente para as extensões de contrato que realmente interessam, ou seja, das “trutas”. Ora bem, quem ganha um max, já no anterior CBA não teria de se preocupar porque 120% continua a significar um max, mas para jogadores que não recebem um max mas estão à procura de um, valia sempre a pena esperar pela free agency. Exemplo paradigmático desta alteração? Jaylen Brown dos Boston Celtics. 120% do seu salário atual não o leva para o patamar de um max contract mas 140% já leva. Ele provavelmente vai esperar na mesma para ver se consegue chegar a uma all-NBA e assim tornar-se elegível para um supermax mas, se não fosse esse o caso, a subida de 120% para 140% poderia significar para os Celtics manter um dos seus melhores jogadores longe da free agency e do risco de o perder.
Veredito – 👍
Eliminação das restrições dos Designated Players
Primeiro convém definir um Designated Player. Trata-se daqueles jogadores elegíveis para o “supermax”, seja a vir do seu contrato de rookie (Rose rule) ou no caso de veteranos que possam receber o supermax. As equipas estavam limitadas a dois de cada no máximo, com a desculpa da paridade, impedir a concentração de talento e blá, blá. No entanto, como quase tudo, quando se criam regras para impedir cenários específicos, geralmente estas trazem consequências imprevisíveis. Esta regra trouxe alguma injustiça para as equipas que draftam bem. Ou seja, uma equipa teria que começar a fazer escolhas caso acertassem em mais do que duas picks, ou seja, a regra tornou-se limitativa na habilidade dos franchises de manterem os seus próprios jogadores, o contrário do que a liga pretende.
Abolindo esta regra no novo CBA, apesar de parecer que agora pode colecionar-se supermax players, o verdadeiro sinal que é dado para os franchises é que, caso sejam competentes no draft, não estarão limitados na habilidade de manter esses jogadores. Medida muito positiva a meu ver.
Veredito – 👍
Deixei para o fim aquela que acho que, será a mudança que mais impacto terá no novo CBA:
SuperTax
(não, não fui eu que inventei o nome, mas gostei).
A NBA criou, há uns CBAs atrás, regras mais punitivas para quem gasta acima do tax mas, mesmo assim, as equipas mais gastadoras, continuaram a gastar, mesmo pagando altas somas de tax à liga no final de cada ano. Tendo em conta a pouca eficiência do tax, o novo CBA apresenta novas medidas ainda mais punitivas para quem gasta e gasta muito. Até agora, o gasto acima do que é o tax apenas significava mais despesa mas agora, o gasto “excessivo” vai significar perda de flexibilidade nas operações à volta da construção da equipa.
No novo CBA existe um novo limite que se situa 17,5M acima da linha do tax. E quem ultrapassar essa linha terá sérias consequências ao nível da flexibilidade:
- A tax payer mid-level exception (que este ano andará na casa dos 7M), a principal “arma” que equipas acima do tax têm de acrescentar talento à equipa deixa de estar disponível;
- A habilidade de um franchise de utilizar dinheiro em trocas, deixa de estar acessível a equipas acima do SuperTax. Lembram-se dos Warriors a comprar picks de segunda ronda e passarmos a vida a ouvir falar de “cash considerations”? Ora bem, se vais ao SuperTax, “no soup for you”;
- Outra limitação encaixa noutra regra das trocas. Segundo a legislação da NBA, um franchise pode trocar escolhas do draft até sete anos à frente. Ora bem, as picks de primeira ronda sete anos à frente deixam de estar disponíveis para serem trocadas por equipas no SuperTax. E há reports que esta regra pode ir mais longe. Uma equipa que tenha excedido o SuperTax e ficou sem a habilidade de trocar a sua 1st pick sete anos à frente, caso vão ao supertax mais duas vezes nos quatro anos seguintes, vai ver essa sua 1st pick cair automaticamente para o fim da primeira ronda;
- Sabem aquele frenesim já perto do fim da época em que os franchises tentam fazer um último reforço no plantel ao assinar jogadores que se tornaram free agents? O buyout market? Ora bem, franchises no SuperTax deixam de poder participar;
- Outra medida restritiva nas trocas é que as equipas no SuperTax deixam de poder receber mais salário do que aquele que enviam em trocas. Até agora, um equipa no tax poderia receber 125%+100k do valor do salário que enviava. Equipas no SuperTax apenas podem receber no máximo o mesmo valor que enviam. Esta é uma medida extremamente restritiva.
Eu não tenho um veredito para esta mudança, porque na minha opinião, ela parece-me profunda e significativa e apenas daqui a uns dois/três anos é que teremos uma real ideia do impacto positivo ou negativo que poderá ter. No entanto, ao contrário do tax que muitas equipas evitavam mas outras não se importavam de lá estar, creio que praticamente toda a gente vai tentar evitar o SuperTax. Isto vai exigir criatividade dos franchises e poderemos assistir, depois de um período em que eram trocadas em magotes, a uma nova importância atribuída às escolhas de draft, pelo talento a baixo custo que pode representar.
Veredito – 🤷♂️
E como é que o novo CBA pode ter impacto no nosso Neemias Queta?
Ora bem, algumas das situações que falei podem impactar o futuro imediato do Neemias porque, depois de 2 anos com contrato two-way (período máximo neste tipo de contrato), os Kings terão de negociar um contrato standard de NBA para o manter no longo prazo.
O primeiro passo é oferecer a Qualifying Offer ao Neemias para torná-lo Restricted Free Agent e aqui as novas regras jogam a favor do nosso rapaz que poderá beneficiar do aumento de 10% nas mesmas neste novo CBA.
Outra coisa que poderá beneficiar o Neemias nas negociações contratuais é que o limite da rookie scale extension, a extensão de contrato pós-contrato de rookie, deixou de ser quatro para passar a ser de cinco anos. Este ano extra estava apenas disponível para max extensions, mas agora estão disponíveis a todo este tipo de extensão de contrato.
Em jeito de conclusão, este CBA tem várias mudanças com objetivos bem claros. Pretende limitar o gasto desmedido de algumas equipas (sim, estou a olhar para vocês, Warriors e Clippers) enquanto dá mais condições às outras de manter os seus próprios jogadores. Todos nós gostamos de trocas e surpresas na free agency, mas um pouco de estabilidade competitiva e paridade também não é má para a liga. Assistiremos ao desenrolar das consequências de todas estas alterações certamente torcendo para acrescentem e não estraguem.
por JOÃO COSTA [@JoaoPGCosta]